Esse capítulo demorou a sair... Confesso que desanimei em escrever essa fic. Vou termina-la antes do que eu esperava. Esse capítulo é um interlúdio que antecederá os capítulos finais, que, espero, não tardem a chegar.
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Como o combinado, Julian Solo pegou Marin no bairro dos artesãos para jantarem. Ele sugeriu uma vila de pescadores cerca de trinta quilômetros de Atenas e ela concordou. Conversavam animadamente no carro sobre amenidades e piadas. Muitas piadas infames do mundo dos negócios em que eles viviam fizeram Marin rir até sentir dor em seu rosto.
- Para que eu num agüento mais rir! – Ela pediu colocando as mãos no rosto.
- Tudo bem! Vou me esforçar para ser um homem sério. – E fez uma careta para ela que novamente caiu na risada. – Olhe! Estamos chegando! – E apontou na direção das poucas luzes da vila.
Desceram do carro, bem em frente ao porto, recheado de pequenos barcos. Em frente, um pequeno restaurante onde entraram.
- Eu sempre vinha aqui com meu pai, antes dele morrer. Era uma época muito feliz da minha vida. -Falou com um nó na garganta.
- Oh, eu sinto muito por sua perda, Julian... – Ela respondeu, com a voz suave tentando conforta-lo. – Eu sou órfã, não tenho pais, mas... Gostaria muito de tê-los conhecido.
- Órfã? Mais que destino terrível, Marin! Perto de minha perda, a sua é infinitamente mais dolorida.
- Eu penso que, se os tivesse conhecido talvez sentisse a falta deles, mas como não os conheci... Não posso sentir a falta deles. Por isso, creio que o seu destino é mais cruel, Julian. Seus olhos são muito tristes, carregados, eu vejo e sinto isso em você.
Julian ficou sem palavras. Limitou-se a encara-la e tocou a mão dela sobre a mesa. – Estou gostando muito de sua companhia, Marin. Sei que pode parecer exagero, mas são poucas pessoas em quem eu sinto que posso confiar... E apesar de não te conhecer alguma coisa me diz que você é justa, bondosa, uma pessoa maravilhosa e eu concordo com minha intuição.
Os dois se olharam longamente, como se estivessem buscando ver a alma um do outro, buscando uma paz que nenhum deles sentia.
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Sorento já estava na vila de pescadores quando Julian e Marin chegaram. Tétis havia seguido-os discretamente na estrada para certificar-se de que Julian não sofreria nenhum atentado ou tentativo de seqüestro. Os dois deixaram seus carros discretamente estacionados atrás do restaurante e sentaram-se em meio aos barcos dos pescadores.
Sorento sacou sua flauta e começou a tocar, Tétis ouvia em silêncio o lamento da flauta do amigo.
- Toque alguma coisa mais alegre, Sorento!
Ele parou de tocar, e olhou para o mar. – Acho que eu só conseguirei tocar algo alegre quando mestre Julian se casar, Tétis.
- Vamos torcer para que ele e essa japonesa se entendam! E que ela possa dar um filho ao Mestre.
- Isso tem que ser rápido, ele não tem mais do que um ano de vida pela frente... – Sorento sentiu uma lágrima escorrer por sua face.
- Precisamos de um milagre... – Ela completou pensativa. – Se eu não fosse estéril...
- Não fale assim, Tétis. Você não tem culpa disso. – Repreendeu-a.
- Temos que encontrar Kannon, Sorento! Ele precisa pagar pelo que fez a mestre Julian, não era o momento de Poseidon encarnar e agora o último Solo está prestes a morrer!
- Estou fazendo tudo o que posso! – Falou irritado. – Será que estava mesmo? – Pensou.
Novamente ele colocou a flauta nos lábios e tocou.
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Milo estava com cara de poucos amigos naquela noite. Tão logo deixara a casa de Gêmeos recebeu através de um mensageiro um bilhete de Kannon, ele estava cancelando a sessão que teriam no dia seguinte.
- Por quê ele fez isso? – Se perguntava. Anormalmente naquele dia pós sessão, ele não pensara em Shaka em nenhum momento.
- Ele quem? – Perguntou Hyoga sentando-se ao lado de Milo.
