FAMILIAR


Capítulo III – NINGEN

Sua bruxa dormiu por dois dias.

O youkai não saiu de perto dela, porque a distância fazia com que fosse mais difícil interpretar o que era transmitido através de seu vínculo, e depois do acontecido no ano novo, Sasuke estava apreensivo.

Hanabi também resistiu bravamente ao lado da irmã até Neji, que ia e vinha, ia e vinha, leva-la embora uma vez. Ela retornou bem cedo no dia seguinte, apenas para ser levada embora de novo ao pegar no sono toda torta na poltrona de acompanhantes. Eles não tinham levado Hinata para o quarto dela, mas a colocaram em uma das duas macas da sala de recuperação da clínica de Hiashi para que fosse mais fácil e rápido o acesso ao material médico em caso de necessidade.

Aquilo também deixara Sasuke apreensivo.

Enrodilhado em sua forma felina e deitado ao pés da bruxa parecendo dormir, o youkai ouvira uma conversa entre o velho e o bruxo macho repleta de palavras que não entendia. Neji falava rápido, afoito e preocupado mesmo ao sussurros, e Hiashi respondia em seu tom sem emoção, o que fez o rapaz se irritar ainda mais e deixar a sala de recuperação – se não fosse a consideração que tinha para com a irmã, teria batido a porta com estrondo.

Hiashi tirou as mãos do bolso do jaleco, checou os sinais vitais da filha, a bolsa de soro, rolou a válvula de dispensa para controlar o gotejar e verificou se o cateter na mão dela continuava em seu lugar. Anotou tudo no prontuário aos pés da cama e sentou-se na poltrona outrora ocupada por Hanabi e tantos outros entes queridos preocupados com os pacientes deitados naquela maca.

O patriarca dos Hyuuga realizara na filha todos o exames que conseguira pensar e executar na clínica, mágicos e não mágicos, mas não encontrara nada de errado. E isso não o confortava nem um pouco, porque a princípio não tinha nada de errado nos exames de Hikari também.

- Sasuke. – O velho dirigindo-se a ele o pegou de surpresa. – Você sabe o que aconteceu?

O familiar mexeu as orelhas e levantou a cabeça de sobre as patas. Observou Hinata por alguns segundos antes de se voltar para o patriarca.

- Não. – Lembrava-se com clareza do que ela dissera e ainda com mais clareza do que ela sentira, mas era verdade que não sabia o que a levara a sentir e ouvir aquilo. – Nem a bruxa deve saber o que foi.

Hiashi balançou a cabeça uma vez, concordando. Até que Hinata acordasse para fornecer mais detalhes sobre o episódio, eles só poderiam especular. Levantando-se para sair, o mais velho dos Hyuuga parou na porta, uma mão no bolso do jaleco e outra na maçaneta, direcionado sua fala a Sasuke uma última vez:

- Mantenha essa forma, não é momento de gastar a energia de Hinata desnecessariamente.

- Se você acha que eu manter a forma youkai neste plano gasta a energia dela, velho, então você é mais ignorante do que pensei.

A raiva pela insolência do familiar batalhou contra o cansaço e a preocupação pela situação dela, com o cansaço e a preocupação vencendo. Abriu e fechou a porta com suavidade ao deixar o local sem mais palavras.

O felino deu lugar ao youkai no segundo seguinte, ainda sentado aos pés dela na maca, braços e pernas cruzados, mas tomando cuidado para não estar em cima dela. Os olhos vermelhos esquadrinharam a moça de cima a baixo sem conseguir encontrar nada de errado, ela estava apenas adormecida.

Naquela noite ela dissera que havia alguém ou alguma coisa falando com ela, mas Sasuke, mesmo com sua audição mais aguçada que a de um humano, não conseguira ouvir nada. Se havia mesmo uma voz, devia ser uma presença negativa poderosa para que tivesse entrado em sincronia com a energia positiva de Hinata a ponto de ser capaz de ressonar suas intenções nela. Sabia disso porque fora assim que o próprio Sasuke a encontrara, chamando-o do outro lado do véu entre os mundos.

Poder chama poder.

E sua bruxa, naquele plano humano, podia não parecer mais do que um fósforo bruxuleante para sua família, amigos e outros seres de energia positiva, mas para os espíritos e demônios do plano de Sasuke, ela era um farol, um vulcão, uma supernova.

O Uchiha colocou uma mão sobre o local onde o laço os unia. Conseguia senti-lo estável e morno como a respiração que compartilhavam. Queria que ela acordasse, aquela espera já se tornara suficientemente tediosa. Se o contrato firmado por ela não era o suficiente, ele tinha um contrato que talvez funcionasse para trazê-la de volta.

Sentou-se mais para cima na maca e debruçou-se sobre ela, a mão esquerda apoiando seu peso enquanto a direita afastava a gola v do pijama com o qual Neji e Hanabi a vestiram. Antes que sua boca encostasse na junção do ombro e do pescoço onde colocara sua marca invisível, seu nariz se demorou no ponto macio sob a orelha esquerda, inalando com a segurança de que ela nunca saberia como gostava do aroma que se juntava ali. Suficientemente inebriado, Sasuke abriu a boca e colocou seus dentes sobre a pele dela, mordiscando sem machucar.

