N/A: Obrigada pelos comentários, Nina, Angela e Laura! Não atualizei antes por que estava em viagem, mas agora que voltei já está tudo aqui para vocês.
Distorções
"As
idéias que possuímos são capazes de nos
possuir"
Edgar Morin
"Para
todo problema complexo, existe uma solução clara,
simples e errada"
George Bernard Shaw
Rony deu um cutucão no amigo, para que ele voltasse a olhar para a orla da floresta, no lugar de observar o lago e os aurores.
- Lá vem ele. – Disse Hermione chamando a atenção de Harry.
No instante em que se virava para a floresta, ele viu um vulto entre as árvores, uma sombra desconhecida, com uma grande capa, o ar parecia anormalmente mais gelado, o vulto dobrou a direita, cinco segundos depois Odoy saiu da floresta, com a fênix debaixo do braço.
- O que foi aquilo? – Perguntou Harry com o olhar fixo no ponto onde havia visto o vulto. – O que foi aquilo?
Rony olhou par ele com uma cara estranha, uma cara muito estranha, que não lhe pertencia. Quando Harry olhou realmente para o amigo, ele pode ver, o vulto. Um perfeito comensal estava sentado ao seu lado, a capa negra balançando levemente com o vento, o capuz encobrindo sua identidade supostamente já conhecida.
Debaixo do capuz surgiu uma voz, pastosa, ele não conseguiu entender o que dizia. Devagar uma outra voz sussurrante e rouca surgiu, acompanhando a primeira. Ambas as vozes vinham do comensal, mas Harry podia ver nitidamente os cabelos ruivos de Rony debaixo das vestes negras, ele tinha a impressão que as vozes competiam entre si, tentando ser ouvidas. Ele entendeu algo como "Estás bem?" Da voz vagarosa e enrolada, mas a outra tomou o seu lugar, em um rouco: "Mestre, mestre".
Ele notou, com horror, que um outro comensal ocupava o lugar de Hermione, ou seria a própria garota vestida como uma seguidora de Voldemort? Em um relance, ele viu os cabelos castanhos de Mione por baixo do capuz, os olhos não mais brilhantes, a voz errada... "Harry!", distante.
Harry apertou os olhos com força, "Vou acordar a qualquer momento... Por que diabos o Rony não me acorda?". Suas piores suspeitas se concretizaram quando abriu novamente os olhos, estavam todos lá. As arquibancadas, antes repletas de alunos, agora eram um mar de vestes negras, dementares, comensais, vampiros...
Ele não conseguia gritar, não havia ajuda, o diretor não estava mais ali, os professores não estavam mais ali, só havia Harry e Eles. A Hermione-comensal inclinou-se para ter uma visão melhor de Harry, já que entre eles estava Rony. Um ruído nojento de alguma coisa pobre se partindo acompanhou o movimento da garota, ela sorriu com dentes pobres para ele, os olhos opacos. Ronald ergueu a mão pálida em direção a Harry, em uma ação rápida, ele se distanciou, espremendo-se no canto da arquibancada, a mão se aproximava, recuou mais um pouco, e antes que pudesse notar, havia saído do chão do seu banco, se atrapalhou, o pé estava no ar, ele caiu, agarrou-se com força na madeira do acento, estava dependurado do último andar da arquibancada, contava somente com a força de suas mãos para se manter preso a algum lugar.
O vulto de preto surgiu vagarosamente, se inclinado para apreciar a situação perigosa de Harry, ele podia ver o rosto desfigurado de Rony atrás do capuz. Suas mãos suavam, os dedos começavam a escorregar, Rony oferecia devagar a sua mão, Harry tinha quase certeza que se pegasse, a mão cairia junto com ele, tinha aspecto cadavérico. Caiu, não conseguiu se segurar em nada, em uma queda livre, porém, algo o freou, ficou cego por alguns instantes, uma luz muito forte atingiu-o em cheio.
Vozes começaram a cercá-lo, gritos por todos os lados...
