Uh – A Série

Capitulo 4

Maybe I like you – Talvez eu goste de ti

Sentiu a respiração dele, quente, no seu pescoço e lembrou imediatamente da noite anterior. Não que as memórias fossem muito definidas, lembrava-se de ter subido a escada, de se ter deitado, de sentir Draco a descalça-la e de perguntar algo sobre o perfume dele. Não se conseguia lembrar em que parte do processo ela tinha vestido a camisa negra dele e muito menos de como tinha dormido agarrada a ele. Mas aquilo não importava no momento, não importava mais do que os dedos dele entrelaçados nos seus ou a respiração quente dele no seu pescoço.

Draco mexeu-se levemente e apertou-a um pouco mais contra o seu peito antes de lhe murmurar ao ouvido:

"-Bom dia Ginevra."

Ela realmente gostara daquilo. Daquela forma de acordar, nos braços dele, daquele sussurro carinhoso, tão suave.

"-Bom dia…" – Respondeu.

Ele respirou fundo, sentindo o perfume dos cabelos dela, e Ginevra desejou acordar assim todas as manhãs. Com o carinho dele, o toque suave, a respiração regular, o perfume forte. Adorava tudo nele. A forma de falar, os sorrisos, o perfume, o toque, e até o jeito estranho de se inclinar sobre a secretária enquanto trabalhava.

Então, deu-se conta do que estava a pensar. Ela estava a ficar um tanto obcecada com tudo aquilo.

"-O que vamos fazer hoje?" – Perguntou.

A voz dele não soava lá muito firme, como se ainda estivesse a dormir.

"-Eu vou…hum… eu já venho!" – Disse levantando-se no mesmo instante e correndo para o banheiro.

Deixou-se ficar encostada à porta, com o coração a bater depressa de mais. Parecia uma adolescente apaixonada que não conseguia controlar as suas emoções.

"-Está tudo bem aí dentro?" – Ouviu-o a gritar do outro lado da porta.

"-Mais ou menos… digo… sim! Está tudo óptimo!" – Respondeu atrapalhada."-Abre a porta então."

Ela pousou a mão no peito, e respirou fundo três vezes antes de abrir a porta.

"-Como eu disse, tudo óptimo." – Respondeu com um sorriso na cara, mas não menos atrapalhada que antes.

Ele riu e puxou-a pela mão.

"-Eu já perguntei mas torno a perguntar, o que vamos fazer hoje?"

"-Ganhei! Ganhei de novo!" – Exclamou feliz agitando os braços no ar.

"-Nem sei para que tanta festa! Foi só um jogo de xadrez!"

"-O terceiro jogo de xadrez que eu ganho dizes tu!"

"-Que seja, quero a desforra. Desta fez eu fico com as brancas. Tenho para mim que alguém está a fazer batota."

"-Que injustiça Sr. Malfoy! Eu, uma Weasley integra a jogar xadrez consigo no chão da sala e o Sr. aqui a acusar-me injustamente! Onde é que este mundo vai parar?"

"-Estamos a jogar no chão da sala porque a Sra. insistiu. Caso contrário, estaríamos confortavelmente instalados no meu escritório. Mas voltemos ao jogo que eu vou ganhar."

"-Continua a sonhar Draco…. Eu se fosse a ti não movia esse pião."

"-Mas como tu não és eu… " – Respondeu movendo o pião no tabuleiro.

"-Eu avisei." – Disse sorridente derrubando o pião com uma peça das suas.

"-Onde é que aprendeste a jogar assim?"

"-O meu irmão Ron. O xadrez era a vida dele. Ele até ganhou o jogo de xadrez gigante da MacGonnagal quando estava no primeiro ano!"

"-Impressionante." – Comentou sem emoção –"Desta vez ganho eu, tenha o teu irmão sido ou não o melhor jogador de xadrez de Hogwarts."

"-Draco, querido, a jogar assim não ganhavas nem aos meus sobrinhos mais novos."

"-Ginevra, as tuas declarações magoam-me." – Disse num tom de falso drama fazendo a sua jogada.

"-É uma pena Draco. Xeque-Mate."

"-Há algo de errado aqui. Tu ganhaste o primeiro porque eu deixei, o segundo porque eu não estava a prestar atenção e o terceiro por sorte de principiante. Mas este quarto tem história."

"-A história de um Malfoy que não sabe jogar xadrez. Vou começar a cobrar por cada jogo que perdes."

"-E isso vale para mim também?"

"-Se conseguires ganhar, porque não?"

"-Prepara-te Ginevra. Já sei qual será o meu pedido."

"-Não tenho de me preocupar." – Disse dispondo as peças pelo tabuleiro –"Eu vou ganhar de novo."

