Disclaimer: No primeiro capítulo

Disclaimer: read chapter 1.

Precisando de um amigo

Capítulo 5

Nigel estava pronto para se jogar na cama com seu novo livro, quando ouviu a campainha. Com um suspiro, pegou o robe do cabide atrás da porta e foi para a sala. A campainha soou uma segunda vez e ele acelerou o passo, imaginando quem poderia ser àquela hora da noite.

Ele e Karen tinham ido jantar depois do trabalho e, surpreendentemente, tinha sido uma noite bem divertida. Ele ainda não havia percebido o quanto estava sendo afetado pela dor de Sydney. Quando saíram, Nigel pensava consigo que não deveria estar se divertindo enquanto sua amiga estava sofrendo a dor da perda de seu pai, mas Karen o fez rir, e ele nem se lembrava mais da última vez em que o fizera. A secretária nem havia flertado com ele como de costume, assim ele não ficara envergonhado e descobrira que tinham muito em comum. Por algumas horas eles conversaram sem sequer mencionar Sydney ou o trabalho, morte, tristeza, ou coisa alguma que quebrasse o clima de alegria.

Nigel não tinha carro, e o de Karen estava no campus, pois o restaurante ficava apenas a algumas quadras de Trinity. Nigel a levou para casa, ganhou um delicioso, embora indesejado, beijo de boa noite, e então se foi para seu apartamento.

A campainha tocou ainda uma terceira vez, e Nigel olhou através do olho mágico. Sydney! Ele rapidamente abriu a porta para que ela entrasse. Por que ela não estava com Tom? Será que aconteceu alguma coisa? "Syd, o que aconteceu?"

Sydney olhou para ele por um longo momento, a indecisão estampada em seu rosto. O que estava fazendo afinal? Quando Tom a levara para casa, ela até considerara convidá-lo a ficar, mas ela não queria uma noite de sexo apenas. Ela já tivera sua história com Tom, e estava acabado, não era para ser. Tom fora maravilhoso e sensível, mas Sydney achava difícil conversar com ele obre as coisas que a estavam preocupando. Ela se despediu de Tom, mas de repente, percebeu que não ia conseguir encarar outra noite sozinha em sua casa. Então, ali estava ela, no apartamento de Nigel.

Agora, encarando-o, Sydney percebeu que ele devia estar na cama, e que ela o estava incomodando. Um súbito pensamento ocorreu-lhe: Será que ele estava sozinho? Teria uma mulher com ele? Nem lhe passara pela cabeça que ele poderia ter companhia. Ela só queria estar com alguém que a fizesse sentir-se bem; e não havia outra pessoa que a fizesse assim, apenas Nigel. Agora, Sydney pensava se não fora um erro ter ido até lá.

"Sydney, o que houve?" Nigel perguntou outra vez.

"Eu..." O que ela diria? Que não queria ficar sozinha em sua casa, sabendo que não conseguiria dormir por causa daqueles pesadelos terríveis? "Eu não conseguia dormir..."

Nigel suspirou e olhou para o relógio. "E Tom?"

Sydney balançou a cabeça. "Eu não sei. Eu me despedi dele e ele foi embora. Eu não queria..." Ela balançou a cabeça novamente e começou a se afastar. "Me desculpe, Nigel, eu não deveria ter vindo. Nem sei porque estou aqui."

Nigel foi para o corredor do prédio e segurou-a pelo braço, preocupado. "Syd, volte aqui. Entre." Sydney hesitou. Nigel nunca a vira assim antes, tão indecisa e vulnerável. "Entre."

Ela entrou e Nigel fechou a porta. "Sinto por tê-lo perturbado, Nigel."

"Bobagem! Venha." Nigel trancou a porta e a tomou pelo braço, direcionando-a para o sofá. "Você sabe que é sempre bem vinda, mas... Eu pensei que estivesse com Tom."

Sydney balançou a cabeça. "Eu apenas queria ficar sozinha e, quando fiquei, aí percebi que não queria mais ficar sozinha." Sydney curvou-se para frente, a cabeça apoiada nas mãos. "Eu já nem sei mais o que estou fazendo, Nigel. Estou me sentindo como se fosse desmoronar a qualquer momento, não sei como explicar."

Nigel sentou-se bem perto dela, mas não invadindo seu espaço pessoal. "Syd, você apenas sente, não há necessidade de explicar. Você acabou de perder seu pai, e isto é algo difícil de lidar."

Sydney olhou em direção do quarto de Nigel. Teria alguém lá esperando por ele? Só porque ela não queria companhia, não significava que ele também não. Bem, ele parecia que tinha acabado de sair da cama. Será que não tinha alguém lá com ele?

"Syd?"

Ela olhou para ele novamente.

"O que você está olhando?"

