Réquiem de Esperança
Capítulo X –
Ouragan(1)

Disclaimer : Yoshiyuki Tomino, Hajime Yatate e Koichi Tokita são os criadores de Shin Kidou Senki Gundam W, e não eu... Infelizmente eu ainda não posso ter os G-boys só pra mim... Depois de uma briga terrível entre um certo grego energético e um baka de tranças igualmente infantil e de uma interminável partida de jogo do sério entre dois estóicos, um japonês e outro francês, o capítulo finalmente saiu !

- # - # -

"(...)

Oui, deux mots, le silence même,
(Sim, duas palavras, o silêncio mesmo,)
Un regard distrait ou moqueur,
(Um olhar distraído ou de escárnio,)
Peuvent donner à qui vous aime
(Pode dar àqueles que te amam)
Un coup de poignard dans le coeur.
(Um golpe de punhal no coração.)

Mais toute puissance sur terre
(Mas qualquer força sobre terra)
Meurt quand l'abus en est trop grand,
(Morre quando o abuso é demasiado,)
Et qui sait souffrir et se taire
(E quem pode sofrer e calar-se)
S'éloigne de vous en pleurant.
(Afasta-se de você chorando.)

(...)"
Fragmentos de À Mademoiselle, de Alfred de Musset

- # - # -

O sonho é inerente à natureza humana. A estúpida esperança também.

O pior de tudo é que dizem que a esperança é a última que morre. Se isso acontecer comigo, estou realmente ferrado. Por que, você me pergunta ? Talvez porque, no fundo, eu alimente alguma ridícula expectativa de que um certo japonês de olhos azuis possa me encarar de uma forma diferente.

Ora, mas o que você queria que eu fizesse ? O estóico simplesmente me deixou tocá-lo, permitiu que eu desse um beijo em sua bochecha e ainda acariciou minha mão ! Seria impossível acalmar meu pobre coração depois disso. Lógico que nada indicava que ele também estivesse apaixonado por mim, mas aquilo era um bom sinal, certo ?

Parecia tudo tão perfeito, tão certo. Imutável. Eu disse parecia pois, quando aquela mulher adentrou no quarto, vi todas minhas ilusões irem pelo ralo. Alguém deve estar se perguntado o motivo disso, mesmo com os olhares assassinos que percebi que ele lhe lançava.

Lembram da minha teoria sobre ódio e amor ? Neste caso, nós tínhamos mais uma coisa além disso, que ainda não tenho certeza para explicar.

A única coisa que tive certeza era de não possuir um lugar no meio dos dois. E Relena ainda era bonita, acima de tudo ! Certo que sua voz era irritante e que a maneira como frisou seu sobrenome, como se eu nada valesse, foram atitudes horríveis. Mas isto não mudava o fato de que ela ainda estava lá, com ele.

E aqui estou eu, sentado numa cadeira pouco confortável da lanchonete do hospital, pensando na minha merda de vida enquanto olhava para os ponteiros do relógio que, neste momento, me pareceram extremamente interessantes. Poderia estar filosofando sobre qualquer outra coisa, como o porquê das pétalas de uma cerejeira serem róseas ou a razão da pobre galinha ter atravessado a rua, mas preferi meditar sobre mim mesmo. Oh, saco.

Duas horas, quinze minutos e vinte segundos. 21. 22. 23. 24. 25.

Isso não parece ser tão interessante e nem vai fazer o tempo andar mais rápido.

Quanto tempo mais aquela mulher ainda vai ficar no quarto dele ?

Era tão estranho reencontrar Wufei nestas condições, depois de tantos meses. Eu havia abandonado os treinos na praia sem dar satisfações ao chinês simplesmente porque faltavam motivações para mim. Fiquei um tanto estupefato de ver que ele e Heero se conheciam, mas não deveria. Afinal, o grande amigo-rival de Fei atendia pelo nome de Yuy.

Será que existiam muitas pessoas chamadas Yuy por Sank ? E Maxwell ? Nunca pararam para se perguntar se todos que têm o sobrenome igual ao seu são necessariamente seus parentes ?

Havia outro ponto esquisito : Heero também conhecia a pequena Po ! Ele mandou cumprimentos a Sally... Mas o que haveria de se estranhar nisso se ele conhecia Fei ? E agora, será que Heero haveria de me mandar de volta aos treinos ? Porém não ia durar muito, eu não acho que vou durar muito.

Senti uma mão apertar o meu ombro e me virei com mais um daqueles sorrisos Duo Maxwell de "estou-bem-e-você ?". Provavelmente era apenas uma das funcionárias do local para me perguntar se eu desejava consumir alguma coisa. Talvez tomasse uma água.

Porém o que vi fez o meu sorriso ganhar tons amarelados. Quatre. Oh, eu ainda não estava preparado para essa conversa ! Havia fugido deste assunto e evitado pensar no mesmo de todas as maneiras possíveis, mas lá estava ele, na frente dos meus olhos, inadiável. Ele não sorriu desta vez e minha garganta deu um nó; eu realmente estava muito encrencado.

Ah, dessa eu não ia escapar.

- Duo. – sentou-se na cadeira de frente a minha.