- HARRY! – Claramente e alto, o seu nome foi dito, as vozes incompreensíveis sumiram, dando lugar a berros muito intensos.
Ele olhou para cima, as sombras tomando forma novamente. Do último andar da arquibancada grifinória, Rony empunhava a varinha fortemente, uma gota de suor estava prestes a pingar do seu nariz, o rosto em uma expressão de força, quase dolorosa. Era o Rony de antes, não havia mais capas, nem capuzes, não havia olhos demoníacos ou dentes pobres, era o conhecido Ronaldo Weasley, o amigo de longa data.
Ele sorriu levemente, aliviado. Estava flutuando a alguns metros do chão, Rony havia lançado um feitiço nele, para que não caísse. Hermione apareceu ao lado do Weasley, e logo empunhou a varinha, em um decidido "Wingardium Leviosa". Sentiu-se mais leve ainda, a expressão de Rony se aliviou, Harry foi alçado para cima, voltando ao seu lugar, ao lado dos amigos. Snape estava perplexo, Dumbledore não sorria mais, porém os alunos nem pareciam ter notado, pois estavam com os olhos pregados em Odoy, que também olhava para Harry.
- Harry, Harry! – Rony o ajudou a sentar. – O que foi? Por que você se jogou?
Ele observou a expressão assustada dos dois. Olhou para os lados, certificando-se de que tudo voltara ao normal.
- Eu... Eu. – Gaguejou, ainda não conseguia falar. – Comensais...
- O que? – Pediu Hermione os olhos, castanhos amendoados, arregalados. – Harry, vamos sair daqui, você não está bem... Parece-me pálido demais.
- É, vamos embora, falaremos no caminho. – Rony parecia cansado.
Eles desviaram vagarosamente dos alunos, que agora aplaudiam fervorosamente o novo professor, desceram as escadas, alcançando o gramados e, sem ninguém notar, seguiram até o castelo.
- Você me salvou. – Disse Harry, ele estava com os braços apoiados nos ombros de ambos, em busca de equilíbrio.
- Eu fiz automaticamente. – Respondeu Rony, um leve sorriso tomando o seu rosto. – Graças a Merlin lancei o feitiço a tempo.
- Harry, por que você pulou? – Perguntou Hermione olhando para baixo, como se houvesse sofrido uma derrota.
- Não pulei de propósito, eu cai. – Resmungou Harry. – Eu... Estava vendo coisas.
- Coisas como o que? – Insistiu a garota.
- Comensais, seres das trevas... – Respondeu Harry sem encará-la, uma fagulha de medo de encontrar novamente os olhos opacos. – Todos haviam se transformado, eu estava sozinho.
- Isso não aconteceu. – Rony estacou. – Estávamos todos lá, eu lhe chamei e você não atendeu, ficou branco como um fantasma, sem aviso... Depois eu ia lhe cutucar, para que parasse com aquilo. – Ele olhou para Harry. – Estava começando a me assustar com aquele olhar aterrorizado... E tal foi a minha surpresa quando o senhor recuou a ponto de cair e quebrar boa parte dos seus ossos no chão?
- Rony me chamou atenção, quando olhei para você, entretanto, pareceu ficar pior do que já estava, não entendi nada. – confessou Hermione parando de andar também
- Para o nosso desespero, ficou pendurado ali, quase caindo. – Continuou Rony confuso. – Mas quando tentei ajudá-lo, se jogou! Parecia fugir de mim!
- Eram comensais. – Explicou Harry. – Comensais, dementadores, e outras criaturas... – ele se virou para Rony. – Vestidos como comensais, semimortos...
Rony o encarou com seu olhar confuso, como se o amigo estivesse dizendo absurdos, estava de fato.
- Vamos lá pra enfermaria? – Sugeriu Hermione.
- Não, vamos esperar Dumbledore. – Disse Harry firmemente. – Estou muito bem.
- Acho que não, ver comensais por aí não é normal, ainda mais quando são os seus próprios amigos.
