Disclaimer: estão no primeiro capítulo.
Disclaimer: read chapter one.
Precisando de um amigo
Capítulo 4
Nigel terminou de levantar as referências de que precisava e devolveu o livro de capa de couro à estante, olhando para o escritório de Sydney pela centésima vez naquele dia. Ela estava abatida desde que voltaram do Havaí, nada que não a permitisse trabalhar tão bem como sempre fizera, mas Nigel notou um cansaço, um desânimo que não estava lá antes. Isto o estava preocupando muito.
Ele se abaixou para alcançar as prateleiras mais baixas em busca de outro livro, quando uma sombra o cobriu. Ele olhou para o belo par de pernas ao lado e subiu o olhar, passando pela mini saia, até chegar ao rosto de Karen.
"Oi", disse ela quase timidamente enquanto se abaixava ao lado dele. "O que você está pesquisando?"
"A tribo Zulu de Zanir." Céus! Ela tinha belos músculos, até mesmo seus braços eram bem tonificados. Será que ela fazia yoga, ou algo assim?
"Acho que Sydney estava usando o livro que você procura."
"Bem, então eu verei se ela já terminou de usá-lo. Nigel se levantou e Karen o seguiu. Ao sentir o perfume suave dela, Nigel parou e ficou observando-a".
"Nigel?"
Só então ele percebeu que estava parado, olhando para Karen. Realmente, ela era muito bonita. "Sim?"
Karen parou por um momento, colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha, molhou os lábios e perguntou. "Syd está bem?"
"Ela está legal, apenas teve que lidar com muitas coisas difíceis nos últimos dias."
"Eu... eu sei, mas ela não parece mais a mesma pessoa, entendeu?"
Nigel concordou entre surpreso e contente, por Karen ser capaz de enxergar através de sua chefe. "Eu também notei."
"Você acha que tem alguma coisa que possamos fazer para ajuda-la?"
Nigel suspirou. Ele também vinha pensando nisto. Ele queria mesmo ajudar Sydney, mas ele também não queria parecer intrometido ou invadir sua privacidade. Morte é algo difícil de lidar, e cada um o faz à sua maneira. É necessário respeitar a forma do outro lidar com a morte, desde que ele não esteja se perdendo no processo.
"Eu não tenho certeza." Será que você tem alguma coisa em mente?"
Karen sorriu lentamente. "Bem, eu estive pensando. Talvez ela apenas precise ser lembrada de como é ser feliz novamente, como é rir."
Nigel assentiu e esperou que ela prosseguisse.
"Há um circo na cidade. Talvez alguém possa convidá-la e levá-la ao circo. Mostrar-lhe que há vida fora deste escritório."
"É uma ótima idéia, Karen."
Karen corou, feliz pelo elogio. "Você acha mesmo?"
"Certamente, é fantástica. Todo mundo gosta de circo, certo?"
Karen assentiu, animada. "Então, você vai convidá-la?"
Nigel a olhou, surpreso. "Eu?" Riu nervosamente. "Eu estava pensando sobre um daqueles caras com pinta de He-man. Ela não ia querer ir comigo."
"E porque não? Você é tão bom quanto qualquer um daqueles gorilas. Melhor, na verdade, porque você realmente se importa com ela, certo?"
Nigel corou pelo elogio. "Bem, é claro... nós somos amigos. E amigos se importam uns com os outros."
"Então a convide, e ajude-a a esquecer da tristeza."
"Karen, você não entendeu. Sim, eu e Syd somos amigos, mas.." Ele deu uma pausa enquanto olhava para o escritório de Sydney, sentada lidando com papelada e parecendo desamparada. Nigel voltou os olho para Karen."E se... ela fizesse uma daquelas coisas?"
Karen não entendeu. "Que coisas?"
Nigel gesticulou tentando se fazer entender. "Uma daquelas... coisas de mulher, sabe? Quando mulheres saem juntas, falam sobre homens, vão ao salão de beleza... essas coisas!"
"Ah, você quer dizer diversão para garotas."
"Sim! Exatamente isso. Imagino que ela não faça isso há séculos. Seria bom para ela."
Karen cruzou os braços sobre o peito e olhou diretamente para ele. "Nigel Bailey, não seja tão covarde. Você é que está com medo de entrar na sala de Syd e ela gritar com você."
Nigel negou. "Não é nada disso! Ele disse rapidamente. "Não tenho medo de Sydney gritar comigo; ela faz isso o tempo todo."
