Réquiem de Esperança
Capítulo XI – Meninos não choram

Disclaimer : Yoshiyuki Tomino, Hajime Yatate e Koichi Tokita são os criadores de Shin Kidou Senki Gundam W, e não eu... Infelizmente eu ainda não posso ter os G-boys só pra mim...

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"Si je vous le disais pourtant, que je vous aime,
(Se eu te dissesse, no entanto, que eu te amo,)
Qui sait, brune aux yeux bleus, ce que vous en diriez ?
(Quem sabe, morena dos olhos azuis, o que tu dirias ?)
L'amour, vous le savez, cause une peine extrême;
(O amor, tu sabes, causa uma pena extrema;)
C'est un mal sans pitié que vous plaignez vous-même;
(É um mal sem piedade que tem pena de si mesmo;)
Peut-être cependant que vous m'en puniriez.
(Talvez, contudo, tu me punisses.)"

Ah, era tão agradável brincar por entre as cerejeiras ! Hoje as flores desabrocharam e mamãe sempre sorri quando as vê ! É tão bom sentir o vento no rosto e correr entre as árvores !

- Duo ? – olhei para trás e vi mamãe subir a colina com uma escova em mãos – Venha, anjinho, deixe-me pentear seus cabelos.

Corri em sua direção com um sorriso no rosto. Mamãe adorava o meu cabelo e queria que eu o conservasse comprido. Ela me dizia que eu parecia uma menininha linda, mas era um tanto incômodo quando ela me chamava de "ela", ao invés de "ele".

Sentei-me entre suas pernas cobertas pelo longo vestido. Ela penteava meus cabelos com calma, desembaraçando-os e tirando as pétalas de cerejeira que haviam caído nele. Cantarolava uma musiquinha religiosa; mamãe tinha uma fé inabalável. Eu gostava destes momentos com ela. Gostava de olhar para o seu rosto em forma de coração sorridente, seus olhos ametistas alegres e seus cabelos castanhos compridos ondulando com o vento. Ela era simplesmente linda; as pessoas costumavam dizer que eu era muito parecido com ela.

Abri meus olhos com o barulho irritante do despertador. Acho que o inventor dos despertadores deveria ser algum sádico, porque o barulho que aquelas malditas coisas faziam era terrível. Acordava de mau humor sempre que o ouvia e acabava por esquecer tudo o que estava sonhando. Merda.

Para que eu acordara às sete da manhã ? Tirar os pontos de Heero, é mesmo. Ele ainda queria ir para a empresa e passar o resto do dia trabalhando e acertando algo a respeito de uma empresa concorrente, a Preventers. Minha cabeça não estava indo muito por aí; eu tinha uma decisão a tomar.

O maluco do Quatre havia me convidado para trabalhar no hospital e Heero não aceitaria um não como resposta.

Levantei-me da cama e fui até o banheiro. Olhei-me no espelho e me achei apresentável. Penteei meus cabelos e os prendi num rabo de cavalo alto. Demorei um tempo escovando meus dentes e me vesti casualmente, arrumando minhas coisas em seguida. Era hora de deixar esta casa, mais uma vez.

Porém seria um tanto diferente. Sem pressa.

Saí do quarto com minha pequena sacola e encontrei Heero de pé, com os óculos na ponte do nariz, lendo o jornal. Com certeza aquele homem não deveria saber que ficava absurdamente sexy deste jeito.

- Boa dia, Heero. Ansioso para retornar à ativa ?

- Bom dia.- ele me olhou de uma maneira que achei que fosse derreter – Você não imagina o quanto. – sorriu enviesado e me sentei, bebendo automaticamente um grande gole de suco de laranja; minha garganta ficara seca repentinamente – E você precisa fazer a barba, cara.

Passei os dedos pelo queixo; havia alguns pêlos, mas nada urgente. Ele havia reparado demais em mim, não ? O telefone tocou.

- Duo, poderia atender para mim ?

- Claro. – levantei-me e dei-lhe as costas, tirando o aparelho do gancho – Alô ?

- Heero está ? – uma voz feminina falou.

- Quem é ?

- Relena Peacecraft. Ele está ?

- Só um minuto, senhorita.

Era detestável chamá-la polidamente, mas não queria iniciar uma pequena discussão. Heero me olhou interrogativamente e movi minha boca num mudo "Relena". Sorri quando ele balançou a cabeça para os lados, indicando que não queria atender. Então voltei a balbuciar "Sinto, mas você vai".

- Heero... – falei mais alto – É Relena no telefone.

Ele se levantou visivelmente irritado e tomou rudemente o aparelho de minhas mãos. Dei um sorriso divertido e voltei a me sentar, observando sua conversa.

- Relena ? Eu tenho uns assuntos pendentes por hoje. – ele fez uma pausa – Sim, eu estou melhor, não se preocupe. – ele franziu o cenho – Festa ? Aniversário do seu irmão ? Não sei se seria uma boa... – ele mordeu o lábio inferior de uma maneira encantadora – Tá, tá bom... Eu vou. Hoje à noite, certo ? Até mais.

Hum... Ele ia sair com ela. Ah, claro, o que mais eu poderia querer ? Ela é bonita, está sempre com ele – por mais irritante que seja. Acho que só mais um empurrão e os dois estão se agarrando por aí.

