Réquiem de Esperança
Capítulo XVII – Espoir
(1)

Disclaimer : Yoshiyuki Tomino, Hajime Yatate e Koichi Tokita são os criadores de Shin Kidou Senki Gundam W, e não eu. Inferno é uma criação de Celly M e Elfa Ju Bloom, numa fic homônima de autoria delas. Utilizado com autorização.

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À Shii-chan, na falta da fic que te prometi e que nunca veio. Amorinha, que tua mão fique logo 100 para que possa voltar por inteiro pra gente que te adora !

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Acordei sentindo o cheiro gostoso dos cabelos dele impregnado em minhas narinas. Seu corpo doce estava repousado sobre o meu e sua respiração tranqüila afagava a minha pele.

Meu Duo.

Era simplesmente maravilhoso estar do lado dele agora, com tanta cumplicidade. Quando tivemos a nossa conversa inevitável ontem, pensei por um instante que ele não cederia. Que seria teimoso para não enxergar o óbvio. Graças que não chegou a tanto.

- Hee ? – a voz sonolenta dele me trouxe de volta a realidade.

Ele estava simplesmente adorável. A trança parcialmente desfeita, a carinha de sono e aqueles lindos olhinhos violetas me olhando enquanto ele os coçava com o braço livre do gesso. Puxei-o delicadamente pelo queixo e lhe dei um beijo amoroso.

Quem diria que eu poderia ser tão melosamente apaixonado ?

- Bom dia, Duo. – sorri e lhe dei um beijo na testa.

- Bom dia, Hee. – ele deu um daqueles sorrisos iluminados – Faz café da manhã ? – perguntou com aquela manha inegável.

- Claro. Mas você vai sair da cama também, viu ?

Ele me deu língua e me levantei, puxando-o pela mão. Fomos até o banheiro e terminei minha higiene pessoal mais rapidamente, deixando-o lá enquanto preparava o nosso café.

Pretendia acordar assim todos os dias. Duo era um pequeno anjo que tinha caído diretamente nos meus braços, naquele dia do parque. E pensar que uma pequena rebeldia pessoal de não querer atender Relena durante um almoço renderia a maior alegria da minha vida.

Ele era exatamente o que faltava em mim. Os opostos realmente se atraem, no fim das contas.

Terminei de colocar o café na mesa e encontrei-o sentado, segurando uma caneta a qual levava aos lábios num ar pensativo, enquanto analisava o jornal. Vestido apenas num blusão, a trança ainda parcialmente desfeita, os olhos violetas levemente interrogativos. Dispensável dizer que isto afetava uma outra parte do meu corpo que não a vista.

- Duo ? O que está fazendo ?

- Palavras cruzadas. – ele me olhou e sorriu – Hee-chan, você sabe o que seria "Formulou a lei dos três estágios", relacionado com sociologia ?

- Com quantas letras ? – me aproximei às suas costas, olhando para o papel.

Ele apontou para um espaço decinco letras, donde a segunda era um "o" formado pela inicial de "Pequena flauta ovóide", que era ocarina.

- Comte, Duo. Auguste Comte, positivista.

- Obrigado, Hee. – ele sorriu e deu um beijo carinhoso em minha mão, completando a palavra.

É impossível ver alguém completando umas palavras cruzadas sem dar alguns palpites. Depois de algumas dicas, deparei-me com algo que nunca tinha visto antes. "O praticante da mixoscopia", relacionado à psicologia, 6 letras. Duo deveria saber.

- Duo, o que é "O praticante da mixoscopia" ? Você sabe ?

Os olhos dele automaticamente rolaram para o final da página, onde eu apontava a palavra. Vi um sorriso malicioso se formar em seus lábios e ele olhar para mim, cheio de significados.

- Não sabe, Hee ? Logo você, não sabe o que é mixoscopia ?

Ergui uma sobrancelha e o vi girar a caneta nos dedos, segurando-a firmemente. Deslizou sua mão boa sem pressa até os espaços em branco e começou a escrever a palavra com capricho.

V.

O.

U.

Y.

E.

R.

Vouyer.

