O Cajado dos Aprisionados

"Nada é tão perigoso quanto a certeza de ter razão"
François Jacob

A porta bateu às suas costas, Hermione deu três passos e colidiu com a cabeça em alguma coisa muito dura. Havia uma iluminação azulada no lugar, mas ainda sim era muito escuro. Ela notou que a coisa na qual batera era uma estátua de uma mulher de longos cabelos, presos à cabeça por um penteado bonito, sentada em uma pedra, trajando uma longa túnica, admirando-se em um pequeno espelho de mão, havia asas saindo de suas costas.

Hesitou diante da imagem em tamanho real, virou-se novamente para a porta. Um pânico inexplicável a invadiu, não havia mais porta, no lugar dela estava um grande espelho, que a refletia claramente, logo acima do seu reflexo estava uma frase que era escrita em alguma coisa assustadoramente parecida com sangue.

"Nunca olhe para trás"

Trancou a respiração, sentiu uma movimentação atrás de si, virou-se novamente, podia jurar que a cabeça daquela estátua estava voltada para o espelho de mão, e não para ela.

- Ainda não. – Disse o diretor calmamente. – O senhor não tem provas concretas contra ele.

- Mas o Weasley disse que...

- Ele não falou em nenhum momento que foi o senhor Potter quem implantou as bombas. – contou o diretor. – Se retire da minha sala por favor, e só volte quando tiver uma testemunha contra ele.

O homem levantou bruscamente de sua cadeira, estava claramente ofendido com as palavras calmas do diretor. Ele deu uma última olhada rancorosa para Harry e saiu da sala, seguido pela mulher.

Harry pousou os seus olhos verdes em Rony. Mais pálido do que o normal, o garoto parecia anormalmente assustado.

- Por que você disse aquilo? – perguntou sussurrante.

- Eu não queria! – gritou ele se escondendo por trás das grandes mãos. – Saíram da minha boca sem controle.

- Não fique assim Harry. – Disse Dumbledore. – Sr. Weasley, eu quero que diga quem estava no jardim de noite.

Ele tentou falar alguma coisa, mas começou a ficar vermelho, e então um grande "NÃO" saiu de sua boca, seguido de mais uma expressão de horror.

- Os senhores fizeram um acordo com um bruxo... – Os olhos azuis por trás dos óculos de meia lua se voltaram para Harry. – Um bruxo que cumpre a promessa que fez a vocês... e enquanto ele fizer isso vocês serão forçados a cumprir sua parte.

- Do que o senhor está falando? – resmungou Harry perturbado.

- De acordos bruxos Harry. – Esclareceu ele. – É assim que funcionam.

- Então por que eu posso dizer que foi Malfoy quem fez isto?

- Por que você não pretendia cumprir a palavra quando apertou a mão dele. – sussurrou ele. – Foi realmente o Sr. Malfoy que fez isso? É uma acusação muito grave...

- Foi. – Ele fechou os olhos. – Eu estava nos jardins, foi nesta noite que tive a segunda visão de Sirius. – O diretor não se moveu. – Hermione e Rony vieram me ajudar, eu estava desacordado...e nós o vimos. Estava cavando e enterrando coisas, disse que eram arbustos. – Harry soltou uma pequena risada. – Delacour estava com ele.

- Delacour? – Repetiu Dumbledore. – Achei que estivesse curada da doença que a fazia segui-lo por todos os lados.

- E está. – Disse Harry, Rony tentou falar alguma coisa mais começou a ficar vermelho e desistiu. – Parecia-me bem sóbria.

- Você sabe que não podemos fazer nada. – Disse Dumbledore pesadamente, voltando a sentar em sua poltrona. – A Srta. Granger foi seqüestrada e também deve ter feito o acordo...Não há mais testemunhas, nem contra, nem ao nosso favor.

- Nem se o senhor alegar este acordo que fizemos? – Perguntou Harry esperançoso.

- Nenhuma comissão de julgamento acreditaria que um jovem como Malfoy tivesse conhecimento de magia tão antiga...pois é preciso pensar em algumas palavras para que o acordo se torne realmente bom...e ele fez um belo trabalho com o Sr.Weasley aqui...

- E o que vamos fazer a respeito de Hermione? – Uma dor atingiu-o repentinamente. – Eu vou ir atrás dela...

- Não vai. – ele apoiou o rosto na mão. – Ela deve estar segura, pois se Malfoy pretendesse realmente matá-la, já teria o feito, ou a largaria em Azcaban e fugiria sozinho. Entende, ele a levou por algum motivo, como refém talvez...

Batidas na porta interromperam a conversa deles. Profa.McGonagall entrou discretamente, lançando um olhar rápido aos garotos.

