ATENÇÃO:esse capítulo contem cenas Yaoi/Lemon, se não gosta desse gênero, não continue.
Se preparem que esse capítulo valerá por dois, de tão longo que está!
BDSM: significa Bondage, Disciplina, Sadismo e Masoquismo.
Demônios e Fé Verdadeira: são inspirados no World of Darkness, especialmente nos cenários de Vampire e Hunters da editora White Wolf. É um cenário de jogos de RPG punk-gótico recomendado para maiores de 18 anos.
Presença e Dominação: são inspirados em poderes de Vampire cenário que integra o WoD. Poderes que acredito serem muito bem usados pelo Kannon.
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CAPÍTULO 6: NADA É POR ACASO.
Kannon esperou que todos os cavaleiros se retirassem, somente então deixou a sala de Atena pela mesma passagem por onde entrara. Não queria cruzar tão cedo com seus novos companheiros, sabia que dificilmente seria aceito. – Preciso passar por isso, não é nada em comparação com o que fiz contra milhões de inocentes...
Caminhava com os olhos pregados no chão, seu rosto estampava o sangue coagulado pelos socos que tomara do Escorpião e Fênix. Se não estivesse com a armadura de Gêmeos... Certamente teria perecido, tamanho o ódio com que os cavaleiros o receberam. – Gostei deles. – Sussurrou. – Certamente seremos bons amigos.
Ao chegar na Casa de Gêmeos, procurou conter mais uma vez, a emoção. Tudo ali lembrava Saga. E isso tornara o lugar ao mesmo tempo familiar e... Sombrio. E a culpa era sua, inteiramente sua. Fora ele que desvirtuara o irmão, incitando-o a seguir o caminho das tentações, do verdadeiro mal. Isso o levou a morte prematura e a culpa era sua, unicamente sua. – Me perdoe, Saga... – Falou em tom quase inaudível.
Abriu os braços, fechou os olhos e procurou se concentrar ao máximo. – Chegou a hora. Preciso purificar essa casa, pensou. - Atena... Dê-me forças...
– Todo o mal que aqui reside deixará esse lugar! – Falou em voz alta enquanto seu cosmo espalhava-se pelo ambiente.
Um turbilhão de sombras se formou. Era possível ouvir gemidos aterradores, palavras impronunciáveis em diversos idiomas vivos e não vivos, e Eles se manifestaram:
- Nós não deixaremos a casa de Gêmeos, nosso lugar é aqui! Você nos alimentou, e vai continuar a nos alimentar! - As vozes formavam um coro demoníaco capaz de apavorar qualquer ser humano, nas não ao determinado cavaleiro que ali estava.
- Fora daqui! Vocês não tem mais lugar neste mundo, voltem para as Trevas de onde vieram! Eu, Kannon de Gêmeos, ordeno! – E abriu ainda mais os braços, fechando os olhos para potencializar sua fé e expulsa-los.
- Você pensa que pode nos convocar e nos mandar embora quando quiser? Humano tolo, não subestime as forças de mundos que sua mente tão limitada nunca entenderia! Você vai nos alimentar com mais ódio e ambição!
- É aí que vocês se enganam! Eu não tenho mais ódio nem ambição em meu coração, por isso, vou manda-los para casa! – Terminou com maestria o golpe que abriria a porta para outra dimensão. Não uma dimensão qualquer, mas a porta do mundo abissal de onde havia tirado aquelas criaturas que enlouquecera a ele e a Saga.
- SAIAM DAQUI, DEMÔNIOS! – gritou. A Casa de Gêmeos tremeu, ante o lamento escandaloso daquelas entidades que existiam muito antes do universo físico se formar. Com muito esforço Kannon com um último gesto fechou o portal e exausto caiu no chão.
Milo assistiu a cena com os olhos mais do que arregalados. – Você está louco? – Ouviu uma voz estridente tentando se conter enquanto o chacoalhava. – Demônios! Eu não acredito que você... Mandou Demônios embora! – Falava completamente incrédulo o Cavaleiro de Escorpião.
- A que devo a honra de sua visita, Escorpião? – Falou tentando se levantar sem a ajuda do outro.
- Não desconverse, Kannon! Você vai me explicar direito o que esses demônios estavam fazendo aqui! E eu ainda não entendi como você, um psicopata, foi capaz de expulsa-los de volta pro Submundo!
- Escorpião... Essa história é longa e eu... – Desmaiou. Milo correu rumo ao seu corpo caído no chão gelado da Casa de Gêmeos.
- Droga... O que eu faço agora? Essa Casa é um labirinto! Esse homem acabou de realizar uma tarefa impossível... Mandar demônios para o submundo é mais difícil do que atacar um Deus... É preciso ter... Fé. Fé Verdadeira! Não, eu não acredito que ele... Ele tem esse poder! Não é possível... Vou deixar bem claro... Estou fazendo isso por Atena! – Pegou Kannon nos braços e subiu para a Casa de Escorpião.
Durante todo o trajeto, Milo resmungou se esforçando para acreditar no que acabara de ver. Marin deixara sua Casa e logo em seguida ele sentiu aquela emanação demoníaca em Gêmeos. Feliz da vida desceu pensando que iria matar Kannon e ao chegar lá se deparou com a cena mais... Impossível (aos seus olhos) de se acontecer! Kannon expulsava Demônios! Um poder que se julgava a muito ter sido perdido pelos cavaleiros... Somente homens que tivessem a verdadeira fé eram capazes de uma proeza daquelas. E se Kannon tinha fé... Não era um psicopata! E não bastava ser verdadeira, a fé só frutificava em pessoas.. Puras, iluminadas. Como era possível?
Milo não sentiu a presença de Hyoga, provavelmente estava atormentando Mú. Levou o cavaleiro de Gêmeos para a ala residencial e o colocou em um quarto. – Eu não sou enfermeira! – Saiu pisando pesado para buscar água. De volta, procurou não fazer barulho e colocou a água ao lado da cama onde seu indesejado hospede estava.
– A pele dele está muito pálida... A respiração está fraca... – Ergueu as mãos sobre a cabeça dele, se concentrando em curá-lo. Repetiu o movimento sobre os seus pontos vitais e percebeu uma pequena melhora na respiração e cor de Kannon. – Melhor eu tirar a armadura dele, assim ele se recupera mais rápido. – E com todo o cuidado possível removeu a armadura de Gêmeos. – Será que ele vai morrer? – Se perguntou e deixou o quarto.