- Não é nada, obrigado por se preocupar. – Respondeu. – Enxerido! Pensou.
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Kannon considerou todas as hipóteses, todos os caminhos possíveis e a conclusão que chegou não foi nenhum pouco agradável.
Precisava acabar com seu relacionamento "amigável" com Milo antes que algo maior surgisse entre eles.
- Foi só uma sessão, só isso. – Repetia para si.
Não controlou o impulso que o levou a propor tal coisa ao escorpião. E agora se culpava por isso e precisava parar. Parar antes que fosse tarde demais.
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Aioria seguiu Shaka em silêncio absoluto até a Casa de Virgem. Entraram na ala residencial e Skaha pediu ao amigo que esperasse no salão principal. Uma decoração austera, sem excessos e de muito boa gosto revestia o imenso salão. Em meio a sua analise do local, Aioria foi interrompido pelo anfitrião que retornara muito rapidamente e desta vez com um pesado e grande livro de capa vermelha. Estendeu o livro para Aioria que somente arregalou os olhos, espantado. Tentou falar algo, mas sua surpresa era tanta que... A voz não saiu.
- Antes de qualquer coisa, o Kama Sutra é um livro de etiqueta baseado em preceitos sagrados indus. Ele aborda diversos aspectos da vida cotidiana, como por exemplo: se relacionar com as pessoas, encontrar o par ideal, obter sucesso e cuidar de seu templo pessoal. Se você só conseguiu pensar no guia com as posições eróticas, não posso culpa-lo. Apenas a parte erótica foi trazida para o ocidente pelo britânico Richard Burton. Somente há quatorze anos, essa tradução completa que está em suas mãos chegou no ocidente.
- Eu nunca tinha pensado nisso. Pra mim isso aqui. – Apontou pro livro – Era um guia de superação de perversões. Mas se você diz que não é, só me resta acreditar no que diz. – Disse meio desconfiado, e isso não passou desapercebido por Shaka, teria que ser mais enfático.
- Desde tempos muito remotos, por vezes mesmo anteriores ao que chamamos pré-história, pensadores indianos têm se perguntado questões acerca da natureza do mundo e do papel do homem dentro da criação. Eles consideravam a matéria como sendo formada por átomos, células constituídas por elementos energéticos, organizadas de acordo com fórmulas matemáticas que definem os vários elementos sob formas relativamente estáveis e permanentes. Até aqui, nada é novidade para você.
- Esse é o principio que todos nós cavaleiros conhecemos para dominar o sétimo sentido. – Disse, abrindo o livro e logo se arrependendo de faze-lo, por cair exatamente na parte de imagens eróticas. – Como eles conseguem fazer isso? Não, não responda minha pergunta, Shaka! – E riu.
Shaka realmente teve que conter uma risada tentou manter o tom sério. – Essa é a parte importante, Aioria, preste atenção. A vida apresenta um problema diferente: sendo baseada em fórmulas, com códigos definindo as peculiaridades das várias espécies, ela somente existe se for transmitida por meio de ligações temporárias. A espécie humana é permanente, sim, mas cada ligação só se dá por um dado período finito de tempo. Uma vez tendo transmitido o código que define sua natureza, ela (a espécie) é automaticamente destruída. Durante sua breve existência, cada ligação necessita para sua própria subsistência e autotransmissão: consumir energia, nutrir-se e proteger-se. Além disso, existindo apenas como uma espécie, os seres humanos formam comunidades independentes e devem observar regras de comportamento social. Deste modo, possuem obrigações como a Ética que formam parte da natureza deles. Isto é particularmente importante para a espécie humana.
- Deixe-me ver se entendi o que você disse... Nós temos um tempo de vida e o que nos torna realmente humanos é a transmissão de valores e claro que tais valores não são imutáveis, mas adaptáveis ao tempo que existimos? É esse período de vida de cada ser que molda a egrégora do pensamento e, mesmo assim, para manter sua identidade como espécie existem certos padrões de comportamento que são herdados e devem ser trabalhados? Isso está muito antropológico pro meu gosto, Shaka.
