A Dívida e o Reencontro
O homem é mortal por seus temores e imortal por seus desejos ( Desconhecido)
Quando a honra de um homem é inatacável, fica-lhe decente qualquer roupa que vista. (Hamassa)
Harry olhou assustado para os condenados próximos. Eles também pareciam perturbados com o grande barulho que mais parecera alguma explosão em uma ala não tão distante assim.
- Se há uma coisa que eu odeio nas celas é a falta de janelas para fora. – resmungou o homem de cabelos laranja que ocupava a cela de cima. – Você pode ver todos a sua volta, mas absolutamente nada do que acontece lá fora...
Largou a carta em cima do cobertor puído, na cama. Malfoy estava de pé, no meio da cela, parecia mais alarmado do que o normal. Talvez fosse a expectativa de sair da cadeia, ele havia recebido uma carta dando a sua anistia, sairia em alguns dias, o mesmo havia sucedido com Harry.
Não entendia verdadeiramente os motivos do ministro ter lhe perdoado pelos " crimes que havia cometido". Repentinamente se lembrou da Sra. Malfoy e da conversa que ela tivera com o marido, ela havia conseguido a anistia do homem. Mas aquilo não fazia sentido...afinal ele não estava ali para vigiá-lo? Se saísse não haveria mais ninguém para cuidar de Harry...A não ser que estivessem planejando uma fuga para ele.
Os passos apreensivos de Huster, na cela de cima, o fizeram acordar de seus pensamentos.
- O que diabos foi aquele barulho? – ele continuava andando de um lado para o outro.
Voltou a prestar atenção em Malfoy, que continuava na mesma posição. Lembrou-se novamente da mulher dele. Ela dissera que havia sido muito fácil conseguir a anistia para ele. Lembrou-se da movimentação estranha que notara em um dos corredores, quando ainda estava dentro do labirinto. Achara um portão que permitia ver alguns corredores, achava ser a saída, mas infelizmente estava trancado.
O ministro decididamente armava algo e, pelas suas contas, poderia estar acontecendo naquele exato momento, enquanto estava ali preso e imóvel.
O vento gelado da noite batia no seu rosto, não conseguia abrir os olhos. Esperava a morte, não conseguiria encará-la de frente. Talvez já tivesse morrido, mas não pensava que seria assim tão "leve" não havia sentido nada, nem sequer a queda.
- Você ainda não morreu. – disse a voz muito próxima. – Mas se continuar parada, não duvide, morrerá.
Abriu os olhos, assustada, para dar de cara com outro par de olhos, desta vez vermelhos. Olhou em volta, estava há três metros do chão, flutuando quase de cabeça para baixo. A mulher de aparência cadavérica estava com a mão erguida, como que sustentando alguma coisa, era uma vampira. Havia sido salva por ela.
Uma nuvem de fumaça se formou atrás da vampira e, tomando a forma de um homem forte e esguio, dela surgiu Marco Fleamegout. Ela foi decida com suavidade até o chão, sob o olhar satisfeito do vampiro.
- Como chegaram a tempo de me salvar? – perguntou arfante.
- Muito simples senhorita, - disse, em um silvo de prazer. – Eu acredito nos meus anéis.
Olhou para trás, a ala feminina de perigo máximo, na qual estava anteriormente, havia sido completamente destruída. No seu lugar havia uma imensa fogueira.
- Foi o maldito Fudge! – berrou indignada. – Ele cumpriu sua palavra.
- E está na hora da Senhorita cumprir a sua.
Anoneta voltou-se rapidamente para ele, desarrumando ainda mais seus cabelos.
- Como sabe do que prometi? – olhou desconfiada para ele.
- Sei de muitas coisas, Anoneta. – ignorou o desagrado dela por ter sido chamada pelo primeiro nome. – Não vais deixar Fudge fazer isso, disse que se uniria aos comensais...ao mal, a mim.
Ele estendeu a mão pálida para ajudá-la a levantar do chão, seus olhos azuis agora tinham um leve tom avermelhado. As chamas da antiga ala se refletiam neles, os deixando tenebrosos, mais do que nunca.
- Explode outro!
- Sr. Ministro, uma bomba não pode ser explodida depois de outra antes de um pequeno intervalo de cinco minutos. – resmungou o auror. – Ou não fará igual efeito.
