Réquiem de Esperança
Capítulo XIII – Presente de grego
Disclaimer : Yoshiyuki Tomino, Hajime Yatate e Koichi Tokita são os criadores de Shin Kidou Senki Gundam W, e não eu... Eu acordei de madrugada ouvindo um barulho estranho e flagrei o Duo desmontando o meu computador por falta de atualizações... Então eu o amarrei na cama e o fiz colaborar comigo !
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"Quel que soit le souci que ta jeunesse endure,
(Independentemente da preocupação que a tua juventude suporta,)
Laisse-la s'élargir, cette sainte blessure
(Deixa alargar-se esta santa ferida)
Que les noirs séraphins t'ont faite au fond du coeur;
(Que os serafins negros fizeram a você do fundo do coração;)
Rien ne nous rend si grands qu'une grande douleur.
(Nada nos torna tão grandes como uma grande dor.)
Mais, pour en être atteint, ne crois pas, ô poète,
(Mas, para ser atingido, não crê, ó poeta,)
Que ta voix ici-bas doive rester muette.
(Que a tua voz inferior deva continuar muda.)
Les plus désespérés sont les chants les plus beaux,
(Os mais desesperados são os cantos mais bonitos,)
Et j'en sais d'immortels qui sont de purs sanglots.
(E sei que os imortais são os choros mais puros.)"
Trecho de Le pélican, de Alfred de Musset
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Acordei tranqüilo.
Olhei para o calendário que eu tinha e verifiquei a data. Terça-feira, 15 de agosto. Aniversário do Hee-chan, era o que tinha escrito neste dia.
Ora, ora, ora, chegara o dia da verdade ! Absolutamente não passaria deste dia. Eu finalmente teria de tomar uma atitude definitiva com relação a este assunto, fosse esta boa ou ruim.
Quatre havia me dado uma bela oportunidade ao me deixar de folga por estes dias. Tempo para pensar, conceber uma idéia plausível para me declarar a ele. Não seria fácil – eu nunca disse que seria. Mas reuniria toda a minha coragem e cara de pau para fazê-lo.
Levantei-me e cocei o queixo, percebendo a barba por fazer. Olhei bem para o meu quarto e me surpreendi com o fato de ele estar organizado, apesar do pouco tempo que dedicava ao mesmo. Rumei ao me banheiro e deixei meus pensamentos flutuarem em assuntos diversos enquanto cuidava de minha aparência, vagando entre um prontuário interessante e uma nova peça que entrara em cartaz.
Amenidades serviam para acalmar meus nervos.
Depois de um café da manhã não muito apropriado, respirei fundo. Estava na hora de por em prática a primeira fase do meu plano para passar uma noite bastante agradável. Segui até o telefone e disquei o número que, apesar de não ser muito discado, estava gravado em minha mente como se fosse o meu próprio.
Um toque. Dois toques. Três toques.
- Alô ? – a voz rouca que fazia meus joelhos amolecerem atendeu.
- Como está o aniversariante de hoje ? – falei animado.
- Ah, olá Duo ! Não pensei que nove horas fosse um horário em que você costumasse acordar.
Ele reconheceu minha voz. Bom sinal.
- Que conceitos vocês possuem sobre a minha pessoa... – falei divertido e ele riu.
- Então quer dizer que você se lembrou do meu aniversário !
- Eu jamais poderia esquecer.
- Nossa, que honra. Creio que você não pretenda ir ao orfanato hoje.
- Acertou na mosca. Mas acho que você deve ter programas para fazer hoje.
- Até que não. Como Quat e Trowa vão lá na Fundação Romefeller, pensei em te chamar para sair, jantar em algum lugar. Topa ?
- Mas é claro que sim ! – minha voz saiu mais eufórica do que eu pretendia.
- Ótimo. Você poderia vir aqui às oito e então poderemos ir a algum restaurante conversar. O que acha ?
- Perfeito. Estarei aí pontualmente.
- Finjo que acredito. – ele falou divertido.
- Como é seu aniversário, vou desconsiderar. Um beijo, Heero.
- Outro, Duo.
Ele me mandou um beijo.
Ele me chamou para sair.
Como eu poderia ser mais feliz ?
Bem, se ele me jogasse na parede, me beijasse e me fizesse dele, aí sim eu explodiria de felicidade. Mas quem sabe a noite não me reserve esta doce surpresa ?
Saltitei pela casa, cantando sozinho. O homem por quem me apaixonara me chamou para sair ! Eu terei uma noite estonteante ! Eu vou provar a Dorothy que ela estava pateticamente errada ! Eu vou deixar aquela tal de Relena com a cara no chão !
