Alma Intrusa

"Nossos verdadeiros inimigos estão em nós mesmos"
Bossuet

- Isto é impossível! – gritou Harry abalado.

- Não é, prova disso é você. – O diretor o ajudou a levantar. – Vamos ao meu escritório.

A enfermeira os seguiu com os olhos, confusa pelo que havia acontecido, decidiu tentar fazer outra poção para curar o ferimento de Thomas.

Quando passaram pela parte dos leitos da enfermaria, Harry viu Rony e Hermione sentados em dois bancos, o esperando. Mas não sentiu vontade de chamá-los para aquela conversa, estava tão perdido com tudo aquilo...

Permaneceu em silêncio durante todo o percurso, formando perguntas e mais perguntas para serem feitas ao diretor. Aquilo parecia cada vez mais absurdo a cada passo que dava em direção ao escritório.

Sentaram-se nas cadeiras fofas em frente à mesa de Dumbledore.

- Então... – Começou o diretor. – Vamos começar do começo Harry: No ano letivo passado, Voldemort tentava dominar a sua mente, como uma maldição Imperius, felizmente, ele parou no início deste ano por causa de uma descoberta que fez.

Harry lembrava-se pouco nitidamente do primeiro sonho que havia tido, onde Voldemort encontrava-se perturbado por causa de um novo fator a ser levado em conta no seus planos.

- Você sabe mais do que ninguém que Voldemort tem muitas "ligações" com você. – disse Dumbledore calmamente. – Sobre a cicatriz, as características que ele lhe passou através dela, um pouco do seu sangue também corre nas veias dele, e acima de tudo, ele tentou invadir a sua mente.

- Pensei que a cicatriz fosse mais importante...

- Preste atenção no que vou lhe dizer: De certa forma, mesmo antes de Voldemort tentar dominar a sua mente, uma pequena parte dele estava em você, por causa das ligações que tem com ele, e vice-versa.

- Bem, isso não é uma grande novidade, além de não explicar minhas visões. – Resmungou Harry.

- Um fenômeno desconhecido aconteceu no momento em que ele tentou invadir sua mente. – Continuou o diretor o ignorando. – E quando ele descobriu, já era tarde demais para tentar reverter...

- O que diabos aconteceu? – Odiava aquele suspense.

- Vocês passaram a compartilhar parte da mesma mente, a dele. – Harry parou de respirar. – Por causa da pequena parcela dele já existente em você, entende? É como se ele tivesse tentado dominar a própria mente...Cada vez que ele fazia isso, mais uma parte dele passava a ser compartilhada com você, deixando-os mais ligados.

- Quer dizer que sou Voldemort, em parte?

- Sim... Mas agora ele não tem controle sobre o que você vê, a intensidade ou freqüência de suas visões dependem do número de vezes que ele tentou invadir a sua mente, passando assim, como eu disse antes, a compartilhá-la com você.– Explicou ele. – Por isso tem lembranças que não te pertencem, ou pressentimentos. Os sonhos na verdade são a mais pura realidade, em tempo real o que acontece com ele, aparecem com mais nitidez quando você pára de pensar, dormindo...

- De onde tirou tudo isso? – Pediu Harry. Sabia que tudo se encaixava, mas era demais para ele.

- Aqui está o exame feito no ministério. – Ele entregou um papel a Harry. – Segundo isso você tem uma parcela de "experiência de vida e intuição" muito alta para um garoto de dezesseis anos. Mas é claro que eles não fazem a mínima idéia deste fenômeno de uma "alma intrusa" em você. Só acham que és muito intuitivo... Esta intuição pertence a um outro ser...Voldemort.

- E...o que vamos fazer para tirá-lo da minha cabeça? – Perguntou Harry perturbado.

- Não vamos fazer nada. – resmungou o diretor se levantando. – Não podemos tirá-lo daí...

- Não podemos!- repetiu ele descrente.

- Tecnicamente, se ele parou de tentar dominá-lo, o processo de compartilhamento não aumentará, permanecendo estável. – Deu um longo suspiro. - Sugiro que façamos uso de sua "nova habilidade" de ver o que Voldemort faz, e encontrá-lo. – Murmurou Dumbledore. – E talvez matá-lo.

- Eu não morrerei com isso? – Harry se levantou também.

- Creio que não. – Ele se virou o encarando. – Só a mente de Voldemort está sendo compartilhada, a sua ainda está a salvo na sua cabeça, e só na sua. Ele não vê o que acontece com você, a situação é totalmente outra.

Harry se virou para ir embora, decidido a ajudar seu amigo Dino, apesar de todas suas descobertas tinha que continuar, e talvez se utilizar disso para encontrar o arqueiro.