Os três tomoe da marca surgiram tão negros quanto deveriam, confirmando que o contrato permanecia saudável e firmado. Com o contato de sua saliva e surgimento da marca, Sasuke sentiu seu corpo formigar e o laço estremecer e, pelo vínculo, sabia que a bruxa sentiria a mesma coisa que ele.

Hinata acordou com uma pata de gato na boca.

- Acorda, bruxa.

A feiticeira tentou falar, mas só conseguiu arranhar a própria garganta com a secura que sentiu nela. Quando seus olhos colocaram em foco o teto branco, os ouvidos encontrando o bip constante do eletrocardiograma e o olfato o cheiro de antisséptico, percebeu que não estava em seu quarto.

Estava na celebração de ano novo do coven e agora estava na clínica de seu pai...

Estava na celebração de ano novo do coven e tinha ido pegar mais chocolate-quente, era quase meia-noite...

Estava na celebração de ano novo do coven, surgiu uma voz falando em sua cabeça, uma energia negativa forte o suficiente para lhe provocar dor física, mesmo sabendo, instintivamente, que a presença deveria estar longe da propriedade dos Yamanaka e do aglomerado de energia positiva que os feiticeiros reunidos naquele local geravam.

Estava na celebração de ano novo do coven e a voz em sua cabeça a fez escutar o suicídio guiado de alguém.

O familiar tinha permanecido sobre o peito dela, a patas recolhidas sob si, observando-a acordar. Quando sentiu o cheiro das lágrimas e o vínculo traduzindo a ele a tristeza e impotência que ela estava sentindo, Sasuke colocou-se sentado, a postos, estendeu levemente as garras, orelhas pras trás.

A Hyuuga levou a mão que não estava limitada pelo cateter e pela intravenosa ao rosto, cobrindo os olhos com o antebraço, sem realmente impedir as lágrimas e os soluços. Levou a outra ao pelo macio do gato, acariciando até Sasuke voltar se deitar, cabeça nas patas, aproveitando a carícia, sentindo e lidando com as emoções compartilhadas. Deixaria para entender o que acontecera e brigar com ela mais tarde.


O mais tarde nunca chegou.

Neji entrou no quarto quando Hinata já tinha parado de chorar, mas ainda acariciava Sasuke, e levitou o familiar de sobre a irmã de volta para o chão reclamando sobre a falta de higiene no quarto esterilizado.

O rapaz checou os sinais vitais da bruxa e passou as palmas luminosas por cima dela, fazendo leituras mágicas que youkai de novo não entendeu, antes de perguntar a ela como estava se sentindo e sair para buscar o pai, que repetiu os mesmos exames que o rapaz acabara de fazer.

A moça passou pelo escrutínio de todos os seus familiares – porque Hanabi entrou escandalosamente no quarto a frente de seu pai bombardeando Hinata com todos os tipos de perguntas e informações até que Hiashi a calou com um feitiço de lábios colados – sem reclamar, respondendo as perguntas sobre sua saúde com cuidado e com ainda mais cuidado, beirando a relutância, as perguntas sobre o que acontecera.

Nenhuma das respostas mencionava vozes, apenas energia negativa e cansaço e talvez que ela tivesse tido alguma reação alérgica aos aromatizantes que os membros do coven estavam colocando nos feitiços para manter os fogareiros acesos. Hinata não tentou explicar muito, porque ela mesma não entendia, e o patriarca não especulou mais do que ela estava disposta a responder. O bruxo jovem tentou, mas o pai o impediu com a ordem de levar Hinata de volta ao quarto dela e preparar alguma coisa para ela comer, ameaçando-o com um feitiço de lábios colados também caso voltasse a aborrecer Hinata com mais perguntas naquele momento.

Neji ativou os botões do ofuro para encher novamente com água quente, deixando, com alguma relutância, que Hanabi entrasse com a irmã no banheiro para ajuda-la. A mais nova já tinha desfeito o feitiço de lábios colados e continuava respeitosamente quieta. E o mais velho precisava admitir que não queria deixar Hinata completamente sozinha. Advertiu Hanabi novamente para não cansá-la com perguntas e foi esquentar os que eles tinham tido para jantar.

A água do chá ferveu antes delas saírem do banheiro. Quando foi até lá para bater na porta para apressá-las, ouviu as risadas. Baixou a mão.

- Nee-san, é mentira! – Hanabi protestava, indignada. – Isso não aconteceu!

- Não é porque você não se lembra que não aconteceu, Hanabi – Hinata respondeu e sua voz soava leve e divertida, imediatamente levantando alguns dos pesos sobre os ombros do irmão mais velho. – Pode perguntar ao nii-san.

- Nii-san viu?! – Hinata riu mais.

- Foi ele que conseguiu te alcançar no onsen, você já tinha conseguido correr peladinha até a sala de jogos.

- UGH!