- Fica calmo que agora vamos entrar na parte filosófica e prática desse pensamento. A vida, assim, necessita de três tipos de atividade: Primeiro assegurar sua sobrevivência, seus meios de existência e sua nutrição; segundo, perfazer sua reprodução de acordo com formas de atividade geralmente ligadas à sexualidade; terceiro e último, estabelecer regras de comportamento que permitam a diferentes indivíduos realizarem seus papéis dentro do contexto da espécie. Na sociedade humana, isto é representado como três necessidades, três objetivos da vida: bens materiais (artha) asseguram a sobrevivência; a prática erótica (kama) garante a transmissão da vida; e regras de comportamento, uma natureza moral (dharma) garante a coesão e duração da espécie. Um quarto objetivo representa a percepção do sobrenatural e a existência continuada de certas aquisições da mente além dos limites da vida, e é chamada libertação (moksha). Este aspecto é contemplado pelo que se chama "religião", mas permanece um domínio separado dos outros.
- Eu nunca em minha vida pensaria tantas coisas a respeito do Kama Sutra. Quem diria que um aparente trabalho pornográfico, seria um grande estudo sobre os aspectos essenciais da existência humana! Shaka, você realmente me surpreende!
- O Kama Sutra não é uma obra original, e sim uma compilação de toda a sabedoria indiana, Aioria. Leia e acima de tudo, reflita a respeito e assim você encontrará seu caminho para lidar com o extremismo das suas emoções.
Despediram-se e Aioria deixou a Casa de Virgem cantarolando com o grande e pesado livro nas mãos.
Embora em seu intimo se sentisse arrasado, começava a sentir que superaria o catastrófico episódio onde, definitivamente afastara Marin de sua vida.
E era isso que seu amigo Shaka queria. Ver o Aioria de sempre, mas agora... Quem sabe um pouco menos cabeçudo? Aioria era muito inteligente, mas não se sabe por que, preferia deixa tal qualidade passar como algo secundário.
O conhecimento que ele tinha em relação às interações subatômicas (física quântica) eram de cair o queixo, já havia demonstrado esse conhecimento avançado em vários debates que os cavaleiros de ouro tiveram na Agora e de fato, esse conhecimento técnico ajuda em muito a elevar o cosmo, por isso, entre todos os companheiros, ele era realmente o mais rápido cavaleiro.
Mas... Havia aquele, "porém": proporcionalmente a sua inteligência havia seu orgulho e teimosia.
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Julian e Marin terminaram o jantar tão animadamente quanto o haviam iniciado. Caminharam um pouco pela pequena praia próxima.
- Gostaria de te ver outra vez, Marin. – Ele falou quando pararam.
- Eu gostei muito da sua companhia, Julian. Mas minha vida é realmente um pouco enrolada, não tenho horários, nem datas... – Tentou desconversar, mas sabia que no fundo era a mais pura verdade.
Eu não acho que isso seja um problema... Quando você estiver em Atenas nos encontramos e nos divertimos como fizemos hoje a noite, a não ser que... Você não queria minha companhia... – Ele falou encarando-a.
- Não! Quero dizer, quero sim! É que.. Deixa pra lá... Eu te ligo quando estiver em Atenas.
Chegaram ao carro. Julian abriu a porta para ela, sentindo um grande peso no peito. Não queria que aqueles momentos maravilhosos que passara com ela acabassem. Havia algo de especial em Marin, um misto de força e delicadeza que... O envolviam como nunca antes acontecera em sua vida.
Distraiu-se conversando sobre arte e mais rápido do que esperava estava deixando-a na porta de seu atelier. Pelo retrovisor viu que Sorento e Tétis o seguiam em carros separados, para certificarem-se de que nada aconteceria a ele. Males de sua fortuna. Embora não fosse uma pessoa comum, sentiu-se como um homem mortal, comum na companhia de Marin. E aquela sensação era ótima, era como se um gigantesco peso fosse arrancado de suas costas e ele pudesse finalmente respirar.