- Duo, você não quer ir ao aniversário do irmão da Relena ?

- Como ? – olhei-o visivelmente intrigado.

- Ela me disse que eu poderia levar alguém, pensei que você quisesse se distrair.

- Não sei se seria uma boa idéia, até porque ela não vai muito com a minha cara. E você não precisa de companhia, já está na hora de se acertar com ela ! – falei animado; ele deu uma risada e eu o acompanhei.

Eu odiava esse meu lado altruísta. E como !

Ele fez uma cara esquisita e não revidou, tornando ao jornal. Ele não negou ! Ele não negou ! ELE NÃO NEGOU ! Eu sabia, sempre soube ! Era óbvio que tinha um interesse nela, era palpável ! Oh, merda... Oh, merda...

E ainda me perguntam se eu tenho certeza de que quero meter uma bala no meio da testa !

- Duo ? – pelo tom de voz, ele deveria estar me chamando há um tempinho.

- Diga, Heero.

- Vamos, ainda preciso fazer uma porção de coisas na empresa.

Levantei-me e fui junto com ele até o seu porsche enquanto ele dirigia até o hospital. Ele ouvia um cd francês onde uma mulher irritante cantava, implorando para não ser abandonada(1). Se alguém estiver estranhando que eu saiba francês, eu não sei; mas a música em questão era uma das favoritas de mamãe, então eu sabia muito bem o que ela significava.

Ele estacionou e nós descemos, seguindo imediatamente para a ala apropriada. Cruzei os braços e assisti aos pontos serem retirados; Quatre apareceu.

- Bom dia, meninos. – ele deu um daqueles sorrisos luminosos – Vejo que está tudo bem com você, Heero.

- Sim, Quatre. E finalmente vou retornar a empresa, Trowa deve ter deixado tudo pelo avesso.

- Ele não é desorganizado ! – Quat saiu em defesa e não pude deixar de rir – Vejo que está muito risonho, Duo... E a minha proposta ?

Por que ele tinha de tocar neste assunto ?

- Ele vai aceitar, não se preocupe. – Heero falou de uma maneira tão decidida que, mesmo se eu quisesse, não poderia negá-lo.

Afinal, eu ainda precisava acertar as contas com o loirinho, certo ?

- Ótimo ! – ele deu uma palmadinha em aprovação – Você começa amanhã mesmo, Duo ! Esteja aqui as oito da manhã.

- Que mania que vocês têm de decidir a minha vida !

Os dois riram, mas eu não contestei. Eu iria aceitar o emprego de todo o jeito.

"Si je vous le disais, que six mois de silence
(Se eu te dissesse que seis meses de silêncio)
Cachent de longs tourments et des voeux insensés:
(Escondem longos tormentos e desejos insensatos;)
Ninon, vous êtes fine, et votre insouciance
(Ninon, tu estás bem, e sua indiferença)
Se plaît, comme une fée, à deviner d'avance;
(Agrada-se, como uma fada, em adivinhar antecipadamente;)
Vous me répondriez peut-être : Je le sais
(Tu me responderias : Eu sei)"

Ficar em casa estava me deixando agoniado. Precisava de ar fresco, arejar a cabeça.

Vesti minha velha calça e blusa folgadas, prendi firmemente meu cabelo numa trança. Coloquei pilhas no meu velho walkman e escolhi uma fita de minha preferência. Ataquei-o em minha calça e passei os fones por dentro da camiseta, apertando o play.

Deixei que meus pés me guiassem para qualquer lugar.

Amanhã eu daria o primeiro plantão no hospital. Voltaria a me deparar com a miséria humana da maneira mais cruel. Se algum dia alguém pensou que ser médico era fácil, bastava ficar sentado numa cadeira receitando remédios, essa pessoa se enganou terrivelmente. Dia após dia você se depara com milhares de rostos desconhecidos que apenas imploram por sua atenção – coisa que muitas vezes você não dá. Ser médico significa lidar com o sofrimento humano.

Por que vocês acham que as maiores taxas de alcoólatras e suicidas figuram entre esta classe trabalhadora ? Isso se chama fuga. Trabalhar com dor diariamente destrói a sua cabeça – por isso médicos têm fama de serem frios e insensíveis. Alguns realmente o são, mas pensem um pouquinho antes de atirar uma pedra num deles.

Estava na praia; podia sentir o vento frio no meu rosto e balançando minha trança.

"Então eu tento rir disso tudo
Cobrindo-o com mentiras
Eu tento rir disso tudo
Escondendo as lágrimas nos meus olhos
Porque garotos não choram

Eu te diria que eu te amava
Se eu achasse que você ficaria
Mas eu sei que é inútil
Você já foi embora."
(2)

Cantarolava a canção que meu walkman executava, mas animado não era a palavra que descrevia o meu estado de espírito. De certa forma, esta música me lembrava mamãe; talvez porque ela nunca me disse para não chorar.

Neste exato momento ele deveria estar cheio de risinhos e atenções para com Relena. Até imagino as palavras que aquela vagabunda deve estar dizendo a ele... "Oh, Heero querido, eu sabia que um dia você finalmente iria perceber que fomos feitos um para o outro !". O pior é que realmente parecia isso.