- Você tinha três anos, Hanabi – Neji se lembrava daquele episódio e sorriu pela memória do primeiro passeio que fizeram depois da morte da mãe. O pai os tinha feito ficar ajoelhados com os braços para cima por quase duas horas como castigo, ele e Hinata, por deixado Hanabi correr nua pelo estabelecimento. Foi a primeira manifestação de magia de Hanabi, o que a assustou e a fez sair correndo de banheiro. – Acho que temos fotos disso em algum lugar.

- Não! Onde estão? Eu vou queimar todas!

- Hanabi!

Pelo barulho de água sendo remexida, Neji calculou que alguém estava tentando sair e alguém estava tentando segurar, não tentou identificar qual das duas fazia o quê. Dava para sentir a magia permeando o banheiro, agitada enquanto era usada.

Bateu na porta alto o suficiente para que elas ouvissem apesar do tumulto.

- Hinata, Hanabi, já chega, venham comer.

- Sim, nii-san. – Responderam em uníssono.

- Nee-san, até as roupas limpas ficaram molhadas!

- Vá buscar secas enquanto eu limpo o banheiro. – Neji suspirou. Então elas estava jogando bolas de água mágicas uma na outra. – Você tem experiência em correr pelada.

O mais velho preferiu se afastar nesse momento, sem querer ajudar com roupas secas nem com limpeza de banheiros àquela hora.

Voltou para a cozinha, onde dois pratos estavam servidos na mesa sob um feitiço de estase, e onde o chá estava suficientemente abafado. Colocou a caneca sobre a bandeja de madeira – a que tinha um feitiço de equilíbrio permanente – e atravessou a casa até o escritório do pai na clínica.

Hiashi praticamente não saíra de lá nos últimos dias, enquanto Hinata ficava desacordada, fazendo ligações para todos os seus contatos, mágicos e não mágicos. Como com Hikari, dez anos atrás, não parecia que estava tendo muito sucesso em entender o que se passara com a filha.

- ...sim, fora Hinata, ninguém mais parece ter sentido qualquer presença ou energia estranha durante a celebração. Sim, ela estava com o familiar, mas ele diz não ter sentido nada, também. – Uma pausa longa, um muxoxo de concordância, outra pausa curta. – Entendo. Muito obrigada pela assistência, Inoichi-san.

O jovem Hyuuga hesitou.

- Neji, Sasuke – Soou a voz de Hiashi de dentro do escritório. Sasuke? Neji olhou para baixo e viu o familiar negro de costas, mas estático, com uma pata levantada, como se tivesse sido parado ao tentar fugir de fininho. Neji sabia, no momento em que ficou ali para entreouvir a conversa, que não tinha como seu pai não saber de sua presença, era como se o velho tivesse olhos que atravessavam matéria, mas a presença do youkai foi uma surpresa. – Entrem aqui.

O escritório de Hiashi também era seu consultório. Tinha grandes janelas salientes atrás de si, como no quarto de Hinata e por toda a casa, tendo sido construída em estilo oriental e depois reformada em estilo ocidental, mesclando a arquitetura. A mesa ficava encostada na parede esquerda, com prateleiras de livros e gaveteiros e outros instrumentos na parede direita. O lugar tinha um cheiro etílico predominante, por ser esterilizado com frequência, misturado com ervas, frescas e secas, que vinham das gavetas. O cheiro dali era o que mais lembrava Sasuke de casa, do quarto de seu irmão.

Uma das janelas estava aberta e no peitoril, um grande pavão albino descansava. Dava para ver a neve caindo lá fora, contrastando com o céu escuro, mas os flocos e o frio estavam impedidos de entrar por um feitiço de bloqueio.

- Otou-san...

- Sei que está preocupado, Neji. – Hiashi cortou. – Sei que tudo parece com o que aconteceu com sua mãe, mas não é.

- Como você pode saber? Okaa-san também não teve sintomas, nada aparecia nos exames!

- Sei disso melhor do que você. – O patriarca calou o filho. Hinata ficara desacordada por dois dias, os círculos negros nos olhos perolados do mais velho, as rugas pronunciadas, os lábios secos, denunciavam uso intenso de magia poderosa. Era possível ver que esse cansaço se estendia à Hizashi, mesmo em sua forma atemporal.

- Provavelmente foi apenas um esgotamento de energia positiva, Neji-kun. – A voz do familiar estava mais baixa e soprada do que o normal. – Ou ela apenas interceptou algum pico de energia negativa. Hinata-chan sempre foi mais sensível nesse sentido.

Eles estavam tentando fazer sentido da situação, o jovem Hyuuga percebeu, assim como ele. Tentando arranjar explicações racionais, mágicas ou não mágicas. Sua irmã não tinha os sintomas da doença que levara a mãe deles, mas uma doença cardíaca degenerativa tinha grandes probabilidades de ser genética e hereditária. Ao mesmo tempo, não era impossível para Hinata ter interceptado uma carga de energia negativa, mesmo estando rodeada pelo escudo da energia positiva do coven. Qualquer que fosse a alternativa entre aquelas opções, todas fariam sentido.

- Agora, nada disso quer dizer que não vamos continuar observando a condição de Hinata-chan. – Hizashi continuou. – Sasuke-kun, por favor, poderia assumir sua forma youkai?