Despediram-se e ele teve a certeza de que talvez, dessa vez tivesse encontrado a pessoa certa. A pessoa que partilharia com ele daqueles desejos. Não deixava de ficar surpreso como sua doença mudara sua vida. Antes dela, ele fora arrogante, intratável e agora... Valorizava as verdadeiras qualidades de um ser humano e sabia que seu tempo era curto. Tétis e Sorento tentavam esconder isso, mas no fundo ele sabia que sua doença não tinha cura e seu tempo neste mundo era pequeno.
Uma lágrima veio aos seus olhos. Mas uma lágrima de felicidade. – Obrigado por colocar Marin em minha vida... – Falou olhando fixamente para o volante. Permitiu-se chorar por não acreditar que seu desejo mais intimo estava sendo atendido.
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Marin entrou em seu refúgio bastante pensativa. Julian fora uma companhia maravilhosa durante o jantar que partilharam. E ela teve mais uma vez a certeza de que ele era diferente, mas não sabia dizer exatamente em que. Certamente era rico, e vivia naquele mundinho pequeno e seleto dos muito ricos, mas não era isso que o tornava diferente, era algo mais profundo.
Em meio a divagações, sentou-se diante do cavalete onde uma tela em branco descansava, começou a preparar tintas. Iria pintar um pouco para desanuviar sua mente. Lágrimas começaram a escorrer por seu rosto... Aioria... Havia evitado pensar nele durante o tempo que ficara com Julian, mas mesmo assim vez ou outra a imagem dele vinha-lhe a mente.
Marin tentava entender por quê Aioria a tratara como um verdadeiro objeto. Ele estivera irreconhecível. Aquele não era o homem que ela silenciosamente amara por tantos e tantos anos. Foram tantos anos esperando uma atitude da parte dele e o que ele fizera? Aquilo! Se perguntou se não estava enganada quanto a ele.
De qualquer forma o que ele fizera era imperdoável. E Marin tinha ao menos uma gota de orgulho e auto estima para finalmente entender que houve um ponto final na história deles. História que nunca saiu de um papel. Que amor era esse que só lhe causara sofrimento? E que amor era esse que nunca fora retribuído? Não... Não era amor... E se não era por que ela sofria tanto?
Era amor, ao menos da parte de Marin. Mas não era da parte de Aioria, pelo menos ele deixou muito claro que ela nada mais era do que um objeto que lhe interessava, cuja posse ele queria ter, nada, além disso.
Ela, definitivamente precisava superar a "fase Aioria" e permitir-se viver. Viver de verdade e deixar-se aberta a novas possibilidades. Possibilidades? A única coisa que ela queria era Aioria. Essa fora a única possibilidade em praticamente toda sua vida. Nunca se envolveu muito em seus furtivos relacionamentos, por que acima de tudo estava, ele, Aioria.
No final do dia seguinte ela voltaria para o santuário e precisaria encará-lo mais uma vez. E todos os dias, durante todo o dia. Aquilo seria uma provação e tanto para ela. Não iria agüentar esquecê-lo estando ao lado dele o tempo todo. Pediria dispensa do treinamento de Seiya para Atena. Era a única solução. Se bem que... Marin sabia que mesmo longe, ele ainda estaria em seus pensamentos. Só restava a alternativa de diminuir a dor, por que acabar com ela... Era impensável.
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O tempo literalmente voou e três dias depois da convocação de Atena, o Santuário estava mais movimentado do que nunca. Marin não pode deixar de notar que todos os jovens cavaleiros de bronze estavam radiantes e treinavam com afinco para conseguirem o direito de freqüentar a Ágora e assim, entrarem na fase mais complexa do seu treinamento.
Quanto a ela... Agiu como se nada tivesse acontecido quando encontrou com Aioria. Embora dentro de si quisesse conversar a respeito, mas isso, em se tratando de Aioria só pioraria a situação. Já da parte dele... Reparou que ele a tratava "quase" com o clássico respeito que por um dia abandonara. Estava mais formal, distante e de certa forma ela se sentia aliviada quanto a isso.
Isso não passou batido aos olhos de Milo, Shaka, Shun, Seiya e Ikki que estavam relativamente mais próximos de Marin e Aioria. Alguma coisa acontecera entre os dois e eles haviam mudado completamente no jeito de se tratarem. Antes agiam como amigos (com tendência de se tornar algo mais que isso), agora agiam como um cavaleiro e uma amazona que tentavam se suportar. Shaka era o único que tinha completa ciência do que havia acontecido. Enquanto os outros especulavam sobre o que teria acontecido entre eles para que agissem daquela forma tão distante.