Mas o que diabos eu queria ? Eu o havia jogado para cima dela o tempo todo, certo ? Era melhor que os dois se agarrassem logo de vez e, desta forma, matassem esta maldita esperança idiota que de vez em quando me perturba o sono.

Finalmente percebi onde meus pés haviam me levado ao divisar um corpo executando kata(3).

Wufei.

Fiquei-o observando por algum tempo enquanto ele não notava minha presença. Ele parecia irritado e treinava com esforço redobrado, como quem lutava com um inimigo invisível. Não demorou muito tempo até que ele se dirigisse a mim.

- Maxwell. Finalmente resolveu dar as caras por aqui novamente.

- Eu não sei a razão pela qual estou aqui, Fei. Apenas saí para pensar.

- Aproveite que está aqui e treine comigo. Estou precisando de um adversário.

- Hum... Tudo bem. Apenas guarde meu walkman para mim, cara.

Ele pegou meu pequeno aparelho e o colocou em sua mochila, assumindo sua postura de luta no pequeno pátio. O pátio era de um tamanho médio e ficava na praia, daqueles destinados aos esportistas que gostavam de praticar por lá, como Fei. Acompanhei-o na posição e esperamos, até que ele me atacou.

Ele estava mais agressivo que o natural.

- Fei, o que foi ?

- Foco, Maxwell ! – ele desferiu um soco.

- Você está irritado ! O que houve ?

- Maldito Yuy. – chutou meu abdome e não consegui me defender ao ouvir o nome de Heero; caí sentado alguns metros atrás.

- Você está perdendo o foco, Maxwell !

- E você está focado demais, merda ! Eu não sou o Heero !

Ele me olhou de forma estranha e murmurou um "Desculpe-me" que me deixou boquiaberto. Levantei-me e fui em sua direção.

- O que foi que Heero fez ? – ele caminhou até o banco onde estavam suas coisas e pegou uma toalha, enxugando o suor.

- A empresa onde eu trabalhava, Preventers, faliu.

- Que merda, cara. Mas a pequena Po está trabalhando ?

- Ela é secretária de Yuy.

- Hã ? A pequena Po trabalha com Heero ?

- Então recebi uma pequena surpresa hoje. – ele se sentou no banco com um suspiro e me juntei a ele – A White Fang comprou a Preventers.

- Espera, você está me dizendo que agora trabalha pra o Trowa e o Heero ?

Ele fez uma careta e caí na gargalhada.

- Maldito Yuy... Ele está me humilhando...

- Não seja tão idiota, Fei. Ele está te ajudando, pagando seu salário. Você deveria agradecer.

Ele fez uma cara que me dizia claramente "cala a maldita boca, Maxwell", mas vocalizou outra coisa.

- E o que você queria tanto pensar ?

- Acho que este é o ponto de encontro de todos que sofrem por causa daquele japonês, Wu-man.

- Você está apaixonado. – ele foi categórico.

Puta que pariu, isso estava escrito em néon na minha testa ?

- Você vai bem direto na ferida dos outros, hein ?

- O que você viu naquele cara ?

- Sei lá... Acho que sou meio masoquista, deve ser a única explicação.

Ele deu um daqueles sorrisos contidos; dei um tapinha em seu ombro.

- Por que você não faz nada a respeito ?

- Falando sério, Fei, você acha que eu tenho alguma chance ? – era uma das raras vezes que olhei para aquele chinês de maneira séria.

- Maxwell... Pelo que conheço dele, ele nunca se relacionou com homens.

- E se o cara parece uma mulher ? – arrisquei.

- Ainda pensando nisso ?

- E teria como esquecer, Fei ? Como ele era na universidade ?

- Eu não sei o que aquelas mulheres idiotas viam nele, mas todas se derretiam a seus pés... Havia vários boatos de casos dele com várias delas.

- Isso significa que eu vou levar um soco se contar a ele ?

- Você deveria tentar. Se levar um fora, é bom para que o esqueça de uma vez.

- Este é o meu Fei, sempre prático e mostrando o lado positivo nas piores coisas. O problema, cara, é que se ele é estritamente hetero e eu digo que sou apaixonado por ele, ele pode começar a me evitar.

- E você não quer isso, já que foi ele que te ajudou.

- Dá pra parar de me ler como se eu fosse um jornal ? – coloquei as mãos nos quadris.

Oras, por que Fei-Fei me conhecia tão bem assim ? Ou será que estava tudo óbvio demais mesmo ?

- O que você anda fazendo, Maxwell ? Você deve estar atrás de um emprego, não ?

- Quatre me ofereceu um emprego no hospital.

- Bom pra você, já tem uma renda fixa.

- Por que você tem que ser tão seco ? Pare de olhar o mundo através de um olhar clínico, Fei. É um conselho.

- E você pare de se depreciar. É outro conselho. – ele se levantou com a mochila nas costas, me estendendo meu walkman – Eu vou para casa. Quer ir também ?

- Não... Eu preciso dormir, amanhã é o meu primeiro plantão.

- Boa sorte, Maxwell.

- Valeu, cara. – dei um aperto em seu ombro e voltei a caminhar.

O chute que Fei me dera estava bastante dolorido. Seria muito bom se eu não chegasse amanhã com problemas para me movimentar devido a dor. Minha cama com certeza estaria muito tentadora esta noite.

