Uh – A Série

Capitulo 8

All mine, twice! - Duas vezes só minha

"-Bequinha pára de saltar."

A pequena gargalhou mais alto saltando sobre o peito do pai.

"-Vai procurar a mamã no banheiro princesa!"

A ruivinha correu para o banheiro voltando segundos depois.

"-Mã?"

"-Não sei princesa. Não está no banheiro?"

"-Nã. Mã?"

"-Parece que não..." – Pegou a filha ao colo e saiu do quarto de casal.

"-Ginevra!" – Chamou descendo as escadas.

Nada. Nenhuma resposta para além do silêncio.

"-Ginevra?"

"-Mã?"

"-Eu não sei princesa."

Entrou na cozinha estranhando a falta da mulher. Ela nunca saia sem avisar, muito menos a um Domingo.

"-Fica sossegadinha princesa. O papá vai tratar da tua papinha." – Sentou a menina de dois anos na cadeirinha de refeições e caminhou até à bancada.

Estranhou encontrar um papel dobrado sobre ela. Ginevra era por demais organizada e um papel na cozinha era estranho.

«Não sei quando volto. Não me esperes. Não te preocupes.

Sei que a Rebecca, apesar de tudo, fica bem contigo.

Não te preocupes, vai tudo correr bem.

Com amor

Gin»"

"-'Não te preocupes'? O que quer ela dizer com 'Não te preocupes?"

"-Mã?"

"-Agora não princesa."

Leu e releu o bilhete da ruiva sem o entender. Porque tinha ela ido embora? Porque não tinha falado com ele primeiro?

Estava confuso, muito confuso. Não fazia parte da personalidade da ruiva deixar algo para trás, ou explicar as coisas por um bilhete. Mas era exactamente isso que ela tinha feito, deixado tudo para trás explicando-se com um bilhete.

"-Não… ela não me pode ter…"

"-Pá?"

"-E agora princesa?" – Agarrou na pequena ao colo – "O que vamos fazer sem a mamã por perto?"
- - -

"-Eu não fui feito para isto… simplesmente não fui…"

Testou a temperatura da água da banheira com as pontas dos dedos.

"-Quente… quente…" – Queixou-se agitando os dedos no ar – "Estás a rir-te?" – Perguntou à ruivinha sentada no tapete felpudo do banheiro.

A bebé gargalhou mais alto voltando a sua atenção para os pequenos patinhos de borracha à sua frente.

"-Melhor agora." – Comentou depois de experimentar de novo a água do banho, mais morna desta feita – "Vamos princesa, tempo de tomares o teu banho."

Despiu a menina e colocou-a dentro da banheira. No mesmo instante ela começou a chapinhar.

"-Vá lá Bequinha, porta-te bem. O papá não tem jeito nenhum para isto portanto vais ter de me ajudar. Pode ser?" – A pequena respondeu molhando-lhe a camisa com a água morna da banheira – "Começamos mal minha peste."

Ela continuou a bater com as palmas das mãos na água, fazendo-a saltar em todas as direcções.

"-O papá vai acabar por tomar mais banho que tu se não páras com isso. Pega os teus patinhos."

Colocou os pequenos patinhos de borracha na grande banheira distraindo a pequena.

"-Agora fica quietinha. Não queremos que o champô entre nesses olhos lindos pois não?"

"-Na não."

Rebecca piscou os olhinhos azuis e continuou a brincar com os amarelinhos patinhos de borracha. Draco espalhou um champô cheiroso nos cabelos ruivos da menina, mas errou ao passa-los por água, fazendo a espuma escorrer directamente para os olhos dela.

"-Pronto, pronto princesa. Não chores." – Pediu limpando a face da menina.

A menina choramingou mais um pouco acabando por se esquecer ao brincar com os patos de borracha.

"-Ok, banho finalmente tomado." – Concluiu vários minutos depois – "-Fica quietinha que o papá vai buscar a toalha."

Deixou a pequena sentada e ergueu-se para alcançar a toalha felpuda que pendia da bancada do lavatório.

Ouviu a pequena a chapinhar com força e sorriu. Só não esperava escorregar na enorme poça de água que se acumulara entre ele e a banheira.

"-Merda!" – Disse alto sentindo as suas costas a embaterem fortemente no chão – "Muita graça Rebecca, muita graça."

Levantou-se contrariado, e encharcado, e tirou a ruivinha da banheira, envolvendo-a na toalha fofa.