- Só não pense que ele ficou menos forte. – a voz de Dumbledore invadiu a sala novamente, mas ele não se virou para encará-lo. – Ele tem a mente inteira, não perde as partes que estão em você, lembre-se que só as compartilha com ele. – a voz se tornou mais grave. – Harry, entenda que é como se Voldemort estivesse dentro da sua cabeça, levemente mais fraco, pois ele parou de tentar dominá-lo, por medo do que pode acontecer, ele não sabe as conseqüências...

- Que conseqüências? – Harry virou a cabeça para ele.

- As conseqüências de ele tentar dominar sua mente novamente. – Disse Dumbledore. – Se ele tentar, mas uma parte da mente dele será transferida para você. E quando esta transferência, assim por dizer, estiver completa, estarão tão unidos que será impossível conviver com isso, e então será travada uma batalha, na qual o vencedor ficará com seu corpo, e o outro morrerá. Tem que ter muito cuidado com uma coisa: não o deixe dominá-lo, se ele fizer isso, tomará o seu corpo. Você não se compara com Voldemort em artes mentais.

Deu um último suspiro, voltando a andar para fora do escritório. Não pensou em passar pela enfermaria e avisar os amigos que compartilhava parte da mente de Voldemort com o mesmo, tinha medo que se afastassem dele para sempre.

Caminhava rapidamente até o jardim, e agora seu pensamento tornava-se mais claro. Podia lembrar de como era capaz de olhar bem nos olhos das pessoas e ver que estavam mentindo, ou confiar nelas por nenhum motivo aparente. Só pensava que se Voldemort tentasse mais uma vez dominar sua mente, toda a mente do Lorde seria compartilhada com ele, e então sim, com certeza, eles travariam uma batalha de almas, lutando para ver quem sobreviveria.

Nem percebeu quando Hagrid o chamou enquanto dava sua aula. O gigante estranhou aquela reação de Harry, e viu que ele estava indo diretamente para a floresta. Mas, num estranho momento, ele pôde ouvir sua consciência, e ela dizia que era melhor não segui-lo.

Harry olhava para o chão com atenção, procurando coisas que se mexiam. Notou que havia uma movimentação ao seu redor, como se os animais estivessem se afastando dele.

Encontrou então, estranhamente vazia, a depressão onde deveriam estar todas as aranhas da floresta. Mas não estavam lá. Andou até o centro, olhando para os lados desconfiado.

- Aragogue! – gritou para o nada.

O silêncio pairava no ar, a luminosidade do sol pouco chegava a ele.

- Aragogue! Está com medo de um aluno? – Olhou para os lados, uma aranha de olhos leitosos vinha descendo vagarosamente a depressão, ladeada por outras quatro aranhas de pêlos muito negros.

- É você... – As pinças bateram interrompendo as palavras. – Quem tem espantado todos os animais da floresta...mas não sinto-te forte...

- Não sou eu. – Sibilou o garoto. – Voldemort tem vindo aqui, ver um comensal...eles fizeram isso.

- Tu não és inofensivo garoto. – parou em sua frente. – Bem sabe que carrega o mau dentro de si...

- Vim para saber qual é a cura do veneno de uma de tuas irmãs. – Harry ignorou as palavras dela.

- A cura? – Ela produziu um ruído que parecia um riso. – Por que eu lhe diria a cura?

- Posso tirar o comensal que espanta os animais daqui. – Sussurrou ele sorridente.

- Passamos por uma epidemia de fome por causa deste homem, e das visitas Dele. – As aranhas-guarda-costas bateram as pinças em confirmação.

- Diga-me a cura e o capturaremos.

- Sei que não pode me garantir isso. – Murmurou a aranha friamente. – No entanto minhas filhas passam fome...

Harry pegou a varinha, duas aranhas mudaram suas posições para ataque. Apontou para uma arvore, que instantaneamente transformou-se em duas vacas que desceram hipnotizadas até eles.

- Isso deve servir. – sibilou Harry. – Agora me dê a cura.

- A cura está no próprio veneno, acrescente três gotas de choro de unicórnio e um ramo de dez folhas de salgueiro amassadas. – Uma das aranhas empurrou um embrulho de folhas para ele. – Aí está o veneno, serei bondosa pela comida... Faça bom uso, pois não daremos mais.

Saiu correndo dali, tinha um sorriso estampado no rosto. Sabia que o arqueiro havia ido embora há algum tempo, e que não o pegariam assim tão facilmente, mas agora, pelo menos, não tinham mais um comensal tão perto.

- Como é que você saiu sem a gente ver? – Perguntou Rony levantando do banco em que estava sentado, em um pulo.

- Só sai. – Ele caminhou rapidamente até a enfermeira, ela o olhou como se fosse um louco.