- Eu sei Rony, mas isso tem alguma coisa com o Vol...Ele. – Respondeu Harry nervoso.
Hermione e Rony se entreolharam.
- Ok, vamos. – Sussurrou Mione lançando um último olhar à bagunça nas arquibancadas.
Caminharam mais um pouco no gramado, entraram pelas grandes portas do castelo, era estranho ver as mesas do Salão Principal totalmente vazias, um silêncio somente quebrado pelos passos dos três.
Pararam em frente à gárgula que dava acesso ao escritório de Dumbledore. Cerca de dez minutos depois ouviram uma correria vinda do Salão, alguns gritos, aplausos, e logo puderam avistar a ponta do chapéu do diretor, que subia as escadas com pressa.
- Sabia que estariam aqui. – Disse ele para os três em um tom enérgico, como se contagiado pela euforia dos alunos. Ele encarou a gárgula à sua frente, e disse, quase desafiadoramente – Bolo de limão e amora!
A passagem se abriu, produzindo um ruído que indicava que as dobradiças precisavam de algum tipo de reparo.
- Vamos, entrem. – Falou ele impelindo os três passagem adentro.
As escadinhas estreitas em caracol conduziram-os até a sala do diretor, os objetos estranhos de sempre continuavam lá, embora houvesse alguns novos artefatos, coisas um pouco mais escuras que o comum.
Dumbledore convidou-os a sentar nas três cadeiras de madeira, forradas com um tecido colorido peludo, que estavam em frente à mesa de mogno, na qual estavam muitos pergaminhos, dos mais variados aspectos. O diretor se acomodou na fofa cadeira atrás de sua mesa, ficando de frente para os alunos.
Em um ato inesperado, ele pegou as mãos de Rony e Hermione, com carinho, e passou suavemente os dedos longos nelas.
- Obrigado. – Agradeceu ele suavemente. – Se não fosse por sua rapidez. – Ele olhou incisivamente para Rony, que corou de imediato. – E sua habilidade. – Voltou o seu olhar azul plácido para Hermione. – Não poderíamos afirmar com certeza, que Harry estaria aqui.
- Ah... – Balbuciou Rony nervosamente. – De nada...
- Somente fizemos o que devíamos. – Disse Mione, um pouco mais firme que o Weasley, ele parecia totalmente desconcertado por ter recebido um elogio do próprio diretor.
- Não. – Discordou Dumbledore, surpreendendo a garota. – Quem deveria ter salvado Harry era eu, os professores, um responsável por ele, mas creio que não conseguimos notar a tempo o que acontecia, e suas ações foram decisivas. – Ele apertou mais fortemente a mão de ambos, e as soltou. Os dois se recolheram, vermelhos, mas não de vergonha, e sim de orgulho.
- O que aconteceu? – Harry escutou a pergunta de Dumbledore, mas quase não conseguiu acreditar. Ele não havia perguntado "Por que se jogou de lá?" E sim, o que havia acontecido, ele confiava em Harry, sabia que algo de estranho acontecia, que ele nunca desistiria daquela maneira. Como pôde deixar de acreditar que o diretor, um dia sequer, havia duvidado seriamente de sua palavra? Que havia se voltado contra ele? Como se deixara levar pelo olhar descrente de Snape, por suas palavras sujas? Ele sabia em quem devia confiar, para que olhos devia olhar, procurando a verdade, e estes, eram os de Alvo Dumbledore.
Harry sorriu, feliz, apesar da situação. Ele explicou detalhadamente o que acontecera, não omitindo um detalhe sequer. Ao terminar, um silêncio quase incomodo pairava no ar, Hermione tinha uma expressão de repulsa no rosto, e olhava-se no espelho mais próximo, se avaliando, Rony estava olhando a sua mão contra a luz do sol, procurando alguma coisa, Dumbledore parecia pensativo, afagando com suavidade a sua barba.
- E então? O que aconteceu comigo? – Pediu Harry quebrando o silêncio, estava impaciente.