Kannon estava completamente consciente, mas seu corpo não o obedecia. Não conseguia falar, nem se movimentar. – É essa a sensação de estar em coma? Droga! Por que meu corpo não obedece? E para sua diversão havia ouvido tudo o que o Escorpião falara. – Eu sabia que seríamos amigos...
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Marin conseguiu chegar em seu destino quase ao anoitecer tamanho o caos do trânsito em Atenas. Ela era quase um robô até abrir a porta de seu ateliê e se trancar com alívio.
Finalmente estava segura, longe de seus problemas, longe de Aioria. Permitiu-se que aquele misto de ódio, amor e tristeza tomassem conta de seu corpo, jogou-se na cama e chorou até que o sono a dominou.
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Seu celular não parara de tocar naquele início de noite. Os seguranças que deixara no bairro dos artesãos lhe reportaram que a pintora japonesa estava de volta. Como se não fosse o suficiente, ao menos três vizinhos da mulher ligaram informando-o de que ela retornara de viagem. Mal podia esperar o fim da reunião com os noruegueses que Julian participava desde a manhã terminasse e ele finalmente pudesse contar as novidades.
- Sorento! Essa é a melhor noticia do dia! Não deixe que ela dê um passo sem que isso seja reportado a mim. Não posso correr o risco de perde-la.
- Senhor... Considera melhor do que o negócio de 100 milhões de euros que acaba de fechar com o governo da Noruega?
- Dinheiro é apenas dinheiro, meu amigo. Preciso entender por quê fiquei tão... Tocado com a pintura do Pegasus...
Fazia pouco mais de quatro dias que Julian recebera alta e voltara a freqüentar seu escritório. Em praticamente nenhum momento deixou de pensar naquele quadro que tanto o intrigara.
- Senhor Julian? ... Sorento? ... – Ambos voltaram-se na direção da voz rouca que os chamava - O helicóptero está pronto para partir. – Falou Tétis entrando na ampla sala do presidente das Empresas Solo.
- Estamos prontos, Tétis. – Respondeu Julian. – Vamos, Sorento? Estou sentindo que essa noite dormirei bem melhor que nas noites anteriores.
Sorento e Tétis sorriam para Julian enquanto carregavam a pasta e o laptop de Julian que seguira pouco a frente de ambos.
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Aioria sentiu mais um tapa no rosto – Mão pesada... – Pensou. – Outro tapa. Sentiu um forte odor de café fresco invadindo suas narinas. Colocou a mão sobre os olhos e reuniu forças para abri-los – Ai, minha cabeça! – Resmungou. Seus olhos estavam se habituando com a penumbra do ambiente que reconheceu ser seu próprio quarto. – Como eu vim parar aqui? – Perguntou em voz baixa.
- Tome. – E estendeu uma xícara com café para Aioria. – Está forte e sem açúcar, vai ajuda-lo a se recuperar.
Ele pegou a xícara e sem discutir bebeu seu conteúdo. – Obrigado, Shaka... – Falou sem encara-lo. A julgar pelo que fizera a Marin duvida que um dia pudesse encarar qualquer pessoa novamente, sentia vergonha de si mesmo.
- Será que agora você pode me explicar por que bebeu nove garrafas de vinho sem critério algum? Por Buda, Aioria! Eram safras italianas e francesas raras! – Ele realmente havia aprendido sobre vinhos com Kamus. - Se eu não invado sua Casa você poderia ter morrido, seu tolo! – Falou em tom levemente acusador.
- Você cuidou de mim, Shaka... Não tenho palavras para te agradecer. Bem... Eu simplesmente cometi a maior besteira que um ser humano pode fazer... – E contou com muito pesar o incidente que tivera com Marin. Ao fim da narração Shaka estava lívido.
- Aioria... Certa vez Adebaran me falou de uma música brasileira que falava sobre as "Mulheres de Atenas", ele se deu ao trabalho de traduzir a música para mim. E a conclusão em que cheguei era a mesma que a dele: aquela música retratava o modo como as mulheres eram tratadas na antiguidade clássica. Os homens não tinham a menor consideração pelas mulheres. E elas, não tinham sonhos, desejos, eram anuladas por eles. Existiam apenas para cuidar da casa e viver para seus maridos... Sinto muito, Aioria... Mas você agiu como um grego que vive no século V antes de Cristo. E um agravante... Marin não é uma mulher comum, ela é uma Amazona de Atena.
- O que eu fiz não tem perdão. Não tem justificativa. Não tem cabimento, Shaka. Passei minha vida inteira reprimindo tudo o que era relacionado a meu irmão... Eu só me preocupava comigo mesmo, em esconder minha dor... Engoli humilhações e piadas que dilaceraram minha alma. E durante todo esse tempo, não consegui enxergar Marin sempre ao meu lado e o quanto Marin me fazia bem. Deixei Marin passar... Não satisfeito com isso... Explodi e a humilhei como Mulher e Amazona... Será muita sorte minha se ela não quiser me matar. Por que se quiser... Eu acho que mereço morrer pelas mãos de Marin depois de tudo o que fiz! Acabou tudo, acabou antes mesmo de começar.
- Quanto ao seu irmão... Lembra-se de quando você me protegeu dos Demônios convocados pelos Titãs, mesmo me considerando um inimigo? Depois que você ficou inconsciente, lutei com você o tempo todo em meus braços. Senti o quanto se dedicou a realizar a missão, mesmo que aquilo que você desejasse no fundo de seu coração era... Me matar. Falei para seu servo, Garalian uma mensagem e embora eu tivesse transmitido minha admiração e amizade, você me evitou por muitos anos. Tudo por quê não soube lidar com a morte de Aiolos. Matar Aiolos não foi fácil para nenhum de nós. – Apontou para si. – E acredite, eu o admirava tanto quando admiro você. A diferença entre você e ele está na maneira em que lida com os sentimentos. E eu o recrimino por engolir seus sentimentos, você lida com as emoções do jeito errado, Aioria.
- E qual seria o jeito certo de lidar com minhas emoções, Shaka? Depois dos erros que cometi estou realmente disposto a mudar minha postura. Não quero mais trazer sofrimento aos que estão ao meu redor. Lembro-me que Garan transmitiu seu recado e eu estava mais preocupado em comer maçãs do que me ater ao verdadeiro conteúdo da mensagem... Em minha infinita arrogância eu causei ainda mais dor e sofrimento. – Respirou fundo. – Perdoe-me Shaka, eu fui muito... Eu! E não me orgulho disso.
