Sem Memória Nada Há

"A experiência demonstra que é, às vezes, conveniente fechar um olho, porém nunca os dois"

A. Graf

Acordou meio tonto naquela manhã, mas o frio logo o despertou, não conseguira dormir tentando desvendar o que o sonho que tivera queria dizer. Mas agora não estava mais cansado, e quando o relógio marcou a primeira hora para o café, ele já estava pronto, vestindo sua capa de inverno mais quente, para encontrar o diretor.

Por um motivo muito estranho sentia uma certa urgência em falar com Dumbledore, sentia-se estranho, como se soubesse de algo... que não sabia, como se estivesse guardando um segredo de si mesmo.

Uma mão segurou o seu ombro, ele se virou bruscamente, era o diretor, estava com o semblante pesado.

- Soube que havia saído cedo do dormitório. – Murmurou ele seriamente.

- Gostaria de falar com o senhor. – Pediu Harry olhando diretamente os olhos dele por trás dos óculos de meia-lua. – Vamos ao seu escritório?

- Não... – Dumbledore olhou por uma janela, havia um grande nevoeiro deixando toda a paisagem esbranquiçada. – Que tal se formos para os jardins? Faz tempo que não saio do castelo.

- Sem problemas. – Harry assentiu, seguindo o diretor por um caminho que passava pelo Salão Principal.

Quando respirou o ar fora do castelo, logo ergueu seu colarinho, se aninhando na capa e escondendo o pescoço. Eles continuavam andando, em silêncio, pelos gramados molhados de orvalho.

- Então... – Disse Dumbledore calmamente, diminuindo a velocidade dos passos. – Teve outro sonho?

- Como o senhor sabe? – Sua voz estava abafada por causa da manta que havia colocado, e o tapava até o nariz.

- Estive estudando algumas...idéias minhas. – Falou ele vagarosamente.

- Idéias? – Perguntou Harry olhando diretamente para ele. – Sobre meus sonhos?

- É... – Ele observou a ansiedade do garoto. – Pode se acalmar, não vou dizer nada até que eu tenha certeza das minhas suspeitas...

- Mas... – Tentou insistir.

- E reze para que elas sejam falsas... – Sussurrou o diretor voltando a olhar para a grama.

O silêncio voltou a pairar no ar, Harry olhava para seus sapatos enquanto continuavam a andar, observou um de seus calçados desamarrar devagar, e os dois cadarços passaram a se arrastar pelo chão úmido.

- Teve noticias do professor Odoy? – Harry falou vagamente, tentando não deixar sua preocupação parecer muito evidente.

- É disso que quero falar com você Harry. – Disse Dumbledore parando de andar abruptamente.

- O que? – Harry parou também. – Ele está tão mal assim?

- Sim e não. – Respondeu o diretor. – Está vivo.

- Vivo? Mas está acordado? – Esqueceu totalmente de esconder sua preocupação, sentia-se estranhamente culpado pelos acontecimentos, se ele tivesse feito alguma coisa na hora em que o professor foi acertado, talvez não houvesse seqüelas.

- Não. – Disse ele secamente. – Tivemos que levá-lo para o St. Mungus há algumas horas, Madame Pomfrey não tinha toda a aparelhagem e medicamentos necessários para cuidar dele com segurança. Mas ela conseguiu deixá-lo acordado por alguns segundos... e ele quase disse...

- Disse o que? – Pediu Harry aflito.

- Quem havia atirado a flecha. – O diretor fungou, colocando luvas roxas nas mãos. – Temos fortes razões para crer que ele viu o atirador...mas ele caiu desmaiado no instante seguinte.

- Mas se ele está passando bem... – Harry sorriu. – Quando acordar novamente vamos saber quem o atingiu.

- Ele já despertou. – Disse Dumbledore, mas ele decididamente não parecia feliz, sua voz tornou-se mais amarga que antes.

- E quem foi? Quem é o arqueiro? – Ele quase gritou.