- Quatre, tudo bom ? Há quanto tempo, professor ! – falei num tom jovial, fazendo-me de desentendido.

- Duo. – repetiu num tom monocórdio.

- Ora, onde está o seu sorriso, loiro ? Trowa te beijou tanto que seu rosto dói se der um sorriso ? – aparentei uma falsa diversão.

- Não estou aqui para brincadeiras, você sabe bem disso. – um leve tom escarlate cobriu as bochechas dele diante de meu comentário anterior – Eu gostaria de primeiro ouvir a sua versão da história. Conte-me o que aconteceu aqui dentro quando você trouxe Heero para a emergência.

- Sabe aquela mulher baixinha da recepção ? Ela é muito ignorante, você deveria trocá-la. Nem sequer se deu ao trabalho de procurar ao menos um residente para dar uma olhada em Heero, ele poderia ter tido um problema mais sério se eu não tivesse intervindo.

- Bem, o que eu soube é que você armou um escândalo, dizendo que somente você iria operá-lo. – tamborilou levemente os dedos na mesa; ele estava um tanto nervoso.

- Ei, só porque tive um contratempo com ela já chamaram de escândalo ? Só uns gritinhos não são tão alarmantes assim ! – recebi uma cara feia dele pela primeira vez na vida e resolvi parar com minhas gracinhas – Dorothy apareceu e o levou, mas a forcei a me deixar comandar a cirurgia. Ela não tem culpa de nada.

- Você não tinha o direito de colocá-la numa situação daquelas ! – falou um tanto exaltado – Você sabe que ela jamais lhe negaria um favor.

- Apenas quis me aproveitar de uma carta na mão, qual o problema ?

Ele me olhou de uma maneira que certamente nunca desejei. Imagine um anjo, daqueles muito puros e iluminados. Agora o imagine olhando para você com ódio. Deu para ter uma noção ?

- Não sabia que você costumava se aproveitar dos sentimentos dos outros como se fossem apenas cartas na mão, Duo. – olhou-me ligeiramente trêmulo – O que Hilde diria se ouvisse isso ?

- Eu me importo com os sentimentos dos outros, Quat. Mas Shinigami não. Você bem sabe que mudo completamente ao entrar num centro cirúrgico, não venha me censurar a essa altura do campeonato.

- E por que diabos você não a deixou realizar os procedimentos ? – passou a mão nervosamente pelos cabelos.

- Quatre, gostaria de dizer que sinto muito, mas estaria mentindo. Simplesmente não deixaria que ninguém realizasse isso por mim e sabe por que ? Porque Heero pediu ajuda a mim, ele confiou em mim e não nas outras pessoas. Não importa o que você faça, não me arrependo.

O choque era palpável. Heero pedir ajuda a mim era um fato tão inconcebível assim ? Ele abriu e fechou a boca repetidas vezes, provavelmente avaliando o que era melhor a se dizer naquele momento.

- Por onde você fez o acesso ? Pela linha alba ?

- Fiz uma incisão de McBurney.

Se não estivéssemos sentados na lanchonete do hospital, com certeza ele teria me dado um belo safanão. Eu sabia, Shinigami sabia, que o melhor acesso era pela maldita linha alba, ali naquela maldita linha que cortava o umbigo. Mas algo dentro de mim afirmou que eu poderia, que conseguiria fazer uma McBurney. Afinal de contas, um pequeno corte próximo da área deixaria uma cicatriz menor.

- Céus, Duo... Eu queria te bater agora... – ele massageou as têmporas – Você sabe muito bem o que poderia ter acontecido através deste acesso ! Faz muito tempo que você não realizava uma cirurgia, como diabos você me apronta uma destas ? Você poderia tê-lo deixado com seqüelas !

- Ainda bem que aprendi realmente anatomia, não é ? – falei divertido – Eu achei facilmente o nervo.

- E se ele não tivesse com apendicite ? Você sabe muito bem que os diagnósticos às vezes falham ! Você o teria cortado duas vezes !

- Ah, Quat, chega de "se" ! Tudo correu bem ! Pare de se preocupar com besteiras !

- Duo, Duo, Duo... Eu não sei o que fazer com você... – passou a mão pelos cabelos novamente – O que você fez aqui foi muito sério, mesmo exercendo a medicina corretamente. Você invadiu o hospital e realizou um procedimento ao qual não estava autorizado, havendo outras pessoas igualmente competentes e autorizadas no mesmo local. Tudo foi um sucesso, mas não pense que vou dizer que fiquei orgulhoso do meu melhor aluno na cadeira de cirurgia. – oh, Quat realmente sabia massagear o meu ego – Eu vou entrar em contato com você dentro de alguns dias. Preciso analisar suas declarações e as demais que recebi e tomar uma posição. Só peço que cuide dele no pós-operatório, você sabe que ele tem de ficar alguns dias de repouso.

- E ele é teimoso feito uma mula... Tudo bem. Aguardarei sua decisão.

Ele respirou fundo e passou alguns momentos mirando o vazio. Acho que estava recuperando a habitual calma que acabei de fazê-lo perder. Isso fora um feito e tanto, acreditem.