- Eu jurei que o protegeria em qualquer situação que viéssemos a enfrentar. E o que fiz? Ataquei-o por que julguei seu comportamento intempestivo na sala do Mestre, sem antes ouvi-lo. Você realmente me confunde, Aioria. Tenho certeza de que a maioria das pessoas que convivem com você também se sentem assim: não sabem dizer exatamente o que você pensa, o que você quer embora sejamos unânimes em uma coisa, você é gentil, generoso e ... Cabeça dura! – Abriu um sorriso enquanto servia mais uma xícara de café ao Leão. – Praticamente todo o Santuário já havia percebido o quanto Marin gostava de você. Somente você que não percebia, ou fazia de conta que não notava nada.
- Pensei que fosse minha imaginação... Outra coisa que sempre esteve entre eu e Marin foi o Código das Amazonas... Confesso que o código me repeliu. Meu medo do código era maior... Pelo Código não podemos ficar juntos quero dizer, ter uma vida normal... Apenas ter um caso... E se... Ela engravidasse? Teria que dar a criança para ser educada fora do santuário caso o filho fosse meu... Eu não imporia esse martírio a ela, nem a mim... Nunca quis me envolver com nenhuma Amazona pensando no futuro, Shaka. Nunca pensei que eu realmente pudesse amar Marin... Além disso existe nosso próprio Código... Eu sou um cavaleiro e nunca poderei ter uma vida normal. Marin ainda pode optar por ter uma vida fora daqui, se quiser e somente vir ao santuário se Atena a convocar... Mas, eu, você... Não temos esse direito, abrimos mão de tudo isso quando recebemos nossas armaduras... Falando nisso... Onde está a sua?
- Como eu poderia cuidar de um pseudo alcoólatra vestindo armadura? – Sorriu. – Vamos, levante-se, você precisa comer alguma coisa, já que colocou tudo o que tinha em seu estômago para fora. Vou preparar algo pra você. Tome outro banho, vai ajudar a relaxar os seus músculos que devem estar bem doloridos por ter dormido no chão frio da adega. – E saiu rumo a cozinha.
Aioria ficou mais algum tempo encostado na cama. – Tenho muita sorte em ter um amigo como Shaka. – Levantou-se num pulo e logo se arrependeu de faze-lo. – Droga, acho que vou... Vomitar... Alarme falso... Nunca mais vou beber assim! Alias existem muitas coisas que não vou fazer nunca mais. Vou recomeçar minha vida, está mais do que na hora! – Caminhou meio cambaleante até a sala de banhos.
Shaka procurou se concentrar naquilo que deveria cozinhar, mas estava realmente difícil manter-se concentrado. Aquela conversa com Aioria fora sem dúvida, muito difícil.
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Marin acordou apenas no dia seguinte, cansada, como se não tivesse dormido nada. Se arrastando, encheu um bule com água para preparar um café bem forte e tomou um banho extremamente demorado.
Abriu o armário vendo sua dispensa vazia. – Faz quase um ano que não venho aqui, lógico que estaria assim! – Resmungou com uma ponta de mal humor. Ela vestiu um confortável vestido florido na altura dos joelhos e um casaco para espantar o frio da manhã por cima dos ombros. Foi até o mercado e durante o percurso se distraiu ao cumprimentar seus vizinhos que entusiasticamente a receberam.
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O celular de Sorento tocou. Era o segurança.
- Ela saiu de casa, senhor. Está indo para o mercado.
- Não saia daí. E tenha certeza de que ela não irá a nenhum outro lugar. Se for, reporte imediatamente. – Desligou o celular e correu na direção da sala de Julian.
- Tétis, o Mestre tem algum compromisso importante nas próximas duas horas?
Ela olhou a agenda de Julian. – Não, nada demais. São apenas reuniões rotineiras com a diretoria do estaleiro. – Olhou interrogativa na direção de seu interlocutor.
- Creio que você pode cancelar esses compromissos. O Mestre vai visitar nossa amiga pintora antes que ela suma outra vez. – E bateu na porta de Julian antes de entrar.
- Senhor Julian, posso?
- Claro, Sorento!
- A pintora saiu de casa. Foi as compras, creio que seja o momento de aborda-la.
- Peça a Tétis que...
- Já pedi, senhor. Temos duas horas para desvendar esse enigma. – Respondeu com satisfação ao ver o olhar de admiração em seu Mestre.
- Vamos! – Pegou seu celular e vestiu o terno sendo seguido por Sorento.
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Ir até o mercado fora definitivamente uma ótima idéia. Marin se divertira tanto no percurso que mal notou o tempo que ficou fora. Carregada de sacolas, começou a subir a escada até o segundo andar onde ficava seu adorado refúgio.
Cantarolando ela percebeu que parado à sua porta estava um homem vestindo um requintado terno. Em uma rápida analise, notou que ele possuía longos cabelos e olhos azuis. Aproximando-se mais sentiu seu olhar sereno, quase triste.
Ao vê-la, o homem prontamente foi em sua direção para ajudá-la com as sacolas.
- Permita-me ajudá-la, senhorita...?
- ...Marin! E o senhor, quem é? – Sorriu enquanto lhe passava algumas sacolas.
- Meu nome é Julian. – Sorriu em retribuição. – Quando Sorento disse que a pintora era oriental e bonita, ele não imaginava que seria tão... Bonita! Seus olhos eram levemente puxados, seus cabelos eram de um tom vermelho que realçava os olhos castanhos claros e algumas sardas que deixavam seu rosto ainda mais charmoso. Mas o que realmente lhe cativou foi a boca pequena e carnuda que parecia ter sido feita para ser beijada.
Vou agradecer eternamente aquele quadro por colocar essa mulher no meu caminho. – Pensou, animado.
Ele tinha um sorriso bonito e confiável, mas parecia um pouco cansado. Marin se atrapalhou um pouco ao procurar a chave em sua bolsa. Abriu a porta e fez um gesto para que ele a acompanhasse.
Ela colocou as sacolas sobre o balcão da cozinha americana e ele a imitou.
- Senhor Julian, foi uma impressão minha ou o senhor estava... Me esperando?
- Não foi uma impressão, senhorita. Eu estava mesmo esperando-a.
- A que devo a honra de sua visita? Por favor, sente-se, não tenho muito espaço aqui, mas espero que isso não o incomode.
Não conseguiu evitar, mas seus olhos correram por seu corpo. – Essa mulher deve ser uma atleta, seu corpo é perfeito! – Pensou enquanto desabotoava seu terno e se acomodava na poltrona.
Marin se sentou no sofá bem em frente a seu visitante. O homem a medira de cima a baixo e mesmo assim continuava a olhar-lhe com admiração. - Bem ao contrário do que Aioria fizera no dia anterior... Baixou os olhos ante a lembrança de Aioria.