- A substância estranha que vocês encontraram na flecha... – Dumbledore tirou de dentro de sua capa uma caixinha prateada, como a de uma varinha, mas com a tampa de vidro. Dentro dela havia a flecha, ainda suja de sangue e aquela estranha gosma rosa. – É a mais potente poção desmemoriante que já se teve noticia... – Ele entregou a caixinha a Harry. – Quando Ed acordou novamente, não lembrava nem mais o que é uma varinha.

- Então não temos a mínima idéia de quem foi o autor deste ato? – Harry olhou intrigado para o homem de barbas brancas.

- Nós não. – Disse o diretor dando um sorriso amargo. – Mas como sempre o ministério precisa prender alguém para acalmar os ânimos...

- O Ministério da Magia tem um suspeito?

- Um não, dezenas deles... – Ele observou a expressão confusa de Harry. – Antes que a noticia se espalhasse de maneira errada, ou seja: com várias insinuações que Voldemort está voltando, e que o ministério está se mostrando mais do que incompetente em deter isso, eles decidiram culpar alguém ... Os centauros.

- Os centauros? – Repetiu ele. – Mas o que eles tem a ver com isso!

- Na minha opinião, nada. – Disse Dumbledore calmamente. – Mas eles são os únicos habitantes da floresta que usam arcos e flechas...

- Isso não quer dizer nada! – Protestou Harry.

- Eu sei, mas nada podemos fazer. – Explicou o diretor. – Os centauros serão retirados da floresta com redes que serão colocadas em volta das...

Harry não estava mais ouvindo ele, seus olhos se encontrara com a flecha que ainda segurava. A ponta era feita de metal, e havia um pequeno orifício, onde provavelmente a poção de memória estivera... E mesmo empapada de sangue, ela continuava brilhante e estranhamente encantadora...

Tão brilhante, que ele poderia mergulhar naquele mar de prata... uma voz começava a sussurrar no seu ouvido, enquanto seus olhos não mais viam a realidade, revivendo cenas já passadas...ás três e treze...o caldeirão borbulhante... a lua em sua forma mais majestosa...a luz da lua cheia era a única iluminação entre as folhagens acima de sua cabeça...almedas rosas tem vários usos...Hermione estava sentada em uma grande pedra ao lado de Odoy...mas quem gastaria todo este tempo quando se pode fazer um simples feitiço de memória?... O borrão no ar foi perdendo velocidade, ficando visível e tomando as formas de uma flecha, tão brilhante, tão brilhante...

- Harry! – Ele foi chacoalhado. – Está tudo bem?

Levantou os olhos, encontrando os azuis do diretor, sorriu maníaco. Agora tudo fazia sentido, remexeu no seu bolso direito, e lá encontrou o pedaço de pergaminho:

Tire-o do caminho ás três e treze, lua majestosa...homens de má sorte...solução.

Lembrava-se daquele sonho, lembrava-se daquele enigma...e como eles se encaixavam, como não havia visto antes?

- Por que está sorrindo deste jeito? – A voz de Dumbledore parecia cada vez mais preocupada.

- A senhor se lembra... – Estava se atrapalhando com as palavras por causa da afobação. – Daquele sonho que eu falei...

- Qual? Foram tantos...

- Aquela vez que eu vi Sirius em um espelho! – Ele olhou para os lados sorrindo. – Aquele em que Voldemort planejava tirar alguém do caminho...Olhe, olhe! – ele mostrou o pergaminho ao diretor.

- Harry eu não estou entendendo... – Murmurou o homem lendo as palavras.

- Ele queria tirar Odoy do caminho! – Exclamou Harry. – Não foram os centauros que atiraram a flecha, foi um comensal.

- O que? – Ele arregalou os olhos. – Como chegou a isso?

- Olhe! – Ele apontou para o papel. – Hermione falou que aquelas almedas rosas serviam para fazer uma poção desmemoriante muito forte, que a mistura deveria ser feita na lua cheia, às três e treze...Eu vi Voldemort mandando que um comensal tirasse alguém do caminho, fazendo esta poção...

- Ó céus!

- E ontem! – Explodiu Harry interrompendo o diretor. – Tive outro sonho, em que Voldemort dizia ao comensal que ele havia cumprido sua tarefa com êxito.