- Não sei. – Respondeu francamente o diretor.
- O senhor não sabe? – Disse Rony baixando a sua mãos, e olhando duvidoso para Dumbledore.
- Não. – Ele se levantou de sua cadeira devagar, apoiando-se na mesa. – Não sei tudo, e a idade começa a ter considerável efeito sobre mim. – Ele começou a andara vagarosamente pela sala, acompanhado dos olhares dos alunos. – Não sei o que está acontecendo, Harry.
- Mas, não fazes nenhuma idéia? – Harry olhou esperançoso para ele, a fênix entrou voando pela janela e pousou em seu poleiro, seu dono passou a mão com delicadeza em suas penas vermelhas.
- Idéias, todos nós temos. – Disse ele vagamente. – Suposições...Muitas suposições. – Dumbledore lançou um olhar decidido para Harry. – Todos os componentes da Ordem têm pensado muito em você, Harry, no seu sonho...
Harry arqueou a sobrancelha em surpresa, não pensava que haviam levado a sério o seu sonho.
- Chegamos a muitas conclusões. – Continuou o diretor. – A oclumência, pode, de fato, ter causado este sonho... Mas nós sabemos, que há alguma coisa a mais.
- Algo a mais? – Repetiu Harry em tom de duvida.
- Sim, e esta sua visão, demasiadamente real, confirma minhas suspeitas. – Ele se afastou por um momento da fênix, voltando a dar pequenos passos pela sala. – A oclumência não é capaz de produzir esses efeitos em alguém, quando dormimos é mais fácil dominar a nossas mentes, mas visões? Não, isso não é parte desta magia.
- Esta me deixando mais confuso do que já estou. – Harry deu um suspiro de impaciência.
- Teremos que fazer alguns testes no senhor. – Dumbledore se virou para eles, sua capa fez uma majestosa volta, o acompanhando. – Não podemos mais adiar.
- Testes? Que testes? Como que intuito? – Perguntou Harry se levantando bruscamente, Hermione o puxou pela manga, fazendo-o sentar novamente.
- Para concluirmos o que existe entre você e Voldemort além de oclumencia. – Disse o diretor firmemente. – todos nós sabemos que ele está envolvido de alguma maneira nisso.
- Tudo bem, podem fazer os tais testes. – Concordou Harry olhando fixamente para o homem.
- Então vamos? – Ele caminhou até o garoto e agarrou o seu braço.
- Agora? – Perguntou ele descrente.
- Claro, não temos tempo a perder! – Ele puxou Harry da cadeira, para que se levantasse rápido. – Os senhores vão junto com nós?
- Não, acho que não é preciso. – Disse Hermione lentamente, olhando os dois perplexa, Rony concordou com ela, em um aceno com a mão. – Já vamos indo então, temos muito que fazer agora que somos monitores. – Para a indignação de Harry, os dois se retiraram da sala.
- Vamos de lareira? – Perguntou ao diretor enquanto era conduzido até a estante mais próxima.
- Nós? Não... – Resmungou Dumbledore procurando alguma coisa nas prateleiras. – Temos algo muito mais prático e menos cheio de fuligem. – Ele sorriu pegando um pequeno estojo preto para penas.
- Vamos como então? – Harry observou o homem puxar o fecho dourado lentamente, abrindo o estojo, tirar algumas penas amassadas e colocá-lo no chão com cuidado.
- Com isso. – Esclareceu ele apontando para o estojo do chão. – Pode entrar.
- Entrar? – Ele se segurou para não rir, procurou ser o mais educado e direto possível. – Acho que não vou caber aí.
- Vai sim. – Disse Dumbledore serenamente, fez um gesto para que entrasse. – Eu vou também.