- Vamos lá para o quarto dele. Trowa está lá.

- Aquela Relena se foi ?

- Relena esteve aqui ?

- Sim... Aquela mulher é simplesmente insuportável. – fiz uma careta.

- De fato ela não é uma das pessoas mais agradáveis do mundo. – sorriu – Vamos, Duo, melhore esta cara !

- Melhorar a minha cara ? Você vai me dar uma punhalada e ainda quer que a receba sorrindo ? – ele fez uma cara magoada – Tudo bem, desculpa Quat, não foi minha intenção.

Era impossível ter raiva de Quat. Acho que mesmo que ele me amarrasse e me chicoteasse até quase a inconsciência eu não teria raiva dele, bastava ele dar um daqueles sorrisos ofuscantes.

Na verdade não me interessava muito a resolução final dele. Eu não viveria para sentir as conseqüências de meus atos.

Entramos no quarto e vi Trowa sentado na cadeira onde eu estivera. Heero parecia mais animado. Será que tinha sido por conta da garota ? Provavelmente os dois tinham se beijado alucinadamente em cima daquela cama e só não fizeram algo a mais por conta dos pontos dele.

Desde quando eu tinha um ciúme tão doentio ?

- Heero, então quer dizer que o senhor teve uma linda crise de apendicite ?

- E você chama aquilo de lindo ? Médicos são loucos...

Nós quatro rimos diante da pequena gracinha de Heero. Ela realmente deveria tê-lo deixado nas nuvens. Merda, merda, merda. Por que esta maldita esperança não morria de uma vez ?

Quatre verificou o corte da cirurgia e a sutura que eu realizei, mediu a pressão e auscultou o coração dele. Depois sorriu, dando-lhe um tapinha no ombro, e seguiu para trás de Trowa.

- Está tudo bem com você. Amanhã eu lhe darei alta.

Ele deu um suspiro aliviado e quase não contive um sorriso.

- Quem vai ficar aqui comigo hoje ? – Heero falou e todos apontaram para mim.

- Por livre e espontânea pressão, eu fico. – dei um sorriso.

- Duo, estarei de plantão hoje. Como você vai ficar aqui com ele, vou arranjar um esfigmomanômetro(2) e um estetoscópio para você examiná-lo periodicamente. Qualquer alteração, me chame.

Quatre estava confiando Heero a mim ? Aquilo tinha de ser um bom sinal, certo ? Acho que estava com um sorriso de cabide bem idiota no rosto pela forma que os três me olharam.

- Obrigado, Quat.

- Relaxe, pequeno. – ele bagunçou minha franja – Agora eu vou para o meu plantão. – deu um selinho em Trowa e saiu.

- Duo, o que vocês conversaram ? – Heero me olhava, querendo ler toda a conversa através de meus olhos.

- Ele ainda não sabe o que vai fazer comigo, disse que depois entrava em contato. Mas eu vou cuidar de você até que esteja tudo bem.

- Minha cozinha...

Oras, mas ele ainda estava pensando na destruição que eu provavelmente faria em sua cozinha ! Que tipo de agradecimento era aquele ? Eu aqui, todo preocupado com a saúde dele ! Aquele baka... Fiz uma expressão cômica de ofendido e arranquei algumas risadas dos dois. Era divertido vê-los rir.

- Que tal nos distrairmos um pouco ? – Trowa falou e jurei perceber um tom de proibido em seus olhos.

- O que quer fazer ? – Heero perguntou.

Quando o vi tirar de uma sacola que estava próxima a cadeira um baralho, entendi perfeitamente o tom de seu olhar. Quat o mataria se soubesse o que ele estava a nos propor.

- Que tal algumas rodadas de pôker ?

- Hn... Pode ser... Prepare-se para perder.

- Sabe jogar, Duo ? – Trowa me perguntou, embaralhando habilmente as cartas.

- Hum... Vamos ver se estou muito enferrujado... Há séculos não jogo isso... – dei meu melhor sorriso enviesado, sacando uma outra cadeira.

Sentamos próximos a cama e esta serviu de mesa, para o conforto de Heero.

- E então, vamos apostar ? – os olhos verdes faiscaram.

- Não, não quero apostar de verdade. Use o resto das cartas como fichas. – Heero falou, pegando suas cartas – Aproveite e me conte o que andou acontecendo na empresa.

- Hum... Deixe-me ver... – ele me entregou as cartas; ok, eu tinha um par de noves, já era alguma coisa – Ouvi boatos que a Preventers vai declarar falência.

- Tem certeza ?

- Três para mim, Trowa. – entreguei as cartas.

- Foi o que me disseram. Pretende fazer alguma coisa a respeito ?

- Seria interessante surpreender aquele cara, não seria ? Duas para mim. – Heero estendeu as cartas.

- Ah, ele ficaria com a cara no chão... – ele fez uma pausa – Então, senhores, eu faço a aposta inicial e a aumento mais três fichas.

Bem, eu tinha conseguido uma trinca de noves. Valia a pena arriscar.

- Eu cubro a sua aposta, Trowa. – coloquei mais três fichas.