- Algum problema, senhorita? – falou-lhe com a voz baixa e quente, como se quisesse confortá-la.
- ... Não, nenhum problema, apenas estou cansada da minha viagem, só isso – Mentiu. – Eu conheço esse homem de algum lugar, não conheço?
Ela está mentindo... – Pensou. – Não vou tomar muito do seu tempo, senhorita. Fiquei muito interessado em suas pinturas. Vi uma belíssima tela em um restaurante aqui perto e mal via o momento de conhecer a autora de tão bela obra. – Seu tom era sincero e Marin percebeu o olhar admirado intensificar-se.
- Obrigada, senhor Julian. Fico feliz em saber que uma de minhas telas o cativou. Demoro muito para compor uma tela. Me apego muito aos detalhes, sabe? – E sorriu, feliz por ter uma conversa normal com um homem normal.
- Por acaso a senhorita não possui nenhuma tela finalizada aqui? Desejaria muito ter o prazer de comprar uma tela assinada pela bela pintora a minha frente. – Julian não resistiu e admitiu em voz alta a beleza de sua interlocutora.
- Claro! Possuo uma tela finaliza e outra que acredito conseguir terminar em breve. – Sorriu e se levantou indo na direção de um cavalete de pintura coberto, virou-o em direção a Julian. – Chamo essa tela de "o sorriso do escorpião" e tirou o leve tecido que a cobria.
Na tela descoberta, estava o rosto de Milo, com seus olhos intensos retratos com uma perfeição inimaginável. – E essa aqui, estou terminando. Chamo-a de "os cavaleiros de prata" e a descobriu. Estavam retratados três cavaleiros de prata com suas constelações sendo pintadas ao fundo.
Julian não conteve a admiração – Senhorita... Estou impressionado com seu talento! E se me permitir, gostaria muito de adquirir suas pinturas, diga-me quanto deseja por cada uma dessas telas, quero tê-las em minha casa.
- Pode levar essa. – E apontou para o retrato de Milo. – É um presente meu para o senhor que já tem uma tela minha e pagou caro por ela.
Tomado de surpresa, Julian se limitou a dizer: - Como a senhorita soube?
- Eu dei aquela pintura para Demétrio, o dono do restaurante que o senhor almoçou. – Ante o olhar questionador de Julian ela continuou – Não se preocupe, somos amigos a anos e qualquer coisa que aconteça por aqui acaba sendo comentada entre vizinhos!
– Sorriu. – Logo depois uma linda loira ofereceu a Demétrio uma quantia gigantesca de dinheiro pelo quadro do Pegasus e ele vendeu. Veio chorando me pedir desculpas por isso, coitado. Esse dinheiro ajudou Demétrio a pagar parte do tratamento de sua esposa. Na verdade eu não sabia, apenas deduzi, pois suas roupas são caras e pessoas como o senhor e aquela moça não costumam caminhar por um bairro tão simples. Acertei?
- Sim. Mandei minha secretária, Tétis, comprar a pintura. – Ele procurou enfatizar a palavra "secretária".
- Pois então, senhor Julian. É o mínimo que eu posso fazer pela ajuda que o senhor deu a Demétrio. Esse quadro é seu. – Ela finalizou encarando o homem levemente desconcertado a sua frente.
- Não posso levá-lo sem pagar por ele, senhorita...
- Não quero dinheiro, senhor. Não preciso disso. – Falou e estendeu o quadro para ele.
- Bem, eu aceito o quadro, se a senhorita aceitar jantar comigo! – Pegou o quadro e olhou bem fundo nos olhos de Marin.
Ela não conteve um sorriso. – Tudo bem, Julian! Pode me pegar as vinte horas... Hoje?
- Claro! Estarei aqui as dezenove em ponto. E... Acredite, senhorita, vejo que estamos iniciando uma bela amizade. – E foi a vez dele sorrir enquanto se dirigira rumo a saída. Marin abriu-lhe a porta e eles se despediram.
Viu pela janela que Julian entrara em um luxuoso carro e que outros dois carros o seguiam. – Nossa... Quantos cuidados! Quem será esse homem? Ele me pareceu tão triste...
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No interior do carro, Julian não conteve um largo sorriso – Sorento... Ela é realmente linda! E além de ser linda é talentosa e... Generosa! – E tratou de resumir a conversa que tivera com Marin para o Marina que se limitava a fazer uma ou outra pergunta.
Julian pegou o celular e ligou para Tétis. Sua secretária atendeu e ele lhe passou uma ordem: - Tétis, por favor, envie o mais belo arranjo de flores que você puder encontrar imediatamente para o endereço que vou lhe passar.
Sorento ficara aliviado em ver que Julian estava empolgado, não suportava vê-lo mergulhado em tristezas e preocupações. Ele vira a pintora chegar com as sacolas. A moça era realmente bonita. Iria investigá-la para ter certeza de que não se tratava de nenhuma golpista.
- Sorento, eu até me esqueci de que tinha ido até ela para saber sobre o quadro do Pegasus! – Fechou o celular. – Seu dia de trabalho iria se arrastar pois ele não via a hora de encontrar Marin. – Essa mulher não é comum, isso eu tenho certeza.
- O senhor também não é uma pessoa comum. – Sorento completou e Julian riu enquanto se voltava a visualizar as cotações das ações das empresas Solo nas bolsas de Londres e Paris.
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Aioria terminou de se vestir e foi ter com Shaka na cozinha. Um cheiro forte mostrava que Shaka pelo menos sabia fazer com que a comida cheirasse bem.
- Se o gosto estiver tão bom quanto o cheiro... – Brincou entrando no ambiente.
- Pode se sentar, não vai demorar muito. Ah, e mais uma coisa: não se acostume com isso.
- Não se preocupe! Dá próxima vez eu faço questão de cozinhar e ainda pego uma daquelas garrafas de vinho que o Garan tanto gostava pra você. Aliás, onde você aprendeu tanto sobre vinhos?
- Onde não, e sim, com quem eu aprendi. Foi com Kamus, os pais dele trabalhavam em uma plantação de uvas antes de morrerem e ele vir pro Santuário. – Falou com um ar pensativo e saudoso.
- Kamus? Nunca iria imaginar que ele apreciasse vinhos... Nem todo francês é... Bem... Como posso dizer? ... Francês! Vocês eram muito próximos, não?
- Sim, éramos bastante ligados. – Se limitou a dizer. – Vamos, rapaz, hora de comer. Sirva-se!