Harry olhou duvidoso para o diretor, mas ele não mudou suas suaves feições convictas de que ambos caberiam no pequeno estojo. Ele deu um suspiro desanimado, abriu um pouco mais a abertura do estojo, e posicionou o pé, para que entrasse, tinha a leve sensação que nem o seu pé caberia ali. No entanto, ficou muito surpreso, a ponto de soltar um grito, quando soltou todo o seu peso sob o pé suspenso, e cravou-o no estojinho, sentiu como se tivesse pisado em falso, em um imenso buraco. Agarrou-se a barra da roupa do diretor, temendo cair.
- O que você está fazendo? Pombas! Solte-me Harry! – Disse Dumbledore incrédulo com a atitude do garoto. – Ah, eu esqueci de perguntar: Você conhece esses estojos-penas-flutuantes?
- Não! – Disse Harry sôfrego quase caindo.
- Hum, é uma bela justificativa para a sua surpresa... – Ele alisou a barba longamente. – vou explicar para você então...
Parecia que ele havia esquecido que o seu ouvinte estava na beira de um abismo, possivelmente sem fim, e se encontrava agarrado na barra de sua capa, lutando por sua vida. Porém, Harry se encontrava ciente da situação, já que era ele quem cairia, antes que pudesse ouvir uma explicação razoável sobre aquele estojo-surpresa que abrigava um abismo, esgotaram-se suas forças e ele caiu.
Fez questão de gritar durante toda a queda, afinal, poderia ser o seu ultimo grito... Mas aquilo decididamente estava demorando demais, talvez por que fosse um abismo sem fim... Ou talvez não fosse.
- Harry, você não chegou a acreditar que eu te jogaria em um buraco, acreditou? – uma voz surgiu ao lado dele, era Dumbledore, caindo juntamente com ele, um ponto de luz irradiava de sua varinha, quebrando a escuridão. – Ainda mais sozinho...
- Eu realmente acho menos assustador viajar de vassoura ou lareira. – admitiu olhando para o diretor. – A sensação de cair eternamente não é muito agradável.
- Logo vai mudar de direção. – Comentou ele calmamente.
- Direção? – O diretor estava começando a falar alguma coisa, quando foi interrompido pelos gritos de Harry, estava sendo sugado para cima, muito rápido.
Ele não sabia o que estava acontecendo, agora que se acostumava à sensação de cair, começou a subir vertiginosamente, envolto em escuridão, não conseguia ver nada ao ser redor, ele avistou um pequeno ponto de luz muito longe, bem acima de sua cabeça. Este ponto começou a crescer a medida em que ele subia, até que se tornou tão grande, que Harry pôde passar por ele.
Foi literalmente cuspido para fora, jogado violentamente contra uma parede fria. Quando abriu os olhos, o diretor já estava de pé ao seu lado, estendendo-lhe a mão par auxiliá-lo.
- Estás bem? – Pediu ele ajudando Harry a levantar.
- Acho que sim. – Ele esfregou a cabeça, olhou ao seu redor. Se encontrava em um sala pequena, de teto baixo e apertada. Havia uma mesa quase vazia, a não ser por um estojo preto, pelos seus cálculos havia sido arremessado de dentro dele. Aproximadamente três cadeiras em frente à mesa, e um armário à direita.
- Bem-vindos, Alvo, Sr. Potter. – uma voz estridente surgiu de trás da mesa, era um pequenino homem. Harry não o tinha notado, talvez por que ele tivesse aproximadamente um metro e dez centímetros de altura, até mesmo a mesa levava uma vantagem sobre ele, nessa questão.
- Este é Esternio Kunkuvak – Apresentou Dumbledore calmamente. – É o responsável pelos testes, um homem que muito admiro.
Harry olhou duvidoso para o homenzinho, ele era completamente normal, a não ser pelo fato de que o cocuruto de sua cabeça repleta de cabelos negros, não alcançava a metade do peito de Harry.
- Não se deixe enganar pelas aparências. – Falou ele com sua voz estridente. – Sou muito renomado, tive a melhor nota na minha classe!
- Nos poupe de seu discurso habitual. – Disse o diretor gentilmente.