Ela sacudiu a cabeça. "Nada." Ela abaixou a cabeça. "Eu... eu só..." Ela novamente olhou para a porta do quarto, que estava com as luzes acesas. "Você... você está sozinho, Nigel?"

Ele seguiu o olhar de Sydney e sorriu. Então era isso que a estava incomodando. "Não, Syd, você está comigo."

Sydney quase sorriu, sentindo o rosto ficar vermelho. "Oh!" Ela não entendia porque, mas a idéia de Nigel estar acompanhada fazia seu estômago revirar. Saber que não havia uma mulher o aguardando na cama deixou-a aliviada. "Eu não queria te atrapalhar."

"Você não me atrapalha." Não mais do que o de costume, Nigel completou para si mesmo. "Agora, me conte o que está acontecendo."

Sydney passou as mãos pelo rosto, apoiando o queixo nelas, movendo a cabeça num ângulo meio estranho para olhar para Nigel. "Eu pensei que eu ia conseguir lidar com isso, não pensei que ia me sentir tão mal." Sua voz demonstrava todo o seu desespero. Abaixou a cabeça.

"Syd, eu disse a você. A dor não vai embora, mas você tem que se ocupar com coisas alegres. Randall não ia gostar de vê-la neste estado, chorando e sentindo-se miserável pro resto da sua vida."

Sydney assentiu. "Eu sei." ela sussurrou, recostando-se nas almofadas. "Eu apenas não consigo me lembrar de nada agradável, agora."

Nigel entendia. Ele já estivera ali antes, embora fosse muito mais jovem na época. Ele não sabia o que dizer para fazer com que ela se sentisse melhor. Os americanos eram muito mais abertos sobre seus sentimentos do que os ingleses; agora ele percebia que faltava alguma coisa para ele ajudá-la a lidar com a situação. Quando seus pais morreram, ele ouviu condolências e votos para ser um rapaz forte para atravessar aquela situação. Ninguém se oferecera para conversar com ele, exceto o vigário, o que havia sido pior, pois apenas dizia que era a vontade de Deus, o que não o fazia menos triste. Ao contrário, ele ressentira-se com o vigário e a igreja por causa disso por um longo tempo.

Ele olhou para o chão, pensativo, e finalmente seu olhar encontrou o dela novamente. "Syd," Ele começou. Ele tinha que tentar, pois ela era sua amiga. "Eu não... eu não sou muito bom em..." Ele não sabia nem o que falar, não tinha palavras. Então, decidiu fazer o que se tornara natural em seu relacionamento com ela: deixá-la tomar as decisões. Ele tocou-lhe o ombro. "Diga-me do que você precisa, Syd. Diga-me o que eu posso fazer por você. Eu faço qualquer coisa, mas eu preciso saber do que você precisa."

Sydney olhou para ele, tocada por sua sinceridade e devoção, sentiu o coração se encolher dento do peito. Qualquer outro homem tentaria ser o lado forte, protetor. Tom fizera aquilo. Dissera palavras agradáveis, carícias; tentara fazer com que esquecesse da dor. Nigel não estava tentando fazê-la esquecer, nem oferecendo palavras doces. Ao contrário, ele queria ajudá-la naquilo que ela precisasse. Queria ser o ombro amigo, embora admitisse que não sabia como fazer, despindo-se de qualquer orgulho masculino, como sempre.

"Qualquer coisa, Syd, o que quer que você precise."

Sydney piscou, sentindo as lágrimas. "Eu quero meu pai de volta." Ela disse num soluço, inclinando-se para ele.

Nigel abriu os braços para envolvê-la, piscando em tentativa de afastar as próprias lágrimas. "Oh, Syd." Ele murmurou, acariciando seus cabelos e abraçando-a mais apertado. "Meu bem, se eu pudesse, eu o traria de volta para você. De todo o meu coração, eu queria poder fazer isso por você."

Sydney se encolheu dentro dos braços dele. "Oh, Nigel." A devoção dele por ela a desarmava, e as lágrimas vieram com mais intensidade. Nigel não tentou faze-la parar de chorar, apenas deixou acontecer, acariciando suas costas, confortando-a.

Ele era verdadeiramente seu melhor amigo. Deixava-a chorar sempre que ela precisava, tentando ignorar a dor em seu próprio coração, por vê-la naquele estado. Por outro lado, era bom saber que ela não tinha reservas para com ele.

Finalmente, ela parou de chorar, mas apertou o abraço em volta do pescoço dele. "Posso ficar aqui com você?" Ela perguntou, a voz baixa. "Só esta noite? Eu não quero ficar sozinha, Nigel. Me sinto tão sozinha à noite!" Ela esfregou o rosto no ombro dele. "Eu... não estou falando nada sobre sexo. Quero apenas que você me abrace até eu dormir."

Nigel nem hesitou. "Claro que você pode ficar. Sempre que você precisar. Minha casa é sua casa."