- Alvo, os outros alunos estão vindo, logo saberão de tudo o que aconteceu por aqui e em Azcaban. – Ela parecia ter corrido muito. – A escola ruirá! Os pais dos alunos mandarão milhares de cartas, teremos que mandar todos de volta para...

- Minerva, eu não quero que o pânico se instale. – disse ele calmamente. – Daremos um jeito de distrair todos até que esteja tudo na mais perfeita ordem.

- Nunca distrairemos um comboio de alunos tão grande. – Retrucou ela. – eles vão notar a agitação. Sei que muitos estavam em Hogsmade, à maioria nas masmorras e salas comunais, afinal estavam proibidos de perambular pelos jardins para não incomodar os aurores... nós só permitimos a aula de...

- Sim, eu sei. – Ele se levantou. – Mas se não agirmos, todos logo notarão o que aconteceu, e o pânico se instalará, deixando todos malucos! Depois de uma experiência com a reação das pessoas à notícia da volta de Voldemort, eu não irei mais fazer tudo precipitadamente...

- Um desastre destes deve ser noticiado com calma. – murmurou Minerva pensativa.

- Precisamos de uma grande notícia, algo que os distraía das agitações do castelo...

- Um baile. – a voz de Rony estava mais forte. – Quando tivemos um no quarto ano ninguém pensava em outra coisa.

- É uma bela idéia. – Disse a professora. – Faremos isso, eu me encarregarei de convencer os alunos de que as crateras no jardim foram feitas pelos homens do esquadrão ministerial... e faremos isso logo. – Ela já ia se retirando quando olhou novamente para Harry. – E depois eu vou querer saber por que desobedeceu a ordem de permanecer longe dos jardins, Sr. Potter. – Estava prestes a fechar a porta quando fungou para Dumbledore. – Encontrem logo a Srta.Granger, ela é uma das minhas melhores alunas.

Havia desobedecido àquela ordem por puro tédio, a sala comunal parecia tão vazia sem Rony ou Hermione... ainda mais por que Gina e Luna estavam em Hogsmade, aliás, nem sabia por que não as havia seguido até lá.

- Será melhor que fiquem em suas salas comunais. – Dumbledore olhou ternamente para eles. – Não comentem sobre o seqüestro de Hermione com ninguém, é um pedido do ministério...Não seria bom num momento destes, começar uma briga com eles.

Retiraram-se vagarosamente, sem dizer muitas palavras, esperando não encontrar ninguém pelo caminho.

A mulher de pedra tinha os olhos vazios, mas ainda assim parecia demasiado real para Hermione. A garota piscou imóvel, notando que havia uma passagem pela direita, logo atrás da estatua.

Em um piscar de olhos ela havia disparado para a fenda. Ouviu um baque, a estátua largava lentamente o espalho, que caiu no chão, um sorriso de dentes afiados se formava em sua boca de pedra. Mas a garota já não estava mais olhando para trás quando a criatura abriu as grandiosas assas, estava correndo na maior velocidade que podia.

Ela notou, com um certo desespero, que não havia paredes naquele lugar, somente espelhos por todos os lados, formando um indecifrável labirinto de reflexos e ilusões. E para completar o seu desespero, que já era grande, agora podia ouvir claramente que a criatura se aproximava.

De relance ela viu uma garota morena em um dos espelhos, mas não parou para ver, continuava correndo, aquilo tinha que ter uma saída. As imagens de pessoas começavam a ficar mais freqüentes, ela poderia jurar que havia visto Rony por um segundo.

Estava muito assustada com tudo aquilo, que tipo de homem tem um labirinto de espelhos com uma estatua assassina dentro de uma porta que qualquer um pode entrar por acidente? O mesmo tipo de homem que guarda artefatos das trevas em um alçapão debaixo do tapete da sala, pensou.

Viu uma imagem, mas continuou a correr, agora poderia jurar que um dos espelhos à sua frente não a refletia. Não, estava enganada, a esperança invadiu seu peito, não era um espelho, era uma porta!

Ela se abriu antes que chegasse lá, mas sentiu, com pavor, que alguma coisa agarrara a sua perna. Não parou de correr, embora alguém estivesse puxando com força o seu pé.

Foi até mesmo com um certo alivio que foi puxada por Malfoy para fora. Ele fechou a porta com uma batida, mas ela ainda sentia que alguma coisa estava na sua perna, ela estava tremendo.

- Vejo que não gostou muito da nossa querida estátua grega... – sibilou ele prazerosamente, Belatriz deslizou escada a baixo sorrindo para ela.