Aioria se serviu e devorou a comida – Shaka, está delicioso! O que é isso? E apontou para os pratos dispostos sobre a mesa.
- Essa entrada é Alu Moomphali Chaat. E nosso prato principal é Tamatar Wali Machli acompanhado de uma salada de Raita e Jeera Pulao.
- Será que você pode traduzir o que estou comendo, por favor? – Sorriu e deu uma garfada no prato.
- Vamos pela ordem: a entrada é feita de batata cozida com amendoim e especiarias. Nosso peixe é temperado com leite de coco e o arroz cozido com cominho em grão. Mais indiano, impossível.
- Estou vendo que a Índia tem maravilhas que eu, um mero ocidental, desconheço! Por favor, me apresente a essas maravilhas!
- Se você deixar de ser cabeção... Tudo acontecerá a seu tempo e você não irá se arrepender.
- Não sei por quê, mas quando você usa esse tom profético, fico receoso.
- Seus receios, medos e cuidados foram os responsáveis por sua ruína mental até hoje, meu amigo.
- Falando assim parece que você me conhece melhor do que eu mesmo, Shaka. Bem, mostre-me o caminho da disciplina mental que eu realmente quero trabalhar essa face de minha existência tão... Vazia.
- Siga-me, Aioria. – Levantou-se.
- Onde vamos? – Perguntou muito curioso.
- Vou lhe apresentar alguns princípios do Hinduismo. Embora eu seja Budista, existe muita sabedoria nas compilações de Vatsyayana e creio que todos, independentes de suas crenças deveriam conhecer. – Mesmo com os olhos fechados, voltou o rosto na direção de Aioria. – Tem certeza de que é isso que deseja? Pode voltar atrás, mas ao entrarmos na Casa de Virgem deverá seguir em frente até onde suas forças agüentarem. Isso não é uma disciplina como cavaleiro e sim como ser humano, como o homem que você é.
- Eu preciso controlar meus sentimentos. Preciso aprender a lidar com aquilo que vive dentro de mim. Não posso permitir que cenas como a que protagonizei com Marin aconteçam novamente. – Estufou o peito. – Não sei o que me aguarda, mas pretendo usar minha força para que eu conscientemente faça meu destino e não meu lado negro. Não, meu lado negro não vai assumir o controle da minha vida. – E seguiu Shaka rumo a Casa de Virgem.
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Kannon não conseguia relaxar. Seu corpo não o obedecia, e sua mente estava viajando não muito longe de seu corpo. – Milo precisa ser domado, controlado. Farei com que ele implore por isso. – Pensou enquanto finalmente sentia os músculos de sua mão respondendo a seu desejo de se movimentar. Mais lento do que desejava, conseguiu se sentar na cama. A julgar pela escuridão do ambiente... Já deveria ser noite.
Ia começar a vestir sua armadura quando percebeu que estava sendo observado. – Sim, Escorpião, estou inteiro pra sua infelicidade. Não foi meu dia de morrer.
- Se você morre na minha Casa, eu teria problemas, Kannon. Já tive que explicar pra Atena e o mundo todo o que aconteceu na sua casa. Agora você me deve uma explicação. Falou enquanto batia impacientemente o pé esquerdo no chão.
- Não há nada de mais, rapaz. Eu expulsei os demônios que viviam na Casa de Gêmeos e pretendo fazer o mesmo com os que estão em Câncer. Esses vão dar mais trabalho, já que transformaram completamente o falecido Cavaleiro de Câncer em um ser completamente amoral.
- São demônios, Kannon. Eles simplesmente não desaparecem no ar. – Arregalou os olhos mostrando sua incredulidade. – Eu quero entender como é que você os expulsou! Nem os deuses são capazes de controla-los, como é que você conseguiu? Me explica!
- Eu pensei, num passado muito distante, que eu podia controla-los e deixei-me tomar por eles. O amor de Atena por mim foi maior e me deu forças para vence-los, e essa força é a que uso para mandar esse mal ancestral embora. Eu sei como eles pensam, sei o que são e por isso posso combate-los. Bem e mal não faces da mesma moeda, Milo. Todo ser humano precisa aceitar a dualidade de sua alma e deixar o maniqueísmo judaico cristão de lado.
- Nossa... Estamos filosofando! – Milo falou ironicamente.
- Se você quer entender o poder de um cavaleiro, precisar ser um homem completo antes. Vocês usam a Ágora para quê?
- Oras... Você não sabe do que está falando, Kannon. Vai saber como usamos a Ágora quando pisar nela.
- Vai manter sua palavra e não freqüentá-la se eu estiver lá? – Sua voz foi levemente triste.
- Depois que você expulsou os Demônios... Bem, estou disposto a dar-lhe uma chance.
- E você está incluso nessa chance? – Falou com sensualidade na voz.
- Depende. Se algo além do seu poder de cavaleiro me interessar, talvez eu considere um relacionamento casual. – A naturalidade na voz de Milo era impressionante, afinal de contas, sexo era... Somente sexo. Ele não era hipócrita, nem um falso moralista para se privar de prazer por não estar apaixonado. Não por Kannon. – Shaka saia da minha cabeça agora! – Pensou. – Não torne minha miserável vida em algo mais difícil.
- Em primeiro lugar, você tem que estar de acordo com tudo o que vamos fazer. E eu lhe dou minha palavra de que será absolutamente seguro. Se, em algum momento você achar que estou ultrapassando seus limites, iremos combinar uma palavra de segurança e eu pararei o que estivermos fazendo na hora. São, seguro e consensual, assim deve ser.
- Você está me deixando intrigado... O que é? Um jogo? Pêra aí... Já ouvi falar disso... Você está me propondo uma prática BDSM? É isso que eu entendi!
- Exatamente isso. Creio que eu poderia lhe ensinar muitas coisas nessa área. Você já deve ter usado uma algema em sua alcova em algum momento de sua vida, não? Qualquer um pode usar uma algema na cama, mas... Existem técnicas e modéstia a parte, domino-as muito bem.
- Você despertou minha curiosidade. Mas eu não confio em você ao ponto de me entregar a uma prática dessas.
Kannon respirou fundo, pronto para iniciar seu discurso.
- Desde que vive em sociedade o homem invariavelmente esbarra em problemas de relacionamentos afetivos ou não, ligados ou não a sua sexualidade. Não raro é que nos encontrarmos perplexos diante das atitudes de algumas pessoas e nos perguntarmos, internamente, o que poderia ter levado aquela pessoa a fazer o que fez. Não que o que ela tenha feito seja certo ou errado, mas sim porque o que ela fez não era o que "nós" esperávamos que fizesse ou simplesmente porque o que fez nos causou espanto.