Eu vou porque eu sei que eu posso.
Não sei como me tornei tão confiante, mas isso não me importa realmente.
Agora eu tenho um pequenino problema : eu preciso de um presente para ele. O que comprar ? Ele deve ter milhares de roupas, perfumes e outras coisas deste tipo. Na verdade, eu gostaria de um presente mais original.
E agora, quem poderá me ajudar ?
Hum... Fei poderia servir para algo, correto ?
Corri para o telefone e disquei.
- Alô ? – uma voz feminina atendeu.
- Pequena Po ! Como vai ? Heero te deu folga hoje, foi ?
- Duo ! Há quanto tempo ! Heero resolveu fechar a empresa hoje, disse que queria fazer esta extravagância. A que devo a honra do seu telefonema ?
- O chato e arrogante do seu marido está por aí ?
- Está. – ela falou divertida e o chamou – Um beijo, Duo querido.
- Outro. – aguardei o outro atender.
- O que quer, baka ?
- Bom dia para você também, Wu-man. Vou ser direto ao ponto.
- Exatamente como eu gosto.
- Você se lembra de alguma coisa que o Heero goste muito ? Uma sugestão qualquer ?
- Procurando presente de aniversário ? Por que não pede ajuda a Quatre ?
- Deixa de ser chato ! Tinha alguma coisa que ele gostava muito antigamente ?
- Por que não dá um livro ?
- Mas ele tem milhares !
- Dê algo original, algum livro que você tenha certeza que ele não possui. Acho que não posso ajudar mais do que isso.
- Obrigado por nada, Fei-Fei.
- Tchau, Maxwell.
Aquele chinês mal humorado praticamente desligou na minha cara ! E que bela ajuda ele me deu ! Hora de voltar ao ponto de partida.
Presente original.
Roupas eram uma péssima idéia. Além de não serem nada originais, roupas devem ser compradas apenas por quem vai usá-las. Por mais que se conheça o gosto de uma pessoa, nada como a própria para escolher o que vai vestir.
Livros, cds ou dvds estavam simplesmente descartados. Com a grande quantidade que ele possuía, seria quase um milagre comprar algo que ele já não o tivesse. Vamos, Duo, pense... O que poderia ser original ?
Algo feito por mim mesmo.
De fato, esta era uma opção maravilhosa, exceto por um mero detalhezinho : eu era péssimo com qualquer coisa manual, exceto quando se tratava de minha profissão. Hum... Mas o que eu poderia fazer ? Talvez pudesse cozinha algo...
Cozinhar para um cozinheiro ? Que patético.
Mas um bolo era o máximo que minha criatividade medíocre desta manhã poderia projetar. Vasculhei a casa em busca de algo e dei um sorriso triunfante quando achei, escondido na minha estante de livros. O livro de receitas de Hilde, que havia pedido emprestado semanas antes dela morrer.
Olhar para ele me dava saudades. Porém não eram saudades negativas, não desta vez. Era uma alegria imensa e orgulho de poder dizer que a conheci, que conheci a mulher extraordinária que atendia pelo nome de Hilde Schbeiker. Saudades dos sorrisos, da risada, da alegria de viver. Uma centelha de vida que, talvez, estivesse morando dentro de mim agora, atendendo pelo nome de Heero Yuy.
Folheei as páginas manuscritas e encontrei a minha receita predileta : bolo de chocolate. Verifiquei os ingredientes e notei que precisava comprar alguns, então me troquei e caminhei calmamente até o mercadinho da esquina. Lembrei do dinheiro que ainda havia sobrado do que Heero me dera quando voltei para casa e resolvi fazer uma extravagância. Se eu ia me encontrar com ele, então por que não cuidar do meu visual ?
Não que isso fosse típico de mim, mas tinha meus arroubos de vaidade.
Comprei um shampoo, um condicionador e um perfume numa loja, antes de ir ao mercadinho. Ainda parei em uma outra loja e provei uma camisa azul de botões; acabei me excedendo e a comprei também.
Achei melhor voltar para casa antes que a minha exceção me causasse graves prejuízos.
Passei uma adorável tarde cozinhando o bolo. Irmã Helen sempre me dizia que, se eu fosse um pouco mais atencioso e menos energético, eu poderia cozinhar maravilhas.
Até que ela estava certa, o bolo tinha uma aparência ótima.
Chequei o relógio, vendo que ainda marcava cinco horas. Deixei o bolo esfriando e fui a minha sessão de terapia e beleza. Primeiro, nada melhor do que um banho quente para colocar os pensamentos em ordem. Guardar Hilde na gaveta lembranças e abrir a gaveta presente, tirando Heero e analisando todas as possibilidades dos mais variados ângulos.