Dumbledore parou até de respirar, colocou a mãos sobre os olhos, Harry sorriu bobamente.

- O que foi?

- Como assim o que foi? – Gritou Dumbledore voltando a olhar para ele. – Isso significa que ele está mais perto do que nunca!

- Sim mas...

- Harry, Harry... Escute-me. – Ele agarrou os ombros do garoto com força. – Lembra-se daqueles aurores que vieram investigar se o lago havia sido quebrado de propósito, para que a Srta. Delacour caísse?

- Sim.. – Murmurou o garoto. – Foi no mesmo dia em que Odoy venceu a competição para se ganhar a vaga de professor.

- Eu não lhe disse... – Ele agarrou os ombros de Harry, forçando-o a olhá-lo diretamente. – eu mexi nas provas.

- O senhor o que? – Repetiu ele negando-se a acreditar.

- No lago, Harry... Mandei que alguns aurores aliados a Ordem viessem para Hogwarts, sem o conhecimento do ministério, antes que os aurores do ministério viessem. – Ele tirou outra caixinha do bolso, igual à outra, porém muito menor. – E eles encontraram, isso.

Dentro dela havia uma pequena lasca de madeira, em cima de uma almofadinha vermelha.

- Se o ministério ficar sabendo disso. – Continuou o diretor balançando a caixinha. – Vão mandar executar todos os centauros...

- Mas por que? – Harry olhou confuso para ele.

- Foram feitos exames nesta lasca, e ela pertence à mesma árvore da qual foi feita esta flecha que você segura. – Harry olhou para a caixa em suas mãos, contendo a flecha. – Seria a comprovação que os centauros são aliados das trevas...

- Mas eles não são. – Disse Harry. – Eu vi no meu sonho... – Olhou intrigado para o diretor. - O que um pedaço da mesma árvore que fez esta flecha estava fazendo no lago?

- Foi encontrado encravado no gelo. – Dumbledore baixou os olhos. – No lugar onde estava um buraco, que teria causado todo o resto da fratura no gelo.

- Buraco?

- Por onde passaria uma flecha igual a esta... – Sussurrou Dumbledore. – Falei com os sereianos, eles disseram que no dia em que o gelo quebrou, cerca de dois minutos antes a água ficou estranha, e o gelo cedeu.

- Então. – Concluiu Harry. – Na flecha havia uma poção para enfraquecer o gelo que recobria o lago, o que facilitou a fratura... e a queda dela.

- Sim, foi proposital. – Dumbledore soltou seus ombros, e guardou as duas caixas em sua capa. – Alguém queria que Delacour caísse no lago, e sabendo que era quase veela, ela ficaria dependente de alguém, conseqüentemente impossibilitada de dar aulas...e de servir a Ordem... Provavelmente a mesma pessoa que atirou em Odoy.

- E Draco que a salvou, não teria sido tudo planejado, para que ela ficasse dependente justamente dele? – Murmurou Harry.

- Sei que não tem afeição pelo Sr. Malfoy, mas não o culpe por ter salvado uma vida. – Disse o diretor olhando piedosamente para ele. – Ele nunca deu nenhum sinal de ter se bandeado para o lado errado, como o pai... Só não gosta muito de você...

Harry fungou desconfiado, ao que Dumbledore somente sorriu.

- Não vai ver o seu colega que está na Ala Hospitalar?

- Dino voltou? – Perguntou Harry. – Está bem?

- Ah, a professora Minerva o encontrou.. – Comentou ele. – Mas quando o vi estava desacordado, ainda não sabemos exatamente o que aconteceu... sugiro que fale com Madame Pomfrey, ela deve estar mais a par do estado dele do que eu. –Deu um longo suspiro. – Não fale sobre nossas descobertas a ninguém, por favor Harry, para a segurança destas pessoas.

Ele se virou a caminho do castelo, deixando o professor para trás em passos rápidos. A nevoa que tomava os jardins fez com que Dumbledore passasse a ser um vulto, e depois sumisse.

- Harry? – Disse a voz distante.

- Que? – Ele olhou em volta confuso, estava no salão comunal, Gina o olhava intrigada. - Gina? Me deu um susto!