Hermione olhou temerosa para sua perna, mas foi com grande surpresa que viu que o que a segurava era apenas um elfo agarrado como um macaco à sua perna. Malfoy olhou para o ser verde incrédulo, soltou a garota e se afastou para perto de Belatriz.

- Que ótimo, mais um para me servir! – Exclamou a mulher abrindo um sorriso enorme.

- Tenho que lembrar que esta casa não é sua? – resmungou ele aborrecido. – E tu, elfo, o que fazias atrás daquela porta?

- Joui foi pela direção errada, Joui não queria... – Murmurou o elfo enchendo seus grandes olhos castanhos de lágrimas.

- Elfo idiota... – Bufou o homem, Hermione pegou o elfo no colo, o protegendo como uma mãe.

Os dois admiraram a cena, enjoados, até que Malfoy resmungou que trouxas não tinham juízo, e se virou para entrar em outra porta.

Lestrange inclinou a cabeça meigamente para ela, juntando as mãos em frente à cintura. O elfo se desvencilhou dela e saiu correndo torto por um corredor que se estendia à direita.

- Então, você foi visitar Lúcio? – Perguntou ela gentilmente.

- Não exatamente isso. – Balbuciou ela confusa.

- Ah, então você vai ter que vê-lo... – Ela puxou a garota para a mesma direção que o homem havia seguido. – A senhorita não o acha simpático? Ah, é um gosto tê-lo na família!

Ela estava tentando resistir, mas a mulher a segurava firmemente, enterrando as unhas na pele dela. Os quadros eram em sua maioria escuros, de homens e mulheres muito bem vestidos olhando desconfiados para a garota que estava sendo arrastada.

Avistaram Malfoy depois de outra grande porta. Estavam em uma sala de grandes sofás negros, espadas cruzadas em cima da lareira de mármore, uma mesa de madeira muito bem trabalhada em um canto, cercada de cadeiras de espaldar alto e um bonito divã.

Sem nenhuma cerimônia ele afastou um dos grandes sofás, o barulho foi seguido pelo resmungo de uma pintura de tamanho real presa à parede. Puxou o tapete verde escuro revelando um alçapão grande, abriu a abertura no chão de madeira com um volteio de varinha. E pouco se importando com a presença delas, desceu as escadas do alçapão, sumindo pelo chão.

Em um pulo de excitação Belatriz a puxou escada a baixo, a passagem através do chão se fechou atrás delas.

Era um lugar frio, só era possível ouvir os passos delas descendo os degraus, e os do Malfoy, mais à frente. A escada levava a uma espantosamente grande sala de pedra, e ela aprecia maior ainda por estar completamente vazia. As paredes eram repletas de desenhos estranhos, e pedras brilhantes.

Ele foi à direção de uma grande esmeralda que era o olho de um dragão na parede, e a pressionou, pode-se ouvir o ruído de algo se locomover, depois foi à vez de um rubi, na espada de um homem, ser pressionado, e depois uma safira, na coroa de uma mulher.

O ruído de que alguma coisa se movia atrás da parede era cada vez mais alto, até que uma passagem imensa se abriu, dividindo a parede. Era um grande aposento repleto de montanhas de objetos aparentemente muito mal organizados, jogados ali de qualquer jeito. No meio daquela grande bagunça havia uma poltrona, e uma lareira em frente.

Um feitiço vindo da poltrona ricocheteou em um espelho, por pouco não acertando o Sr. Malfoy.

- Sinceramente. – Resmungou ele se aproximando da lareira.

Um homem se levantou para encará-lo, tinha desgrenhados cabelos castanhos e penetrantes olhos castanhos.

- Não o conheço. – Sibilou para Lúcio.

- Está preso aqui há uns quinhentos anos. – Resmungou o loiro olhando em volta. – O senhor devia conhecer meu bisavô, ou alguém ainda mais distante.

Hermione notou de imediato que a parede havia se fechado novamente atrás de suas costas, os trancando ali com aquele sujeito, no mínimo suspeito. Era possível ver que ele não parecia exatamente vivo, devido a sua palidez extrema.

Ele lançou um olhar rápido para as mulheres do outro lado do cômodo, e ajeitou discretamente suas roupas elegantes. Voltou novamente o seu olhar para o Malfoy, e o farejou, como se pudesse descobrir quem era desta maneira. Seguro de que falava com um legitimo membro da família, ele se recostou novamente na poltrona.

- Sou o zelador. – disse calmamente. – Amaldiçoado a cuidar desta fortuna até que se acabe o último galeão.

- Pois bem, Lúcio Malfoy, Belatriz Lestrange e a sangue-ruim que não vem ao caso. – Murmurou para o zelador, apresentando todos. – Estou com muita pressa.

- Fale o que deseja. – Sussurrou.