- O quê?! Hinata mal acordou e você vai...

- Neji, fique quieto e observe.

Sasuke, que tinha se posicionado confortavelmente sobre a mesa de trabalho de Hiashi e estava concentrado em empurrar o porta-lápis do médico para a beirada da escrivaninha, levantou os olhos vermelhos para o pavão, calmamente derrubou o objeto e saltou, pousando sobre dois pés vestidos em tabi, braços cruzados, de costas para os ocupantes da sala, embora suas orelhas de gato estivessem voltadas para os demais.

- Sasuke trouxe à nossa atenção que a energia que ele usa para manter essa forma no plano humano não depende da energia positiva de Hinata.

O youkai suspirou. Eles ainda não tinham entendido, mas fornecer maiores explicações estavam além de sua vontade e paciência.

Sua bruxa tinha mais energia positiva do que todos eles combinados. A proporção de energia negativa que ele precisava para manter aquela forma sequer fazia cócegas nela. O Uchiha sabia disso porque tinha consciência de seu próprio poder. Ao lançar sua energia para procurar por um igual no mundo espiritual, Hinata o encontrara, e não por acaso. Entre os youkai, os gatos só perdiam para as raposas, muito mais velhas e ardilosas, acumulando vidas com suas caudas.

Por esse motivo, se o que acometera Hinata na celebração fora um foco de energia negativa, era mais poderoso do que a bruxa.

- E o que isso quer dizer? – Perguntou Neji recolhendo de mau grado as canetas espalhadas pelo chão.

- Quer dizer que Sasuke pode ser um familiar muito mais útil. – Hiashi pegou uma pasta fina e entregou ao filho. – Um rapaz do mesmo ano andando com Hinata pela escola é menos estranho do que um gato preto falante.

Os olhos de Neji foram se arregalando conforme ele fazia sentido das palavras e dos papeis que o pai lhe entregara. Certidão de nascimento, registros médicos, histórico escolar do ensino fundamental, histórico escolar do primeiro ano e meio do ensino médio e, acima de tudo na pilha, a matrícula para o segundo ano do ensino médio na escola que ele e Hinata frequentavam. Todos eles para um Uchiha Sasuke, 16 anos, nascido em 23 de julho, que precisava ser transferido por motivos familiares e ficaria sob a tutela da família Hyuuga da cidade de Konoha, dizia a justificativa de transferência presente na matrícula, escrita com a letra corrida de seu pai.

Hyuuga Neji ficou chocado por um momento que seu pai fora capaz de usar magia para forjar documentos, mesmo depois das inúmeras lições que ele, suas irmãs e todos os jovens feiticeiros do coven receberam sobre as limitações da magia e, mais importante, sobre a moralidade de usá-la com propósitos escusos. A magia tinha o hábito irritante de equilibrar a si mesma.

- Sasuke-kun vai acompanhar Hinata-chan para a escola, ficar com ela o máximo de tempo possível enquanto estiverem lá, acompanha-la nos clubes e de volta para casa depois. – Hizashi esclareceu, suas palavras fazendo com que o Uchiha se virasse, seu rosto franzido de irritação. – Por segurança.

- Eu vou ter que ficar grudado na bruxa? No meio de humanos?

- Você é o familiar dela. – A voz de Hiashi saiu gélida.

- Não a sombra!

- É mais difícil para Neji estar com ela o tempo todo, Sasuke-kun. – O youkai percebeu que Hizashi falava todas as vezes que Hiashi parecia irritado demais, o vínculo entre eles esclarecido o suficiente para que o patriarca permitisse que seu familiar intercedesse. – Não será algo permanente, é apenas para garantirmos que o episódio do ano novo não se repita.

Sasuke não gostara daquele arranjo. Não se incomodava de assumir a forma humana, mesmo que tudo nos humanos fosse limitado: o nariz e as orelhas mal funcionavam, os olhos não enxergavam tão bem quanto poderiam, precisava controlar suas habilidades físicas superiores. Mas ficar ao lado da bruxa no meio de outros humanos limitava o alcance de sua proteção. Como familiar, em forma de gato, teria mais facilidade em passar despercebido.

- Que seja. – Finalizou Sasuke entredentes. Assumiu a forma de gato novamente, dando o assunto por encerrado ao subir no peitoril da janela, ao lado de Hizashi, e sumir na noite.

Neji, Hiashi e Hizashi o observaram partir, calados. O jovem foi o primeiro a quebrar o silêncio, incomodado com a atitude desrespeitosa do familiar de sua irmã e com o que aquele desdobramento implicaria:

- Não confio nele. Como ele pode assumir essa forma por tanto tempo sem usar a energia de Hinata?

- Ainda estamos tentando entender isso também. – Hiashi levantou-se, guardando a pasta com os documentos do humano Uchiha Sasuke no arquivo de pacientes. – Não há precedentes no nosso coven de um familiar youkai, então conseguir respostas se torna mais delicado. Feiticeiros são criaturas sigilosas por natureza e não é de bom tom perguntar essas coisas a outros covens.