"-Veremos Ginevra, veremos."

"-Já sabes o que eu quero."

"-Nem pensar. Eu não vou fazer nada disso."

"-Acordo é acordo Weasley. Eu também faria o que me mandasses se tivesse perdido."

"-Mas eu nunca pediria nada tão… tão…"

"-Inteligente?" – Sugeriu.

"-Eu não vou fazer e está acabado." – Murmurou cruzando os braços em frente do peito.

"-Isso é tudo por teres perdido?"

"-Não! O teu pedido é idiota!"

"-Tu tens medo!"

"-Medo do quê?"

"-De não resistir…"- Comentou casualmente irritando-a.

Ela gatinhou até ele, próximo o suficiente para cruzar os braços em torno do pescoço dele.

"-Qual era mesmo o teu pedido?" – Perguntou tentando não transparecer os efeitos da proximidade dele.

"-Tu sabes bem qual é o teu pedido…" – Sussurrou ao ouvido dela.

"-Quero ouvi-lo da tua boca, outra vez."

"-Ginevra?" – A voz de Blaise soou da lareira, via Flu, fazendo a ruiva saltar de susto para longe de Draco – "Interrompi alguma coisa?" – Perguntou com um sorriso sarcástico enquanto os observava.

"-Fala logo Blaise!"

"-Sem stress ruiva. Chegou uma carta importante para ti! Nem sei como veio parar à minha casa…"

"-De quem é?"

"-Herr Niklas diz-te alguma coisa?"

Ela levantou-se imediatamente caminhando até à lareira.

"-Onde está a carta?"

"-Está aqui. Agora que a carta está entregue podem continuar o que estavam a fazer…"

Ela olhou-o de forma irritada e Blaise desapareceu no mesmo instante. Abriu a carta e Draco pode ver um sorriso a formar-se na face dela.

"-Qual é a piada?" – Perguntou fazendo com que ela o olhasse.

"-Oh! Piada nenhuma."

"-Então para quê o sorriso? Parece que acabaste de fechar um contrato milionário."

"-Nada disso."

"-É ele?"

"-Ele?"

"-O que não te causa arrepios, não te faz tremer e nem te faz esperar por mais?"

"-E se for?"

"-Se for, bom para ti." – Respondeu levantando-se e saindo da sala.

Ela fixou a porta por onde ele tinha saído durante uns segundos e depois voltou a sua atenção para a carta que segurava, esboçando um novo sorriso.

"-Vais sair?" – Perguntou entrando no quarto.

Ele não tinha descido para jantar e ela ignorara. Talvez esteja a trabalhar, pensou. Mas agora que decidira subir para dormir encontrava-o a apertar a gravata.

"-Vou."

Ela observou-o por uns momentos. Estava bem vestido, o cabelo perfeitamente arranjado e emanava um perfume maravilhoso.

E não conseguia deixar de pensar que tudo aquilo seria para outra mulher.

"-Ainda voltas hoje?" – Perguntou casualmente, como se não lhe fizesse diferença.

"-Não. E não esperes por mim amanhã."

"-Não te preocupes, não esperarei." – Respondeu no tom mais neutro e convincente que foi capaz.

Ele não disse nada, apenas aparatou deixando-a sozinha. A princípio foi como se ele tivesse saído para trabalhar, mas à medida que os minutos foram passando ela começou a sentir algo estranho. Não sabia definir o que era. Funcionava parecido a um sentimento de falta, de solidão, como se tivesse perdido algo importante. Porém recusava-se a referir-se à estranha sensação como ciúmes. Até porque não havia razão para ciúmes. Ciúmes não. Ciúmes nunca.

Ouviu umas batidas na porta do quarto e estranhou. Draco dissera para não esperar por ele e os elfos não costumavam bater à porta.

"-Entre!" – Gritou.

"-Bom dia Ginevra!"

"-Blaise?"

"-O próprio!" – Disse com um sorriso – "Queres explicar-me o porquê de estares às 10 da manhã de um Domingo deitada na cama rodeada de relatórios da empresa?"

"-Não há lugar mais confortável do que a nossa cama, não é mesmo? E como eu tinha de trabalhar…"

"-Eu pensava que esses relatórios estavam todos resolvidos e analisados."

"-Estar, estavam. O Draco ajudou-me com eles na Sexta. Mas sabes como sou, gosto de verificar tudo. E aqui estou eu. Mas diz-me, a que se deve a tua visita?"

"-Eu vinha chamar o Draco para almoçar, mas os elfos disseram que ele saiu ontem e disse que não sabia quando voltava."

"-É verdade.." – Concordou sem emoção.

"-Vocês estão zangados?"