"-Não sei como é que a tua mãe te dá banho sem se molhar…" – Comentou vagamente agitando a pequena no ar.

- - -

"-E agora o almoço." – Anunciou sentando-a na cadeirinha de refeições.

Não demorou muito para que ele pousasse na mesa um pequeno prato com a uma mistela de ar não muito saudável.

"-Aqui está princesa." - Elevou a colher com a papa e deu-a à pequena.

Escusado será dizer que ela cuspiu tudo na camisa dele.

"-Vamos tentar de novo Bequinha. Desta vez tu não cospes. Não está quente nem nada."

Mais uma colher de papa e uma nova mancha na camisa de Draco.

"-Vá lá princesa, ajuda o papá. A mamã não está, e tu portas-te sempre bem com ela."

A menina levou as mãos à face, lambuzando-se completamente.

"-Rebecca, ouve o papá, pára, por favor, de cuspir a papa."

"-Não! Não pesta!"

Não tão paciente como no início, ergueu a colher cheia de papa.

"-Vá princesa. Não podes ficar sem comer. Vá, só esta pelo papá."

A menina abriu a boca mas assim que sentiu o sabor da papa cuspiu-a. Draco bufou irritado, a camisa molhada tinha sido substituída por outra que estava agora coberta de comida para bebé.

"-Não pode estar tão má assim." – Levou a colher à boca e teve ímpetos de cuspir a comida no mesmo instante –" Tinhas razão Bequinha, está intragável. Vamos ter de arranjar algo além desta mistela que eu preparei para tu comeres. E o que me dizes aos biscoitos da mamã?"

A menina olhou atenta para Draco que alcançava um pote de biscoitos de chocolate.

"-Dá!"

"-Aqui está princesa." – Disse passando à pequena um dos biscoitos, que ela levou à boca no mesmo instante – "Agora já comes, não é danadinha?"

Despenteou os caracóis ruivos com as mãos e levantou-se.

"-Porta-te bem princesa… O papá vai só à sala chamar o teu padrinho. Ele, apesar de tudo, tem mais jeito na cozinha do que eu."

"-Blaise preciso da tua ajuda." – Disse falando para as chamas verdes da sua lareira.

"-O que foi desta vez Draco? Não consegues escolher a roupa que deves vestir? O que te aconteceu? Andaste à luta com os tachos e as panelas?" – Perguntou observando a camisa suja de Draco.

"-Ah Ah. Que piada. Anda logo. Tenho um problema enorme e, por mais que me custe admitir, eu preciso mesmo da tua ajuda."

"-Cheguei." – Anunciou sorridente aparatando no centro da sala dos Malfoy – "A Ginevra?"

"-Longa história. Conto-te na cozinha."

"-Mas que raio vamos nós fazer para a cozinha?"

"-Eu vou te contar o que se passou e tu vais cozinhar o almoço para a Beca."

"-Tu não tens mãos? Tenho de ser eu a fazer tudo por ti? Eu não sou a tua mãe, sabias?"

"-Ainda bem que não és. Agora vê se não deixas a tua afilhada a morrer à fome."

"-Olá princesa! O padrinho veio salvar-te deste pai desnaturado." – Agarrou a menina ao colo e agitou-a no ar. – "Biscoitos de chocolate Draco?"

"-Ela cuspiu tudo o que eu lhe tentei dar. Os biscoitos foram o último recuso."

"-E ainda dizem que os Malfoy sabem fazer tudo, não é linda?" – A bebé gargalhou e Blaise passou-a a Draco. – "O padrinho vai preparar-te o melhor almoço da tua vida."

Draco sentou-se com a filha ao colo e pôs-se a observar Blaise.

"-Mas conta lá Draco, o que aconteceu com a Ginevra? Fugiu de vez de ti?"

Draco não respondeu, sem saber o que dizer. Nem mesmo ele sabia o que se passava.

"-Então Draco?"

"-Eu não sei. Quando acordei esta manhã ela já não estava mais aqui."

"-Como não? O que se passou?"

"-Já disse que não sei. Tudo o que ela deixou foi um bilhete."

"-Parceiro, desta vez estragaste tudo."

"-Achas que ela me trocou pelo o outro?"

"-Claro que não! Ela ama-te, mais do que qualquer outra alguma vez amou, ela é feliz com o vosso casamento. Ela nunca te trocaria pelo Alemão!"

"-Então porque raio ela foi embora?" – Perguntou desesperado.