Milo não esboçou nenhuma reação. Limitava-se a ouvir. E ele continuou.
- A moral pode ser um dos principais aspectos que se possa observar em alguém para que possamos qualificar aquele alguém como um possível parceiro ou parceira para o nosso convívio, nossa amizade, nossa prática BDSM. Eu te observei, Milo. Vi que você não tem preconceitos, por isso toquei nesse assunto. Se você não confia em mim, como cavaleiro é uma coisa, agora se não confia em mim como homem... É outra coisa e podemos resolver isso muito facilmente.
Enquanto Kannon fazia seu longo discurso, Milo se concentrou em estudar sua postura, interpretar seus gestos. Não havia nada que contrariasse as palavras de Kannon. Seu cosmo estava tranqüilo e tinha aquela tonalidade meio azulada que ele vira quando Kannon baniu os demônios. Engraçado... Mas era diferente do tom geralmente dourado dos cavaleiros de ouro... Certamente por que Kannon possuía a verdadeira fé. Mas quanto a isso... Milo só poderia especular.
- Você é muito convincente, Kannon. Estou curioso por isso, vamos fazer um pequeno teste. Se eu gostar, continuamos, se não, paramos, certo?
- Completamente de acordo. – Respondeu sem esconder seu ar de contentamento.
- Essa nossa conversa foi tão técnica e tão automática que estou surpreso. Geralmente as pessoas se jogam em cima de mim. – Riu Milo.
- E você gosta disso? – Kannon falou demonstrando interesse.
- Bem, digamos que eu estou acostumado.
- Não gostaria que isso fosse diferente? Que você é que perdesse o controle e implorasse para ser possuído? – Kannon se aproximou de Milo, mas não muito. Apenas o suficiente para que Milo sentisse seu cheiro e o poder que emanava de seu corpo. Kannon se concentrou para trazer a tona sua perícia em Dominar.
- O que você está fazendo? – Disse Milo com dificuldade.
- Não fiz nada, Milo. Apenas dei um passo e você sentiu o poder que possuo, não sentiu? No BDSM, freqüentemente, um parceiro assume o papel de dominador e o outro assume o papel de submisso, estamos definindo nossos papéis.
- Sim, eu senti, quero dizer, sinto. – Falou meio confuso.
- E você agora percebe que pode confiar em mim? – Perguntou com o tom de voz autoritário, mas ao mesmo tempo amável, sereno. Um paradoxo que começara a excitar Milo.
- Sim, eu... Acho que sim... – Algo dentro dele dizia que Kannon era confiável. – Quero dizer, você é confiável.
- Aproxime-se, Milo. – Seus corpos se tocam levemente e Kannon se distanciou aproximadamente uns vinte centímetros de Milo.. – Aproxime sua boca da minha. – Sussurrou. – Milo sentia a respiração de Kannon. Era suave, não se alterara em nada! Enquanto a sua... Precisou fechar os olhos e se concentrar, mas o calor que o corpo de Kannon emanava não permitia indiferença. – Abra os olhos, Milo. – A voz foi novamente suave, olhe bem nos meus olhos e diga o que quer de mim.
- Eu... Nesse momento só consigo pensar em... – Confuso, balançou a cabeça. – Pensar em... Bem, você sabe...
- Não, Milo, eu só saberei se você me falar, não sinta vergonha. – Sussurrou lentamente as palavras como se quisesse saboreá-las. Colocou-se a caminhar bem próximo ao corpo de Milo, rodeando-o.
- Eu quero que você me beije! – Falou de uma vez. – Céus... O que você está fazendo comigo? Nem está me tocando e eu estou assim... Quase descontrolado!
- Para que eu te beije, você terá que se provar digno. – Falou em meio a seus cabelos, bem na nuca de Milo. Tão logo terminara a frase afastou seu corpo. – Muito bem! Tivemos um ótimo começo, rapaz. Continuamos amanhã. Preciso descansar. – Sua voz soou animada e diferente, quase normal. E Kannon deixou Milo parado, sem entender nada do que tinha acontecido.
- Se eu não paro naquele segundo... Não me responsabilizo pelos meus atos e estrago tudo com Milo... – Pensou, enquanto admirava a noite que caia sobre o Santuário. Finalmente permitiu-se relaxar após os pouco mais de cinco minutos de tensão entre ele e Milo. – Melhor eu tomar cuidado, se não posso... Não, não posso me envolver com ele, isso é apenas... Droga. – Recusou-se a continuar pensando naquele assunto.
Ao entrar na Casa de Gêmeos, dirigiu-se para a ala residencial. No quarto que um dia pertencera a Saga, ele entrou e deixou-se cair, completamente exausto na cama.
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Mal o dia havia amanhecido e Milo já executara praticamente todas as tarefas da manhã. Isso incluía passar a rotina de treino de Hyoga, nada muito sério, apenas um aquecimento para o rapaz que ainda se recuperava da perda de um olhos.
Discretamente desceu até a Casa de Gêmeos. Silêncio absoluto. Parecia que o lugar nunca havia sido habitado. Caminhou pelos corredores. Nada. Absolutamente nada. Foi então que ouviu pesados passos em sua direção. Virou-se e prendeu a respiração.
Kannon vestia uma justa calça de couro envelhecido, um coturno que ia até seus joelhos, com várias fivelas em suas laterais. Uma camisa de tela preta de mangas compridas deixava em evidência seu tórax másculo, usava luvas de couro e sobre seus pulsos tiras de couro com taxas e spikes formavam uma imagem gótica, surreal, tamanha era a beleza do conjunto "Kannon Gótico". Seus cabelos estavam completamente soltos, indomados. Sua expressão séria carregava um leve toque de distância e tristeza. Com a aproximação de Kannon, pode sentir o másculo perfume com notas de especiarias orientais e madeira. Combinavam perfeitamente com aquela visão que Milo não esqueceria tão cedo.
Kannon fez um gesto pedindo silêncio a Milo e em seguida outro para que o seguisse. Milo agradeceu aos céus por não precisar falar, pois não conseguiria. Não sabia o que fazer e nem qual parte do corpo de Kannon olhar, tamanha riqueza do conjunto. Caminharam em silêncio por longos corredores, era como se estivessem em um labirinto. Finalmente pararam, Kannon indicou uma porta para Milo.