Heero soltou um grunhido e largou suas cartas na mesa, desistindo.

- Duo, Duo... – ele abaixou suas cartas, mostrando dois pares.

Dei uma risadinha sarcástica.

- Pelo visto não ando tão mal assim... – mostrei minha trinca.

Trowa pegou o baralho para uma nova rodada. Ganhar era muito bom, sabiam ?

- Relena pagou o desenvolvimento de software à vista ?

Trowa me deu mais cartas; eu tinha três ases, um rei e um oito. Era a chance de tentar.

- Sim, o dinheiro já está na conta da White Fang.

- Pelo menos isso.

- Uma carta. – estendi o oito para ele, sem deixar que ele visse, obviamente.

- Temos um novo cliente, ainda não olhei direito. – distribuiu as cartas que faltavam – É para desenvolver algo relacionado com planilhas eletrônicas, para a empresa Oz.

Trowa atirou as cartas na cama; estava fora. Foi com muita satisfação que notei ter trocado meu oito por um rei. Essa rodada era minha de novo.

- Eu dobro a aposta inicial. – sorri enviesado.

- Cubro a sua e ainda a triplico.

Oops, Heero não deveria estar blefando até aquele ponto, ou estava ? Eu tinha de arriscar, não era sempre que se tinha cartas tão boas em mãos.

- Cubro sua aposta, Hee-chan.

Trowa iniciou uma risada que foi silenciada com um olhar de Heero, se assemelhando a um soluço estrangulado.

- Abaixe primeiro, Duo.

- Full House, baby. – abaixei as cartas; ele me soltou um olhar confuso.

Aquilo estava ganho, eu não disse ?

- Sinto desapontá-lo, baka, mas tenho uma seqüência real. – mostrou seu jogo e recolheu as apostas.

Eu por um acaso disse que tinha ganho o jogo ?

- Muito bem, Heero. Vamos para a próxima.

- Trowa, acho que está se aproximando o dia de nossas habituais doações.

- Bem, é todo dia quinze de agosto, então é na próxima semana.

Doações no dia quinze de agosto ? Bem, aquilo me fazia lembrar de fatos da minha adolescência que pensei não mais recordar. Quinze de agosto era um dia de festa no orfanato; o dia em que almoçávamos como ricos e ganhávamos presentes, além de passear pela cidade. Saudades ? Talvez.

As cartas que Trowa me entregou não poderiam ser piores.

- Quero três. – estendi.

- Quero uma, Trowa. Quem vai esse ano lá na Fundação Romefeller ? Faz cinco anos que não piso lá.

Congelei.

Não por causa de minhas cartas – elas eram incrivelmente ruins – mas pelo que ouvi. O baralho caiu da minha mão e acho que eles me olharam estranho, mas não notei direito.

Fundação Romefeller ? Doações todo dia quinze de agosto ? Qual era mesmo o nome da empresa de Heero ?

White Fang.

Clang.

Heero estava na minha vida por mais tempo de que eu ou ele podíamos imaginar, mais tempo do que eu queria que estivesse. Eu dependia dele mais do que aparentava, devia a ele mais que a minha vida que fora salva no parque. Merda. Eu podia ouvir a voz de irmã Helen em minha cabeça, no último quinze de agosto que ela passara comigo. Foi há cinco anos.

"Ah, Duo, meu pequeno Duo... Eu adoraria que aquele rapaz da White Fang viesse aqui para vê-los ao invés de só deixar as doações. Ele é muito bonito, tem os olhos azuis e traços asiáticos. Se você fosse uma menina, com certeza já os teria apresentado, ele seria perfeito como um marido. É uma pena, não é mesmo ?"

Adoraria saber o que irmã Helen diria se soubesse que eu conheci Heero e que havia me apaixonado por ele. Talvez ela tivesse um infarto fulminante de desgosto. É, era preferível mesmo que nunca soubesse... Foi até melhor que morresse antes de ouvir a notícia ou então finalmente teriam conseguido me matar enforcado.

Ouvia vagamente as apostas que Heero e Trowa faziam dentro do quarto. Acho que estava perdendo várias rodadas. Talvez até tivessem me tirado do jogo.

Irmã Helen Maxwell era minha tia, irmã mais nova de minha mãe. Mas, como uma boa freira, nunca me tratou de maneira diferente dos outros, até o fim de sua vida. Ela me lembrava muito mamãe, só que de uma maneira mais positiva. Mas, no fundo, ela ainda carregava aquele mesmo desejo idiota dela. Pelo menos ela morreu antes que isso causasse mais dor para mim.

Oh, eu me lembro muito bem do dia em que irmã Helen morreu. Chovia muito, saí correndo da faculdade no meio de uma aula de histologia. Ela queria me ver antes de partir. Pediu-me para ser forte e soltou seu último desejo como um último suspiro, mesmo sabendo que ele nunca se realizaria. Por que mamãe e ela tinham de sempre bater na mesma tecla ? No fundo me sentia culpado por não poder atender o desejo delas.

- Duo ! – a voz de Trowa me arrancou dos pensamentos.

- Sim ?

- Você está quieto há quase meia hora ! Eu vou embora agora.