Devo ter feito uma cara bem engraçada, pois sua risada cristalina invadiu a sala. Quando finalmente a situação se fechou na minha cabeça, olhei-o com uma falsa indignação.

- Baka !

- # - # -

"You washed away my sad face
And flooded all my empty space
You take away life's heartbreak
And I know with you it's gonna be okay
Before I met you
I was lost
Now that you're standing here
I don't want you to go
Cause I know that your love keeps me alive"
(2)
Rushing Through Me, Backstreet Boys

- # - # -

Duo acabara de adormecer no sofá, após nosso almoço.

Era simplesmente maravilhoso passar os minutos apenas admirando-o, vendo seu peito subir e descer cadenciadamente. Seu rosto sereno, a franja sobre os olhos que tanto amava.

Ausentei-me da sala somente para lavar os pratos, pois sabia que, se não o fizesse, ele choramingaria e imploraria para não fazê-lo. Decerto que eu detesto atividades domésticas, mas já mencionei que o baka me inspira a fazer coisas que não sou acostumado ?

Deve ser a paixão.

Ouvi o característico toque de meu celular e corri para atendê-lo, antes que Duo despertasse.

- Diga, Trowa.

- Interrompo ? – ele falou cheio de segundas intenções.

- Não. Algum problema na empresa ?

- Está tudo absolutamente normal. Mas acho que você vai ter de retornar ao trabalho logo, você sabe como as pessoas gostam de ver tudo funcionando normalmente.

- E por que não estaria funcionando normalmente com você aí ?

- Você praticamente morava aqui dentro, Heero. Mas não era sobre isso que queria falar.

- Então diga.

- Adivinha quem quer fazer um documentário comemorativo sobre a White Fang.

- São tantos os jornais em Sank que não posso adivinhar.

- Mireille Bouquet.(3)

- A editora-chefe do Noir ?

- Exatamente. Edição comemorativa de aniversário.

- Mas o aniversário de dez anos da empresa só é daqui a seis meses.

- Ela tem um projeto ambicioso, ao que parece. Disse que queria marcar uma reunião para comentá-lo e vermos se concordamos, para que ela possa realmente se dedicar a ele. Ela compete com você pela alcunha de perfect soldier. – completou divertido.

- Marque a reunião. Um almoço deve ser suficiente.

- Se eu fosse você já ia me preparando para tirar toda a velharia do baú. Ela vai remexer todo o histórico da empresa.

- Está tudo metodicamente guardado, não terei problemas.

- Imaginei. Depois eu aviso a data do almoço.

- Perfeito. Mudando de assunto, estava pensando em sairmos juntos hoje.

- Você ou o Duo estava pensando nisso ? – falou divertido e grunhi.

- Eu. Aceita ?

- Pra onde ?

- Inferno ?

- Que romântico, uma ida ao inferno a quatro.

Gargalhamos.

- Acho que Quatre vai ter um acesso se souber que pretende tirar Duo do repouso.

- Diga a ele que Duo está precisando viver, e não descansar.

Trowa passou alguns segundos em silêncio antes de completar.

- Deixe-o comigo, eu o convenço. Hoje as onze, na porta da boate ?

- # - # -

Eram dez e meia e Duo terminava de calçar os sapatos. Vestido numa calça preta justa e com uma camisa vermelha, ele estava fabulosamente lindo. Estava sentado atrás dele, em cima da cama, trançando-lhe os cabelos sedosos.

- Como conseguiu convencer Quat a me deixar ir ?

- Não sei, Trowa ficou responsável por isso. Você deve receber milhares de recomendações quando chegarmos lá.

- Imagino. Vai ficar meio esquisito quando estiver dançando com o braço quebrado.

- Só é ter cuidado e não acertar a cara de ninguém. – falei divertido.

- Bobo. – ele me deu língua – Não via a hora de finalmente sairmos para comemorar.

- Tem certeza de que não se sente cansado ?

- Absoluta. Não perderia a chance de ir ao Inferno com você por nada neste mundo. – ele me deu uma piscadela e ri com a conotação da frase.

- A boate é aqui perto, podemos ir a pé. – prendi sua trança com um elástico – Vamos, Duo ?