Sydney se recostou no sofá e limpou o rosto com uma mão trêmula e olhou para o robe de Nigel, molhado com suas lágrimas. "Bem, parece que você não vai nem precisar tomar banho."

Nigel sorriu e enxugou as últimas lágrimas do rosto dela com seu polegar. Mesmo com os olhos vermelhos e rosto molhado ela era de tirar o fôlego. Sua incrível Sydney. "Rímel à prova d'água?"

Ela riu e assentiu.

Nigel se levantou e a ergueu consigo. "Posso não precisar de um banho, mas eu acho que você podia tomar um longo banho, não é? Bem, pelo menos eu acho que as mulheres gostam disso, não é?"

Sydney sorriu e o seguiu até o banheiro, enquanto ele deixava a banheira encher.

Ele se voltou para os armários do banheiro. "Eu não tenho aqueles sais de banho, sabonetes especiais ou óleos, exceto óleo de cozinha, claro. Mas acho que não ia funcionar, ia?"

Sydney moveu a cabeça em negação enquanto pegava papel higiênico para assoar o nariz. "Não, a menos que você esteja pensando me fritar."

"Talvez mais tarde." Nigel disse, enquanto olhava o fundo do armário. "Aha! Eu sabia que isto ainda estava aqui." Ele entregou-lhe o vidro fechado de sabonete líquido. "Isso serve, não é?"

Sydney pegou o vidro e ergueu a sobrancelha, surpresa. Ela não podia resistir! "Eu não imaginava que você era o tipo de cara que usa essas coisas, Nigel."

Surpreendentemente ele não ficou embaraçado. Ele se levantou e disse. "Eu estava guardando para a próxima vez em que alguém tentasse me oferecer em sacrifício para algum deus." Ele moveu as mãos, enfatizando suas palavras. "Eu queria estar bem cheirosinho para a ocasião."

"Ou para depilar suas pernas?"

Nigel deu um sorriso irônico. "Ah, sim, isso foi legal." Ele olhou nos olhos dela. "Mas não faremos outra vez."

Ela levantou as mãos, em rendição. Ela havia prometido nunca mais fazê-lo vestir-se de mulher novamente. E se ela o fizesse, é bem provável que ele de fato a fritasse viva.

"Isso não é meu." Ele apontou para o vidro de sabonete líquido. "Acho que o antigo proprietário esqueceu. Não sei porque não o joguei fora antes, mas é bom que não o tenha feito, assim você pode usá-o agora."

"Sydney assentiu em gratidão. "Obrigada, Nigel."

Ele mostrou-lhe onde estavam as toalhas e saiu do banheiro.

"Você tem algo para eu vestir depois do banho?" Ela falou de dentro do banheiro.

"Estou dando uma olhada!" Ele gritou de volta, enquanto procurava entre suas roupas no guarda roupas.

Ele estava procurando por alguma camiseta e shorts, quando encontrou uma camisola de seda. Ele depositou sobre a cama e correu a mão sobre o tecido. Cate. Ele devia ter entregado esta peça junto com as outras, mas se esqueceu. Será que entregava para Sydney vestir? Ele não sabia como seria ver Sydney naquela camisola que Cate usara em sua última noite ali, a última vez em que fizeram amor. Mas seria muito idiota de sua parte não permitir que Sydney vestisse esta peça.

Ele se sentou e, por um longo tempo, pensou em Cate. O que o fazia sofrer, porque parece que seu relacionamento com ela não era para ser. Finalmente ele se levantou e foi para o banheiro. Podia ouvir os sons de Sydney dentro da banheira. Ele pendurou a camisola na maçaneta da porta e voltou para o quarto.

Na manhã seguinte Sydney acordou com o cheiro delicioso de café fresco. Abriu os olhos e viu Nigel sentado perto dela, na beirada da cama, vestido com a calça verde que ela gostava e um suéter creme, com uma xícara de café perto de seu nariz. Ele insistiu que Sydney ficasse na cama, e ela fez questão de que ele ficasse com ela. Afinal, eles já dividiram uma cama antes, mas ela não o ouvira levantar.

"Huhmm!"

"Levante-se, Bela Adormecida!" Ele cumprimentou. "Já raiou um novo dia."

Ela sorriu e se espreguiçou antes de pegar o café das mãos de Nigel. Ela dormiu a noite toda sem nenhum pesadelo. Ela dormira quase imediatamente depois do banho. Parece que de fato fazia diferença ter alguém junto com ela, assim ela não se sentia tão sozinha. "Obrigada. Que horas são?"

"Hora de levantar, vamos."

Sydney bebeu um gole de seu café, devolveu a xícara para ele e deitou-se de volta sobre os travesseiros. "Não quero!"