Com um coven que datava do Período Heian, não ter registros de um outro feiticeiro ou feiticeira que tenha invocado um familiar do tipo youkai em 1200 anos era, no mínimo, impressionante.

- Sasuke pode ser um youkai, mas também é o familiar de Hinata e o contrato o compele a protege-la, ser sua espada e seu escudo. – Hiashi aproximou-se da janela aberta, depositou a mão no flanco de seu familiar, acariciando-o levemente para recarregar suas energias, e retirou o feitiço de bloqueio da janela, deixando que a brisa gelada entrasse trazendo alguns flocos de neve desgarrados. – Se há algo errado, ele será o primeiro a saber.

Neji tinha mais argumentos para protestar, mas calou-se. O pai já tinha preocupações o suficiente sem que seu filho mais velho continuasse perturbando-o com informações que ele já sabia, reforçando aspectos de uma situação que ele estava revivendo, de certa forma.

O rapaz encarou o chá na bandeja que ainda carregava, tendo se esquecido que aquele era o motivo que o trouxera ao escritório antes.

Era de mau tom requentar o chá, mesmo magicamente.

- Vou trazer outro chá.

- Obrigado, filho. – Havia gratidão na fala de seu pai para além do chá.

Neji aquiesceu e o deixou só.


Sasuke desejava conseguir lançar feitiços. Aquele silenciador que o velho usara na bruxa filhote da última vez parecia absurdamente útil se pudesse usá-lo para fazer com que o celular – era essa a palavra? – da bruxa parasse de apitar repetidamente, a tela acendendo a cada três segundos, caixas retangulares com palavras aparecendo e sumindo.

A bruxa estava ajoelhada em frente ao espelho colocando cremes, pós e cores no rosto com pinceis e esponjas que tirava de uma bolsinha ao seu lado, coisas que Sasuke só vira nas peças de teatro kabuki. Ela tinha rodado o quarto algumas vezes, entrando e saindo, cada vez com uma combinação de roupa leve ou completamente diferente da anterior, deixando as descartadas sobre a cama e sobre Sasuke, que as combatia com suas garras até vê-las no chão. Um blusão de lã quase o venceu ao ficar preso em uma unha, mas o jovem youkai prevaleceu.

Sua bruxa ia sair para um tal karaokê, ela dissera, quando a bruxa filhote meteu a cabeça pela porta entreaberta ao notar o movimento da irmã e indagou o que Hinata estava fazendo. Ela perdera o encontro no templo com os colegas de sala na noite de ano novo por causa da celebração do coven, então aquela era a última oportunidade antes do fim do recesso de inverno.

Ela explicara, enquanto Sasuke fingia não escutar, batalhando com as roupas, que consistia em uma sala escura com bancos e uma máquina para fazer sons, e eles cantavam as palavras que a máquina mostrava no ritmo da melodia. Também havia comida e bebida trazida por serventes, era muito popular e algo divertido de se fazer independentemente da idade. Sasuke estava tendo dificuldades em entender como aquilo poderia ser divertido.

- Hinata. – Neji apareceu na porta do quarto segurando um capacete de motocicleta.

- Nii-san, vai sair? – A moça terminou sua maquiagem e devolveu as coisas para a bolsinha, levantando-se da frente do espelho.

- Otou-san precisa de ajuda para finalizar os atendimentos de ano novo.

- Oh. – Os atendimentos não realizados porque seu pai e seu irmão tinham ficado em casa cuidando dela. – Mas você não tem atividades do clube hoje?

- Eu já fui ao clube de manhã, não se preocupe com isso. – Ele estendeu o capacete e Hinata o pegou por reflexo. – Vocês vão ao karaokêdo centro, não é? Vou te levar até a estação.

- Obrigada, só vou pegar meus sapatos e o casaco.

- Te espero lá embaixo.

Hinata recolheu rapidamente suas coisas, pendurou a bolsa no ombro, o casaco sobre o braço em que segurava os sapatos e correu os olhos pelo quarto para confirmar que não estava se esquecendo de nada. Sasuke, deitado entre as roupas, cabeça sobre as patas, olhos fechados, sequer levantou a cabeça.

- Sasuke-kun, tem certeza de que não gostaria de ir comigo?

Ele não tinha respondido quando ela lhe fizera essa pergunta antes, tinha certeza que ele não se dignaria a responder então. Sasuke estava estranhamente quieto – evitando até mesmo os insultos – desde o dia em que acordara. Conseguia sentir que ele estava transtornado com algo pelo vínculo, mas até aquele momento o youkai tinha escolhido não lhe revelar o motivo.

Superando o receio de que ele lhe mordesse a mão, Hinata aproximou-se e com os nós dos dedos fez um carinho rápido entre as orelha de Sasuke. Aguardou a reclamação, que não veio, então usou a brecha para circular a orelha esquerda dele com a ponta do indicador. De novo, ele ficou imóvel e a moça não soube como interpretar aquela frieza, até que sentiu, e depois ouviu, o ronronar.

Agachou-se ao lado da cama acometida pela fofura e acariciou-lhe entre as orelhas mais algumas vezes até juntar coragem para se afastar e ir encontrar seus amigos:

- Sasuke-kun, estou indo.