- Oh, me desculpe, Trowa. Mas não vá incomodar Quat agora ou ele vai atender os pacientes suspirando.

- Ok, ok. – ele sorriu – Cuidem-se. – saiu.

- Está com fome, Heero ?

- Não. Você me parece um pouco cansado.

- Nada demais, depois eu descanso enquanto você estiver dormindo. – sorri e ouvimos a porta bater – Mas você não tem descanso mesmo, hein ?

Ele sorriu e achei que poderia morrer diante daquele sorriso.

Abri a porta e uma coisa loira pulou para dentro do quarto, me olhando alegremente.

- Olá, Dorothy-baby, o que veio fazer aqui ? – puxei uma bochecha dela; ela mais parecia uma criança hoje.

- Vim ver como você estava, Duo. E soube também que seu paciente havia acordado. – ela olhou para Heero sorridente.

Ela estava tentando dar em cima dele ?

- Não vai nos apresentar ? – Heero falou.

Ele estava aceitando, por um acaso ?

Alerta de ciúmes.

- Heero, essa é Dorothy, uma antiga monitora de anatomia. – ele estendeu a mão e ela a apertou.

- Fico feliz em conhecê-lo, Heero. Duo ficou louco para salvá-lo, queria saber quem tinha ganhado tanto respeito assim dele.

Ela me fez corar. Corar furiosamente.

- Informação interessante. Eu soube que ele arrumou uma bela confusão por aqui.

- Oh, sim, ele é muito teimoso. Quem deveria tê-lo operado era eu.

- Hum... Ele fez uma boa cirurgia ?

- Definitivamente sim.

Por que as pessoas tinham a irritante mania de falar de mim como se eu não estivesse presente ?

- Dorothy, acho que já chega por hoje. E adoraria que todos vocês falasse diretamente comigo, ao invés de fingirem que não estou no local !

- Calminha, Duo, não foi por mal. Mas você comeu direitinho ?

Realmente quis fazer uma brincadeirinha idiota com o duplo sentido da frase, mas talvez não fosse um bom momento.

- Oh, então eu também vou ser paparicado, mamãe ?

- E por que não, pequeno ? – ela me deu um abraço carinhoso, pegando-me desprevenido.

- Eu não conhecia esse seu lado maternal. – falei em seu ouvido.

- Eu não chamaria isso de lado maternal... – ela falou baixinho, de modo que só eu poderia escutar – Duo. – ela me deu um beijo logo atrás da minha mandíbula, acenou para Heero e saiu.

Ok, acho que preciso de alguns minutos aqui.

Ela realmente havia me dado um beijo perto da orelha ? Aquelas insinuações significavam o que eu achava que significavam ? Devo ter feito uma cara bem engraçada pelo modo que Heero riu.

- Por que você não dá uma chance a ela, baka ?

Olhei para ele como se uma segunda cabeça tivesse brotado de seu pescoço e me sentei na cadeira antes ocupada por Trowa.

- Você acha mesmo que ela estava dando em cima de mim ?

- Só faltou ela te agarrar aqui na minha frente. – havia um tom de divertimento em sua voz.

Corei novamente. Pelos céus, eu deveria estar parecendo uma colegial enrubescendo deste jeito !

- Hum... Digamos que ela não faz o meu tipo, cara.

- Ela é muito bonita, você deveria tentar.

- Não creio que seria uma boa opção.

- Por quê ? Está gostando de alguém ?

Definitivamente a conversa tomara um rumo bastante desagradável para mim. O que eu responderia ? "Estou tão afim de você que seria capaz de subir nesta cama e te beijar de uma maneira tão louca que você até esqueceria o seu nome" ? "Eu te desejo tanto que quase te ataquei ao invés de te operar" ? Não, não era uma boa idéia. O máximo que obteria seria um belo soco na cara e eu não estava com humor para ser saco de pancadas hoje.

- Hum... – corei ainda mais pateticamente – Sim, mas não quero falar sobre isso. Não tem futuro.

- E você tentou para dizer isso ?

- Não.

- Então não diga que não tem futuro.

Eu quase engasguei. O que deu nele para dizer tais coisas a mim num momento como esse ?

- Você está muito poético.

- É a falta do meu apêndice.

Bingo ! Mais uma gracinha de Heero num único dia !

- A força de Sansão estava nos cabelos. Mas nunca ouvi falar de uma seriedade que estivesse no apêndice.

- Veja só como o mundo é dinâmico ! Cada dia uma nova informação !

Não pude me conter e coloquei uma mão em sua testa. A temperatura estava normal.

- Qual o problema, não posso nem tentar ser engraçado ?

Tornei a me sentar, encarando o olhar falsamente indignado que ele me lançava.

- É apenas estranho. Só isso.

- Duo ? – ele falou após instantes de silêncio.

- Sim ?

- Estou com sono, poderia baixar minha cama ?

- Claro, mas me deixe verificar você primeiro.

Após verificar que tudo estava correto, ele dormiu. Mirei o sofá com olhos gulosos e acho que rapidamente embarquei para o mundo dos sonhos.

- # - # -

Era bom estar de volta em casa.