- Sejam rápidos! E se fugirem?
- Sr, eles estão presos... – disse o homem gordinho. – Não há para onde ir, os últimos só terão mais tempo para gritar.
- Preciso buscar minha varinha, - disse Güsher alarmada. – Está na sala de proteção...
- Busque as dos condenados também. – ela ia começar a correr, mas foi puxada de volta pelo vampiro. – Lembre-se especialmente da de Lúcio Malfoy, tenho uma divida de vida com ele que pretendo pagar hoje. Creio que também será muito importante a varinha de Potter.
- Sim.
Ela se afastou muito rápido, correndo como uma louca para dentro de um bloco da grande cadeia. Vampiros começavam a surgir em volta de Feamegout.
- Libertem os condenados. – ordenou, eles sumiram em nuvens de fumaça instantaneamente. – Hoje mostraremos que nosso lugar ao lado do Lord das Trevas é mais do que merecido.
Harry olhou para os dois lados alarmado. Ouvira outro barulho parecido com o de uma explosão, mas desta vez estava mais perto, realmente mais perto. Pôde até sentir um leve tremor no chão.
Olhou assustado para o vampiro que estava em frente a sua cela, era o chefe. Marco voltou-se para o Malfoy, e tocando com suavidade nas suas grades, abriu uma grande passagem para o loiro.
- Hoje acabo com minha dívida contigo, Malfoy. Um dia salvastes minha vida, e hoje a tua salvo.
- O que está acontecendo? – perguntou Lúcio. – Eu não seria anistiado?
- O ministro armou para cima de todos nós. – esclareceu ele. – O homem deu um jeito de implantar bombas aqui, e está explodindo com tudo. Talvez, com isso, acha que possa diminuir o poder de Voldemort.
- De fato. – resmungou ele olhando diretamente para Harry. – Sabemos que se o garoto morrer...
- É, mas o idiota não sabe disso... – olhou para os lados. – Fuja.
- Abra a cela de Potter. – disse incisivamente.
- O farei pelo Lord. – resmungou abrindo um imenso buraco nas grades.
Passou para fora, pisando na passarela flutuante. Notou que vários outros vampiros abriam o maior número de celas possível, fazendo um grande estardalhaço.
A mulher veio correndo no meio de toda aquela bagunça, totalmente descomposta: o cabelo desarrumado, as vestes rasgadas em alguns pontos, as botas sujas. Ela deu um sorriso enorme quando os avistou, estendeu sua mão que carregava duas varinhas, e as ofereceu como um presente para eles.
Lúcio deu um breve suspiro de exclamação por vê-la naquele estado. Mas logo notou que em uma das varinhas o seu nome brilhava reluzente, e a pegou com sutileza. Harry fez o mesmo, um tanto desconfiado daquela mulher, por que ela estava fazendo aquilo?
- Vamos sair daqui. – disse ela. – Seus vampiros estão libertando muitos, mas creio que devemos partir da ilha...a estrutura está enfraquecendo demais.
Eles se entreolharam, uma onda de prisioneiros corria para as saídas mais próximas. Muitos riam abertamente pois as barreiras elétricas estavam totalmente falhas por causa dos tremores que a prisão havia sofrido. Não perderam tempo em se juntar à multidão, Harry pensava como sairiam dali.
Nos gramados fora dos edifícios havia muita gente. Atrás deles o fogo que tomava os pavilhões, e à frente o mar, que impedia a passagem. Não poderiam se atirar e sair nadando. Alguns tentaram, depois dos gritos descobriram que a água havia sido enfeitiçada, era ácida.
- Já estão pulando. – Resmungou Marco dominado por sua inconfundível impaciência. – Que pressa é esta? Suicidar-se com certeza não é a melhor solução...
- Nos poupe de suas ironias... – sussurrou Malfoy. – O Lorde das Trevas está perdendo servos, o ministério está vencendo...
- O ministério está longe de vencer. – Belatriz ria alucinadamente. – O Senhor das Trevas nunca perderá!
Harry lançou a ela um olhar incrédulo, parecia que a mulher não tinha consciência que estava prestes a morrer.
Desesperados, os condenados desistiram de pular na água. Começaram a chorar e chamar pelo mestre, pelas mães, esposas, maridos...