Eu continuava ouvindo músicas, mas desta vez numa rádio. Não pude deixar de reconhecer imediatamente a baladinha romântica, daquelas que sempre acompanham os casais dos filmes nas cenas mais clichês do mundo.

"Eu sento no meio da multidão
E fecho os meus olhos
Sonhando que você é meu
Mas você não sabe
Você nem mesmo sabe que eu estou lá."
(4)

Essas músicas pareciam ser feitas especialmente para aqueles filmes tão românticos e cheios de açúcar que faziam os dentes doerem só de imaginar. Mas elas também pareciam ser as companheiras inseparáveis dos imbecis que se encontravam numa fossa profunda e fedorenta, curtindo a dor de cotovelo.

Eu já me encontrava em tão deplorável situação ?

Mesmo tendo passado todo o dia dentro de casa sem fazer nada, estava cansado. Por incrível que pareça, ficar de pernas para o ar pode ser extremamente cansativo. Palavras de um preguiçoso ? Talvez.

Entrei em casa e acendi as luzes. Hum, eu estava dolorido, cansado e faminto, além de sujo. Acho que tomar um banho seria minha primeira providência, depois conseguir comida e um pouco de gelo para o abdome. Quando finalmente pousei minha cabeça no travesseiro, apenas um pensamento solitário pairava em minha cabeça.

Será que era realmente uma boa idéia me declarar para Heero ?

"Si je vous le disais, qu'une douce folie
(Se eu te dissesse que uma suave loucura)
A fait de moi votre ombre, et m'attache à vos pas :
(Faz de mim a tua sombra e me une a teus passos :)
Un petit air de doute et de mélancolie,
(Um pequeno ar de dúvida e melancolia)
Vous le savez, Ninon, vous rend bien plus jolie;
(Tu sabes, Ninon, tornam-te muito mais bela)
Peut-être diriez-vous que vous n'y croyez pas.
(Talvez tu me digas que não acreditas)"

- Duo, querido, sua amiguinha chegou ! – mamãe entrou no meu quarto com um sorriso.

Saí para a sala e a encontrei sentada na cadeira. Ah, ela era tão linda ! Seus cabelos ruivos e olhos azuis, além da pele tão branca quanto a neve ! Parecia uma bonequinha.

- Marimeia ! Vem, eu quero te mostrar as cerejeiras, elas estão floridas !

- Mas eu já as vi, Duo !

- Vamos brincar entre elas ! É divertido !

- Tomem cuidado, meninas. E voltem antes do jantar, senão a mãe de Marimeia ficará preocupada.

- Tudo bem, sra. Maxwell. – ela respondeu com um sorriso e me puxou pela mão até o lado de fora.

Por que mamãe me confundia tanto com uma garota ? Não seria melhor cortar os meus cabelos ? Assim ela sempre veria que eu era um menino, oras !

- Duo, por que esta carinha triste ? – ela tocou nas minhas bochechas quando chegamos até as cerejeiras.

- Nada... Vamos brincar ! Eu quero fazer uma coroa de flores para você, Marimeia. Assim ficará parecendo ainda mais uma princesa.

- Então deixa eu te ajudar, vou colher algumas flores.

Minha amiguinha trouxe várias flores e comecei habilmente a fazer uma coroa para ela. Eu gostava de ficar assim com Marimeia, gostava quando ela ficava me observando e aprovava as coisas que eu fazia. Assim que terminei a coroa, coloquei em sua cabeça e ela sorriu.

- Muito obrigada, Duo ! Estou parecendo uma princesa ? – ela se levantou e estendeu os braços.

- Sim, está linda. – sorri, mas vi que ela ficou séria de repente.

- Ora se não é o Duo maricas ! – me virei e observei Rashid subir a colina com uma expressão de desdém.

- Eu não sou maricas ! – falei bravamente e ele riu.

- Mas sua mãe te chama de minha pequenina...

- Não fale da minha mãe ! – fiquei irritado e senti as mãos de Marimeia em meus ombros.

- Duo, não ligue para ele. – ela falou baixinho, assustada.

- Ele falou mal da minha mãe, Meia. Não posso deixar.

- Vem cá, vem maricas ! – ele fez um gesto com a mão e avancei em cima dele com um soco.

Errei feio. Ele me deu um chute na barriga e caí sentado, sendo alvo de mais socos. Lembro de ter ouvido Meia intervir, mas não entendi direito. Logo Rashid foi embora rindo.

- Duo, você está bem ? – ela correu e colocou minha cabeça em suas pernas.

Por que diabos as pessoas fazem esta pergunta mesmo sabendo que é impossível receber algo afirmativo ?

- Meia... Eu quero ir para casa...

- Vamos, eu te ajudo.

Ela apoiou o meu peso nela e descemos lentamente a colina. Quando chegamos em casa, mamãe deu um grito horrorizado. Meia me deixou sentado numa cadeira e foi embora para casa.

- O que você pensa que está fazendo ? Arrumando briga na rua ! Isso são modos ? Eu te crio para ser um anjinho, não um moleque de rua ! – mamãe me deu um tapa na cara e pude ver o rosto chocado de Marimeia, que ainda se afastava, pela janela – Você vai arranjar um bom casamento e ter filhos !

- Mamãe, não me trate como uma garota.