Ele se levantou e se inclinou, me beijando. Retribuí carinhosamente e me levantei, trancando a casa e indo até o elevador com ele. Ganhamos a rua e senti o ar fresco contra meu rosto. A noite estava linda.

Notei que ele se aproximara instintivamente de mim, mas não me tocara. A idéia de que estávamos juntos, mas que não podíamos demonstrar afeto em público era simplesmente terrível. E isso mexia um pouco com ele, pela maneira que olhava as outras pessoas. Ele sentia uma acusação muda que ainda não existia.

Tive vontade de abraçá-lo, porém isto só pioraria as coisas.

Andávamos atrás de um grupo de garotas, onde uma delas, ruiva, caminhava a passos mais lentos, com as pernas ligeiramente abertas. Provavelmente estava grávida. Só então me toquei que, com as minhas escolhas e as de Trowa, ninguém viria a se tornar o herdeiro da White Fang.

Olhei Duo pelo canto dos olhos e vi que ele mirava a ruiva intrigado. Ganhou um pouco de velocidade e se aproximou dela. Ouvi sua voz doce murmurar :

- Marimeia ?

A ruiva virou-se, um tanto surpresa. Tinha olhos azuis claros, genuinamente lindos, e estava grávida, como supus. Ela sorriu e Duo a abraçou com carinho. Quem diabos era esta garota que tinha tanta intimidade com o meu namorado ?

- Duo ! Eu não acredito ! – ela enlaçou o pescoço dele – Meu Deus, quantos anos que eu não te vejo ! Desde que... – ela parou, com um sorriso vacilante.

- Desde que fui para o orfanato. – ele completou e a soltou, sorrindo.

Aproximei-me e fui para o lado dele. Minha presença simplesmente não seria ignorada.

- Você cresceu tanto ! Está lindo ! – ela sorria.

- Você também está linda, Meia.

Pigarreei. Duo me olhou e sorriu.

- Meia, este é Heero. – ele sorriu e a cumprimentei educadamente – Hee, Marimeia é minha amiga de infância.

- Prazer, Marimeia. – sorri.

- Prazer, Heero. Você não é o dono da White Fang ?

- Sim.

- Meu marido é um dos donos da Manguanacs. – ela sorriu – Vocês têm negócios juntos.

- De fato. – assenti.

- Meia, querida, que barrigão é este ? – Duo falou divertido.

- Duo, Duo, Duo... Você nem imagina ! Estou grávida de 5 meses de uma linda menininha !

- Ah, Meia, que bom ! – ele sorriu – Casou e nem avisou aos amigos... – fez um tom magoado.

- Não me culpe ! Você sumiu depois que foi para a faculdade, como poderia te enviar um convite ? E você nem sequer imagina quem é o meu marido... – ela deu um sorriso cúmplice.

- Quem é ? – Duo ergueu as sobrancelhas.

Era nítido que eu estava sobrando ali, diante de tanta nostalgia.

- Rashid.

- Hein ? – ele arregalou os olhos – O... Rashid ? Aquele Rashid ?

- Exatamente. – ela sorriu – O mundo dá voltas, não é ?

- Estou vendo... – ele falou, ainda perplexo.

- E você e Heero são...?

Duo me olhou e sorriu, rosado.

- Sim.

- Parabéns, Duo querido. E o que foi isto no seu braço ?

Não era uma boa pergunta.

- Fui atropelado, mas nada demais.

- Graças ! Agora preciso ir, as meninas estão me esperando. Além do mais, estou grávida. – ela sorriu.

- Tchau, Meia. A gente se cruza por aí de novo.

Ele a observou sair com um sorriso saudoso.

- Pelo visto, ela foi importante para você.

- Nem imagina o quanto, Hee. Minha amiga de infância e, confesso, meu primeiro amor também. Aliás, ela meio que foi um marco na minha vida.

- Marco positivo ?

- Hum... – ele pareceu pensar – Estou com você, não estou ? Então sim, foi um marco positivo. – sorriu.

Olhei para o relógio, onze e dez.

- Baka, estamos atrasados. – recomeçamos a andar.

- Calma, Hee, não era aqui pertinho ?

- E é, mas não gosto de atrasos.

Ele riu e vi seus lábios formarem um perfect soldier mudo. Grunhi.