- Humanos são patéticos... – Marco deu alguns passos à frente, dez vampiros emergiram do chão, saindo da forma de fumaça.
Harry não pôde ouvir o que diziam, estavam todos com as mãos direcionadas para o chão, os dedos estáticos Alguns dos bruxos em volta perceberam do que se tratava e foram ajudá-los, usavam as varinhas. Ele se viu sozinho, Malfoy havia se unido aos vampiros e Belatriz cantarolava alguma coisa perturbadora sobre " vitória das trevas... a luz perderá a luz.. poço, poço, poço... o túnel das ambições...".
Sem dúvida eles estavam praticando algum tipo de magia negra, o chão começou a tremer sem aviso. Lestrange pulava de excitação, Güsher olhava abismada para tudo, em um misto de espanto e medo. Repentinamente uma coisa surgiu da terra, de dentro da terra, e saiu se arrastando pela grama. Era uma espécie de monte de ossos com vida. Outros três saíram do chão ao mesmo tempo.
Tinha um cheiro horrível, de alguma coisa se decompondo. Os ossos flutuaram e então formaram esqueletos estranhos, esqueletos de cavalos alados. Harry deu alguns passos para trás, tapando o nariz. Ele viu carne crescendo por entre os ossos, mesmo se negando a acreditar na cena, os cavalos agora estavam ali, aparentemente vivos, mas não normais.
Harry não tinha notado que enquanto se distraia olhando a formação de um dos cavalos, muitos outros haviam surgido. Eram todos pretos, de olhos estranhamente vermelhos, grandes: poderiam carregar até quatro pessoas. Estavam farfalhantes, batiam os cascos violentamente no chão e não paravam de mexer a cauda, pareciam ferozes. Mas existia uma coisa realmente assustadora neles, algo muito fora do comum, além das grandes asas negras de plumas: entre os olhos tinha um buraco, de onde escorria sangue, era nauseante ver o sangue escorrendo ao longo de suas cabeças.
- O que é isso? – Sussurrou para si mesmo. – Que diabo é isso?
Malfoy agarrou o seu braço e o conduziu até um dos cavalos alados, ele tentou resistir, mas o homem o venceu. O cavalo os observou, atento, depois de uma última olhada para Lúcio, ele fez uma reverencia e deixou-se ser montado. Com Malfoy segurando as rédeas, Lestrange pulou para cima da criatura e Harry acabou ficando atrás.
Logo todos os condenados tinham subido em cavalos. Anoneta, que sangrava, apressou-se a subir em cima de um. Alçaram vôo. Era desconfortável, mas não tanto quanto em um hipogrifo. Olhou para baixo, o mar passava rápido, dali alguns quilômetros a água não deveria ser mais ácida, então se jogaria e estaria livre de todos eles.
- Nem pense nisso. – Marco estava atrás dele. De pé e com as mãos na cintura apreciava o vento que batia em seus cabelos sem vida. – A água perigosa só abrange alguns metros da baia da ilha onde está, ou devera dizer, estava Azcaban... Mas obviamente não vou deixá-lo saltar daqui... Depois dos cinqüenta metros de altura, mesmo que saltes para a água, morrera, será como saltar para o concreto.
- Mui interessante... – resmungou Harry aborrecido.
O vampiro sorriu da decepção dele, olhou aos lados, vendo outros comensais montados nos cavalos alados.
- Potter, sabes o que são estes cavalos? – perguntou desafiante.
- Não. – resmungou ele.
- São unicórnios.
- Não são. – Retrucou Harry. – Eu já unicórnios, e decididamente eles não são assim.
- Eles foram unicórnios um dia. – Completou Marco. – Vou contar uma historinha para você. – ele se agachou, em uma posição muito estranha para quem voava em cima de um cavalo. – Há muito tempo, existia uma grande floresta, onde viviam muitos unicórnios. Eram umas das criaturas que ainda sobreviviam, e não eram das trevas.
- Mas, um dia, um bruxo entrou na floresta e afugentou, com feitiços, os unicórnios. Eles tiveram que se refugiar em uma parte só da floresta, bem longe do homem. Esta parte da floresta era mais escura, onde ninguém se atrevia a ir há muito tempo, e lá só havia um único lago para se tomar água. Com o tempo, mesmo sabendo que aquele lago não era confiável, alguns unicórnios não resistiram e tomaram, pois a sede os venceu.
