N/A: Olá. Desculpe o desanimo. Nina, como você está feliz, pessoa! Nossa, nunca havia visto um comentário com tantos "lindo", realmente Polyana! Nossa...obrigada. Ah, eu não postei em uma velocidade supersônica, como pôde ver, mas mesmo assim espero que goste deste capítulo ( Que não está muito animada na minha opinião.)
Reflexos Tristes
"Espelhos
deveriam pensar duas vezes antes de refletir"
Jean Cocteau
Ele observou o homem trajando uma bela capa se aproximar de seu trono, e apesar das sofisticadas vestes, ele se curvou como faziam seus próprios elfos quando o avistavam vagando pela casa.
No entanto, não deu sinais de notar a reverencia á sua frente, estava admirando o local, e como tudo formava uma harmonia estonteante na sua opinião. Aquele círculo de vultos encapuzados, de alguns era até possível ver a marca negra gravada no antebraço... como um certificado de suas crenças, se agrupavam a sua volta, em volta do seu trono negro.
Notou, com certo gosto, que o homem continuava ajoelhado a sua frente, esperando que desse a primeira palavra, não ousando interromper seus pensamentos. Apreciou a cena mais alguns segundos, deslumbrando o assoalho, agora não mais empoeirado, o papel de parede, agora não mais velho e sujo, a janela longa, com seus vidros salpicados de neve.
- Então, tens alguma idéia do por quê te chamei? – a voz cortante fez alguns de seus seguidores ficarem arrepiados, uma gota de suor começava a deslizar pela face do homem ajoelhado.
- Não mestre. – respondeu incerto, seu olhar cravado no chão.
- Imaginava... – cruzou os braços suavemente. – Suponho que nem você se ache qualificado para a tarefa.
- Qualquer tarefa vinda do senhor é uma honra. – sussurrou levantando um pouco a cabeça.
- Claro, e não poderia deixar de ser... – o encarou com seus olhos vermelhos. – Tire-o do caminho, ás três e treze, quando o sol terminar o seu reino do dia, e lua aparecer em sua mais majestosa forma no veludo negro dos céus... decretando a desgraça para muitos homens de má sorte...
O comensal parou de respirar por um momento, tentando absorver cada verso das falas de seu mestre, tentando decifrar suas palavras frias.
- É um enigma, milorde?
- Não. – ele deu um sorriso com sua boca sem lábios, aproximando sua cara pálida da do homem aterrorizado. – É uma solução.
Harry deu um pulo na cama, olhou para os lados procurando os vultos encapuzados, mas não os viu, nem ao homem ajoelhado, nem ao trono em que estava sentado, sob a forma fria de Voldemort. Os únicos seres vivos que encontrou em seu dormitório, com um grande alívio, foram seus companheiros de quarto, entre eles Rony, que dormia invejosamente bem, jogado na cama.
O sonho estava claro em sua mente, mas temia que na manhã seguinte o tivesse esquecido, olhou para o relógio em cima da estante mais próxima, o desanimo tomou conta de seu ser: duas da manhã. Podia esquecer a hipótese de sair correndo para o escritório de Dumbledore, numa tentativa desesperada de encontrar o diretor, seu estomago revirou de desgosto e uma estranha fome, não tinha idéia de onde o diretor dormia, mas com certeza não devia ser no escritório.
Pegou um pergaminho o mais rápido que pôde, uma pena amassada e escreveu tudo o que considerava importante do sonho neste pergaminho, tudo que conseguiu lembrar com nitidez.
Tire-o do caminho ás três e treze, lua majestosa...homens de má sorte...solução.
Guardou o lembrete no bolso direito de uma de suas capas de inverno, cuidadosamente dobrado.
Vagarosamente pôs os pés para fora da cama, sentindo o vento levar o calor de suas cobertas, calçou-se com suas pantufas, mas logo as tirou, pensando em dar uma volta mais longa pelos corredores, colocou seus sapatos habituais, sua capa de inverno por cima do pijama e apanhou a capa de invisibilidade e sua varinha, fazendo com que um feixe de luz iluminasse o quarto. Rony se virou para a parede incomodado com a luz, com efeito Harry baixou a varinha, saindo o mais silenciosamente possível.