- Duo... Ela sabia que você se interessava por rapazes ?

- Não, eu tinha dezesseis anos quando a vi pela última vez e nunca tínhamos falado sobre o assunto.

- E por que ela não se espantou ?

Aquela mesma insegurança em seus olhos violetas.

- Talvez porque eu estivesse feliz e isso bastasse. – sorriu, olhando-me.

Sim, era somente isso que bastava para nós dois.

Caminhamos por mais alguns minutos e encontramos dois rostos familiares na porta da boate, onde lia-se Inferno. Quatre nos olhava com uma cara de que tínhamos discutido com Papai Noel e Trowa fitava o namorado divertido.

- Duo ! – Quat correu atrás dele – Que invenção foi essa de sair, depois do acidente ? Você deveria estar repousando, sabe disso !

- Você bem sabe que os médicos são os piores pacientes, Quat querido. Lembro que você mencionou isso quando era meu professor. – replicou divertido.

- Ora, Duo, não tente me envergonhar de minhas próprias palavras ! – ele falou corado e Trowa e eu rimos – E não estou vendo graça, meninos. – fez um pequeno bico.

- Vamos, Quat, deixe Duo se divertir. – Trowa se manifestou – Apenas lhe dê algumas recomendações. Com você e Heero aqui, ele será obrigado a cumpri-las.

Duo deu um muxoxo e sorri. Ele sabia que não teria escapatória.

- Olhe aqui, mocinho. – o árabe levantou o indicador, ameaçadoramente – Nada de bebidas nem danças exageradas. E vai repousar sempre. Se eu achar que você está se excedendo, puxo as suas orelhas !

- Sim, mamãe. – Duo respondeu divertido.

- Lá dentro você briga mais com ele, Quatre. Vamos entrar, já está na hora.

Puxei Duo pela mão e entramos.

O ambiente fazia jus ao nome da boate. Era uma pequena amostra do Inferno, apinhado de pessoas dançando sedutoramente ou bebendo em algumas mesas ou no bar. Fazia bastante sucesso apesar das críticas ferrenhas da imprensa de Sank.

Nós quatro entramos e nos sentamos numa mesa, onde um lindo garçom loiro e de olhos azuis se aproximou. Entregou-nos um cardápio.

- Poderiam escolher suas bebidas ? – seu sotaque era grego e ele encarava discretamente o meu Duo.

- Uma batida para mim e um campari para ele. – Quat falou por si e pelo namorado.

- Um bloody-mary. – lancei um olhar assassino.

- Err... Água ? – Duo falou incerto e o garçom sorriu.

- Água, querido ? Vamos lá, você precisa beber algo mais forte.

- Água. – falei com firmeza e o garçom se afastou.

Duo deu uma risada.

- Sabia que você fica lindo com ciúmes, Hee-chan ? – ele me deu um beijo apaixonado o qual não pude recusar.

O garçom trouxe nossas bebidas, mas sem tanto entusiasmo.

- Duo, querido... Eu estive pensando e tive uma idéia. – Quat falou.

- O que foi ?

- Bem, você não fez sua residência. Conversei com os outros diretores do hospital e, devido a sua conduta exemplar, decidimos te dar uma bolsa caso você passe na residência.

Duo deu um sorriso lindo, de orelha a orelha. Quatre era realmente um anjo.

- Não é ótimo, meu amor ? – falei em seu ouvido e ele se arrepiou.

- Quando são as provas de seleção, Quat ?

- Teremos provas daqui a um mês, mas é claro que o convite é para as provas do ano que vem. É impossível estudar tantas coisas em apenas um mês.

- Ano que vem ? Nada disso ! Eu vou fazer as provas mês que vem, Quat, e vou passar.

- Mas Duo, é impossível ! Você teria de revisar todos os assuntos do curso em apenas um mês !

- Quat... Não custa nada tentar, custa ? – me manifestei, percebendo o quão importante aquilo era para Duo. Ele me lançou um olhar agradecido.

- Isso mesmo. Deixe-me tentar, por favor.

- Não acho isso certo... Não, não é o mais adequado e...