- Desculpa Alvo, sei que já ouviu isso milhões de vezes... Mas nunca é demais lembrar! – Ele balançou o dedo indicador ameaçadoramente. - Agora, vamos fazer logo esses testes, temos muitas etapas a cumprir.
Eles seguiram Kunkuvak pelos corredores do ministério, desceram três lances de escada, passaram por duas portas de madeira, um aposento com janelas que iam até o teto. Pararam em frente a uma terceira porta, desta vez de ferro.
- Pode entrar. – Disse ele abrindo a porta para Harry, deu um leve empurrão no garoto, o fazendo ultrapassar a passagem, a porta se fechou.
Ele olhou para os lados, se encontrava em uma sala onde cada uma das quatro paredes era pintada de uma cor, à direita um choque para os olhos, rosa forte, à esquerda um preto de negridão sem fim, à frente o amarelo mais vivo chocante que se podia imaginar, atrás um azul anil calmo.
Uma mulher estava sentada na única cadeira do aposento, fazendo anotações em uma prancheta. Ela lançou um olhar para Harry.
- Sr. Potter, quantos dedos vê aqui? – Ela estendeu a mão, escondendo o dedão.
- O que? – Perguntou Harry se aproximando lentamente.
- Quantos dedos vês aqui? – Continuou séria, como se a pergunta fosse totalmente necessária.
- Quer que eu tire o óculos, é alguma coisa para testar a minha visão? – Balbuciou ele.
- Quantos dedos vês aqui? – Repetiu ela em um tom automático.
- Quatro. – Resmungou ele intrigado.
Ela escreveu uma reflexão de cerca de uma folha sobre aquela declaração "muito interessante". Com um movimento de varinha, ela fez com que tudo ficasse escuro.
- E agora, quantos dedos vês aqui? – Harry ouviu uma voz no meio da escuridão, ele soltou um muxoxo incrédulo.
- Eu não consigo ver nada no escuro. – Resmungou ele, ouviu o ruído de pena arranhando pergaminho, ascendeu ele mesmo uma luz, e viu o mulher escrevendo loucamente.
- Pode passar para a próxima sala. – Resmungou ela, sem sequer levantar os olhos, apontando uma porta na parede amarela.
Depois de uma última olhada para o aposento colorido e para a mulher, ele abriu a porta cuidadosamente e entrou, estava muito escuro, e para variar, quando, distraído, soltou a porta, ela se fechou.
Deu mais um pequeno passo, e antes mesmo que pudesse conjurar um feitiço de iluminação, uma espécie de luz intensa tomou conta do lugar. Ele olhou para cima, sentindo um estranho calor, havia centenas de velas grudadas ao teto, de cabeça para baixo e acesas. Ele observou a cena pasmo quando a primeira gota de cera queimante caiu em seu ombro.
- Hei! – Protestou ele ao notar que gotas de cera caiam continuadamente por todos os lados.
Tentou apagar as velas, assoprando, mas era inútil, elas ascendiam instantaneamente. Foi então que ele lembrou que tinha em mãos sua varinha, e fez com que uma imensa rajada de vento apagasse todas de uma só vez, o escuro tomou conta da sala novamente, ele sentiu o chão tremendo, tomado de pânico andou mais um pouco, deu um passo em falso e caiu em um buraco muito fundo.
Quando bateu no chão, sentiu que sua queda havia sido amortecida por uma cama gigante, ele desceu ao chão com certa dificuldade, a sua frente se encontrava um grande túnel, do qual ele não conseguia ver o final, teve a terrível sensação de estar de volta a câmara secreta.
- Bom dia. – Ele se virou depressa, um homem alto estava logo atrás dele. – Poderia me guiar até o fim do túnel?
- Eu? – Harry arrumou os óculos. – Não sei o caminho.
- Vai ter que descobrir. – Disse ele pegando uma prancheta, como a da mulher do quarto colorido. – E não se demore nas escolhas das passagens. – Continuou o homem, agora resmungando em notável mau humor, impeliu Harry a entrar no túnel.