- Também pudera...Estava sonhando com os olhos abertos! – Disse a garota mexendo nos longos cabelos vermelhos como fogo.

- Eu estava pensando. – Nem havia notado que caminhara até o salão, imerso em seus pensamentos.

- Sim... – Concordou vagamente, em um tom realmente muito duvidoso, sentando-se ao lado dele na grande mesa da Grifinória.

- Está duvidando da minha palavra? – Perguntou ele falsamente indignado, sentando-se ao lado dela.

Ela o olhou séria mas não pôde conter o sorriso que se esboçou em seu rosto.

- Estou um pouco preocupada com você, Harry. – Confessou Gina pegando algumas torradas.

- Por que? – Disse ele voltando a ficar sério.

- Ontem, - Sussurrou ela olhando para ele. - Poderia ter morrido.

- Ontem? – Harry fez uma cara de desentendido.

- A detenção, - Balbuciou a Weasley um pouco mais zangada . - Floresta...

- Ah – Ele fez num sorriso esclarecedor. - Como você sabe?

- Está brincando! – Ela deu uma risada baixinha. - Toda a Hogwarts sabe!

-Tudo que acontece e ninguém deveria saber, toda a Hogwarts sabe... – Resmungou uma voz atrás de Gina.

- Rony, você acordou! – Disse ela num grande sorriso.

Ele resmungou alguma coisa inaudível e sentou-se à frente de Harry.

- Você vai ter que me explicar direitinho algumas coisas. – Rony se escorou na mesa, se aproximando de Harry.

- Coisas como o que?

- Sobre esta carta que você me escreveu antes de dormir. – Ele tirou o pergaminho do bolso, depois observou o olhar ansioso de sua irmã, e com um sorrisinho engraçado, pediu para que Harry o acompanhasse até um lugar menos tumultuado.

- O que foi? – disse Harry, se encontravam em um corredor deserto.

- Dino Thomas sumiu? – Perguntou Rony preocupado.

- Sim...

- Precisamos falar com Dumbledore e... – Começou o ruivo em tom muito preocupado.

- Já falei com ele. – Harry deu um suspiro, lembrando-se que o diretor pedira que não contasse nada a ninguém. – Dino foi encontrado, mas não sabem direito o que aconteceu com ele.

- E Odoy?

- Perdeu totalmente a memória... – Resmungou Harry olhando para os lados, certificando-se que não havia ninguém além deles ali.

- Podemos vê-lo na enfermaria? – Pediu o amigo.

- Ele foi transferido para o St. Mungus, mas podemos ver Dino, ele ainda está aqui.

- Vamos agora mesmo... – Resmungou Rony guardando o pergaminho no bolso interno da capa. – Nem acredito que aconteceu alguma coisa com ele.

Harry concordou com um aceno de cabeça, começaram a andar, em direção da Ala hospitalar, na esperança que o colega estivesse bem. Estavam olhando para o piso de pedra, traçando lentamente o caminho até a enfermaria, quando quase bateram em alguém que estava parado no meio do corredor.

- Potter e Weasley – Sibilou Snape. – Sugiro que olhem por onde andam. – Ele olhou bem para os dois. – Pensei quer não acordariam tão cedo...Talvez possam ir as primeiras aulas...

- Estamos indo ver Dino na enfermaria. – Informou Harry lentamente.

- Por falar no Sr. Thomas. – Sussurrou o mestre de poções. – Mantenham sigilo sobre os acontecimentos, e não abram suas grandes bocas para sair espalhando fofocas por aí. – Ele deu uns sorrisinhos satisfeitos, se afastando para o salão principal.

N/A: Eu sei, eu sei...que final de capítulo foi esse? Mas vou dizer...que estive pensando seriamente em dar um tempo nesta fic...aff... quero muitas reviews !

Alguém: obrigada pelo comentário, fiquei feliz por pelo menos uma pessoa ter comentado.

Laura: Se acalme, ok? Obrigada por ter comentado, mesmo que tenha sido pelo orkut! Eu sei que o sono deixou aqueles dois estranhos, e neste cap tivemos algumas respostas para suas muitas perguntas.