Disclaimer: Você já deve ter lido os anteriores, né? A mesma coisa, então.
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Precisando de um Amigo
Capítulo 3
O funeral foi bem breve. Randall foi enterrado ao lado da mãe de Sydney, num túmulo reservado há muito tempo atrás, numa campina com vistas para o mar onde Althea Fox costumava nadar quando criança. Sydney optou por ouvir os conselhos de Nigel e, de mãos dadas com Jenny, ouviram as orações e viram o caixão descer ao túmulo; ambas dando e oferecendo suporte naqueles momentos. Karen silenciosamente derramou suas lágrimas, mas Sydney não sabia dizer se Nigel derramara uma lágrima, pelo fato de estar usando óculos escuros durante todo o funeral. Ele ofereceu um lenço a Karen, bem como um ombro para se apoiar, mas o rosto estava completamente sem expressão.
Em seguida do funeral iniciaram-se as danças cerimoniais e festa, em memória de Randall Fox e sua família. Sydney e Jenny se sentaram em lugar de honra, junto com os líderes da Ilha, bem próximas aos bailarinos, recebendo oferendas e presentes - flores, pratos típicos. Sydney queria ter Nigel e Karen sentados com ela, mas eles foram colocados junto com os demais convidados, pois não faziam parte da família.
As danças pareciam intermináveis, e então as festividades tiveram início. Sydney apenas comeu o suficiente para não parecer indelicada, pois não tinha a mínima fome, sem contar a sensação de sufocamento que tinha, por causa da tristeza. Pouco depois, as danças recomeçaram, e houve uma especial, típica para aquela ocasião.
Nigel não parava de olhar para Sydney, preocupado. Ela estava pálida, embora tivesse ficado sob o sol o dia todo. Nunca a vira tão deprimida antes. Sua vontade era andar até lá, pegá-la no colo e levá-la para longe da multidão; ele sabia que ela não queria estar ali. Seu olhar voltou-se para Jenny, que parecia estar lidando com tudo um pouco melhor do que Sydney, mas talvez pelo fato de ela não entender o que significava todo aquele ritual; não conhecia a cultura da ilha como Sydney.
"Que dia triste!" Karen sussurrou ao lado de Nigel. Estavam ambos sentados de pernas cruzadas sobre esteiras no chão. "Mas mesmo assim, me sinto quase alegre assistindo esse pessoal dançar, sabia?"
Nigel assentiu, eis a questão. A festa era para celebrar tanto o morto como os vivos, os familiares remanescentes. Era assim que aquelas pessoas celebravam vida e morte - juntas, dando a oportunidade dos familiares sentir sua dor, mas sentir-se felizes por estar vivos.
"Sim, é muito bonito." Nigel disse calmamente.
"Está tudo bem com você? Está tão calado, Nigel."
"Verdade?"
Com um suspiro, Karen acenou que sim. "Quer conversar? Sei que você me acha meio cabeça de vento, às vezes, mas..."
"Nunca pensaria isso de você, Karen". Nigel rapidamente negou. "Acho você muito prática e inteligente."
Karen corou, contente. "Bem... obrigada, Nigel. Eu só quero que saiba que, se precisar conversar, eu sou uma boa ouvinte."
Nigel sorriu em gratidão. "Obrigado, Karen." Então olhou de volta para Sydney. "Mas não estou preocupado comigo, agora."
"Syd está bem, Nigel, ela é capaz de lidar com isso. Ela está lidando muito bem com tudo isso. Eu sei que é difícil, mas ela tem que encontrar seu caminho sozinha, em seu próprio tempo."
"Eu entendo, Karen."
Karen viu como ele olhava para Sydney e abaixou a cabeça.
"Ela parece bem cansada."
Karen olhou para Sydney. "Verdade." E então voltou a olhar para Nigel.
Nigel percebeu o olhar analítico de Karen sobre si e sentiu o rosto esquentar. "Eu... não queria que ela sofresse... é isso. Estou errado?"
Karen acariciou-lhe o ombro, e respondeu. "Não, Nigel, não está."
Ela se perguntou se Sydney sabia o quanto e como esse rapaz tímido e maravilhoso gostava dela. Karen ainda sonhava com o dia em que Nigel pudesse gostar dela da mesma maneira mas, quanto mais ela observava os dois juntos, mais se convencia de que não havia espaço para outra mulher na vida de Nigel. Sim, seu coração sofria com isso, mas era melhor ser amiga dele do que não tê-lo de jeito nenhum.
Sydney viu o braço de Karen em volta dos ombros de Nigel e, em seguida, a loira sussurrar algo no ouvido dele. Imediatamente, uma onda de ciúme passou por Sydney. Ela se assustou. De onde viera aquilo? Sacudiu a cabeça e tentou esquecer.
Sydney estava de volta à doca, observando o luar sobre as águas do oceano. Ela não conseguia voltar para casa, isso significaria ter que aceitar o fato de que seu pai nunca mais voltaria. Ela não estava pronta para isso, então viera para perto do mar novamente, como quando era criança e estava com problemas. Tinha algumas flores com ela.