- Quatre ! – Trowa falou, cansado – Já conversamos sobre isso. Duo faz as provas do mês que vem e, se não passar, tenta depois de novo.

- Tudo bem, tudo bem. – deu um gole em sua batida – Vocês me convenceram.

Duo deu um sorriso iluminado e seu olhar de determinação me dizia que ele daria tudo de si nesta próxima prova. E eu iria apoiá-lo da melhor maneira possível. Afinal, se ele estava dizendo que conseguiria, não deveria ser algo assim do outro mundo. Além do mais, isto representaria um objetivo para ele.

Objetivos são as coisas mais fundamentais da vida. Pessoas sem objetivos perdem-se no meio da multidão, tendem a desistir de tudo. Provavelmente foi isto que aconteceu com meu baka e não deixarei que isto se repita. Vou ajudá-lo a viver, nem que seja por minha causa.

Já disse o quão sou egoísta ?

A nossa atenção foi despertada para o barman, que, com um sotaque francês incrível, anunciou com um megafone :

- Atenção ! Se os anjos ou os demônios estão na casa, apareçam agora !

Senti Duo se assustar e passei os braços pelos seus ombros, trazendo-o para perto de mim.

- Calma, Duo. Agora é que tudo vai ficar ainda melhor. – sussurrei em seu ouvido e ele se arrepiou, sorrindo para mim.

Houve uma gritaria ensurdecedora quando três mulheres – uma ruiva, uma loira e uma morena – subiram em cima do balcão do bar, acompanhadas de um rapaz loiro. Os quatro trajavam roupas mínimas e dançavam sensualmente, instigando a todos os espectadores. Senti a respiração de Duo pesar a meu lado e sorri, abraçando-o pela cintura com força. Ele me beijou de maneira quente.

Voltamos a olhar o show dos dançarinos até que, ovacionados, eles concluíram a apresentação e desceram. O barman ruivo servia a contragosto e senti nossos olhares se cruzarem. Ele seria uma boa opção se eu não tivesse o baka lindo que estava entre meus braços neste momento.

- Hee... Eu quero dançar. – ele falou em meu ouvido.

Levantei-me com ele e o puxei até a pista, onde todos dançavam num ritmo sensualmente frenético. Quatre me lançou um olhar de censura, claramente dizendo que eu estava fazendo-o sair do repouso. Dei de ombros e continuei meu caminho com ele.

Duo inicialmente fechou os olhos e deixou seu corpo se mover no ritmo da batida. Senti-o se aproximar de mim e ele apoiou seu braço engessado em meu ombro. Rodeei sua cintura e segui seu ritmo, vendo-o dar um sorriso.

- O que foi ? – falei em seu ouvido.

- Lembrei que já tinha me convidado pra dançar antes.

Sim, como poderia esquecer ? Ele dançava sensualmente, atracado naquela garota loira no meio da pista de dança, como se fossem se engolir. Quem aquela maldita pensava que era pra dançar com o meu...

- Você fica lindo enciumado, Hee. – ele cortou meus pensamentos.

Minha cara deveria estar muito psicótica para que ele relacionasse logo àquela garota.

Virei-o de costas e colei meu peito nele, passando minhas mãos em seus quadris. Dançava num ritmo sensual e calmo. Excitante.

- Danço melhor que ela ?

- Sem dúvidas. – ele segurou minhas mãos, roçando seus quadris em meu membro.

Coisa perigosa de se fazer no meio de uma multidão.

- Duo... – senti meu corpo corresponder a seus movimentos.

- Relaxa. Está escuro, ninguém vai ver o que tem aí escondido. – falou divertido.

Grunhi e ignorei. Eu também podia jogar este jogo, afinal de contas. Puxei-o contra mim pela cintura e passei a mordiscar sua orelha, sentindo-o amolecer em meus braços.

Não pensei que seria tão fácil rendê-lo. Talvez fosse a paixão.

Ele se virou de frente para mim e me beijou de maneira doce, continuando a dança. Senti seus dedos roçarem minha nuca e me arrepiei; era um dos meus pontos fracos. Ele beijou demoradamente aquele ponto atrás da minha orelha que fez meus joelhos virarem água.

Dois pontos fracos em menos de dez segundos.

