Disclaimer: read chapter 1.
Precisando de um amigo
Capítulo 6
Nigel olhou para Sydney e Karen, que estavam conversando animadamente sobre o número dos trapezistas. O circo tinha sido armado dentro de um estádio enorme; os números aéreos pareciam ainda mais espetaculares, por causa da altura da tenda. Ele sorriu quando Karen disse algo que fez Sydney rir. Parecia que se passaram séculos desde que ele a vira assim tão relaxada e alegre. Karen tivera uma ótima idéia; sua chefe e amiga parecia estar vencendo a tristeza. Karen levantou-se e começou a descer os degraus da arquibancada, quando Sydney se voltou para Nigel, ainda sorrindo.
"Oi?" Ela disse, surpresa, ao flagrá-lo olhando-a.
Nigel sorriu também. "Oi."
"De onde vem toda essa alegria?"
Nigel suspirou. "É bom vê-la rindo novamente, Syd."
Sydney pegou a mão dele e afagou. "É bom poder rir, Nige." Ela se inclinou e beijou o rosto de Nigel. "Graças a você e Karen."
"Falando em Karen, onde ela foi?"
"Atendendo ao chamado da natureza."
Nigel assentiu, e só então reparou que Sydney ainda segurava sua mão. Voltou sua atenção para o espetáculo novamente, a tempo de ver um grandalhão musculoso junto com dois anões. "Ei, será que já não fomos perseguidos por aquele cara lá, algumas vezes?" Ele provocou.
Sydney riu. "Provavelmente." O grandalhão certamente os fazia lembrar de alguns dos brutamontes que os dois caçadores de relíquias esbarraram em suas buscas. "Olha lá, Nigel, será que aquele ali da esquerda não é um de seus amigos pigmeus?"
Nigel sorriu e encarou-a. "Não sei, mas eu tenho certeza que você já namorou o engolidor de espadas, e acho que me lembro de alguns nomes dos trapezistas daquele dia, quando você se confessou na França."
Sydney deu-lhe um tapa no braço e riu, enquanto se voltava para ver o número com os elefantes. Nigel riu quando ela agarrou-lhe o braço e encostou a cabeça em seu ombro. Ele não se afastou, levando a sério sua oferta de confortá-la de todas as formas que ele pudesse. Se ela sentia necessidade de tocá-lo, ele sabia que não era perigoso, exceto pelo fato de que sua temperatura subia consideravelmente quando ela o fazia. Ele voltou sua atenção para o espetáculo, quando uma mulher alta, em roupas brilhantes comandava os elefantes e incitava-os a realizar alguns truques. Ele estava tão encantado com a apresentação, que só percebeu que havia algum problema quando Sydney soltou-lhe o braço e desceu as arquibancadas correndo.
"Syd!" Ele se levantou e seguiu-a, não tão veloz quanto ela. Ele alcançou o nível do chão e deparou-se com Karen, que estava voltando.
"O que aconteceu?" Ela perguntou. "Sydney acaba de passar por mim como se estivesse se sentindo mal, ou algo assim."
"Eu não sei." Ambos seguiram em direção aos sanitários, por onde Sydney desaparecera. "Entre lá e veja como ela está, Karen."
Karen assentiu e entrou, enquanto Nigel esperava do lado de fora, tentando ignorar os olhares das mulheres que passavam por ali. "Ela está fechada lá dentro, e se recusa a sair." Karen disse. "Ela quer que você entre, Nigel."
Nigel ruborizou. "Eu... eu não posso. Peça para ela sair."
"Ela não quer."
"Então diga que eu não vou entrar. Só me faltava essa! Ser preso como um pervertido por entrar no banheiro feminino."
Karen voltou para o banheiro e, menos de um minuto depois estava com Nigel novamente. "Ela não abre a porta e... ela está chorando."
Nigel fez uma expressão de desgosto. "Pelo amor de Deus!" Ele olhou em volta. "Tem alguém mais lá dentro?" Karen negou.