"-Não te preocupes, ela vai voltar. Ela ama-vos de mais para vos perder."

Draco suspirou aconchegando a filha ao peito. Ele esperava que Blaise tivesse razão.

"-Será que ela é feliz comigo?"

"-É óbvio que ela é feliz contigo! Vê-se no sorriso dela quando estão juntos, nota-se da forma como ela te olha, como se estivesse tão apaixonada como no dia em que se casaram pela segunda vez. " – Disse fazendo o amigo sorrir – "São perfeitos um para o outro e ambos sabem disso."

"-Achas mesmo?"

"-Claro. Não ia mentir ao meu melhor amigo."

"-Obrigado Blaise."

"-Sempre às ordens parceiro. Princesa, o teu almoço está pronto."

"-Boa sorte Blaise." – Disse sarcástico sentando a menina na cadeira de refeições – "Não é justo…" – Murmurou ao ver o amigo dar a papa à pequena sem se sujar.

"-Aprende com o melhor Malfoy, aprende com o melhor."

- - -

"-Hora de dormir princesa." – Anunciou pegando-a ao colo.

Assim que vestiu o pijama à menina ela saltou da cama e correu para fora do quarto.

"-Rebecca! Volta aqui!"

Foi dar com a menina a aninhar-se na sua almofada.

"-Não, não princesa. Vais dormir no teu quarto, na tua caminha."

"-Na, não!" – Repetiu sorridente abraçando a almofada.

"-Vamos pingente, vamos para a caminha" – Agarrou a menina no ar e caminhou até ao quarto dela – "Essa almofada é minha." – Disse com um sorriso tapando a menina com as cobertas.

"-Na não!"

"-Tudo bem, eu empresto-a. Mas só hoje." - A ruivinha gargalhou e enroscou-se nos cobertores. –"Dorme bem princesa." – Beijou-lhe a testa e saiu do quarto.

Deitou-se na cama, estafado. Mas não conseguiu dormir. Voltou-se para um lado e depois para o outro. Apoiou a cabeça nas mãos e depois cruzou os braços atrás do pescoço. Nada, o sono não vinha apesar de se sentir mais cansado do que nunca. Era ela que lhe fazia falta. Era o corpo dela colado ao seu, o calor e o perfume dela que faltavam. E ele não conseguia dormir. Abraçou-se a uma das muitas almofadas tentando compensar a falta que ela fazia nos seus braços. Até a almofada tinha o cheiro dela, mas não era o mesmo, nem poderia ser.

"-Onde raio estás tu Ginevra?" – Murmurou fixando o tecto.

Não conseguia deixar de imagina-la noutro local, bem longe, nos braços de outro homem. Nos braços daquele alemão. Tremeu de raiva, ela não podia tê-lo trocado por outro. Não depois de tudo o que tinham passado juntos, depois de tudo o que tinham passado para ficar juntos.

"-Ela vai voltar" – Suspirou – "Ela tem de voltar."

- - -

"-Owa!"

"-Olá princesa." – Respondeu agarrando a menina que tentava subir para a sua cama – "Dormiste bem Bequinha?" – A pequenina acenou afirmativamente – "Pelo menos um de nós dormiu…."

"-Mamã?"

"-Ela volta logo." – Murmurou cansando, afagando os cabelos da filha – "Ela volta logo."

A pequena olhou-o com os olhos azuis brilhantes.

"-Já é logo?" – Perguntou passando as mãos na cara do pai.

"-Não princesa, não é 'logo'. 'Logo' é só quando for escuro, quando for hora de mimir."

"-Pu quê?"

"-Porque sim linda…" – Olhou a menina que o olhava triste –"Eu sei que sentes a falta da mamã… O papá também sente, mas ela volta logo logo. Vamos tomar o pequeno-almoço?"

- - -

Viu a pequena a brincar com uma das muitas flores do jardim e sorriu. Também Ginevra adorava aquelas flores, adorava estar sentada perto delas enquanto via o sol nascer.

Sentiu umas mãos delicadas a taparem os seus olhos e depois sorriu.

"-Adivinha quem voltou…" – Sussurrou-lhe ao ouvido.

Ele voltou-se no mesmo instante e beijou-a fervorosamente. Só quebrou o beijo quando sentiu um aperto em torno das suas pernas.

"-Venham cá meus pestinhas!" – Exclamou sorridente apanhando dois meninos iguaizinhos.

Pendurou cada um deles nos seus ombros e depois encarou a mulher.