"-Pessoas que mal se falam não podem ficar zangadas, podem?"

"-Ainda bem que vocês mal se falam. Se falassem como um casal apaixonado a minha interrupção de ontem teria sido bem mais embaraçosa."

"-Blaise! Este é o primeiro e último aviso! Mais um comentário sobre Draco e eu e tu…!"

"-Calma ruiva." – Cortou – "A expressão de pensamento ainda é livre, sabes? Cada um tem o direito de dizer o que pensa livremente. E antes que comeces com o teu fogo Weasley de novo, vens almoçar comigo?"

"-Não sei…"

"-Não te faças de difícil Ginevra. Espero por ti na sala. Tens dez minutos para descer."

Ela riu alto enquanto o via caminhar até à porta.

"-Estou a contar. Dez minutos!"

"-Pronta!" – Disse entrando na sala – "Que tal?" – Perguntou dando um giro sobre si mesma.

"-Como queria ser o Draco…"- Murmurou mais para si do que para ela – "Estás linda!" – Corrigiu perante o olhar desaprovador dela – "Ginevra?"

"-Sim Blaise?"

"-Antes de irmos posso fazer-te uma pergunta?"

"-Desde que não seja inconveniente…"

"-O que queria o tal Niklas?"

"-Porquê a pergunta?"

"-Fiquei curioso. A carta era urgente e o negócio já estava fechado."

"-Era um convite."

"-Um convite?"

"-Sim, para o baile que a empresa dele vai organizar na véspera de Natal."

"-Mas ainda falta um mês!"

"-O Niklas só quis ter a certeza que eu estaria lá."

"-E vais estar?"

"-Com o convite dourado que ele me enviou dizendo que eu seria a convidada de honra não há como faltar. Blaise, que sorriso é esse?" – Perguntou ao ver o sorriso enigmático dele.

"-Oh! Nada, nada."

Era tarde, muito tarde mesmo. Mas ainda assim ele não tinha chegado. Cansada de esperar por algo que, insistia ela, não valia a pena, deitou-se. Não muito tempo depois ouviu-o entrar no quarto. Permaneceu imóvel, esperando que ele se deitasse. Mas quando ele o fez desejou não ter esperado. Ele deitou-se, bastante afastado dela, e de costas, como antigamente.

Tinha a certeza que ele agia assim por ela ter recebido a carta de Niklas. Então, mais do que desejar não ter esperado por ele desejava não ter recebido a carta de Niklas.

"-Ginevra?" – Chamou pela terceira vez consecutiva – "Ginevra, fazes o favor de me prestar atenção?"

"-Disseste alguma coisa Blaise?"

"-O que raio se passa? Já te chamei umas mil vezes e tu perguntas se eu disse algo!"

"-Desculpa, estava distraída…"

"-Sério? Não tinha reparado. O que aconteceu afinal?"

"-Nada." – Respondeu desviando o olhar do dele."

"-Foi o Draco?"

"-Quem é que falou no Draco?"

"-Eu falei. Foi ele?"

"-Ele age como antes."

"-Continua…"

"-Age como se fosse apenas um negócio. Chega tarde, tarde de mais para eu estar acordada, e sai cedo de mais. Na realidade nem sei o que vai ele fazer a casa. Só sei que ele passa lá as noites porque o sinto a mexer-se durante o sono."

"-Isso antes não te preocupava." – Comentou casualmente.

"-Eu sei! E não devia preocupar agora! Mas eu não sei o que aconteceu…"

"-Como é que uma mulher tão inteligente e tão bem sucedida como tu ainda não entendeu o que se passa? Se eu não tivesse visto aquela cena na sala eu pensaria o mesmo que pensei quando vi a tua cara esta manhã. Tu estás assim, com esse ar de infelicidade só porque vocês não se falam desde Sábado! Não é difícil dar nome a isso…"

Ela suspirou, enterrando a face nas mãos.

"-Eu não sei o que fazer…" – Disse olhando para ele.

"-Não olhes para mim, não fui eu que casei com um Malfoy."

Nunca um mês lhe custara tanto a passar. Nunca um mês atarefado, cheio de reuniões e problemas tinha sido tão penoso quanto aquele. Tudo porque os dias não eram mais iguais. Antes não sentia a falta de Draco porque ele simplesmente não fazia parte da vida dela. Agora sentia falta dele porque um dia ele fizera parte da sua felicidade.

Abanou a cabeça tentando dispersar aqueles pensamentos e saiu do escritório.

"-Helga?"

"-Sim Sra. Ginevra?"

"-Onde está o Blaise?"

"-O Menino Blaise está no escritório dele."

"-Obrigada."

"-Blaise."