Nigel não estava nem um pouco a fim de entrar; ele nunca estive em um banheiro feminino, e esta não era uma das coisas que ele tinha vontade de fazer. Entretanto, Sydney estava lá dentro e ele não podia deixá-la lá dentro pelo resto da noite, chorando. Ele prometeu ajudá-la e todas as formas que ela precisasse.
Ele fez um ruído de exasperação, ergueu os ombros, abriu a porta e entrou rapidamente, tentando não pensar no que estava fazendo. "Fique aqui e invente uma desculpa para quem quer que se aproxime para entrar."
Karen assentiu e ficou parada na frente da porta. Do lado de dentro, Nigel ficou surpreso em como era tudo limpo e organizado. "Syd?"
Ele começou a andar diante das 'baias' instaladas ao longo da parede. Na verdade não era muito diferente do banheiro masculino, exceto pelo mictório,que não tinha ali. Curioso, ele foi olhar de perto uma maquina dessas de vender objetos. Por que havia uma ali? O que venderia? Doces? Nigel aproximou-se para ler a etiqueta e imediatamente se afastou, ruborizado. Realmente, não eram doces!
"Sydney?" Ele chamou. "Onde está você, Syd?"
Sydney abriu uma das portas a certa distância de Nigel, que se dirigiu imediatamente para onde ela estava. Ela parecia tão mal ali, sentada, com as mãos cheias de papel, tentando enxugar as lágrimas de seus olhos já vermelhos. Ele se sentia um idiota por entrar no banheiro feminino, mas assim que a viu toda a vergonha e embaraço desapareceram.
Ele abaixou-se diante dela. "Syd, o que houve?"
"Eu já andei sobre um elefante." Ela disse, cobrindo o rosto com as mãos e chorando.
Nigel esperou-a se recompor. "E foi assim tão traumático?"
Ela quase riu e sacudiu a cabeça, negando. "Não, foi na África, com meu pai. Nós saímos para andar sobre elefantes uma vez; uma de minhas melhores lembranças. Eu vi os elefantes e... e..."
Nigel entendia. "Lembrou-se de Randall?"
Sydney concordou. "O que há comigo, Nigel? Por que eu não consigo manter o controle?"
"E como alguém pode controlar a dor da perda de uma pessoa querida, Syd? A gente só faz o que pode."
"Eu acho que eu não chorei assim nem mesmo quando minha mãe morreu."
"Você era apenas uma criança." Nigel respondeu. "Talvez tenha sido mais fácil esquecer por isso. Além do que, você tinha seu pai, e o teve por muito tempo depois disso. Então, pode ser por isso que seja tão difícil lidar com a morte dele."
Sydney concordou. Fazia mesmo sentido. Ela ergueu os olhos lacrimosos para ele. "Quantos... anos você tinha, Nigel? Quando eles..."
"Foi dois dias antes de completar meus 16 anos."
"Sinto muito. Eu não devia ter perguntado." Ela baixou os olhos novamente.
Nigel segurou-lhe a mão. "Você pode perguntar o que você quiser, Syd."
Ela ergueu a cabeça outra vez. "Sério?"
"Muito sério."
Ela quase sorriu, mas estava se sentindo péssima para fazê-lo de verdade. "Eu detesto isso tudo."
"Eu sei."
"O que eu vou fazer?"
Nigel ficou em silêncio, olhando para suas mão e de Sydney, unidas. Você... Podia pensar em uma licença, pelo menos até se sentir melhor para voltar a trabalhar."
"Não, eu acho que ficaria louca sem ter com o que me ocupar."
"Certo." Ele sabia, pois acontecera o mesmo com ele. Se não tivesse os estudos com que se ocupar, não sabia o que teria acontecido com ele. No final das contas, ele ainda conseguira se sair melhor nos estudos. "Bem, não há como fazer com que você pare de sentir. E com certeza você vai se deparar com coisas e situações que te lembrem Randall, é inevitável."