Outro tapa, desta vez mais forte.

- Cale a boca ! – ela falava brutamente – Por que você não chora ? Eu te ensinei a chorar quando estivesse machucada ! Quer apanhar mais para chorar ?

Eu tinha vontade de chorar, sim. Ela continuava fazendo aquilo, ainda que eu pedisse o contrário. Mas eu não ia derramar nenhuma lágrima, mesmo que ela me espancasse.

Porque meninos não choram.

Merda de despertador !

Desliguei o aparelho e tentei me lembrar do que estava sonhando. Nada veio.

Eu odiava quando isso acontecia.

O relógio marcava seis e meia da manhã e me forcei para saber o que me fizera acordar àquela hora. Ah, meu primeiro plantão. Bem, acho que deveria começar tomando um bom banho.

Olhei-me no espelho e percebi que tinha olheiras, mas nada muito grave. Demorei alguns minutos escovando os dentes e prendi os cabelos num coque, indo para debaixo do chuveiro. Desta vez não teria nenhum Heero para ficar me espiando; esse pensamento incomodava.

Deixei que a água fria varresse os pensamentos sobre o japonês de dentro de mim, afinal precisaria de concentração durante todo o dia. Mas eu bem que tinha saudades daquela água morninha do apartamento dele... Essa água fria parecia que ia congelar os meus ossos !

Enrolei-me na toalha e tornei a entrar no meu quarto. Abri o guarda-roupa e olhei para minhas roupas brancas. Eu jurava que nunca mais voltaria a usá-las, mas as coisas mudaram um pouquinho. Separei uma muda limpa e fui atrás de minha velha maletinha, encontrando o estetoscópio e o esfigmomanômetro ainda perfeitos.

Quando estava perfeitamente vestido e com os cabelos trançados, dei uma última olhada no espelho. Era impressionante. Eu quase podia ver Hilde a meu lado, tocando meu ombro e me parabenizando por tudo. Parecia que o tempo não havia passado.

Caminhei até a cozinha e preparei um sanduíche rápido. Fui comendo no caminho até o ponto de ônibus, pois a viagem daqui até lá era um tanto comprida. As ruas estavam cheias de pessoas que iam e vinham alheias ao que se passava a sua volta. Provavelmente preocupadas com coisas do tipo "O que vai ter para o almoço ?" ou "Será que minha filha passou no teste de direção ?", nada a ver com as grandes questões mundiais.

Assim que entrei no hospital, senti um bolo na minha garganta. Passei pela recepção e recebi um olhar admirado daquela recepcionista baixinha. Dei um grande sorriso e me aproximei dela. Reparei duas coisas : ela não era baixinha como eu tinha imaginado e, em seu crachá, havia seu nome, Catherine Bloom.

- Bom dia. Sou Duo Maxwell. Creio que Quatre deve estar me esperando.

- Bom dia, Dr. Maxwell. Dr. Winner se encontra na sala dele a sua espera. Seja bem vindo.

- Muito obrigado, baixinha.

Dei um sorriso triunfante ao notar que as veias de sua face saltaram de raiva. Ela deu uma profunda inspirada para não perder a compostura.

Bingo ! Dois a um para mim.

Caminhei com passos decididos até a sala de Quatre, pisando um pouco mais duro que o normal, com receio de que meus joelhos falhassem. Abri a porta e fiquei surpreso ao vê-lo com Dorothy e os médicos que acompanharam a cirurgia de Heero. Todos sorriram para mim e me vi obrigado a retribuir com um dos meus melhores sorrisos.

- Duo ! Seja bem vindo ! – Quatre falou animadamente, apertando minha mão.

Senti a mão de Dorothy em meu ombro e a toquei discretamente, sentindo-a ligeiramente trêmula.

- Pronto para pagar a sua penitência ? – o anestesista se dirigiu a mim.

- Quando começo ?

- Imediatamente. – Quatre falou – Seus primeiros plantões serão em conjunto com Dorothy, vocês fazem uma bela dupla. Além do mais, você precisará de uma mãozinha em algumas vezes.

Ela me sorria abertamente, ainda com sua mão em meu ombro e a minha cobrindo a dela. Puxou-me pela mão e nos despedimos, saindo da sala. Ela prontamente me deu um abraço carinhoso.

- Parabéns, Duo. Eu sabia que conseguiria. – ela sussurrou em meu ouvido.

- Obrigado, Dorothy. – sussurrei em resposta, fazendo um discreto carinho em suas costas.

- Vamos. – ela se afastou, sorrindo – O nosso plantão já começou, temos que salvar vidas.

O plantão se desenrolou relativamente bem. Alguns atropelamentos, tiros e outras coisas igualmente comuns na rotina de uma unidade de emergência. Saí no outro dia de manhã exausto e ansiando por encontrar minha cama. Mas uma mão segurando a minha me impediu de correr com meus pensamentos.

- Duo... Err... – Dorothy aparentava um certo nervosismo – Você quer sair comigo amanhã de noite, ir ao cinema, quem sabe ?

Hum... Dorothy estava querendo ter um encontro comigo ?