"Então qual é o problema?"
Nigel se encostou à mesa antes de responder. "Eu..." ele novamente olhou para a sala de Sydney, em seguida para os próprios pés. "Eu não quero me intrometer, Karen. Quer dizer... E se ela quer apenas ficar sozinha?"
Bem, era isso que a maioria das pessoas faria numa situação dessas, não é? Não demonstrar e nem tocar no assunto. É algo muito particular. E ninguém discutia isso. Pelo menos na Inglaterra. Claro, você diz que sente muito, dá um abraço e vai embora, assumindo que a pessoa vá lidar com tudo sozinha.
Karen o pegou pelo braço e empurrou-o para a sala de Sydney. "Como amigos, não podemos deixar as coisas continuar desse jeito, Nigel, cai dentro!"
"O que!"
Karen sorriu ao olhar para a cara de pânico dele. Às vezes ela esquecia que ele não conhecia muitos dos termos americanos. "Seja homem, vá até lá."
Nigel resistiu ao outro empurrão e se voltou para Karen. "Eu não posso. Eu nunca precisei ser homem desde que comecei a trabalhar com Syd; ela é o verdadeiro homem na nossa relação e... ela faz isso bem melhor do que eu e... eu não consigo!"
Karen riu, virou-o na direção do escritório de Sydney e o empurrou até a porta. "Vai lá. Eu vou almoçar e é melhor que vocês estejam prontos para sair quando eu voltar."
Nigel foi praticamente jogado dentro do escritório de Sydney, dando um olhar mortal para Karen e, em seguida, olhando para Sydney, sentada à mesa. Porque será que as mulheres americanas eram tão insistentes? Será que era genético, ou elas eram ensinadas na escola?
Sydney levantou os olhos da papelada ao perceber a intrusão. "Precisa de alguma coisa, Nigel?"
Nigel suspirou. Ela parecia tão cansada. Karen estava certa, eles não podiam apenas ficar observando, tinham que fazer alguma coisa. Nigel negou com a cabeça e acabou de entrar na sala. "Nada importante, na verdade."
"Oh." Sydney voltou a mexer com os papéis.
"Syd?"
Sydney olhou para ele novamente. "Sim?"
"Você está bem?"
"Sim."
"Não, não está!"
Sydney sorriu e abaixou a cabeça. Realmente ele podia lê-la como um livro. "Não, eu não estou."
"Quer conversar?"
Sydney negou. Ela não queria falar nem pensar. Já estava difícil viver um dia de cada vez. Desde que voltaram do Havaí, ela estava lutando para não agarrar Nigel e nunca mais soltá-lo. E ela não conseguia entender o que estava acontecendo. De repente, ela se viu pedindo-lhe opinião sobre todas as coisas e pedindo para que ele assistisse a aulas. Ela desenvolveu uma necessidade enorme de ser aprovada por ele, e ela não sabia de onde tinha surgido. Simplesmente Sydney se sentia melhor quando Nigel estava por perto, se sentia mais controlada, embora jamais admitisse. Detestava demonstrar fraqueza.
Nigel não parecia se perturbar com a súbita necessidade de Sydney, atendendo a cada um dos pedidos dela, desde que sua agenda permitisse, jamais perguntando porque essa súbita necessidade de tê-lo por perto. Ela até desconfiava que Nigel estava trabalhando muito além do necessário para aliviar a carga sobre ela. Sydney queria dizer a ele para parar, mas ainda não tinha conseguido.
"Syd?"
Sydney acompanhou-o com os olhos, enquanto ele se movia pela sala, para sentar-se sobre uma parte da mesa, à frente dela. Sydney quase sorriu ao observar a preocupação naqueles olhos verdes. Ele era mesmo maravilhoso; não sabia o que faria sem ele. "Sim, Nigel?" Ela disse, num tom suave.
Nigel se surpreendeu com o tom de voz dela. "Sabe do que você está precisando?"
"Tenho certeza de que você vai me dizer." Nigel sempre falava o que pensava sem se arrepender, quando isto envolvia Sydney.
"Você precisa de uma folga. Esteve trabalhando sem descanso nos últimos tempos." Ele não teve coragem de convidá-la.