"Mahalo, makua. Mahalo, makuahini. E lei no au I ko, aloha." Estas foram as palavras sussurradas enquanto as pétalas de flores alcançavam as águas do mar. "Sinto tanta saudade de vocês!"
Sydney olhou para o céu estrelado e se lembrou da história de Nigel sobre sua mãe. Ele era seu anjinho, que veio do céu, então seus pais morreram e foram para o céu e enquanto ele ficou... Se aquilo era justo Sydney não sabia, mas não era bom! Mesmo tendo passado anos maravilhosos junto de seu pai, Sydney e Nigel eram ambos órfãos agora, e Sydney não conseguia deixar de pensar se aquela dor, aquele vazio horrível era o que Nigel sentia todos os dias, desde que perdera os pais.
Ela esperava que não. Viver com essa dor sufocante por todos aqueles anos, sabendo que continuará lá. Ela não sabia nem se seria capaz de, por momentos, esquecer daquilo tudo. Mas Sydney tinha Nigel, e ele ia ajudá-la, tinha certeza. Ela dependia dele para tantas coisas... Ela só percebera agora.
Sydney fechou os olhos, sentindo uma lágrima escorrer. Ela ainda não queria voltar, precisava ficar mais um pouco e fazer uma última homenagem a seu pai.
Sentiu uma mão sobre seu ombro e olhou, esperando encontrar Nigel, mas era Jenny que sorria tristemente para ela.
"Não parece real, não é?"
Sydney enxugou as lágrimas e se voltou para o mar novamente. Precisava da serenidade das ondas do mar, de paz, mas ao mesmo tempo temia. Como ia ser depois que aceitasse a perda?
"Coloquei a casa à venda, Syd. Eu... não posso ficar aqui sozinha, sem... sem ele."
Sydney concordou. Ela sabia, entendia Jenny, e não ia se ressentir dela por isso. "Tudo bem, você vai conseguir um bom preço nela."
Jenny se abaixou, a mão ainda no ombro de Sydney. "Você não está chateada comigo?"
Sydney tocou a mão de Jenny. "Não estou. Você deve fazer o que é melhor para você Jenny. Meu pai..." Sydney parou ao sentir um nó na garganta, para em seguida recomeçar. "Ele ia querer que você fosse para outro lugar. Eu sei que você se mudou para cá apenas para fazê-lo feliz."
"Verdade?" Você não se importa? Quer dizer... Eu sei que aqui é lindo mas... São tantas lembranças e... e eu não entendo como as coisas são por aqui."
"Verdade, por mim tudo bem, Jenny."
"Syd?"
"O que?"
"Você quer ficar com a casa? Talvez Randall ia gostar que você ficasse com ela."
Sydney pensou na oferta por um momento, e então negou. "Não. Talvez eu volte aqui um dia, quando estiver aposentada, para viver com minha família e criar nossos filhos, mas no futuro. Venda a casa Jenny, é besteira deixá-la aí abandonada."
Jenny assentiu. "Tem certeza?"
"Tenho." Sydney e voltou e a abraçou, as duas precisavam disto mas jamais admitiriam. "E manteremos contato, Jenny, é uma promessa. Não quero perder mais ninguém que eu amo."
Jenny começou a chorar. Ela tinha tanto medo de que Sydney não quisesse mais vê-la. Neste último ano e meio elas realmente se tornaram boas amigas. "Eu prometo. Sydney, eu amava muito seu pai, e eu amo você; estava com medo de perder os dois de uma vez."
Sydney sorriu em meio às lágrimas. "Sem chance. Não é tão fácil se livrar de mim."
"Que bom." Jenny se afastou e sorriu.
"É mesmo."
"Syd, o que você estava falando antes? Eu não queria ser intrometida, mas..."
Sydney negou com a cabeça e se levantou, ajudando Jenny a fazer o mesmo. "É uma prece havaiana, quer que eu te ensine?"
Jenny enxugou as lágrimas e fez que sim, ansiosa. "Sim, é muito bonita."
"Vou te ensinar uma prece e a dança que a acompanha." Ela sorriu. "Papai adoraria ver isso."
Jenny meio sorriu meio soluçou com o comentário. "Temo que não seja assim tão boa dançarina. Eu sempre pisava nos pés de Randall."
"É fácil, vou te mostrar."
Nigel estava na varanda da casa de Randall e observava as duas mulheres dançando num ritmo lento e hipnótico perto do mar. Ele não podia ouvir o que era cantado, mas tinha certeza de que era algum tipo de homenagem a Randall. Olhou para o céu cheio de estrelas. Nunca vira um céu tão belo. A uma estrela que parecia se destacar entre as outras, ele sorriu.
"Dê uma olhada em Randall, mãe, e diga para ele não se preocupar. Vou cuidar de Sydney por ele."
A estrela pareceu piscar e mostrar u tom de azul, e depois se confundir com as demais que enchiam o céu.
Continua.
O botãozinho ta aí, você sabe o que fazer, ok?