- O que deseja Sr. Potter? – Resmungou ela lavando as mãos.

- Foi uma aranha gigante que mordeu Dino, aqui está o veneno. – ele entregou o embrulho a uma estática Madame Pomfrey, e se retirou da enfermeira seguida de Rony e Hermione depois de dizer como fazer um antídoto..

- Dino foi picado? – Perguntou Rony confuso.

- Por um das filhas de Aragogue. – Resmungou Harry dobrando bruscamente em um corredor, os dois seguiram-no.

- O que! – Hermione quase corria para acompanhá-los. –Harry! Pare de correr de nós!

Ele parou bruscamente, olhou para os dois amigos, e se eles corressem quando ele contasse seu segredo?

- Eu quero ficar um pouco sozinho. – Murmurou ele afastando-se dos dois, e sumindo por um corredor.

Rony olhou intrigado para Hermione, ela tinha os olhos marejados e vermelhos.

- Ah, por que está assim? – Perguntou ele se aproximando.

Ela colocou a mão na frente do rosto, escondendo-se.

- Tenho medo por Harry. – Ela fungou, o ruivo não sabia que fazer. – A cada dia ele fica mais estranho, e tem tantas responsabilidades para a idade dele... – sua voz tornou-se mais trêmula. – Vê como todos cobram dele... e ele se sente na obrigação de combater tudo...

Rony permaneceu paralisado, observando atônito a garota ficar cada vez mais vermelha, tapando o rosto. Ela abraçou-o, chorando mais alto, ficou ainda mais constrangido, mas retribuiu suavemente o abraço.

- Droga Rony, por que você nunca me ajuda? – fungou ela, baixinho.

- Eu vou te ajudar. – Sussurrou ele.

Harry sentou na cama, agarrou os próprios joelhos, abraçando-os e se pôs a pensar no que poderia acontecer com ele a partir daquele exato momento. Nada, era sua única resposta. Devia estar acontecendo há muito tempo àquilo com ele, afinal, quanto demoraram as pesquisas de Dumbledore? E até ali, mesmo não sabendo, havia convivido com isso. Continuaria, ignorando estes novos fatos.

Batidas leves na porta trancada do dormitório fizeram com que despertasse de seus pensamentos.

- Você está aí Harry? – A voz de Rony ficava abafada por causa da porta. – Tudo bem?

- Sim. – Murmurou ele.

- Posso falar um pouco com você?

- Entre.

Ouviu-se um estalido, e com um feitiço Rony abriu a fechadura, e entrou lentamente.

- Pensei que Pichí tivesse te devorado... – Resmungou ele, sentou-se ao lado de Harry. – Sabe há quanto tempo está aqui?

- Não reparei nas horas... – ele baixou a cabeça.

- Já é noite cara. – Rony se espichou até a janela, e puxou a pequena cortina, deixando a mostra à escuridão. – Tudo bem mesmo com você?

- Sim, só queria ficar um pouco com meus pensamentos... – Mexeu vagarosamente nos cabelos.

- Hermione está um pouco preocupada com você. – Rony olhou para ele. – Eu também.

- Não há motivos. – Desviou o olhar de Rony.

- Pode nos contar se alguma coisa estiver te preocupando. – Deu duas palmadas nas constas do amigo. – Sabe que pode contar com nós, estamos sempre com você.

Ele se levantou, vendo que Harry não tinha mais nada a falar, e já saia pela porta quando Harry o chamou.

- Está tudo bem Rony. – deu um sorriso e se levantou também, acompanhando o amigo. – Está tudo na mais completa normalidade.

Hermione sorriu ao ver os dois descerem juntos para a sala comunal da Grifinória. E, foi com maior gosto ainda que deu outro abraço, desta vez mais animado, em Rony, e em Harry também.

No jantar, estavam estranhamente bem. Rony estava tão ocupado em falar sobre a Copa de Quadribol, que nem notou o garoto com quem Gina dividia o suco, entre muitos sorrisos suspeitos. Dumbledore estranhou aquela reação de Harry, mas sinceramente preferia que ele agisse assim à com violência, ou se precipitasse.

Pela primeira vez Harry viu Narcisa Malfoy sentada na mesa dos professores, falava calmamente com Snape, que mantinha um sorrisinho constante no rosto. Estava com os mesmos cabelos loiros tão claros quanto os do filho e os olhos azuis, além do vestido preto e a longa capa.

Talvez ela tivesse notado o olhar de Harry, pois o olhou diretamente, ele sentiu frio percorrer a espinha. Não sabia se podia confiar nas boas intenções daquela mulher. O mestre de poções falou alguma coisa que a fez sorrir, e voltar a olhar para ele.