- Troque-se lá dentro. Estarei te esperando na Dungeon. – Apontou uma pesada porta dupla de madeira talhada com cenas extremamente sensuais. Milo se limitou a obedecer. Entrou no lugar indicado. – Uma sala de banhos... Viu sobre uma bancada de mármore apenas um tapa sexo de couro e um hobbie de seda preto. Ainda não sabia o que aconteceria e esta incerteza o angustiava na mesma intensidade que excitava.
Angustiado, mas excitado. Sabia que tinha começado algo que não tinha a menor idéia de onde poderia parar. Mas estava começando a se sentir atraído por esse homem doce e ao mesmo tempo, tão forte. Milo adentrou a Dungeon.
Sentiu um leve cheiro de incenso de rosas misturar-se ao odor das velas de cera de abelha que davam uma iluminação surreal ao ambiente. Uma música triste, quase um lamento podia ser ouvido. Era uma mistura de sons medievais com a voz de uma soprano e instrumentos mais modernos, um paradoxo que despertada sua audição.
Findo o choque sensorial e olfativo, seus olhos percorreram as paredes de pedra pura, nuas, sem nenhum revestimento, sem janelas, a única entrada era a porta atrás de si. Tapetes grossos cobriam o chão e a sala era ampla. Se espalhavam vários instrumentos que ele não conseguia imaginar para que seriam usados e outros que ele poderia imaginar para que serviriam, isso incluía uma mesa de pedra bem ao centro da sala com grossas correntes a circunda-la.
Mas o que lhe chamou a atenção foi um trono em madeira escura e veludo vermelho contra uma parede mais ao fundo, sobre ele uma bandeira onde estava um símbolo que Milo já vira em algumas reportagens sobre BDSM. – Deve ser o símbolo que os praticantes de BDSM usam... – Pensou. Na parede ao lado do trono uma imensa coleção de chicotes e outros artefatos que fizeram Milo arregalar os olhos.
Não viu Kannon, mas sentiu que estava atrás de si. Um ranger da porta se fechando se fez ouvir. Imóvel, Milo permaneceu se deliciando com o perfume de Kannon misturando-se ao incenso de rosas. Sentiu a mão enluvada dele pegar em sua mão direita convidando-o a dar mais alguns passos. Pararam próximo a mesa de pedra.
- Irei ensina-lo a transformar a dor em prazer, Milo. – Sussurrou. – Vou imobilizar seu corpo, deixando apenas que se comunique quando eu ordenar. Caso sinta que não irá suportar, deve dizer a safe world: Caminho. Interromperemos imediatamente. Kannon se colocou a frente de Milo e desamarrou o Hobbie, em seguida fez com que o mesmo deslizasse rumo ao chão, agora Milo estava a mercê dos caprichos de Kannon e isso não o incomodava, pelo contrário.
Kannon pegou uma echarpe preta, dobrado-a para ser usada como uma venda. – Feche os olhos. – Ordenou. Milo sentiu a leve respiração de Kannon enquanto ele ajeitava com mãos seguras a venda em seus olhos. Passados alguns segundos, ele teve a sensação de que a música era mais profunda, intensa.
Kannon segurou em seu braço e o guiou até pararem em outro ponto da sala. Milo ouviu o barulho de correntes. – Erga os punhos, Milo. – Ele ergueu e sentiu suas mãos serem cruzadas e presas a uma algema de couro presa em uma corrente sobre sua cabeça. Depois sentiu que outra algema com correntes era colocada em suas pernas, prendendo-o ao chão.
Milo ouviu as luvas serem tiradas das mãos de Kannon, um frasco foi aberto e logo sentiu algo gelado em contato com sua pele... Um cheiro... Menta! Kannon deslizava suas mãos pelas costas de Milo com firmeza espalhando aquele delicioso óleo.
Sentir-se preso com os braços esticados sobre a cabeça, naquela escuridão causada pela venda, os cheiros e os sons dominavam seus sentidos. Não sabia o que Kannon faria a seguir. Seus sentidos estavam em alerta. A respiração ofegante, o coração em descompasso, batendo forte. O corpo respondendo às carícias das fortes mãos a espalhar por todo seu corpo aquele óleo. Tentou se concentrar nas mãos dele, mas eram tantas sensações que Milo achava que ia explodir.
Ele gemeu. – Kannon sorriu ao ouvir o gemido incontido de Milo. – Milo deixou a mente vagar, sem rumo, sem pensar, apenas sentir. Entregou-se aquelas mãos. Mãos que habilmente o tocavam, no lugar certo, na medida certa. Sua jornada de prazer começou. Totalmente no escuro, amarrado, sentia a presença de Kannon e suas maravilhosas mãos. Seus dedos a provocar sua pele, massageavam, tocavam, apertavam, beliscavam. Sentia sua respiração se tornando cada vez mais ofegante, sua boca estava seca. Kannon se afastou e Milo se sentiu abandonado. Como se tivesse lido seus pensamentos, sentiu um cálice de metal ser colocado entre seus lábios e o líquido fresco desceu acalmando sua garganta.
Sentiu seu tapa sexo ser desamarrado. Kannon iniciava agora uma massagem com o óleo em seu membro já túrgido. Ele se sentiu perdido naquele mar de prazer, tesão e desejo. Não conseguia acreditar que pudesse sentir tantas sensações ao mesmo tempo. Nas poucas vezes que tentou pensar sua a cabeça deu voltas. Desistiu. Deixou-se levar pelas sensações. Eram incríveis demais. Parecia estar no meio de um rodamoinho, que o sugava cada vez mais para o fundo.
Slapt! O primeiro tapa o fez prender a respiração. A mão espalmada de Kannon desceu com força nas nádegas de Milo. Tentou soltar um grito que não deixou sua garganta. Outro tapa, quase no mesmo lugar. A pele ardia. Como é que ele podia estar sentindo esse prazer? Com um tapa? Mas a dor era prazerosa. Estranhamente prazerosa.
Sentiu as mãos de Kannon acariciando novamente suas nádegas. Apertando, cravando suas unhas em sua pele. Beliscando-o. Ele começou a perder o eixo no turbilhão de emoções e sensações. Sentia que o gozo chegaria a qualquer segundo. Então ouviu Kannon com voz, alta, clara, forte. - Não ouse gozar sem minha ordem! Sem me pedir! Entendeu?
Céus, ele não deveria ter falado aquilo. Milo sentiu seu coração quase na boca. Batendo forte, parecia que iria deixar seu peito, tamanho era seu descontrole. E sem nenhum aviso, Kannon colocou um dedo em seu orifício, entrando com força, de uma estocada só, dentro dele. Enchendo-o. Instintivamente, ele contraiu os músculos. Outro dedo. Finalmente o terceiro e como se não fosse suficiente intensificara também a massagem em seu membro que latejava de dor. Precisa colocar tudo aquilo para fora, e rápido!