Ele falou sério quando disse a Karen que Sydney precisava de um homem para levá-la jantar, tomar um bom vinho, fazê-la rir e, talvez, sexo pelo resto da noite. Nigel não queria nem pensar em outro homem com ela, mas, se era pelo bem estar de Sydney, valia a pena.
Sydney suspirou e voltou aos papéis. "Tenho trabalho a fazer." Respondeu prontamente. "Tenho que assinar esta papelada a respeito de relíquias que encontramos nos meses anteriores, depois preciso arquiva-los..."
Nigel pegou a caneta das mãos de Sydney, depois os papéis. "Isto é tudo?" Ele começou a assinar folha por folha rapidamente. De fato, ele era capaz de imitar perfeitamente a assinatura dela, e tinha sua permissão para faze-lo, evitando perturbá-la com burocracia. "É pra isso que você tem um assistente. Tudo pronto!"
"Precisam ser arquivados." Sydney disse, tentando parecer séria.
"Tudo bem." Nigel se levantou da mesa, juntou os papéis, abriu a gaveta e os colocou dentro. "Arquivamento especial da Claudia, excelente se você está sem tempo."
"Nigel!" Sydney arregalou os olhos em surpresa. Ele era praticamente obcecado com ordem, por isso vivia brigando com Claudia. Pela atitude de Nigel, Sydney percebeu que ele falava muito sério sobre ela tirar uma folga.
Ele voltou à mesa, pegou a agenda de telefones de Sydney e começou a folhear. "Agora falta apenas chamar algum bonitão musculoso e convidá-lo para jantar."
Sydney sorriu.
"Ah, Charles. Ele é seu vizinho, certo?"
"É um de meus vizinhos, sim."
"Beleza, ele serve." Ele pegou o telefone e discou o número, e entregou o telefone para Sydney, que nem teve tempo de xingar, pois Charles atendeu.
Nigel entregou-lhe a agenda telefônica e acenou, saindo da sala. Ela não imaginava o quão difícil era para ele incentivá-la a marcar um encontro com outro homem. Mas se ela se sentisse melhor, ia valer a pena, afinal. Um homem ia fazer coisas que ajudariam Sydney a esquecer um pouco da dor. Novamente, sem querer Nigel se lembrou das palavras de Jenny, antes do funeral de Randall, sobre Sydney precisar de alguém para amá-la. Nigel certamente a amava, mas não podia dar a ela o que ela precisava. Bem, é óbvio que ele podia, mas ele e Syd eram apenas bons amigos.
Voltando para sua mesa, Nigel notou que Karen de fato tinha saído para almoçar. Ao sentar-se, olhou novamente para o escritório de Sydney, que estava desligando o telefone e começando a folhear a agenda. Bom, se Charles estava ocupado, era bom telefonar para o próximo. Nigel voltou a prestar atenção ao seu laptop.
Quarenta e cinco minutos depois, Karen já tinha voltado e Nigel percebeu que Sydney ainda não saíra de sua sala. Estava sentada, com a cabeça sobre os braços cruzados.
"Syd?"
Ela levantou-se rapidamente, enxugando o rosto. "Oi."
Nigel percebeu que ela estivera chorando. Entrou na sala. "Pensei que você ia sair?"
Ela se encolheu e jogou a agenda sobre a mesa, com expressão de derrota. "Todos para quem eu telefonei estão fora do país, casados ou mortos. Acho que eu não sou muito boa em manter contato."
Nigel observou-a silenciosamente. Ela parecia derrotada, tão sozinha! Nunca lhe passou pela cabeça que Sydney teria problemas para sair com alguém. Era terrível ve-la assim. "Então vamos lá." Ele decidiu. Talvez Karen estivesse certa. Nigel pegou a agenda e jogou no lixo. "Pegue seu casaco."
"Por que?"
"Eu disse que você precisava de uma pausa. E você vai mesmo sair." Nigel pegou o casaco dela, que ainda não se levantara. "Eu não sou um deus grego, mas acho que vou servir, vamos". Bem, ele não podia dar-lhe um fim de noite como ela merecia, mas ela ia se divertir, pelo menos. "Vamos, levanta!"
Sydney sorriu ao ouvi-lo tão imperativo. Levantou-se, vestiu o casaco, enquanto Nigel guardava isto e aquilo pelo escritório e pegava as chaves. "Nigel, você não precisa de..."
"Cala a boca." Ele disse, suavemente. "Já está de casaco, então vamos sem reclamar, Sydney."