Foi quando vi de relance que Quatre nos lançava um olhar nada amigável.

- Duo, hora de descansar.

- Já ? – fez manha.

- Quatre vai me esganar.

Duo olhou para trás e deu uma risada. Puxou-me pela mão até a mesa e nos sentamos.

- É bom o mocinho tratar de descansar. – Quat desatou a falar quando chegamos perto.

- Tá bom, tá bom. – Duo fez um sinal de rendição – Eu vou obedecer às ordens médicas.

- Eu vou garantir. – emendei.

- Agora, se nos dão licença... – Trowa se levantou com Quatre – Vamos nos divertir um pouco.

Duo deu risinhos que fizeram Quatre corar.

Inferno nos foi agradável até as quatro da manhã, quando saímos praticamente expulsos pela dona da casa, que tinha um gênio forte, acompanhada do dono italiano. Trowa e Quatre se despediram na porta e eu e Duo voltamos caminhando para casa.

As ruas estavam completamente desertas e ele não se sentia mais acuado. Tinha seu sorriso doce, um braço agarrado no meu, e olhos sonhadores. Era assim que sempre gostaria de vê-lo e fazê-lo se sentir. Um pássaro livre.

Repentinamente, ele se soltou e correu até o poste mais próximo, rodando-o desajeitadamente com a mão boa, no estilo de Gene Kelly em Cantando na Chuva. Ouvi sua voz cantar, um pouco desafinada.

- Fly me to the moon and let me play among the stars...(4)

Sorri. Frank Sinatra, huh ? Eu poderia acompanhá-lo nesta.

- Let me see what spring is like on Jupiter and Mars...

Vi seu rosto surpreso me olhar. Ele não esperava que fosse acompanhá-lo nesta cantoria.

O fato era que eu gostava de cantar, por incrível que pareça.

- In other words, hold my hand.

Ele sorriu e se aproximou, segurando minha mão carinhosamente.

- In other words, darling, kiss me.

Beijamo-nos apaixonadamente, às quarto da manhã, no meio de uma avenida deserta. Longe dos olhos preconceituosos de uma sociedade hipócrita, baseada em conceitos morais os quais ela mesma desobedece, às escondidas. Longe da censura, da acusação, dos olhares horrorizados e das exclamações. Protegidos de um julgamento idiota de que seríamos anormais ou loucos.

Duo saiu rodopiando pelo meio da pista, solto e cheio de alegria. O que poderia ser mais certo do que duas pessoas se amarem e serem felizes ?

- Fill my heart with song and let me sing forever more. – ele falava enquanto girava e girava.

Notei que Duo ficara tonto e me posicionei atrás dele. Ele amoleceu em meus braços, com um sorriso bobo.

- You are all I long for, all I worship and adore. – cantei enquanto olhava em seus olhos.

Nada, mas nada seria mais certo que aquilo. Era o que seus olhos me diziam.

- In other word, please be true...

Sim, era um pedido sincero. Ele não agüentaria se machucar mais, eu podia sentir. Eu representava o fio que o unia à vida. Peguei-o em meus braços e sai rodopiando, sentindo sua risada cristalina invadir os meus ouvidos.

Não estávamos preocupados que alguém pudesse acordar. Estávamos em nossa própria redoma de vidro, livres de tudo. Respirei fundo e entoei os últimos versos.

- In other words, I love you.

Sentia seu polegar fazer um carinho circular em minha bochecha e capturei seus lábios num beijo doce. Devolvi-o ao chão e passei seu braço engessado pelo meu pescoço, caminhando com ele de volta. Que Quatre nunca soubesse destes nossos rodopios.

- Gostou da noite ? – perguntei enquanto girava a chave da porta de seu apartamento.

- Foi perfeita. Não sabia que o Inferno era um lugar tão agradável.

Rimos juntos. Ele era um grande piadista. Poderia perder um amigo, mas nunca uma piada. Este era Duo Maxwell, meu baka.

- Se o inferno lhe foi assim tão agradável, imagina quando você conhecer o paraíso.

- E quem vai me levar até lá ? – ele me olhou cheio de segundas intenções.

Foi só então que percebi o que tinha acabado de dizer.