Aquelas estocadas, fortes, seguras, que faziam seu corpo se mover na mesma direção, tentando acompanhar seu ritmo. Ele gemeu, quase um choro. Mais uma vez se sentiu engolfado por ondas de prazer. Gemidos que mais pareciam gritos. Sentia o seu gozo a ponto de explodir.
- Não goze antes de me pedir! Implorar! Só eu posso te dar permissão para isso! – Kannon repetiu ao sentir que Milo não iria agüentar muito mais tempo.
Ele finalmente pediu. Sem acreditar que era sua própria voz que ouvia, quase inaudível - Por favor, por favor...
Kannon estava muito concentrado em levar Milo a loucura, mas nem mesmo assim deixou transparecer o quanto aquele pedido o excitava. E sua voz se sobrepôs com facilidade a de Milo. – Peça, implore, alto!
Não era ele que estava ali, era outro homem. Um homem que não sabia existir dentro de si. Em fúria, completamente enlouquecido, fora de controle. Quase gritando ele obedeceu. – Kannon, por favor! ... Me deixa gozar! Não agüento mais! Por favor!...
- Agora sim! Goze para mim! Vamos!
Ele gozou. O corpo em espasmos. Ondas. No meio da loucura toda, sentiu no rosto um forte tapa, perto da boca, a dor se misturou com o prazer e seus quase gritos. Com a respiração totalmente fora de controle sentiu sua cabeça explodindo em cores. Luzes. Um gozo infindável. Aos poucos foi diminuindo. A intensidade. A loucura. O calor.
Quando tudo estava terminado sentiu Kannon desamarrando sua venda. Seus olhos demoraram a se acostumar com a luz das velas, a música... Ainda estava lá. Em seguida ele retirara as algemas que prendiam seus pés e por fim as algemas que prendiam seus braços sobre a cabeça. Milo sentiu-se levemente tonto e se apoiou em Kannon. Olhou-o com admiração. Notou que Kannon estava tão arrumado no final do ato quanto o estava ao inicia-lo. Seus olhos brilhavam ao encarar Milo. Kannon se afastou, sentou-se no trono vermelho, cruzou as pernas e pôs se a observar Milo.
Milo, abaixou-se para pegar o Hobbie e vesti-lo.
- Milo, não dei ordens para você se vestir. Venha. Sente-se aos meus pés. – Controle-se Kannon, ele confia em você, entregou-se. É sua responsabilidade cuidar dele, disciplina-lo.
- Sim... – Sussurrou Milo, enquanto caminhava sem desviar os olhos daquele olhar hipnotizante que Kannon lhe dirigia. Sentou-se no chão, aos pés de Kannon que afagou-lhe carinhosamente os cabelos úmidos pelo suor. Aquele carinho fora tão espontâneo que Milo sentiu-se completamente protegido e que agora, verdadeiramente poderia confiar no homem a sua frente.
- Seu corpo gostou de nosso primeiro encontro, Milo. Agora quero saber o que sua mente pensa a respeito. Deseja continuar?
Incrível! Como a voz de Kannon podia ser firme e suave ao mesmo tempo? – Sim, eu senti que há um mundo de possibilidades a serem exploradas e que posso confiar em você ao me guiar nessas novas sensações. Foi... Fantástico.
- Você precisa entregar tanto seu corpo, quanto sua mente a mim, em nossos encontros. Minha responsabilidade é dar-lhe prazer e também discipliná-lo caso quebre as regras que eu criar para você. Quando estivermos entre essas quatro paredes, sou o centro do seu universo, fora daqui, somos apenas colegas, cavaleiros.
- Sim... Entendo. – Milo não entendeu por quê, mas não gostou da parte em que fora dali eles eram apenas colegas. – E também concordo com isso.
- Muito bem, sendo assim, dar-te-ei um livro para que leia e entenda seu papel na nossa relação e também entenda onde me encaixo em tudo isso. – Kannon estendeu um pequeno livro com uma capa preta de couro, no centro havia um desenho igual ao da bandeira que estava acima de Kannon.- Agora... Pode se retirar, e... Obrigada por me propiciar momentos tão... Vivos. – Seu tom fora sincero e amável.
Milo levantou-se, vestiu o hobbie, deu um pequeno sorriso para Kannon logo em seguida saiu. – Milo... Por favor, feche a porta.
- Claro. Até mais! – Fechou a pesada porta atrás de si indo direto a sala de banhos. Se sentia completa e absolutamente diferente. Aquilo realmente o surpreendera, não imaginava que fosse gostar tanto de uma sessão BDSM e pelo visto, Kannon tinha muita experiência no assunto. O que mais lhe chamara a atenção foi o modo tranqüilo com que Kannon conduzira o ato. Não se lembrava de ouvi-lo sentir prazer, ou perdendo o controle, fizera dele o centro de todo o ato, quase como se estivesse se punindo ao privar-se de prazer. Ou talvez fosse uma forma diferente de sentir prazer. E ele estava disposto a experimentar.
Kannon ouviu a porta se fechando com alívio. Finalmente desmontou. Deixou a pose imponente de lado e se deixou relaxar completamente na Dungeon. – Quase perdi o controle da situação... O corpo dele é tão perfeito... Ele realmente se entregou, sem medo, sem reservas... Céus... Não, eu não posso, definitivamente não posso me envolver com ele além disso. Mas não foi apenas o jeito que ele se entregou e sim, Ele que mexeu comigo. De manhã ele me soca querendo me matar, e de tarde eu proponho para ele ser meu slave? Isso não combina comigo.
Caminhou de um lado para o outro na sala, tentando entender o que estava fazendo, finalmente sentiu que Milo deixara o local, respirou fundo. – Vamos, Kannon. Você não estava procurando por isso há muito tempo?
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Caramba, foi tão difícil escrever esse Lemon com cena BDSM! Pesquisei muito (palmas pro Google)!
Queria agradecer o carinho de quem tem deixado reviews e avisar que agora não apenas as pessoas que tem registro aqui podem deixar, por isso, escrevam se quiserem, ok? Fico muito feliz com os comentários.
Queria desejar um FELIZ ANIVERSÁRIO atrasado pra minha Mestra, Virgo-chan!
Ah e também agradecer a Amanda pelo carinho e incentivo. Prometo que vou tratar nosso Leãozinho com todo o carinho que ele merece!