Sydney seguiu-o, observando enquanto ele guardava seu laptop e pegava seu próprio casaco.
Karen olhou para eles, fingindo surpresa. "O que aconteceu?"
"Não sei, acho que estou sendo seqüestrada." Sydney sorriu para ela, erguendo as sobrancelhas. "Estou apavorada."
Karen sorriu. Sua chefe não ficava assim animada há tempos. Muito bem, Nigel.
"Estaremos fora pelo resto do dia, Karen." Nigel disse, enquanto vestia o casaco. "Se alguém telefonar, diga que só voltaremos amanhã."
"Ele está tão autoritário!" Sydney disse a Karen, em tom de provocação. "Acho que ele está possuído."
"Acho que disse para você calar a boca, Syd." Nigel resmungou guiando-a para a porta. "Tente me ouvir, às vezes. Acho que ia ser muito bom pra você."
Karen e Sydney riram, enquanto a porta se abriu e um loiro alto entrou.
"Syd." Ele disse, em tom sombrio. "Eu soube sobre seu pai. Sinto muito."
Passada a surpresa, Sydney se deixou abraçar por Tom. Karen e Nigel trocaram um olhar, mas continuaram em silêncio. "O que faz aqui?" Sydney perguntou, e algo em sua voz demonstrava alegria por revê-lo.
"Quando soube eu estava no Peru. Foi apenas o tempo de eu voar para cá. Sinto muito ter perdido o funeral."
Ainda abraçados, ambos se olhavam. Havia uma longa história entre eles.
Finalmente Nigel pigarreou. "Tom, você chegou bem na hora." Ele escondeu bem seu desapontamento. Claro que ele ia gostar de ter um encontro com Sydney; eles nunca haviam feito isso antes, exceto que às vezes iam ao cinema, ou jantar juntos. Ele queria mesmo mostrar a ela que podia ser tão interessante quanto qualquer um daqueles monstros musculosos do passado dela, embora o ponto principal fosse levantar a moral dela.
Tom afastou-se de Sydney para apertar a mão de Nigel. "Nigel, bom ver você novamente. Bem na hora pra que?"
"Sydney precisa de uma pausa. Acho que você é a pessoa ideal para se certificar de que ela vai mesmo se divertir."
Sydney se voltou para Nigel, confusa. "Nigel..." ela começou "Pensei que nós dois íamos..."
"Ei, eu não quero atrapalhar."
"Não, tudo bem." Nigel se obrigou a sorriu. "Poderemos sair outro dia, Syd. De qualquer forma, acho que você se divertirá muito mais com Tom. Vocês podem falar sobre os velhos tempos." Ele virou Sydney na direção de Tom. "Vão e divirtam-se. Não quero vê-la de volta até amanhã pela manhã."
Tom concordou e sorriu, abraçando-a pela cintura. "Isso eu garanto."
"Nigel." Sydney não se convenceu de que essa era a coisa certa. Claro que ela queria passar um tempo com Tom, mas ela estava tão animada com Nigel e a idéias de ter um encontro com ele. Além do mais, ela viu o desapontamento nos olhos dele, antes mesmo que ele pudesse esconder.
Nigel já estava de volta à sua mesa e deu graças a Deus pelo telefone tocar e ele poder se esconder do olhar de Sydney. "Divirtam-se." Ele acenou e atendeu ao telefone.
Karen observou Sydney e Tom saindo e aproximou-se de Nigel, que estava a o telefone. "Foi muito legal, Nigel."
"O que?"
"O que você fez, permitindo que Syd saísse com ele."
Nigel tirou o casaco. "Ninguém permite que Sydney faça alguma coisa, Karen. Ela é dona de si."
Nigel foi para a sala de Sydney. "Ela ai se divertir muito mais com ele; são velhos amigos."
Karen o seguiu. "E você? Que tal se eu o levasse para jantar?"
Nigel parou diante do arquivo e olhou para ela. A desculpa estava na ponta da língua, como sempre, mas ele pensou melhor. Ia passar a noite toda sozinho, pensando em Sydney e Tom, juntos. Que se dane! "Claro, parece bom."
Karen quase explodiu de contentamento. "Verdade?"
Nigel assentiu e abriu a gaveta e pegou o maço de papéis que havia enfiado ali minutos atrás. "Claro, mas antes você poderia me ajudar a arquivar isto?"
Karen sorriu. "Qualquer coisa que você quiser, Nige."
Continua.
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