As escadas milagrosamente não fizeram nenhum ruído quando ele desceu, a sala comunal grifinória estava estranhamente vazia e escura, fazendo Harry se sentir muito tentado a sentar em um das macias poltronas e ascender o fogo, mas felizmente o seu estomago reclamou de fome, e ele foi obrigado a seguir em frente.
A Madame Gorda estava tão sonolenta que não se deu o trabalho de fazer objeções à saída de um aluno tarde da noite, e se limitou a abrir a passagem para fora resmungando que não voltassem a incomodá-la.
Os corredores mais frios do que o normal o conduziram até a passagem secreta para a cozinha, onde cerca de três elfos aproximaram-se fazendo reverências. Talvez estivesse subestimando aquelas feias criaturas verdes, mas eles não dormiam?
- Sr. Potter... – sussurrou um deles. – O que deseja em nossa humilde cozinha?
- Comida. – resmungou ele sentado, o banco largo da mesa de madeira produziu um barulho quando depositou seu peso nele. – Qualquer tipo.
Com sorrisos quase maníacos enfeitando a cara, os elfos adiantaram-se em pegar um verdadeiro banquete, fazendo o aluno se sentir jantando novamente no Salão Comunal. Todos aqueles bolinhos, estranhos no escuro, pareciam mais apetitosos que o normal, o mesmo podia-se dizer das couves de Bruxelas, o frango enfeitado com cerejas, a variedade de acompanhamentos e os inúmeros biscoitos salpicados de pedaços de chocolate.
- Desejas mais alguma coisa? – um dos elfos se aproximou, os grandes olhos verdes se ampliando a medida que ficava mais perto, ansioso por servir. – Tortas? Bolos? Podemos fazer tudo para o senhor, nosso amo.
- Não, já comi muito bem. – observou os três elfos sorrindo incessantemente para ele, com as mãos verdes juntas á frente do peito. – Vou voltar a dormir agora.
- Quer levar algo? – disparou um deles.
- Já preparamos uma trouxa! – mais quatro elfos saíram de uma das portas da cozinha, carregando acima de suas cabeças um grande embrulho, como formigas.
Harry levou, meio à contra gosto, o embrulho consigo, temeroso que os elfos o olhassem feio, como faziam com Hermione quando ela surgia na cozinha cheia de suas idéias de liberdade. Espiando o que tinha dentro daquela trouxa, enquanto se cobria com a capa da invisibilidade, descobriu por que estava tão pesada, levava um banquete para aproximadamente cinco pessoas.
Amarrando novamente o embrulho, começou a andar rapidamente ao se assegurar que não havia ninguém pelos corredores, mas desacelerou o passo pois metade de seu corpo estava á vista, aquela capa já não era mais tão grande assim, ainda mais com o pequeno banquete que levava junto ao seu peito.
Estando mais preocupado em manter-se escondido, nem olhou por onde seguia, e acabou por se encontrar em um corredor que lhe parecia desconhecido na escuridão da noite. Havia grandes janelas que deixavam traspassar a luz prateada e fraca da lua, de ambos os lados do corredor. Observando melhor, notou que as " janelas" do lado esquerdo não eram reais, somente espelhos muito grandes que refletiam as outras janelas.
Parou abismado em frente á um dos espelhos, não se lembrava de tudo aquilo estar ali, aliás, não se lembrava deste corredor inteiro. Olhou o seu reflexo, só era possível ver uma parte de seus sapatos e a bainha das calças do pijama, deu um pequeno riso, tirando a capa. Não estava sentindo-se muito bem, talvez tivesse comido demais, havia se empolgado quando viu o grande banquete dos elfos.
O Harry do espelho estava mais pálido que o comum, aparentando cansaço pois tinha grandes olheiras. Preocupou-se com sua imagem, estaria tão mal assim? Deviam ser aqueles sonhos que estavam acabando com ele... sentiu um grande aperto no coração, o ar repentinamente gélido invadindo suas narinas, as pernas se negando a realizar qualquer movimento.