Ele não respondeu, não se mexeu, mas o ronronar ficou mais forte.

O Uchiha sentiu o vínculo se estender. Não era doloroso assim como não era exatamente agradável. Pela primeira vez sentiu que fazia sentido manter-se perto dela, como determinara o patriarca, senão por proteção, ao menos para evitar que tivesse uma dor de barriga com aquela pressão em seu abdômen.

Quando ouviu a porta da frente se fechar e Hinata pedir desculpar ao irmão pela demora, Sasuke abriu seus olhos vermelhos e se levantou, espreguiçando e cofiando as unhas algumas vezes na colchão e nas roupas que ficaram jogadas na cama. Saltou e pousou no chão do quarto com duas pernas ao invés de quatro patas, os braços cruzados dentro do quimono, recostando-se no beiral da janela para observar sua bruxa colocar o estranho elmo que o irmão tinha lhe oferecido e colocar-se atrás dele no cavalo de metal. Sua mão direita saiu de dentro da manga e foi parar na barriga, diretamente sobre o vínculo que ele podia sentir se esticando e esticando e esticando.

- O que você está fazendo nessa forma?

Sasuke estremeceu da cabeça aos pés com a voz da bruxa filhote ao seu lado. De onde ela tinha vindo? Como não a escutara entrar no quarto e se posicionar do seu lado? Seus sentidos eram dez vezes mais aguçados do que dos humanos normais. Olhou-a de canto, mas Hanabi estava ocupada olhando para a mesma cena que ele de Hinata se afastando com Neji na motocicleta para perceber as adagas que o familiar lhe lançada com os olhos. O youkai tinha que continuar se lembrando que mesmo estando no mundo dos humanos, aqueles não era "normais" e a criança deveria ter usado um de seus feitiços de silenciamento de uma forma muito mais interessante do que seu pai e irmão.

- Uhn, nee-san parece que nem percebeu...

- Hanabi. – A voz de Hiashi pegou os dois de surpresa, mas foi Hanabi quem pulou de susto dessa vez. Voltaram-se para o patriarca parado na porta do quarto. Os olhos perolados miraram a bagunça sobre a cama com reprovação, mas retornaram rapidamente para os dois jovens.

- Sim, otou-san?

- Aqui. – Ele estendeu um envelope branco à filha. – Preciso que leve Sasuke à cidade para comprar roupas e algumas outras coisas. Tem uma lista de comprar e o cartão de crédito no envelope, tome cuidado.

- Roupas? Para quê ele precisa de roupas? É um gato!

- Ele não é um gato agora.

- Sim, e eu estava perguntando...

- Sasuke tem conseguido se manter em sua verdadeira forma sem depender da energia de Hinata. – Hiashi explicou. – Por esse motivo, vou manda-lo para a escola para estar próximo de sua irmã.

- Por que?

Hiashi hesitou. Hanabi não tinha dois anos quando Hikari adoecera e ele, pessoalmente, nunca entrara nos detalhes do acontecido com a filha mais nova, mas não tinha como saber se ela ouvira a história pelos irmãos. Desviou os olhos para os vermelhos de Sasuke, o youkai o encarou de volta, impassível, uma mão na cintura, também aguardando quais seriam as próximas palavras do velho.

- Não sabemos o que fez com que Hinata desmaiasse na celebração do coven, Hanabi. – Então ele estava falando a verdade a ela. Bom, pensou o Uchiha. – Então quero que Sasuke esteja com ela caso aconteça de novo.

Sasuke não tinha vínculo com nenhum dos dois bruxos ali, mas sentiu a tensão aumentar levemente conforme o silêncio de Hanabi se prolongava enquanto encarava o pai, refletindo sobre a resposta. Foi como se Hiashi soltasse a respiração que estava presa quando ela se aproximou, pegou o envelope das mãos dele e sorriu.

- Tudo bem! – Ela se virou de novo para Sasuke. – Se vamos fazer compras, é melhor que você coloque umas roupas de nii-san ou vai parecer um velho de 100 anos com esse quimono.

Seu pai baixou os olhos perolados para si mesmo e o quimono com haori por cima que vestia.

- Sem ofensa, otou-san. – Ela ainda se lembrou de dizer enquanto saia do quarto de Hinata para entrar no Neji. – Gato, venha aqui!


Já era noite, estava frio, aquele lugar era absolutamente lotado e barulhento, umas oito pessoas já tinham se aproximado dele para fazer perguntas sobre coisas que ele não entendeu, estava cansado, irritado, seu vínculo ainda estava esticado mais do que o confortável e a bruxa pirralha o tinha deixado sentado ali com todas as comprar e desaparecido na multidão.

Hanabi o fizer andar por horas, entrando e saindo de lojas, intercaladas com infinitas trocas e compras de roupas, de sapatos, de acessórios, de algo chamado roupa de baixo absolutamente constrangedor para todos os envolvidos exceto, aparentemente, para a menina de dez anos que o acompanhava, de material escolar e, finalmente, de um celular, então Sasuke estava no mais alto nível de mau humor.