Voltou a prestar atenção na conversa de Rony sobre quadribol, sabia que teria que jogar na copa final. Havia sido poupado de todos os outros jogos pelos colegas de equipe, que tinham alguma idéia de como ele estava mal desde o inicio do ano.

Até ali, a equipe tinha sido chefiada por Katie Bell , que mantivera Rony como goleiro, afinal ele havia melhorado consideravelmente nos últimos tempos, e Gina como apanhadora. Ele dissera que preferia que o time continuasse como estava, Gina conseguira pegar o pomo em todas as partidas, e embora não tivessem vencido com grande vantagem, estavam classificados para a final com a Sonserina.

Não tinha idéia do por quê, mas quando a Weasley ouviu falar que seria a apanhadora em uma final, tinha tido um treco, se negando a substituir Harry em mais uma partida. Não estava muito crente de que aquela partida daria certo, embora tivesse muita vontade de jogar, não tinha treinado sequer uma vez no ano.

Levantou-se vagarosamente, já era tarde e metade do salão estava vazio. Não ouviu direito o que Rony disse, pois ele estava comendo a sobremesa ao mesmo tempo. Mas ficou grato pelo amigo tê-lo acompanhado até os dormitórios.

- Que bom que você conseguiu uma autorização de Dumbledore para sair da enfermaria. – Disse Rony acordando Neville com suas palavras. – Se fosse por Madame Pomfrey, ficaria lá mais uns dias...

- É. – concordou ele vagamente. – Nem notei que havia passado tanto tempo.

- Estava dormindo. – Resmungou colocando o pijama. – E é isso que eu pretendo fazer por um longo tempo a partir de agora.

Ele se jogou na cama, fechou o cortinado e murmurou um boa-noite cansado para Harry, que fez o mesmo. Adormeceu na mesma hora, pensando em como deveria treinar para retomar a posição de apanhador no time. Dormia com um leve sorriso impressionado, nem sabia direito como estava o time Grifinório agora, e tentava imaginar qual seria a tal surpresa que Malfoy havia mencionado quando estavam brigando.

Virou-se outra vez na cama, puxou as cobertas até a orelha, tentando ignorar o vento que insistia em acordá-lo. Resmungou baixinho, ordenando que o vento parasse, mas obviamente isso não adiantou. Virou na cama, abriu os olhos muito devagar e pouco, avistando a janela aberta.

Muito emburrado, se levantou agarrado às cobertas, e fechava a janela quando algo chamou atenção: havia um estranho brilho no lago, em um ponto especifico. Imediatamente tratou de abrir melhor os olhos e pegar seus óculos de cima da cabeceira ao lado, o brilho azulado continuava lá.

Não conseguiu ignorar aquilo, largou suas cobertas no chão, esquecendo do frio que o fez acordar, calçou seus sapatos e pegou a primeira capa ao alcance.

Saiu correndo pelos corredores, torcendo para que ninguém o encontrasse, já que havia se esquecido de pegar a capa da invisibilidade, mas agora não tinha mais tempo para voltar. Depois de tropeçar duas vezes na própria capa, notou que havia pegado a de Rony, exageradamente longa para Harry.

Não foi exatamente fácil encontrar um armário de vassouras para passar por alguma janela, já que a porta frontal, supunha, estava fortemente trancada, mas ele conseguiu. Não se importou em ter que voar com um modelo que a esta altura deveria estar no armário de vassouras para limpeza. Atravessou a primeira janela que encontrou, voando em direção ao lago.

Estava esbaforido quando quase caiu da vassoura, numa tentativa de fazê-la voar mais rápido do que uma tartaruga africana. A capa o fez cair no chão outra vez, sujando todo o pijama de terra. Correu desengonçado para as margens do lago, viu-se refletido nas águas.

Repentinamente todo o estranho brilho do lago se concentrou em um ponto: exatamente onde estava o seu reflexo, e dele surgiu uma outra imagem distorcida, mas reconhecível.

- Sirius... – Deu um pequeno sorriso ao padrinho com a mão estendida.

Uma dor terrível atingiu sua cicatriz, gritou apertando sua mão contra a dor, seus joelhos fraquejaram e Harry caiu.

N/A: huhahahahah, vocês realmente achavam que eu ia continuar? Não... esse é o esquema do suspense, agora eu sei que vocês vão ficar perturbados pensando no que vai acontecer, por que Sirius está aparecendo, já é a segunda vez que isso acontece...Bem, então mandem muitos comentários para a minha pessoa, ficarei muito agradecida

Nina: O Draco realmente é o máximo, ele só tava um pouquito dopado desta vez.huahaa. Bem, eu sei que o cap foi confuso, mas aqui estão as respostas para quase todas as pergntas da fic...depois de 21 caps de perguntas e mais perguntas. Obrigada pelos comentário, snif, vc foi a única!