"Si je vous le disais, que j'emporte dans l'âme
(Se eu te dissesse que carrego na alma)
Jusques aux moindres mots de nos propos du soir :
(Até as mínimas palavras dos nossos propósitos da noite :)
Un regard offensé, vous le savez, madame,
(Um olhar ofendido, tu sabes, madame,)
Change deux yeux d'azur en deux éclairs de flamme;
(Muda dois olhos azuis em dois lampejos de paixão)
Vous me défendriez peut-être de vous voir.
(Talvez tu defender-me-ia de ver-te)"

Sete horas e cinqüenta e cinco minutos da noite.

Terminava de vestir a camiseta azul e a calça preta, com os cabelos pendendo nas minhas costas numa trança pesada. Havia me perfumado e me arrumado completamente. Dorothy chegaria daqui a cinco minutos.

Sim, eu aceitei a sua proposta de sair, precisava arejar um pouco. O engraçado era que os papéis estavam invertidos; ela viria me buscar de carro. Dorothy era uma garota divertida e muito bonita; que mal havia sair com ela ?

Ela gostava de mim, mas isso era outro assunto. Ou eu esperava que fosse.

Sem me decepcionar por nenhum instante, ela estava religiosamente na porta do meu prédio, na hora combinada. Entrei em seu carro – com certeza infinitamente mais humilde que o porsche de Heero – e beijei sua bochecha. Ela estava linda, com os cabelos levemente trançados e trajando um vestido azul leve.

- Boa noite, Dorothy. Você está muito bonita.

- Muito obrigada, Duo querido. – ela deu partida no carro, sorrindo – Você também não fica atrás.

- Vamos ver que filme ?

- Temos várias opções... Mas acho que "Infidelidade" é o melhor de todos que estão em cartaz.

- Pelo menos não é uma comédia romântica.

- O que você tem contra comédias românticas, Duo ? – ela me olhou de esguelha enquanto freava no sinal vermelho.

- Ah, Dorothy, elas são melosas demais, irreais demais, felizes demais ! Dão a impressão que o amor vence a tudo, que, se você amar realmente, tudo pode ser contornado... Isso não é verdade.

- Você é muito pessimista, Duo.

- Eu diria que sou realista. Não há mal nenhum em sonhar, mas tudo tem um limite. A vida em nada se assemelha com estas comédias que passam na televisão durante a tarde.

E essa minha visão realista me levava de volta ao ponto que tentava ignorar quando aceitei o convite de Dorothy : um certo rapaz japonês de olhos azuis cobalto.

- Acho que o filme não deve retratar nada sonhador demais para você, então.

Ficamos em silêncio durante algum tempo. A música conhecida que tocava na rádio em nada contribuía com a minha tentativa miseravelmente frustrada de não pensar em Heero. Não demoramos muito a chegar no cinema e compramos as entradas, além de pipocas e refrigerantes. Sentamo-nos atrás e o cinema estava relativamente vazio. Era a última sessão.

Repousei minha mão confortavelmente no braço da cadeira e prestei atenção ao filme, que me parecera um pretexto para mostrar um casal se agarrando. Mas, à medida que a história foi evoluindo, pude perceber que ele se tratava de aparências e até de hipocrisia. Isso até sentir uma mão cobrindo a minha e uma cabeça no meu ombro.

Ela continuava assistindo ao filme calmamente, como se não tivesse feito nada demais. E na verdade não tinha, afinal qual o problema de dois amigos assistirem a última sessão de um filme do jeito que estávamos ? Nenhuma, exceto que parecíamos um casal.

"E é exatamente isso que ela quer.", disse uma voz no fundo de minha cabeça; ignorei-a.

Eu acho que só tem graça assistir a filmes na última sessão. É a mais silenciosa, a mais gostosa de se ver. Sair com aquele friozinho da noite batendo no seu rosto e seguir até algum local que ainda esteja aberto a fim de comer. E foi exatamente isso que fizemos.

Entramos numa lanchonete bem conceituada na cidade e nos sentamos, um de frente para o outro. Ela parecia encantada com tudo.

- Hum... Eu vou querer um cheeseburger e um refrigerante médio. – falei para a garçonete e não pude deixar de notar, divertido, seu olhar cobiçoso para minha pessoa – E você, Dorothy ?

- Acho que vou querer um milk shake de chocolate, só isso. – ela esperou a garçonete ir embora para tornar a falar – Ah, Duo, foi tão bom ir ao cinema com você ! Os seus comentários são incríveis; não sei como consegui parar de rir com o "carrinho de compras assassino"(5) !

- Ah, mas qual a graça de ver um filme ou fazer algo sem comentar os detalhes ? As pequenas coisas são as mais engraçadas !

- Mas você repara em coisas que praticamente ninguém notaria !

- Fazer o que se sou bom observador ? – fiz um gesto como se me gabasse, ela riu.

- Não entendo como alguém como você pode andar por aí sem uma namorada... – ela falou cheia de segundas intenções; tentei ignorar.

- Acho que as mulheres precisam de óculos, então. – dei uma piscadela divertida e agradeci mentalmente quando os pedidos chegaram, logo depois.

Conversamos animadamente sobre vários assuntos idiotas e terminamos a refeição, retornando ao carro. Ela dirigiu animadamente até o meu apartamento e estacionou na porta, descendo junto comigo.

- Você quer entrar, Dorothy ?