Havia goteiras naquele lugar, o túnel era úmido, e lembrava vagamente as masmorras de Hogwarts. Harry se perguntava por que existia aquele tipo de lugar em pleno Ministério da Magia, era ridículo construírem aquilo para testes.
Foi seguindo várias divisões do túnel, sem muito se preocupar com o caminho que seguia, afinal o homem estava bem atrás dele fazendo anotações. Depois de um bom tempo, ele parou abruptamente, tomado por um sentimento de incredibilidade, havia uma ponte imensa, feita de madeira e corda à sua frente, abaixo uma fenda da qual não se podia ver o fim.
- Encontrou a ponte, finalmente... – Murmurou o homem para si mesmo, ele apontou para a ponte. – Vá.
- Não vais vir junto?
- Não, atravesse a ponte. – Falou o homem se encostando a uma das paredes do túnel.
Harry se encaminhou até a ponte, olhou para baixo, sentiu um frio percorrer-lhe o corpo. Colocou o primeiro pé na ponte, ela balançou, quase fechando os olhos, ele continuou a andar, ouviu uma tábua cair, abriu os olhos de imediato, para a sua surpresa o outro lado da ponte não era mais o mesmo que havia visto quando estava no chão, junto ao homem, e sim outro, totalmente diferente, olhou para trás, á procura do homem, ele não estava mais lá, nem o túnel.
A sua frente havia uma porta estranhamente familiar, alguma coisa o fez sentir-se muito mal. Devagar, mais constante, ele atravessou a ponte, e chegou à porta, talvez devesse voltar, por que faziam isso com ele?
Sua mão estava tremula após ter passado pelo risco de cair naquele abismo, seria a segunda vez no dia...Abriu a porta devagar, pensando seriamente em falar com Dumbleodre para que fizesse alguma coisa sobre aqueles testes absurdos.
Dentro do aposento de tinturas totalmente douradas, para sua total surpresa, encontrava-se um já muito conhecido objeto.
- "Oãça rocu esme ojesed osamo tso rueso ortso moãn" - Leu Harry com a sombra de um leve sorriso tomando o seu rosto. O imenso espelho de moldura dourava se apresentava imponente sobre os pés em forma de garra. – Espelho de Ojesed, nunca esqueci o que vi através de ti.
Ele se aproximou, a esperança de ver novamente a família, não importava se era uma mentira, fazia tantos anos que seus olhos não se encontravam com os verde-vivos de sua mãe, os fantasmas que vira no quarto ano lhe pareciam uma realidade muito triste, assim vê-los ali, era como os tê-los ao seu lado, vivos.
Olhou-se bem no espelho, nenhuma imagem apareceu, ele pensou que talvez não fosse o espelho verdadeiro, uma cópia, mas era tão idêntico... Nem tanto, não funcionada corretamente, ele se via só no reflexo. O que isso queria dizer? Seria ele o homem mas feliz do mundo?
- Não... – Ele riu da possibilidade, feliz, ele? Faltava muito para ser completamente feliz.
Atrás do reflexo do espelho, formou-se uma nevoa, ele deu um leve sorriso em agradecimento, mas não foram seus pais que surgiram, e sim, para o seu terror, um bando de pessoas de preto, rostos tristes, capas dominadas pelo vento, olhares perdidos em Harry, quase de cobiça.
- O que é isso? – Falou ele para o espelho, os olhos arregalados, as pessoas o fitando. - Não é isso que tens que mostrar! Não cobiço gente tomada pela tristeza! – Ele deu as costas para o espelho, estranhamente zangado por seu engano, olhou seu reflexo novamente, voltara a estar sozinho.
Sentiu uma mão tocar seu ombro, virou-se bruscamente, era Dumbledore.
- O que significam estes testes absurdos? – Explodiu Harry.
- Logo saberemos. – Sussurrou o diretor, parecia estar lamentando por alguma coisa, através dos olhos. – Logo saberemos...
N/A: Sim, um capítulo enigmático...