O shampoo e o condicionador tinham uma agradável fragância de erva-doce, invadindo as minhas narinas e me tranqüilizando. Aquele costumava ser o cheiro da mamãe. Apesar de nosso relacionamento não ter sido um mar de rosas, ela ainda fora a minha mãe, por mais que não gostasse de alguns detalhes em mim. E sempre queremos ir para o colo da mamãe quando a situação aperta, mesmo que seja uma mãe idealizada por nossas mentes. E a minha mãe idealizada também tinha esse cheirinho. Erva-doce é o aroma da imagem intitulada lar na minha cabeça.
Enrolei minha toalha na cintura e caminhei até o espelho, reparando novamente na imagem refletida. Minha barba tinha sido feita naquela manhã e meu rosto parecia saudável. Passei desodorante e continuei a me observar enquanto meus cabelos secavam um pouco. A cruz reluzia em meu peito e estranhamente não parecia tão pesada quanto sempre foi.
Nós iríamos ter um agradável jantar e, como as coisas fluíssem da maneira mais adequada possível, poderíamos dar uma esticada até a tal boate Inferno a qual ele tinha me falado antes.
"Se o local fosse mais apropriado e você não estivesse acompanhado, pediria para dançar comigo."
Mas será que dançaríamos apenas na vertical ou na horizontal também ?
Oh, eu teria de cobrar este pedido dele... Hoje, definitivamente, seria um excelente dia no Inferno.
Vesti minha nova blusa azul-marinho, uma cueca boxer preta e uma bela calça da mesma cor da cueca. Trancei meus cabelos – eles poderiam ser soltos em uma outra hora mais apropriada. Passei a nova colônia e coloquei o bolo num recipiente adequado.
Estava na hora de mais uma extravagância : eu iria de táxi, não de ônibus.
Não foi difícil achar um quando saí do prédio. A viagem passou como um borrão, deixando-me um tanto ansioso. Paguei a corrida e me dirigi até uma floricultura que tinha ali perto, comprando uma única tulipa vermelha para finalizar o presente. A minha subida no prédio foi mais uma vez permitida sem questionamentos e subi no elevador com destino ao nono andar.
A primeira coisa estranha que notei foi o fato da porta do apartamento dele estar entreaberta. Ouvi duas vozes falando, mas não pude distinguir exatamente o que falavam. Provavelmente uma daquelas visitas meteóricas de feliz aniversário. Aproximei-me.
Oh, eu realmente desejei nunca ter feito aquilo.
Estava lá, perfeitamente visível pela fresta da porta. Heero, sem camisa e de calça social, acompanhado de Relena, com um vestido azul da mesma cor de minha blusa. As mãos dela estavam na cintura dele e as dele, nos ombros dela. Os dois estavam muito próximos.
Eles estavam se beijando.
Fiquei tão chocado com a cena que passei alguns segundos estáticos. Minha mente estava em branco, exceto pela cena que meus olhos divisavam e que bailava na minha mente como uma dança infernal.
E, então, senti meus joelhos amolecerem, minhas mãos esfriarem e tremerem. Meus olhos umedeceram e meus pés finalmente obedeceram ao comando de me tirarem imediatamente dali. Caminhei a passos largos até a escadaria do prédio, fechando a porta e me sentando em um dos degraus.
Meu mundo caiu.
Como eu pudera ser tão estúpido em acreditar que Heero estava afim de mim ? Eu sempre tive provas indiretas de que ele sentia algo por Relena e, sendo correspondido, nada era mais natural que ele ficasse com ela. Merda, merda, merda ! Isso não poderia estar acontecendo comigo, não agora que eu estava me reerguendo.
As lágrimas fugiam velozmente dos meus orbes.
Então para que ele me chamara aqui ? Ele armou toda esta situação ridícula, deixando aquela maldita porta daquele jeito propositalmente só para me dar um fora ? Só para me machucar, ferir, destroçar ? Ele era um maldito que merecia morrer !
Não, ele não merecia morrer. Eu merecia.
A voz de Dorothy ecoou amargamente dentro da minha cabeça.
"Bom, corra atrás dele, Duo... Depois não diga que eu não te avisei quando você levar uma patada !"
Acho que ela se sentiria bastante satisfeita caso se deparasse com esta situação toda. Quando se trata de relacionamentos, mulheres tendem a ser mais vingativas que os homens. Mas por que Quatre me apoiara ? De todas, esta é a única atitude que não entendo. Quat nunca tentaria me magoar. Ou será que até nisso eu me equivocara ?