Duo veio caminhando em minha direção e me beijou de uma maneira quente, passando a mão boa pelas minhas costas. Apertei sua cintura e ele passou as pernas pelo meu tronco, fazendo uma trilha de beijos pela minha mandíbula.

Ele sabia ser quente.

Seus dedos trabalhavam com grande agilidade para tirar minha blusa, mesmo com um braço engessado. Senti seus dedos em minha pele, tocando meus pontos sensíveis, enquanto o deitei sobre a cama que nem notei que minhas pernas buscavam.

A cama deu um rangido quando cedeu aos nossos pesos. Duo se contorcia a cada carícia nova que era testada, gemendo baixinho e aguçando ainda mais o meu cérebro a pensar em algo mais prazeroso. Seus dedos se emaranhavam em meus cabelos curtos enquanto meus lábios o aliviavam de alguma forma.

Soltou um muxoxo quando evitei que tudo terminasse rápido demais. Mas sua risada cristalina invadiu o quarto logo a seguir, como uma criança, quando beijei seu umbigo. Ergui minha cabeça, intrigado, e admirei sua beleza.

Era estonteante.

Seus cabelos, agora soltos, caíam pelo colchão, formando um mar castanho que contrastava com sua pele. Seus olhos, tão claros, agora estavam escuros de desejo. O crucifixo brilhava fracamente com a luz escassa, entre os mamilos róseos cheios de marcas avermelhadas dos meus dentes.

Duo se entregou de uma forma que pensei não ser capaz. Corpo, alma e mente. Sinto que também fiz o mesmo. Era a primeira vez que tudo era algo mais além de sexo.

E, sentia também, satisfeito, que tudo aquilo era um novo marco na vida dele. Um marco positivo, finalmente.

A respiração dele afagava meu peito enquanto ele sorria, adormecido. Brincava carinhosamente com uma mecha de seu cabelo sedoso, ainda pensando se tudo aquilo fora real de fato. Mas a felicidade que sentia dentro de mim garantia tudo.

Duo era muito mais do que eu pudesse pensar. Era muito mais do que pensei que teria.

Será que eu realmente merecia alguém como ele ?

Continua...

- # - # -

N/A : (escondida das pedras) Err... Eu demorei MUITO mais do que o previsto... (abaixa de uma pedra perdida) E, bem... Eu não tenho desculpas a dar, acho que ninguém quer ouvi-las... (choramingando baixinho) Será que todo mundo desistiu da minha fic ? Não gosto de atrasar, mas não teve jeito... E essa tentativa de lemon foi péssima. Beijocas especiais a Litha, Blanxe, Tina-chan, Pipe, Athena Sagara, Shii-chan, Kitsune Lina, Anne e Ayame Yuy. As respostas das reviews "anônimas", assim como alguns comentários, estão no meu blog, o chibiusa-chan ponto blogspot ponto com. E, caso alguém ainda esteja aí, lembrem-se : reviews são sempre bem vindas !

PS.: Gostaram da participação especial do Miro e do Kamus ?

Notas :

(1) Espoir significa esperança, em francês.

(2) A tradução significa : "Você levou embora a minha cara triste/ E preencheu todo o meu espaço vazio/ Você levou embora a dor no meu coração/ E eu sei que com você tudo ficará bem/ Antes de te conhecer/ Eu estava perdido/ Agora que você está aqui/ Eu não quero que você vá/ Porque Eu sei que seu amor me mantém vivo"

(3) Mireille Bouquet é uma personagem do anime Noir e, portanto, não me pertence. Aqui também se encontra fora de sua rotina original.

(4) A música cantada é Fly me to the moon, de Frank Sinatra, já cantada no capítulo 4 desta fic. Tradução : "Leve-me até a lua e deixe-me brincar por entre as estrelas/ Deixe-me ver como a primavera é em Júpiter e Marte/ Em outras palavras, segure minha mão/ Em outras palavras, querido, me beije/ Preencha meu coração com música e deixe-me cantar eternamente/ Você é tudo que eu sempre esperei, tudo o que venero e adoro/ Em outras palavras, por favor seja verdadeiro/ Em outras palavras, eu te amo".