Ok, tem um erro na minha afirmação anterior : era bom estar de volta na casa de Heero. Seriam apenas alguns dias até que ele tirasse os pontos e estivesse 100, mas ainda sim eram dias em sua casa.

Meus últimos dias, para ser mais exato.

Entrei com cuidado, apoiando Heero por conta dos pontos, e seguimos silenciosamente para o quarto dele. Era muito bom ter esses pequenos momentos em contato com o corpo dele; uma espécie de conformação, sabe ?

- Fique aqui quieto, eu vou apenas ocupar aquele mesmo quarto de sempre e já te trago algo para comer. – ele se deitou na cama.

- Tudo bem.

Era esquisito vê-lo tão obediente, mas isso era muito bom para a saúde dele. Estava me sentindo sujo, precisava de um banho e não tinha cabeça para cozinhar. Abri a geladeira e peguei uma latinha de refrigerante, além de fatias de pão. Montei um sanduíche simples e retornei ao quarto, rindo quando ele torceu o nariz diante da comida.

- Desculpe, Heero, mas estou me sentindo cansado. Coma isso mesmo, depois a gente providencia algo mais consistente. Eu vou tomar um banho, seu remédio para dor deve estar nas suas coisas. Qualquer coisa me chame.

- Tudo bem, baka.

Dei-lhe língua alegremente e saí do cômodo. Aquele "meu quarto" apareceu novamente diante de meus olhos. Ele era confortável, gostava muito daqui. Tinha uma boa vista do parque, além de uma própria suíte ! Não que fizesse questão de luxos, mas nada custava se agradar um pouquinho de vez em quando.

Despi-me lentamente, espalhando as roupas pelo chão do quarto e sentindo o vento frio soprando em meu corpo, causando leves arrepios. Desfiz minha trança e senti como meu cabelo estava sujo. Nojento era mais adequado. Hum, eu teria o delicioso shampoo de aloe vera de Heero para cuidar deles. Muito bom.

A cruz ainda continuava em meu peito desde aquele dia. Era engraçada a maneira como este pequeno objeto me acalmava e me punia ao mesmo tempo. Lembranças dolorosas vinham a minha mente, mas de certa forma não queria me livrar delas e sim saboreá-las sempre.

Masoquista ? Eu me intitulo masoquista emocional, serve ?

Afinal, do que adianta estar na fossa e não ter a graça de curti-la ? Nada que é fácil demais tem graça, sempre pareço buscar algum tipo de sofrimento satisfatório. Até porque não existiria o prazer da alegria se não houvesse dor a ser sentida.

Louco ? É, talvez eu seja.

Deixei a porta do banheiro entreaberta e corri para o espelho. Minha aparência estava boa, à exceção de meu cabelo. Bem, qual a graça que Dorothy tinha achado em mim ? Só porque eu tinha cabelos compridos ? Ela devia ser um tantinho louca também. Reconheço que ela era muito bonita, mas acho que não conseguiria ter um interesse sexual por ela. Ela realmente não fazia o meu tipo.

Ah, a água morna percorrendo o meu couro cabeludo dava uma sensação maravilhosa de relaxamento. O meu tipo tinha olhos azuis, cabelos curtos e desalinhados, pele morena, traços asiáticos... Atualmente eu só conhecia uma pessoa que preenchesse todos esses requisitos.

Heero era simplesmente lindo demais. Passar as mãos por aqueles fios revoltos e macios foi simplesmente fantástico. Adoraria que fossem as mãos deles e não as minhas a passar pelos meus cabelos agora. Eu poderia ter morrido no instante em que lhe expliquei os cortes da cirurgia, quando minhas mãos passearam pelo seu abdome, parando próximo ao seu baixo ventre.

Oh, eu não queria ter parado. Não mesmo.

Encostei uma de minhas mãos na parede no banheiro. Ah, o toque dele em minhas mãos enviou tantas ondas elétricas pelo meu corpo que não sei como consegui não ficar excitado naquele momento dentro do hospital. Oh, como eu desejava que as mãos dele estivessem tocando o meu corpo agora, mas talvez não tão gentis como fizeram com a minha mão.

Hum... Estava com uma bela ereção. Há quanto tempo eu andava sem alívio ? Assobiei baixinho. Sim, fazia um bom tempo. Se não podia ter suas mãos me aliviando agora, que fosse a minha mesmo. Fazer o que ?

Quando meus lábios tocaram a pele quente de sua bochecha, tive vontade de beijar cada centímetro quadrado de pele do corpo dele. Queria sentir seu gosto com a minha língua. Oh, havia tantas coisas devassas que eu queria fazer com ele... Acho que gemi ante o pensamento dele me possuindo.

Barulho de metal contra azulejo.

Havia alguma coisa errada aqui e tinha medo de descobrir o que era. Virei lentamente a cabeça para trás, mirando o chão, e percebi que havia esquecido a porta do banheiro entreaberta. Encontrei uma latinha de refrigerante amassada no chão, agora já sabia o que havia ocasionado o barulho. Porém não era só a latinha que estava no chão.