A lista de Hiashi com os itens a serem comprados fora seguida religiosamente, mas enquanto Hanabi não deixara de comprar as coisas da lista, achara justo fazer algumas adições.

Entre uma troca de roupa e outra, ela fizera com que Sasuke não voltasse a vestir as roupas de Neji, porque dissera que seu irmão se vestia como um "aspirante a proletário que usava a palavra 'adultando' como verbo". O youkai não sabia o que significava proletário nem adultando, então não discutiu, mas reclamou bastante enquanto ia colocando as peças de roupa que ela lhe entregava por cima da porta do provador – depois de alguns gritos de "não importa se é desconfortável, precisa vestir cueca!".

As calças pretas eram um pouco justas, mas não o suficiente para restringir seus movimentos, e estavam rasgadas, mas a menina dissera que aquilo era "tendência". Sasuke não sabia o significado de tendência. Colocou também algo chamado moletom, na cor vermelho borgonha – "pra combinar com seus olhos vermelhos, só que é melhor você deixar preto perto das outras pessoas ou vão te confundir com um otaku fedido fazendo cospobre" e uma jaqueta preta por cima disso. De todas as coisas que compraram, a única que Sasuke tinha escolhido e sido aprovado por Hanabi tinha sido o par de botas de cano curto que já saíra da loja usando.

A parte menos sofrida de toda a tarde fora quando pararam para comer o que Hanabi disse se chamar "hambúrguer". Ele gostou daquela comida. Gostou da combinação de carne, tomate e alface, mas não do pão, e das batatas fritas. O refrigerante fez cócegas em sua língua e era doce demais, então deixou que a menina terminasse o seu. A bruxa filhote o deixou intrigado quando disse que aquele hambúrguer era gostoso, mas o que sua irmã fazia era ainda melhor. Da próxima vez que a bruxa lhe perguntasse o que queria comer, já sabia o que iria pedir.

Uchiha Sasuke bufou e viu sua respiração sair em uma nuvem de fumaça na noite iluminada por milhares de luzes e telas. Sentia aquele mundo muito mais frio que o seu mundo original, mais rápido também. Talvez fossem as luzes piscantes, os transeuntes apressados, os carros, o trem subterrâneo que eles usaram para chegar ali, a quase completa ausência de verde. Era um mundo feito de pontas afiadas, algumas lascadas toscamente com pedras e atrito, outras amoladas cuidadosamente por ferreiros experientes, e a vida ali era tentar se cortar o menos possível.

O youkai percebeu sua visão se turvando enquanto era acometido por uma sensação de calor que amoleceu seus membros. Semicerrou os olhos sentindo-se relaxar, seus membros ficando pesados, até que seus instintos tomaram conta de seu cérebro anuviado para tentar entender o que estava acontecendo, abrindo os olhos e colocando-se alerta imediatamente. Sentiu a coceira de suas garras querendo surgir enquanto olhava ao seu redor, os olhos carmim sob a meia-luz da praça, antes de perceber que a sensação prazerosa tinha como origem sua barriga, logo acima do umbigo, onde estava o vínculo.

Hyuuga Hinata vinha em sua direção, olhos curiosos, sorriso pequeno, murmurando o já conhecido feitiço de aquecimento sobre ele. A bruxa levou ambas as mãos à barriga, a tensão do laço se esvaindo com cada passo que dava para perto do familiar, descarregando segurança e serotonina em seus sistemas.

- Sasuke-kun, o que está fazendo aqui?

- Nee-san! – O grito de Hanabi impediu que Sasuke respondesse e a moça voltou-se para o som para observar a menina correndo até eles, uma salsicha empanada no palito em cada mão.

- Hanabi! – A mais velha não parecia surpresa em ver a irmã menor. – Você não disse que Sasuke estava aqui.

A menina ignorou a irmão e entregou a Sasuke um dos palitos. Fumegava e cheirava bem, então o youkai decidiu colocar a responsabilidade de sua melhora repentina de humor na comida do que na presença da bruxa e no relaxamento do vínculo.

- Alguém precisava carregar as compras. – A menor respondeu.

Foi só nesse momento que Hinata percebeu as sacolas ao redor de onde Sasuke estava sentado.

- H-hanabi, o que é tudo isso?

- Otou-san me mandou trazer Sasuke para fazer compras.

- Otou-san mandou... Mas para quê? Sasuke-kun não usa essa forma...

- Ele vai pra escola com você e Neji-nii-san, ao que parece.

- O-o quê?

- Deixa pra falar sobre isso em casa, nee-san, olha aí seus amigos.

A feiticeira se virou para ver o grupo com quem estava no karaokêse aproximando. Ela tinha se afastado abruptamente quando sentira, e depois vira, Sasuke na praça, e aquele caminho levava à entrada da estação de metrô, então eles teriam que passar por ali de qualquer maneira.

Quando estavam próximos o suficiente para Kiba cumprimentar Hanabi com seu típico "yo, mini Hina-chan", a feiticeira sentiu a algo em suas costas e não precisou olhar para saber que era seu familiar, sentindo que ele não estava muito contente. Entre seus amigos, os olhos de Ino se arregalaram levemente e a loira colocou a mão na lateral da boca para que os outros não a vissem murmurar para Hinata "não é o seu familiar? Mas como?" e o sorriso de Naruto desapareceu.