"-Sim minha ruiva?" – Respondeu com um sorriso enorme.

"-'Minha ruiva'? O que estás tu a aprontar?"

"-Eu? Blaise Zabini? Nada!"

"-Tu não me convences… Mas eu estou atrasada de mais para discutir isso contigo. Vou sair mais cedo e preciso que vigies tudo por aqui enquanto eu não estou."

"-Onde vais?"

"-Buscar o meu vestido."

"-Sempre vais ao baile do alemão?"

"-Seria rude da minha parte faltar ao baile do Niklas. Ainda para mais é amanhã, véspera de Natal, não haveria trabalho de qualquer das formas."

"-Perfeito…" – Murmurou.

"-O que disseste?"

"-Que teria o teu botão de transporte dentro de minutos."

"-Que seja. Eu vou buscar o vestido e depois vou para casa. Manda o botão de transporte para lá, programado para amanhã às sete da tarde. Pode ser?"

"-Sem falta."

"-Brigada Blaise, e se não nos virmos antes, Bom Natal."

"-Pra ti também ruiva."

Ela acenou levemente e aparatou no Beco Diagon-Al.

"-Madame Malkin, Boa tarde."

"-Sra. Malfoy, que gosto em vê-la."

Ginevra respirou fundo, levemente irritada.

"-Trate-me por Ginny por favor. Malfoy não é um titulo que gosto de usar."

"-Sra. Ginny, veio buscar o seu vestido?"

"-Vim sim Madame Malkin."

"-Quer experimentá-lo agora?"

"-Não vale a pena. Experimento-o em casa. Se houver algum problema eu volto cá, pode ser?"

"-Claro que sim. Espere um segundinho." – Dirigiu-se para a traseira da loja voltando segundos depois com uma caixa negra.

"-Aqui está."

Ginevra retirou o pagamento da bolsa e colocou-o em cima do balcão.

"-Então até outra altura Madame Malkin." – Despediu-se aparatando em casa com a caixa na mão.

O quarto estava escuro e silencioso, como seria de esperar.

"Nem sei para que pensei o contrário."

Pousou a caixa em cima da cama de casal e dirigiu-se ao banheiro, pronta a tomar um longo e relaxante banho. Saiu do banheiro, bastante tempo depois e suspirou. Odiava o silêncio, odiava a solidão que era aquela casa. Tinha saudade da vida na Toca, do barulho constante, da confusão, do amor de uma família grande. Tinha inveja dos seus irmãos, todos eles de casamento feliz e família grande. Queria ter o que eles tinham, queria poder abdicar dos negócios, do dinheiro e trocar aquela mansão por uma casa pequena, um marido que a amasse e um bando de crianças loiras.

"Ruivas!" – Corrigiu-se imediatamente – "Um bando de crianças ruivas."

Vestiu o longo vestido rosa claro e pousou à frente do espelho. Adorava-o, adorava-o desde que o vira na montra da Madame Malkin. Era bastante longo, mas ao contrário do que seria de esperar, bastante leve também. O rosa claro fazia ressaltar a pele branca dela e os cabelos bem ruivos. E o pequeno casaco branco e felpudo, que praticamente só lhe cobria os braços, dava o toque final no conjunto.

Foi através do espelho que o viu entrar, em silêncio, agindo como se ela não estivesse ali.

"-Boa noite."

"-Boa noite Ginevra."

"-Como foi o dia?" – Perguntou, dando outra volta em frente do espelho.

"-Igual aos outros." – Respondeu atirando a camisa para o cadeirão ao lado do espelho.

A ruiva estranhou, ele nunca atirava a roupa. Então olhou para a camisa branca e percebeu uma marca de batôn vermelho no colarinho. Ali estava o motivo.

"-O que achas do vestido?" – Inquiriu ignorando a camisa dele.

"-Bom demais para a viagem de negócios."

"-E quem disse que eu ia em negócios?"

"-O Blaise. Mas pelo vestido e pelo ar de felicidade acho que não é uma viagem de negócios mas sim de prazer."

"-Entende como quiseres."

Despiu o vestido e guardou-o dentro da caixa, bem como o casaco branco, que encolheu e colocou em cima da cómoda.

Depois deitou-se e depressa adormeceu, sem trocar qualquer palavra com Draco.

Ele suspirou e voltou-se para ela, vendo-a a dormir, tal como fazia todas as noites. Depois beijou-lhe a curvatura do pescoço levemente e virou-se de costas.

Estava a perdê-la. Estava a perdê-la para aquele alemãozinho de meia tigela!

Fim do Capítulo 4

N/A: Actualização relâmpago porque já devia estar no aeroporto. Quando voltar posto o capitulo como deve de ser.