Seu reflexo aumentava de tamanho, ganhado feições estranhamente conhecidas, mas diferentes, retorcidas. Um homem alto, de cabelos negros, gargalhando, mas não uma risada feliz, algo que fez com que os cabelos da nuca de Harry se espetassem, arrepiados, uma risada triste, como se fosse obrigado a continuar sorrindo, ainda assim por dentro chorando.
Se não fosse pelo riso chorado, ele estaria exatamente igual, como Harry o havia avisto da última vez, em um lampejo, almejando vingança. Sirius Black.
Não sabia o que fazer, seu padrinho, supostamente morto, estava em um espelho rindo desgostoso, para o seu desespero ele mexeu-se, parecendo ter avistado o sobrinho, estendeu-lhe a mão. Atrás dele se formavam outras imagens, uma ruela estreita muito parecida com o Beco Diagonal, no entanto tudo parecia tão torto, retorcido, como no reflexo de um rio.
Harry estendeu a mão tremula, temeroso se devia ou não tocar no espelho. Ele estava delirando, sabia que estava delirando, só podia ser isso, mas então por que então era tão real? A ponta de seus dedos estavam quase encostando nas do padrinho, estava arfante, as gargalhadas de Black ecoavam pelo corredor, seus joelhos quase tremiam, pensou que ia desabar, uma gota de suor frio descendo através do cabelo preto espantado, a capa já estava atirada no chão, a trouxa também, seu nariz se aproximou juntamente com a mão, quase tocando a superfície gelada do espelho.
- Harry! – uma luz forte invadiu o corredor, como que em um ninho de abelhas, um grande zumbido tomou conta de seus ouvidos, seus joelhos cederam, as gargalhadas tornando-se mais fracas, em um redemoinho de sons muito confusos ele fechou os olhos, tudo cessou.
- O que diabos pensa que está fazendo? – os sapatos produziram o som baixo de alguém correndo, a luz aumentava, ele abriu os olhos, Sirius não estava mais lá. – Levante-se , você está bem?
Sob a luz da varinha, ele observou as feições da garota se transformarem de zangada para aflita, por um momento não a reconheceu, parecendo o seu rosto estranho, mas depois de aspirar ar mais uma vez, ele pôde ver o rosto desconhecido tornar-se Hermione Granger.
Tentou falar a ela o que havia visto, mas não conseguia, parecia ter perdido o dom da fala. Ainda sim, seus olhos transpareciam desespero, e ela não podia entender o que se passava ali. Entre os gestos angustiados do garoto, hora apontando para o espelho, hora para si, Hermione decidiu levá-lo para o dormitório, e encerar sua ronda naquele momento para ficar com ele.
Harry ficou calado durante todo o percurso de volta à sala comunal da Grifinória, evitou que ela o levasse para a enfermaria, e a monitora entendeu que ele acabaria em uma detenção por andar àquela hora nos corredores, e com certeza não estava preparado para cumprir pena tão rígida naquele estado.
Sentaram-se em um sofá vermelho próximo à lareira, que Hermione acendeu sem pestanejar. Passaram-se alguns minutos, com o fogo crepitando e as sombras assustadoras que o mesmo produzia no chão, em que Harry se acalmou, tomando um copo de chocolate quente que trazia em sua imensa trouxa da cozinha.
- Está melhor agora? – perguntou ela com os olhos fixos nas chamas, seu rosto sob a luminosidade vermelha da lareira.
- Sim. – sussurrou ele afastando a caneca fumegante de sua boca.
- Quer falar sobre o que aconteceu? – seus olhos amendoados passaram a observá-lo insistentemente, mas de uma maneira respeitosa e muito séria.
- Não sei se quero. – ele tomou mais um gole do liquido quente, acomodando-se melhor no sofá. – Foi mais um delírio meu.
- Estou aqui para ouvi-lo. – disse ela calidamente. – Seus delírios são normalmente importantes para a sobrevivência da humanidade.