- Eu adoraria, mas é melhor voltar para casa. – ela se aproximou, ficando na minha frente – Amanhã temos plantão de dez horas, é melhor dormimos logo. – ela me abraçou, sussurrando em minha orelha – Muito obrigada por hoje, Duo.

Ela deu um beijo na minha bochecha, muito próximo da minha boca, e me olhava em expectativa, ainda abraçada a mim. Eu sabia muito bem o que ela queria e estava pensando seriamente em fazê-lo.

Alguém está me chamando de louco ? Posso fazer a minha defesa ?

Estou apaixonado por Heero. Heero provavelmente está apaixonado por Relena e é correspondido. Dorothy está aqui na minha frente, me falando coisas doces. Ela está apaixonada por mim. É muito bonita, simpática e divertida.

Por que não tentar ? Por que não enfiar Heero em algum lugar muito distante e aproveitar o momento ?

Mandei tudo às favas; beijei-a com tudo que podia.

"Si je vous le disais, que chaque nuit je veille,
(Se eu te dissesse que velo toda noite)
Que chaque jour je pleure et je prie à genoux;
(Que todo dia choro e me ajoelho;)
Ninon, quand vous riez, vous savez qu'une abeille
(Ninon, quando tu ris, tu sabes que uma abelha)
Prendrait pour une fleur votre bouche vermeille;
(Tomaria por uma flor tua boca vermelha)
Si je vous le disais, peut-être en ririez-vous.
(Se eu te dissesse, tu se ririas)"(6)

Foi realmente muito esquisito entrar no carro de Dorothy para ir até o hospital na manhã seguinte. Foi esquisito olhar para ela e lhe dar um selinho. E também foi esquisito pensar que nós estávamos saindo.

Mas desde quando eu era uma pessoa normal ?

Catherine me dava sorrisos enviesados sempre que passava pela recepção, como que dissesse "Ah, foi por isso que ela te deixou entrar naquele dia... Sabia que tinha alguma coisa por trás...". Aquela mulher era bastante legal, no fundo. Puxei uma conversa com ela um dia desses e descobrimos algumas coisas em comum.

Outra vez estava na lanchonete, a fim de ingerir alguma coisa que pudesse chamar de almoço decente, e ouvi murmúrios de um grupinho de enfermeiras que conversavam, alheias de minha presença.

- Eu não acredito que ele esteja saindo com Dorothy ! – disse uma ruivinha.

- Ah, eu tive tantas esperanças quando ele entrou aqui... – falou uma loira – Pensei que pudesse finalmente desencalhar...

- Filha... – terminou uma morena – O médico mais novo e gostoso que este hospital já viu jamais daria bola para você !

Não pude deixar de sorri. Médico mais gostoso que o hospital já vira ? Muito obrigado pela massagem de ego gratuita.

Ah, mas se elas soubessem... Tive vontade de fazer uma gracinha, mas me contive. Era bom demais ser elogiado, principalmente quando se ouvia por acidente. Era mais prazeroso e gratificante, acho que ganhei o dia.

Mas a reação mais inesperada foi a de Quatre. Pensando bem, nem tão inesperada assim. Ele me chamou até sua sala e pediu para que eu sentasse. Colocou no rosto uma expressão séria.

- Diga para mim que é mentira, Duo.

- Mas do que você está falando, Quat ?

- Daquilo que todos comentam... Você e Dorothy...

O silêncio vale mais do que mil palavras.

- Duo, como é que você pôde ? – ele falou indignado, como se eu tivesse acabado de roubar um doce de uma criancinha – Você não gosta dela !

- Quat, o que você exatamente sabe sobre meus sentimentos ? Creio que não seja muita coisa...

- Mas eu sei que você não gosta dela ! E eu pensei...

- Pensou o que ?

- Pensei que você fosse... – ele fraquejou, mas completou – Apaixonado por Heero.

Um tapa na cara teria doído menos. Se Quat havia notado, isso poderia significar duas coisas : ou ele sabia me ler muito bem, ou estava realmente estampado na minha testa com letras néon. Considerando a conversa com Fei outro dia...

Deus, tomara que Heero não tenha percebido !

- Eu não estou apaixonado por Heero, você está terrivelmente enganado. – falei seco – Estou interessado em Dorothy, algum problema nisso ?

Era muito ruim mentir para ele, mas era o jeito.

- Não há problema nenhum, desde que você realmente goste dela, Duo. Sabe, ficar com uma pessoa pensando em outra, ou tentando esquecê-la, é brincar com os sentimentos de quem está a seu lado. Não se esqueça disso.

- Não vejo razões para me dizer isso. – me levantei e fui até a porta – Tenha um bom dia, Quatre. – e saí.

Muito obrigado por colocar um piano nas minhas costas, loirinho ! Quatre estava parecendo mais o meu Grilo Falante, oras ! Eu realmente estava longe de querer uma consciência pesada enquanto estivesse ao lado de Dorothy, apenas para tornar tudo ainda mais complicado.

Quando este nosso plantão acabou, marcamos de ir até uma boate nova na região. Roa, fazia um bom tempo que eu não dançava e não bebia como estava fazendo agora; de certa forma isso me fazia sentir mais vivo, quando na verdade queria me sentir mais morto. Depois de umas quatro músicas, tornamos a nos sentar no bar, para bebericar.