- E o que aconteceu depois? – perguntou Harry.
- Sabias que envolta aos unicórnios existe uma barreira que os protege do mal do mundo, dos maus sentimentos...e permite que nunca percam sua pureza de coração apesar de qualquer situação?
- Sim.
- A água do lago quebrou a barreira. Apesar disso, enquanto esses unicórnios ficaram ali, sem contato com nada além dos irmãos que não haviam tomado a água, estava tudo bem. Mas chegou um ponto em que os outros unicórnios estavam quase morrendo de sede, se negando a tomar daquele lago, eles migraram para outra parte da floresta. Apesar dos riscos, todos foram juntos para outro lugar.
- Marco, não tens nada mais importante para fazer do que contar histórias? – perguntou
Malfoy sem olhar para eles.
- No momento não. – retrucou o vampiro olhando novamente para Harry. – Os unicórnios que haviam tomado da água ruim saíram a passeio pela floresta, e encontraram uma bruxa, seguidora do Lord das trevas. Ela os falou muitas coisas. Foi então que a impureza começou a tomar conta de seus seres. Eles acompanharam a bruxa para fora da floresta, e viram os horrores do poder do Lord, foram corrompidos pelo ódio que pairava no ar, pela tristeza... Tornaram-se negros, e um dia, seus cornos prateados caíram, dando o lugar a um buraco, de onde ainda brota sangue, como lágrimas pela pureza perdida.
- Por que estavam enterrados em Azcaban? – perguntou duvidoso
- Eles foram, naturalmente, para o lado das trevas. Os mais renomados comensais tinham um para si. Quando Voldemort caiu, eles foram caçados pelo ministério, e boa parte morta por meio de feitiços e maldições, enterrados juntamente com seus donos, nas terras de Azcaban.
- O meu ainda está vivo. – Sussurrou Malfoy em um leve sorriso.
- Com os nossos poderes, estão todos vivos agora. – Gabou-se o vampiro.
Harry se calou voltando a observar o mar que passava rápido embaixo deles, logo viu que se aproximavam de terra. Vários comensais gritaram vivas, Lestrange deu uma risada maníaca enquanto sobrevoavam a cidade escura.
- Marco, irei embora agora que sei que estão a salvo. – Disse a voz feminina.
Güsher emparelhou o bicho alado com o deles. Seus cabelos estavam soltos ao vento, sua beleza oculta só era estragada pelo sangue que corria do seu nariz, e da boca. O vampiro fez uma pequena reverência, com os olhos azuis fixos nela.
- Vais tratar de alguns assuntos com o ministro, suponho? – disse Lúcio em um sorriso.
- Vou sim. – respondeu ela em extrema felicidade. – Deveríamos nos falar mais, Malfoy, sempre achei seu senso de humor insuperável, mas nunca pude revelar isso devido a minha posição.
Ela deu uma risada sumindo de cima do cavalo alado, em um grande pop. O bicho sozinho se afastou deles, sobrevoando mais rápido o que parecia ver a avenida principal da cidade escura.
O unicórnio negro deles pousou pesadamente no chão, andando mais um pouco até perder velocidade. Malfoy desceu em um pulo, Lestrange tentou fazer o mesmo, mas se enroscou em uma rédea a ficou presa de cabeça para baixo, rindo loucamente.
Com um olhar de descrença, o vampiro desamarrou o pé dela, e forçou Harry a descer com um empurrão.
- Sabe, vocês não deviam me tratar tão mal. – resmungou ele mal-humorado. – Quero só ver o que vai acontecer com vocês se eu cair no chão, rachar a cabeça no meio e morrer.
- Vou ignorar este seu comentário. – Sibilou Lúcio devagar. – Mas adicionar que sua cabeça já é rachada há cerca de 16 anos.
Harry bufou, tentando não perceber a semelhança incrível daquele homem com Draco. Olhou em volta e reconheceu o lugar onde estava, embora se negando a acreditar: era a casa dos Riddle.
N/A: Sim, realmente, fic em reta final! Logo, logo tudo se desvendará!