- Quero o Cajado dos Aprisionados. – O homem arregalou os olhos, surpreso.

- É um artefato único.

- E está em minha família. – Sibilou. – O quero.

Ele pareceu incerto, mas como não tinha outra opção, andou até o centro da sala, e olhou para as montanhas de objetos. Hermione tinha certeza que ninguém nunca acharia nada no meio daquela bagunça, mas para o zelador estava tudo na mais completa ordem. Logo se dirigiu para uma das montanhas de objetos, e retirou cuidadosamente um cajado de lá.

Tinha nas duas pontas cabeças de serpentes de prata, com as bocas escancaras, deixando a mostra as presas afiadas. O cabo era feito de vidro e trabalhado com as serpentes, que se entrelaçavam para depois ir cada uma para uma ponta. Era possível ver que havia uma espécie de fumaça esverdeada dentro do vidro.

- Sabes usar isso? – Perguntou o zelador. – Não podes acreditar nas lendas...

- Eu tenho idéia do que faz. – Resmungou agarrando o objeto, avançando para a lareira, e sumindo no fogo.

O zelador fungou em um misto de indignação e preocupação, e passou a observar incisivamente as duas mulheres, Belatriz sorriu entusiasmada, e puxou Hermione para o fogo.

- Eu não acredito que... – ele começou a ficar vermelho novamente.

- Apertou a mão daquele idiota pensando mesmo em cumprir o trato. – Completou Harry desanimado. – E agora não pode falar nada sobre o assunto que possa incriminá-lo...

- Espero mesmo que não encontrem ninguém que sirva de testemunha contra você, - resmungou ele. –Assim as coisas ficarão paradas, e ninguém poderá incriminá-lo...

- Você acha certo o que vão fazer? – Perguntou desinteressadamente, se sentando em uma das poltronas fofas da Grifinória – Esconder os atentados?

- Pense na reação das pessoas com a confirmação de que você-sabe-quem está de volta. – Balbuciou Rony. – Acho que deveriam contar quando as coisas se acalmassem um pouco...os alunos sabem que alguma coisa de errado aconteceu em Azcaban, não sabem o que, mas suspeitam... – ele sorriu. – E as suspeitas são sempre piores do que a própria realidade...toda esta confusão com a retirada de centauros, incriminados de desmemoriar um professor... imagine se eles chegassem da prisão com a cabeça cheia de suspeitas e encontrassem crateras de explosões?

- Entrariam em pânico. – Resumiu Harry. – Dumbledore falará com os pais dos alunos mortos e dos feridos, passará a notícia com calma, alistando pessoas para a luta contra Voldemort do nosso lado.

- Um baile? – Repetiu Draco confuso. – Por que teremos um baile?

- Ah, fique quieto Malfoy! – Xingou Parvati. – Você tem alguma idéia de como isso é raro?

- Mas eu não entendi o motivo. – resmungou Pansy olhando feio para a professora.

- Era uma surpresa que vínhamos reservando há algum tempo. – Disse Minerva tentando abafar os burburinhos. – Será um baile de origens...

- Um baile de origens! – Reclamou Crabbe. – Não! Eu odeio aquele maldito colete verde ...

- Sr.Crabbe, por favor! – Disse professora, observando os alunos trouxas confusos. – Um baile de origens trata-se de uma festa onde os convidados devem ir trajados com as vestimentas tradicionais da família.

Uma nova onda de burburinhos.

- Mensagens já foram enviadas para as famílias, solicitando o envio das roupas. – Continuou Minerva. – Chegará tudo hoje de tarde. Mais informações sobre o assunto estão afixadas no mural das casas.

A sala comunal da Grifinória foi invadida por uma verdadeira avalanche de alunos que quase se atropelavam para chegar ao mural de avisos.

Entre os horários de saídas para Hogsmade, visitas para Azcaban e promoções de quites de Fred e Jorge, estava um grande e novo pergaminho escrito com uma letra elegante.

Baile das Origens

Um baile das origens realizar-se-á no dia 25 deste mesmo mês, não serão admitidos alunos com idade menor do que quinze anos, nem pessoas que não estejam vestidas a caráter para o evento.

Diretor Alvo Dumbledore

Vice-diretora Minerva McGonagall

- Dia 25? – Leu alto Simas. – Mas isto é depois de amanhã!

- O céus! – Gritou Dino. – Nunca conseguirei um par a tempo...

N/A: desde que a JK fez um baile no quarto ano, os autores vêm se deliciando, fazendo muitos outros em suas fics...E eu não poderia deixar de ser diferente...Claro que não vai ser somente um baile...hehehe, o próximo capítulo promete grandes surpresas! E antes que eu pare de falar, comentem este capítulo, por favor.