Sydney concordou e limpou o rosto. "Então?"
Nigel encarou-a. "Eu não sei, Syd." Disse com sinceridade; suspirou, baixou a cabeça e se levantou. "Você não quer que as pessoas te vejam assim, mas não quer parar de trabalhar." Ele suspirou. "Você não que tirar licença, não é? Já pensou em um analista? Ou algo do gênero?"
Sydney negou com a cabeça. Ela não podia se abrir com um estranho. E não havia muitas outras opções. O que fazer? "Será que não podíamos viajar?"
Nigel piscou, sem entender. "O que?"
Sydney se levantou. A idéia de ela e Nigel tirando merecidas férias parecia tentadora. "Você e eu. Estivemos trabalhando tanto ultimamente que acho que merecemos uma pausa. Então, porque não viajamos para algum lugar?"
"Juntos?"
Sydney riu. "Claro que juntos!" Ela bateu palmas. "Nigel, podíamos ir para Londres! Você não vai para sua cidade já faz tempo, e você podia me mostrar tudo por lá." Ela bateu no ombro dele. "Me contar sobre o verdadeiro Nigel Bailey e como ele cresceu naquela cidade."
"Você... já conhece o verdadeiro Nigel, Syd, melhor do que ninguém, na verdade. Não sei o que mais teria para te mostrar ou contar sobre mim."
Nigel admitia que viajar para Londres seria muito bom. Mas ele não conseguia se imaginar viajando junto com Sydney em férias. Claro que ele viva pedindo para que eles descansassem um pouco do ritmo alucinante de trabalho deles, mas fazia parte do jogo, pois era o que ela esperava que ele fizesse.
"Ah, vamos!" Vai ser muito legal! Podemos visitar teatros, museus..."
"Nada de museus!" Nigel negou; eles já passavam tempo demais em meio a antiguidades, ir a museus seria quase como trabalhar. Além do mais, poderia aparecer alguém com alguma pista para alguma relíquia... Hã! O que ele estava pensando? Ele nem tinha concordado.
"Ok, nada de museus." Sydney concordou. "Mas poderíamos andar de carruagem, visitar monumentos históricos..."
"Eu não posso andar de carruagem, sou alérgico a cavalos, Syd."
Sydney bateu o pé. "São apenas sugestões, Nigel! Podemos fazer o que você quiser. Você é quem conhece a cidade e tudo o que tem de interessante lá."
Nigel permaneceu calado. Ela estava mesmo falando sério?
Você ainda não me respondeu, Nigel." Ela o lembrou. "A menos que...Você não queira ir comigo."
Ele negou rapidamente. "Não é que eu não queira. É que... talvez você devesse ir com outra pessoa, quem sabe..." Como ele podia dizer isso delicadamente? "Alguém... mais interessante?"
"E você não é interessante?"
Nigel ficou vermelho. "Sim, claro, mas... você não prefere..." Ele esfregou a mão pelo pescoço. Será que ela ia fazê-lo dizer com todas as palavras?
Sydney sabia muito bem o que ele queria dizer, e ficou comovida em ver quão atencioso Nigel podia ser. "Eu quero ir com você, Nigel. Não estou nem pensando em encontros ou sexo; é a última coisa na qual estou interessada, na verdade." Ela tocou-lhe o ombro. "Eu quero estar com alguém que me conheça, alguém em quem eu confie, e que também me conheça e não vá achar estranho se eu perder o controle." Ela sorriu. "Essa pessoa é você, o meu melhor amigo."
Nigel ficou emocionado. "Certo Syd... Vamos para Londres, então." Ele estava preparado para o abraço de Sydney, e envolveu-a em seus braços. "Nós vamos atravessar essa situação juntos, como sempre fazemos." Ele se afastou para encará-la. "Pois é pra isso que servem os amigos, não é?"
Sydney assentiu.
Ele foi saindo do banheiro. "Ótimo, então podemos sair daqui antes que eu seja preso?"
Sydney riu.