Havia pés. Pernas. Coxas fartas. Hum... Aquilo era uma ereção ? Havia abdome, tórax, braços e pescoço. Havia Heero.

Eu estava em pé, de costas para a porta, nu e completamente excitado, além de estar com a mão na massa, por assim dizer. Heero estava na porta, atrás de mim, me olhando abismado. Mesmo que ele não estivesse olhando diretamente para o que eu estava fazendo – graças a Deus – os movimentos de meu braço direito eram bastante... Insinuantes. Estava excitado também ? Talvez, eu não iria ficar olhando fixamente para descobrir.

Acho que nunca corei tanto em minha vida. Merda. Minha cabeça gritava que a situação toda não era nada legal. Ou seria ?

- M-me desculpe, Duo. – ele virou de costas para mim imediatamente – Eu apenas queria saber onde estavam os remédios para dor. Eu não os achei...

- E-eu não coloquei em suas coisas ?

- Não.

- De-deve estar na minha mochila.

- Ok. Desculpe, cara, eu deveria ter batido antes. Vou lhe dar privacidade, pode continuar o que estava fazendo. – ele falou com um tom ligeiramente divertido e fechou a porta do banheiro.

Eu me sentei sobre meus joelhos no chão, duvidaria conseguir ficar em pé depois do que ocorrera. Oh, eu daria tudo para saber se ele também estava excitado ou se tinha me enganado com o volume de suas calças. Há quanto tempo ele estivera ali, me olhando ? Por um acaso ele tinha alguma predileção por voyeurismo ?

Minha vontade mais louca era de gritar por ele, mandá-lo voltar, me jogar na parede e me possuir ali mesmo. Mas obviamente eu não faria aquilo, mesmo não tendo nenhum amor à minha vida. Bem, eu não conseguiria mais continuar o que estava fazendo antes, então o jeito era me acalmar.

Será que nem mais um orgasmo eu poderia ter sossegado ?

Depois de uns quinze minutos de desperdício de água, quando achei que minhas pernas estavam firmes o suficiente para suportar meu peso. Enxuguei-me e me enrolei na toalha, certificando-me que ele não estava mais no quarto. Tranquei a porta desta vez e me troquei. Como diabos eu iria olhar para ele de novo ?

Respirei fundo e me dirigi até seu quarto. Ele estava deitado na cama de casal, assistindo TV. Assim que me viu, sorriu enviesado. Oh, eu não seria poupado, mas dois também podem jogar este jogo, meu caro.

- Já de volta, Duo ? – falou sarcástico.

- Já, Heero. – me aproximei da cama e sentei na beirada – Não sabia que gostava de ser voyeur.

Ele havia ruborizado levemente ? Ponto para mim.

- Não seja tão pretensioso. Você ainda é muito novo, nem deve ter muita experiência. Foi muito rápido, não ?

- Se este for o caso, da próxima vez te chamo para que você me ensine. – dei uma piscadela.

Toda brincadeira tem um fundo de verdade, aprendam isso crianças.

Trocamos olhares estranhos e demos uma gargalhada gostosa. Essas trocadas de farpas, de um jeito ou de outro, haviam nos feito mais próximos. Era divertido, no fim das contas. Deitei na cama a seu lado e olhei para a televisão. Era apenas mais uma série sem graça.

- Quer fazer alguma coisa ? – ele me perguntou.

Acho que responder que queria uma bela sessão de sexo selvagem não era uma boa resposta, certo ? Eis o problema de não ter obtido meu alívio; eu iria pensar um pouquinho demais nisso pelo resto do dia.

- Hum... Filme ?

- Pode ser. Tem alguns DVD's no móvel embaixo da TV, escolha um.

Alguns DVD's ? O cara tinha uma verdadeira coleção ! Demoraria séculos até escolher um título, então peguei o primeiro que vi pela frente. Dei uma gargalhada ao constatar que era uma versão antiga de A Fantástica Fábrica de Chocolate.

- Ora, ora, não sabia que o respeitável empresário Heero Yuy tinha um DVD de A Fantástica Fábrica de Chocolate em sua casa !

Ele fez uma careta.

- Algum problema com Winly Wonka ?

Gargalhei novamente.

- Por essa eu realmente não esperava. – coloquei o cd no aparelho e voltei a me deitar – Quem diria, hein Hee-chan ?

- Cala a boca, baka ! – ele se aconchegou na cama, encostando levemente o topo da cabeça na minha – Você vai molhar meus travesseiros.

- Quer que eu pegue uma toalha ?

- Deixa para lá.

Sinceramente, não tinha a mínima vontade de ver aquele filme, a menos que fosse pelos chocolates. Hum, Heero lambuzado de chocolate era uma visão e tanto. Bem, voltando ao foco inicial, achava que ele também não queria ver o Winly Wonka desta vez.

- Heero ?

- Sim ?

- Você odeia quando eu te chamo de Hee-chan ? Se você quiser, eu paro.

- Pode chamar se quiser, não me importo.

- Sério ? – olhei para ele incrédulo.

- Se você gosta, não tem problema. Só não faça isso em público, ou aí sim eu vou te matar.

- Hee-chan ? – disse meia hora depois.