Nigel riu e depositou a xícara de café sobre a mesinha de cabeceira. "Não seja mimada." Ele se levantou e pegou sua jaqueta verde. "Levante-se, Karen vai chegar a qualquer momento."

Sydney se levantou, relutante e correu os dedos pelos cabelos. "Karen?"

"Sim, Karen, sua secretária." Nigel lembrou-a. "Alta, loira, bonita e belo par de pernas?"

Sydney fez beicinho. "Melhor do que as minhas?"

Nigel deu-lhe um sorriso torto. "Não existem pernas mais bonitas do que as suas." E bem, baixinho, completou. " E nem o resto do corpo, convenhamos."

Sydney sorriu ao ouvir o que fora dito num sussurro, mas fez de conta que não ouvira. "E por que ela está a caminho?"

"Porque hoje é sábado e vocês terão um dia só para garotas."

Sydney encarou-o. "O que?"

Nigel voltou-se e pegou as roupas dela, colocando-as sobre a cama. Ele se levantara bem cedo, tomara banho e vestira-se. Telefonara para Karen e fora até a padaria. Karen ia levar Sydney para um spa, shopping ou seja lá o que ou a que lugares as mulheres iam, e à noite Nigel as levaria ao circo.

"Vamos lá, você só terá tempo de se vestir, rápido!"

Sydney se levantou da cama e tirou a camisola, sorrindo quando, discretamente, Nigel se virou de costas para ela. "Nigel, o que significa tudo isso?"

"Se vista, e você vai saber." Nigel foi par a sala de estar quando ouviu a campainha. Ele se encolheu dentro da jaqueta e abriu a porta para que Karen entrasse.

"Oi!" Saudou a loira, vestida em jeans, uma blusa azul bem justa e tênis. "Ela já está pronta?"

"Quase." Nigel respondeu, ainda olhando-a. Ele raramente a via usando tênis. "Pensando em fazer uma caminhada?"

"Nós vamos a TODOS os shoppings de Boston." Ela deu um sorriso sádico. "Que bom que você me chamou, Nigel. Vai ser divertido, faz muito tempo que eu não faço isso também." Ela bateu palmas em excitação. "Vamos fazer compras por algumas horas, então vamos a um spa de uma amiga, relaxar numa sessão de massagem e então..."

Nigel ergueu a mão, interrompendo-a. "Não! Eu nem quero saber o que vocês vão fazer. Meus pobres ouvidos masculinos não precisam saber dos detalhes sórdidos."

Karen riu e se aproximou de Nigel, com um olhar insinuante. "Eu aposto que uma massagem ia te fazer bem, Nigel!"

Nigel encarou-a, um toque de cautela no olhar. "É mesmo?"

Ela assentiu e se aproximou ainda mais. "Me disseram que eu tenho mãos excelentes para isso."

"Ah, é?"

Karen acenou em afirmação e ajeitou o colarinho da jaqueta de Nigel, olhando diretamente em seus olhos. "Apenas e diga onde estão os pontos tensos." Os dedos correram os ombros, acompanhando as palavras. "Eu posso faze-lo relaxar."

Nigel engoliu em seco. Os dedos dela eram sensacionais contra sua pele, mas ele se lembrou de Sydney em seu quarto e ficou ansioso. Deu um passo para trás, clareou a garganta e falou. "Talvez... bem... talvez um outro dia."

Karen sorriu e colocou as mãos atrás das costas, inocentemente. "A qualquer hora, Nigel."

Nigel lançou-lhe um olhar de advertência e se virou antes que ela pudesse ver o sorriso se formar em seus lábios. Ele foi para a cozinha e pegou a jarra de suco na geladeira, oferecendo um copo a ela.

Karen aceitou e perguntou. "O que você está planejando para hoje?"

Ele suspirou. "Tenho algumas coisas para fazer; talvez eu vá ara o escritório terminar os relatórios atrasados." Ele tocou os lábios com os próprios dedos num pedido de silêncio. "Não diga nada a Sydney sobre isso."

Karen sinalizou 'eu juro', como as crianças costumam fazer. Ela sabia que Nigel estava se sobrecarregando para aliviar Sydney até que ela estivesse melhor. Ele levava muito a sério seu papel de assistente, e sua amizade com Sydney ia muito além disso.

"Deixe Sydney em casa as seis", ele instruiu. "Nós vamos nos encontrar lá."

"Nos encontrar para que?" Sydney perguntou, assim que entrou na cozinha.

Karen não ficara chateada por Sydney ter dormido na casa de Nigel; ela sabia que não tinha acontecido nada, e Nigel explicou tudo a ela quando telefonou.

"Não é nada." Nigel disse, entregando-lhe o casaco e a bolsa. "Vão e divirtam-se!" E, para Sydney, ele disse "E, por favor, veja se consegue ficar longe de encrenca?"

As duas riram e saíram.

Continua...


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