- Quem é? – Perguntou Chouji, que tinha se aproximado de Hanabi porque a menina lhe ofereceu sua salsicha empanada, da qual só tinha tirado uma mordida, olhando diretamente para Sasuke.

- Uhn? Ah, é só o Sasuke. – A menor respondeu, como se o moreno parado atrás de sua irmã, olhando estranho para Naruto, fosse apenas um tipo peculiar de cacto, sequer digno o suficiente para compor o feed de seu Instagram.

- Sasuke quem? – Continuou o rapaz de boca cheia.

- Uchiha Sasuke. – Respondeu o familiar também sem elaborar e nem sequer olhando para a pessoa que estava fazendo as perguntas.

- Ele é o primo do interior. – Foi Naruto quem supriu a respostas, fazendo com que todos olhassem para ele. O Uzumaki, contudo, continuou em sua batalha de olhares com o moreno. – Quando vai embora?

- Do que está falando? – Hanabi se intrometeu, atraindo os olhares para si. – Sasuke não vai embora, vai estudar com vocês.

- O quê?

- É, otou-san o adotou.

Aquilo era uma surpresa para Hinata também e seu rosto refletiu as expressões de seus amigos. Shikamaru, que não era um praticante, mas era conhecedor, devido seu relacionamento com Temari, trocou olhares com Ino, porque ele sabia quem e o quê era Sasuke. Shino, de óculos escuros e metade do rosto escondida na gola alta do casaco, foi impossível de interpretar. Kiba coçou a cabeça, porque era quem conhecia Hinata e os Hyuuga a mais tempo e não se lembrava dela jamais ter mencionado aquele primo, embora soubesse que a família estendida dela era bem grande. Sakura, que até então ficara apenas observando as reações estranhas de Naruto, decidiu que não gostara de nada naquela interação e tomou para si a missão terminar com aquilo.

- Se Sasuke-kun será nosso colega, então o veremos na segunda-feira na escola. – Agarrou a manga do casaco de Naruto com uma mão, enganchou seu braço no de Ino com a outra e começou a marchar para a estação. – Tchau, Hinata-san.

- Oi, Sakura, espera um pouco! – Protestou Naruto, mas o aperto da rosada em sua mão era inflexível.

- O que deu nela? – Perguntou Kiba.

- Não tende entender. – Shikamaru respondeu. – Nós também já vamos, Hinata.

- Tudo bem, Shikamaru-kun, Chouji-kun.

- Vocês estavam fazendo compras? Querem ajuda pra carregar tudo isso?

- Kiba, não adianta você oferecer ajuda. Por que? Porque não estamos indo para a mesma direção que eles.

- Não tem problema, Kiba-kun.

Seus amigos todos se foram depois de mais alguma despedidas. Hanabi tinha se empertigado no banco em meio as sacolas de compras, mas Sasuke ainda não tinha saído de detrás de Hinata, embora seus olhos estivessem colados na direção em que Naruto e os outros desapareceram, e a feiticeira não acreditava que era porque ele estava interessado no metrô.

As emoções de Hinata na proximidade de Naruto eram confusas, porque eram muitas e misturadas, e já eram suficientemente complicadas e constrangedoras quando as sentia sozinha, mas agora além de compartilha-las com Sasuke, também recebia uma corrente contínua das emoções dele. Sasuke não gostava de Naruto. Soubera disso no templo, reforçara esse conhecimento naquele novo encontro entre os dois. O pior de tudo era que o próprio youkai não conseguia entender de onde surgira aquela desavença. Pelo que conseguia interpretar, seu familiar não queria Naruto perto dela em um nível mais instintivo do que racional.

- Sasuke-kun. – Ela se virou, ele não olhou para ela. – Naruto-kun é só um humano comum e é meu amigo, não precisa me proteger dele.

As palavras atraíram o olhar dele, que tinha se mantido ônix por toda o tempo em que ele estava se fazendo passar por humano, de volta para ela. Sua bruxa vivera poucos anos e tinha o mau hábito de primeiro ver o lado bom de todas as pessoas.

- Youkai, demônios, bruxos, humanos, não importa. – Sasuke devolveu. Hinata sentiu-se estremecer com a certeza fria das emoções dele naquele momento. – Por dentro há cantos escuros que não ousamos revelar nem a nós mesmos.

Sasuke levantou a mão e Hinata teve certeza que ele estava direcionando-a até seu pescoço, para colocar sobre a marca, como começara a ter o hábito de fazer porque parecia que lhe trazia conforto, mas a voz de Hanabi o fez interromper o ato.

- Vamos embora, eu estou congelando aqui!

Sasuke se afastou para recolher as sacolas e Hinata colocou ela mesma uma das mãos sobre a marca invisível, outra sobre o ponto de conexão do vínculo, e pensou em todos os seus cantos escuros inexplorados.


Hoje faz um ano desde que postei o primeiro capítulo desta fic. Nesse ritmo serão 84 anos até terminar.

Obrigada por lerem! : )