- O pub está cheio hoje... – ela falou no meu ouvido para não gritar.

- O ambiente é novo, as pessoas gostam de novidades. Gostam de experimentar. Afinal, a vida é uma grande coleção de experiências...

- Não sabia que a bebida fazia você divagar.

- Eu não estou bêbado ! Só tomei duas tequilas !

- Eu não disse que você estava bêbado... – ela deu uma risadinha e me puxou para um beijo.

Dorothy beijava muito bem, mas tenho certeza de que ficaria extremamente irritada se soubesse que eu estava pensando nos lábios suculentos de um certo japonês ao invés dos dela. E as palavras de Quat vieram com força total na minha cabeça que quase achei que fosse explodir.

Mas o que diabos eu estava fazendo ?

Ela me puxou pelo braço e me levou até a pista de dança antes que eu tivesse tempo de raciocinar. Ela realmente dançava muito bem e a batida estava nos acompanhando numa dança bastante sensual. No final da música, ela tornou a me beijar e notei vários olhares voltados para nós.

Arrastei-a de volta para uma mesa desocupada; não queria chamar atenção naquele momento. Ela continuava a falar sobre milhões de coisas, mas não prestava atenção em nenhuma delas, apenas fazendo acenos com a cabeça para não chateá-la. Senti uma mão em meu ombro e me preparei para replicar, quando ouvi uma voz rouca e sensual atrás de mim.

- Agora que arranjou um emprego se esqueceu dos amigos ?

- Heero... – minha voz saiu mais doce do que eu pretendera; virei-me de costas e o vi em pé, atrás da minha cadeira, com Trowa e Quatre lado a lado – O que vocês estão fazendo por aqui ?

- Viemos conhecer o ambiente. – Heero falou e se abaixou, falando em meu ouvido – Você dança realmente muito bem... Se o local fosse mais apropriado e você não estivesse acompanhado, pediria para dançar comigo. Uma outra vez, quem sabe. – ele tornou a levantar a cabeça – Vocês dois formam um belo casal. – falou casualmente – Nós agora vamos seguir para outro local e creio que os dois não vão querer nos acompanhar. Depois eu quero falar com você, Duo. – ele sorriu e se afastou.

Poderia jurar que Quatre me dera uma piscadela antes de sair.

Por todos os deuses, o que foi aquilo ? Alguém poderia me explicar ? Fora tudo rápido demais para o meu pobre raciocínio.

Primeiro ele falou comigo como se estivesse interessado, depois contradisse tudo ! Eu estava cada vez mais confuso, além de minha calça ter parecido diminuir alguns números em uma determinada região. Acho que deveria estar fazendo uma cara de bobo apaixonado pelo tom que Dorothy falou comigo.

- O que foi que Heero te disse, Duo ?

- Hum, nada... Apenas disse que queria conversar um pouquinho. – menti de maneira convincente.

- Acho melhor nós irmos andando também. Já está um pouco tarde.

Dorothy dirigiu até minha casa e se despediu com um beijo agressivo. Entrei no meu apartamento ainda um tanto abobalhado e fui tomar um banho; meu corpo cheirava a suor, cigarro e cerveja. Cainhei até a cozinha e tentei comer algo enquanto raciocinava.

Porém, quanto mais eu tentava, mais me confundia.

Eu já não estava entendendo mais nada.

E, então, o telefone tocou. Quem diabos seria aquela hora da madrugada ?

- Alô ?

- Achei que pudesse ter voltado. Gostaria de te fazer um convite.

- Convite ? – falei divertido – Que tipo de convite, Hee-chan ?

Continua...

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N/A : Ando quebrando o antigo ritmo de postagem de capítulos, mas vamos com calma. Esse capítulo, inicialmente, era para ser bem maior, mas minha querida consultora Perséfone me aconselhou a termina-lo onde está. De certa forma, ficou um bom final, não acham ? (prepara-se para se defender de alguma pedra que tentem arremessar). Ah, e este também foi o capítulo com mais referências musicais que já fiz em toda minha vida ! E outra coisinha : capítulo passado eu fiz uma discreta homenagem a o casal mais angst de todos os tempos, Subaru Sumeragi e Seishirou Sakurazuka, personagens do CLAMP. Alguém percebeu ?

Mando beijos especiais também para a Megara-20, Litha, Shanty, Celly, Tina Chan, Anne, Ana Paula, Ophiuchus no Shaina, Kitsune Lina, Koorime Shinigami e ninfa camaleão – que me deixou uma review no capítulo 3. As respostas das reviews estão lá no meu blog, chibi ponto weblogger ponto com ponto br. Muito obrigada e mil beijos ! E lembrem-se : reviews são sempre bem vindas !

Notas :

(1) Referência a música Ne me quitte pas, de Edith Piaf.

(2) Trecho da música Boys don't cry, do The Cure, também inspiradora do título do capítulo.

(3) No kung-fu, são exercícios de seqüências de chutes, socos e posições.

(4) Trecho da música Spanish Guitar, da Toni Braxton.

(5) Referência ao filme Infidelidade, com Richad Geere e Olivier Martinez. É uma cena do início do filme e um comentário pessoal meu.

(6) Tanto este capítulo como o próximo possuem a poesia À Ninon, de Alfred de Musset, intercalando suas cenas.