"-Onde estiveste? Estava preocupado de mais."

"-Fui à empresa…"

"-E demoraste tanto tempo? Por momentos pensei eu tivesses ido Alemanha!"

"-E levado os gémeos?"

"-Larga!"

"-Deixa-nos sair!" – Gritavam entre gargalhadas esperneando nos ombros do pai.

"-Castigo por me deixarem sozinho com a Becca! Mas porque demoraste tanto? "- Perguntou à mulher vendo-a a pegar a filha ao colo.

"-Eles quiseram ir comigo, não os ia deixar sozinhos enquanto dormias. Deixei-os na Toca. Quando sai da empresa era tarde, e eles já dormiam. Tive pena de os acordar."

"-Porque não me avisaste?"

"-Porque o Blaise disse que estavas deliciosamente preocupado."

"-Eu mato o Blaise!"

"-Qual quê meu amor…" – Beijou-lhe os lábios rapidamente antes de voltar a sua atenção para a pequena no seu colo – "Então princesa, que tal o dia com o papá?"

A menina gargalhou e beijou-lhe a face sem dizer nada.

"-Parece que ela gostou."

"-Mas eu nem por isso. Não gosto quando trabalhas de mais."

"-Não digas isso Draco! Sabes que as empresas precisam de ser geridas com pulso de ferro."

"-Eu sei meu amor…" - Respondeu colocando os gémeos no chão, que correram para longe a gargalhar – "Mas eu não sou o mesmo sem ti…" – Murmurou antes de a beijar.

Depois voltou-se para os gémeos com um sorriso e gritou:

"-É melhor correrem suas pestes. Porque das cócegas do castigo vocês não escapam!"

E ali estava, diante dos seus olhos, a família com a qual sonhara, os filhos perfeitos, o marido maravilhoso.

"-Vem Ginevra!" – Gritou ao longe, acenando.

"-Vamos Bequinha?" – Perguntou à menina no seu colo, que riu em resposta.

Então, mais uma vez, e como de costume, ela deixou os importantes relatórios da empresa para trás e correu até ao marido e aos filhos.

"-As empresas podem esperar…" – Sussurrou antes de o beijar.

- - -

"-Promete que não voltas a desaparecer. Promete Ginevra."

"-Está prometido meu amor." – Respondeu contra a pele quente do pescoço dele – "Ficaste assim tão preocupado?"

"-Mais do que preocupado! Fiquei perdido! Pensei que não voltarias! Que tinhas ido para a Alemanha ter com aquele alemãozinho sem classe e que tinhas levado os gémeos contigo!"

"-Eu nunca, nunca faria isso! Nunca afastaria os gémeos de ti! E nunca te trocaria pelo Niklas."

Ele sorriu e abraçou-a com força.

"-Promete que aconteça o que acontecer tu não vais vê-lo!"

"-Porquê tanta insistência agora? Faz anos que eu não o vejo, faz anos que eu não tenho intenções de o ver. A última vez foi naquele baile, ele estava com a noiva dele. Não tens por que ficar assim. Além do mais eu sou só tua. Duas vezes só tua." – Concluiu erguendo a mão, fazendo as alianças reluzir ao fraco luar que entrava no quarto.

"-Duas vezes só minha…" – Repetiu num murmúrio apertando-a com mais força.

Fim

N/A Final : Bem… chega ao fim mais uma das muitas fics neste FF. 'Ainda bem!' dizem vocês, e eu não podia concordar mais… Demorou muito para ser actualizada, muito mais do que demorou para ser ecsrita… Começou como uma short dedicada à minha Beca e acaba como uma fic de 8 capítulos dedicada a todos que a leram e principalmente a todos os que comentaram. Esta é… supostamente, uma das minhas últimas fics… Depois de uma short que está para sair e do 'eternamente atrasado' final da DV não sei o que vai acontecer à minha produção de fics. Quando comecei a ler fics, apaixonei-me de imediato e faz muito tempo que não tenho mais essa paixão… nem pelo ler nem pelo escrever. È obvio que gosto de escrever aquelas ideias mirabolantes que tenho de vez em quando… mas fico frustrada quando demoro meses para escrever 10 páginas em Verdana 10! Então não sei mesmo o que vai acontecer… mas de qualquer modo, e a quem interessar, o final da DV não deve estar tão longe assim de ser publicado. Mais umas semanas da inspiração certa e deve aparecer no FF.

Kika Felton

28 de Setembro de 2006