Esta minha nova viagem ao inferno não estava sendo nada agradável. Por que eu meti na cabeça que poderia conquistá-lo, que ele estava afim de mim ? Por que fui tão pateticamente confiante hoje cedo quando pensei que deixaria Relena com a cara no chão ? Desde quando eu tinha tido tanta auto-confiança ?
Eu não sei se consigo resistir a mais este golpe. Acho que a idéia de me matar logo depois do aniversário dele revela-se tentadora neste momento. Afinal, o que eu tenho a perder ?
Nada.
Bem, se toda aquela história sobre Deus da irmã Helen estiver correta, eu perderia uma possível estadia no céu. Mas eu já estava afundado no inferno mesmo.
Com os olhos inchados e o rosto úmido por todas as minhas lágrimas, comecei a descer os degraus rapidamente. Eu não iria de elevador, a caminhada deixaria minha mente mais apurada.
Eu já havia cumprido a minha punição no hospital, minhas contas estavam pagas. Eu não devia nada a ninguém, então poderia muito bem me desprender deste mundo. Sim, era exatamente isto que eu faria assim que colocasse meus pés em casa. Seria realmente uma pena não me juntar a Hilde e Solo no outro mundo.
Talvez eu acabasse encontrando a mamãe no inferno.
A cruz em meu peito estava pesando novamente, queimando contra minha pele. Eram momentos assim que quase me faziam pensar que minha mãe olhava por mim onde quer que estivesse. Bem, eu disse quase.
Só espero que a senhora Noventa não tenha um enfarto quando encontrar o meu corpo no apartamento.
Quando finalmente cheguei ao térreo, enxuguei meu rosto na camisa e saí, sem chamar a atenção do porteiro. Havia uma senhora muito pobre em pé na esquina – uma raridade de se encontrar em Sank – e resolvi fazer minha última boa ação em vida.
- Minha senhora ? – ela me olhou espantada, provavelmente com o fato de alguém ter reparado nela.
- Sim ?
- Eu presumo que a senhora ficará muito feliz em ganhar este bolo de chocolate. Você deve estar com fome.
- Muito obrigada, meu filho ! – ela ficou comovida – Que Deus o abençoe !
Apenas sorri e voltei correndo para atravessar a rua, já que não havia nenhum carro passando naquela hora.
Deus me abençoar ? Improvável, principalmente depois do que eu estava prestes a fazer. É melhor eu colocar um aviso na porta do meu quarto alertando sobre o que há lá dentro, não preciso matar ninguém do coração ao ver o meu cadáver repentinamente. Coloquei a pobre tulipa vermelha no bolso de minha calça e corri, atravessando a rua. No meio da pista, ouvi um alto ruído de pneus cantando e me virei, vendo um clarão em minha direção e um louco barulho de buzina.
Não daria tempo.
Será que a minha última boa ação deixou Deus tão emocionado que ele resolveu me levar para o céu, me impedindo de me matar ?
Seria essa a minha bênção final ?
Senti um impacto em meu abdome e caí no chão. Minha vista estava turva e ainda distingui gritos apavorados das pessoas, incluindo aquela senhora. E, subitamente, eu fui assaltado por uma visão antiga. Eu não deveria ter mais que oito anos, correndo até a mamãe que me aguardava com um sorriso no rosto e os braços abertos.
A cruz estava leve novamente... Será que mamãe está aqui, do meu lado, sem nenhuma mágoa ?
E então toda a dor desapareceu.
Continua...
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N/A : Desta vez demorei menos para atualizar, non ? Progresso ! XD Tem um momento em que o Duo pensa na fic "Oh, e agora, quem poderá me ajudar ?" que quase imaginei o telefone tocando e uma voz dizendo "Eu, o Chapolin Colorado !" (risos).
Primeiro, quero pedir desculpas sobre a falta de respostas das reviews do capítulo XI. Acontece que o meu "querido" weblogger teve um ataque e não me deixava logar. Duas semanas depois, quando resolveu colaborar, simplesmente achei que não havia mais sentido postar as respostas. Então eu vou fazer diferente : para as reviews assinadas, as respostas serão mandadas pelo novo sistema do fanfiction. Para as "anônimas", as respostas continuarão constando no meu blog (chibi ponto weblogger ponto com ponto br), se ele assim me permitir. Ah, e a minha fofinha Persefonefez para mim um fanart do Heero, vou colocá-lo lá no blog junto com as respostas mais tarde.Mando beijos especiais para a Blanxe, Litha, Celly, Anne, Ophiuchus no Shaina, Kitsune Lina, usagui no ashi, Shanty e Athena Sagara. Muito obrigada e mil beijos ! E lembrem-se : reviews são sempre bem vindas !