- Não tente me animar. – resmungou ele olhado descrente para ela.
- Não foi uma piada. – disse ela intensamente, seus olhos aumentando momentaneamente de tamanho, para depois voltarem ao normal.
- Tive um sonho. – fez uma pausa para apreciar a expressão da garota, ela continuava impassível, nenhum brilho de ansiedade. – Sabe que os sonhos voltaram, mas estão diferentes.
- Não me falou sobre isso.
- Agora são todos como o que eu tive como o do ataque do senhor Weasley, no ano passado. – desviou o olhar, passando a observar cada detalhe do tapete. – Como se estivessem acontecendo no presente, estou sempre no corpo de Voldemort... Mas nada tem lógica.
- Por que diz isso? – Hermione continuava olhando diretamente para ele, como se tentasse passar alguma força para que ele não desistisse.
- Todos os sonhos são situações aparentemente secretas, Ele não teria motivos para me mostrar isso por meio de oclumencia, se estiver ainda tentando dominar minha mente.
- Sim...falou com Dumbledore sobre isso? – indagou ela calmamente.
- Está nas mãos da Ordem.
O silêncio baixou novamente sobre eles, interrompido somente pelo crepitar do fogo. Harry passou a admirar o teto, incerto se devia contar que havia tido uma visão de Sirius, se ela o achasse maluco, ou obsessivo? Mas isso não aconteceria, e voltando a olhar Hermione, que ainda tinha seu olhar nele, percebeu que nunca o abandonaria, e que poderia contar com ela.
- Depois de acordar do sonho, eu tinha muita fome, e decidi ir até a cozinha, comer algo e voltar.
- Mas não fez isso... – completou ela arqueando charmosamente a sobrancelha direita.
- Não. – sentiu suas bochechas corarem levemente ao calor do fogo. – Quis dar algumas voltas pelo castelo, para me acalmar.
- Calmo não era sua melhor definição no momento em que o encontrei. – murmurou Hermione quase imperceptivelmente.
- Me perdi em meus pensamentos... – remungou ele um pouco aborrecido. – E acabei me perdendo... Encontrei um espelho, e tive uma visão...
- O que vistes?
- Sirius. – suspirou ardorosamente, lembrando da imagem de seu padrinho. – Como explica isso?
- Não tenho explicação. – declarou ela com simplicidade.
- Não seria... – uma luz se ascendeu em seu pensamento. – O Espelho de Ojesed?
- Sabe que não. – ela se levantou, desamassando sua saia. – Aquele espelho deve estar em um lugar muito seguro, e o corredor pelo que passou sempre teve um espelho, aparentemente normal.
- Por que vi então tudo isso? – deitou-se desanimado no sofá. – Foi uma ilusão, um delírio, eu estava muito perturbado com o sonho...
- Falaremos com Dumbledore pela manhã. – decretou ela começando a subir os degraus da escada que levava para o dormitório feminino. – Não durma aí...
- Já vou para o quarto. – Murmurou ele soltando a caneca vazia no chão. – Boa noite.
Mas isso não aconteceu, e logo depois que ela fechou os olhos, em seu travesseiro fofo, coberta por uma montanha de cobertores, Harry adormeceu, com as risadas tristes de seu padrinho ainda ecoando em sua mente.
N/A: Capitulo treze e nada de azar! Bem, algumas coisas um pouco enigmáticas, mas mistérios fazem parte da trama! Ok, não posso dizer que foi exatamente um capítulo feliz, e temos um Harry paranóico e uma Hermione aparentemente fria e sem sentimentos (?) eu acho...relendo o capítulo...mas pensando assim, sabemos que alguém no grupo tem que ser racional para ajudar o Harry, e bem...o Rony...ele é o Rony! Não saberia manter a ordem. Sim, sonhos outra vez, mas estes não serão assim tão freqüentes. E visões! Este garoto está ficando mais perturbado do que o previsto. Bem, fiquem avisados de que as visões no espelho serão explicadas, mas não tão breve assim...