- Sim, baka ?

- Por que você não chamou a minha atenção logo no chuveiro ?

- ...

- Hein ?

- Você não demorou a perceber minha presença, não deu tempo.

- Não parecia... Por que derrubou a latinha ?

- Cale a boca e preste atenção no filme.

Eu realmente adoraria saber por quanto tempo ele ficou me olhando até a maldita latinha cair no chão... Mas duvidaria muito que ele me respondesse, afinal ele ainda é o Heero estóico de sempre. Mesmo com suas gracinhas.

Quando parei para olhá-lo no meio do filme, percebi sem surpresa que ele tinha adormecido. Seu rosto estava sereno, descontraído. Ele ganhava uma jovialidade impressionante desta maneira, parecia quase infantil. Seria um verdadeiro pecado deixar de observá-lo e acabei adormecendo assim, ainda a seu lado.

- # - # -

Heero estava fazendo aquilo de novo.

Ele passava horas e horas deitado na cama, com o laptop nas pernas, elaborando o software de planilhas que a tal da Oz tinha encomendado a White Fang. E eu, ali, esperando que ele me deixasse cuidar dele e lhe dar um pouco de atenção, era completamente ignorado.

Eu definitivamente não gostava nada daquele laptop.

E eu estava de pé, de braços cruzados e encostado na parede, me sentindo completamente inútil, para variar um pouquinho. Por que eu passei estes três dias com ele ? Para nada, ele não precisava de mim ! Ele era o perfect soldier, para que diabos precisaria de alguém ?

E lá vai minha auto-estima para o ralo novamente.

O telefone tocou e ele atendeu de imediato.

- Trowa ? Ah, sim Quatre, estou bem. Já posso tirar os pontos ? Ótimo, estou precisando voltar mesmo para a empresa. Sim, tudo bem.

Ele me olhou e estendeu o telefone. Acho que era a primeira vez no dia que ele realmente olhava para mim.

- Quatre quer falar com você.

Peguei o aparelho meio incerto.

- Quat ? Diga, cara.

- Duo, traga o Heero no hospital para retirar os pontos, ou você tem alguma objeção a fazer ?

- Nenhuma.

- Também tenho uma resolução a respeito da nossa conversa anterior.

Senti minhas pernas tremerem, não sei a razão exata. Afinal, eu não ligava para o que ele ia dizer, certo ?

- E qual foi a decisão ? – Heero desviou os olhos do laptop para mim, olhando-me por cima daqueles óculos que o deixavam extremamente sexy.

"Foco, Maxwell ! Você está perdendo o foco !"

- Duo, sei que jamais deveria estar fazendo isso, mas você quer vir trabalhar no hospital como plantonista ? Os outros profissionais que acompanharam a cirurgia de Heero ficaram tão impressionados com a sua habilidade que me pediram isso. Como punição, você daria sete plantões de graça.

- Quat, eu...

- Não responda agora. Diga-me amanhã, quando trouxer Heero.

Acho que Quat desligou, mas isso não importava. O telefone sem fio já estava no chão depois do que ele me falou. Eu esperava tudo, menos um convite. Uma proposta de emprego. Heero me olhou alarmado e fez menção de se levantar, mas fiz um sinal para que ficasse quieto e estranhamente ele me obedeceu.

- O que foi que ele disse ?

- Ele me chamou para trabalhar no hospital. – falei e as palavras soavam bizarras; ele sorriu.

- Você vai aceitar, não vai ?

- Heero, eu... Eu não sei !

- Mas é lógico que vai, nem que eu te obrigue !

Como poderia dizer a ele que pretendia estourar os meus miolos, portanto não poderia trabalhar no hospital, sem deixá-lo irritado ? Tudo me parecia tão certo, o fim dos meus dias chegando, e agora Quat me apareceu com essa !

Será que trabalhar por pouco tempo, uma semana ou duas, agradaria Heero ? De toda forma, eu só iria me matar depois do aniversário dele. Não custava tentar, ou custava ?

Continua...

- # - # -

N/A : Eu sei que estou terrivelmente atrasada e de maneira injustificável, além do que Quat não queria colaborar na conversa do Duo. Como bônus, eis um capítulo que tem o dobro de páginas dos outros !
Esse capítulo é dedicado a Litha-chan. A cena do Duo no banheiro, com o Heero o observando, foi uma idéia que ela mesma sugeriu, fruto de uma conversa no MSN. Espero não tê-la decepcionado ! E a latinha caindo no chão foi uma discreta e singela homenagem a minha querida Perséfone, não é fofa ?
Mando beijos especiais também para a Celly, Tina Chan, Anne, Ana Paula, Ophiuchus no Shaina, Kitsune Lina e Koorime Shinigami. As respostas das reviews estão lá no meu blog, chibi ponto weblogger ponto com ponto br. Muito obrigada e mil beijos ! E lembrem-se : reviews são sempre bem vindas !

Notas :

(1) Ouragan significa furacão, em francês.

(2) Esfigmomanômetro (ou tensiômetro) é o aparelho utilizado para se medir a pressão arterial. E creio que não preciso dizer o que um estetoscópio é.