Milo chegou a interrogar Marin a respeito e recebeu respostas evasivas, algo que não era nenhum pouco típico da amazona da qual ele era amigo e confidente. Chegou a pensar em colocar Marin na parede para que falasse, mas ela andava tão triste que... Achou melhor deixá-la resolver a situação daquela forma estúpida e covarde. E quem era ele para julgar o comportamento de Marin?
Era realmente impressionante como o delicado equilíbrio dos "relacionamentos" no santuário mudara naqueles três dias. Milo pensava que Marin e Aioria finalmente se entenderiam, mas acontecera o contrário.
Enquanto ele... Não pensava em outra pessoa a não ser Kannon nos últimos dois dias. Existia alguma coisa errada nisso e o que havia de errado era ele mesmo. Parecia ter o hábito de querer conquistar o inalcançável. E a palavra "conquistar" definitivamente estava perdendo o sabor, a cor. Mais do que nunca ele queria paz, aquela paz que as pessoas buscam em um relacionamento duradouro.
Como cavaleiro sabia da série de limitações que um relacionamento desse porte implicaria em sua vida devotada a lutar por uma causa maior. Bem maior do que sua individualidade. Mas isso não significava que deveria abrir mão de ser Milo.
O problema era exatamente esse: quem era Milo? Realmente não dava mais para continuar levando uma vida regrada por prazeres físicos, era realmente muito bom... Mas ele queria bem mais do que isso. Queria sentir o calor do amor, aquele amor que sempre era lido nos livros, mas poucas vezes sentido na pele.
Kannon que a principio Milo odiava e teria matado sem pensar duas vezes, provocara essas reflexões em seu interior. Uma pessoa cuja maldade no coração fora responsável pela morte de milhões de inocentes e que... Fora capaz de vencer a iniqüidade dentro de seu coração e purificar sua alma em vida. Essa mudança realmente havia impressionado a ele. Impressionado a ponto de fazê-lo agir sem pensar.
Para Milo todo impulso necessitava de um sentido. E a parte realmente difícil era entender o sentido do impulso. Como Cavaleiro de Escorpião ninguém entendia mais de impulsos do que Milo. Nunca demonstrava claramente seus sentimentos, mas estes eram sempre profundos e intensos, por isso era uma verdadeira incógnita: o mistério era sua característica mais marcante.Fachada. E, diga-se de passagem, uma senhora fachada. Kannon conseguira ler em seu interior coisas que ele guardava apenas para si.Verdadeiramente queria libertar-se das experiências desastrosas, abrindo-se para o novo; viver com um pouco mais de leveza, sem enxergar os problemas onde eles não existissem.
Era exatamente esse excesso de cuidado que o mantivera intacto, orgulhoso. Mesmo sentindo muito mais do que admiração pelo cavaleiro de Virgem, conseguira passar incógnito. Mesmo que aquilo tenha levado-o a cometer excessos homéricos para afastar os pensamentos que envolviam a pessoa de Shaka.
Formar vínculos de amor que fossem baseados não apenas nos seus intensos sentimentos, mas numa espécie de aliança espiritual... Era pedir demais? O que lhe atraia em Shaka não era exatamente sua espiritualidade? Mas... Havia uma terceira pessoa envolvida e Milo fora literalmente ignorado e continuava a ser ignorado. Estaria realmente seguindo o caminho correto ou enveredara-se por orgulho em um caminho sem futuro algum?
Era, em demasiado, atraente, sedutor, não havia dúvidas quanto a isso. E agora chegara o momento de usar sua intuição e mergulhar fundo em todas as verdades. Por mais que aquilo estivesse sendo perturbador. Fora negligente e finalmente era o momento de arremessar as máscaras ao chão: em vez de se ater às aparências, voltar a enxergar os corações das pessoas.
Sua vida já passara por muitos altos e baixos. Hora de parar, não? Eram as transformações necessárias ao seu desenvolvimento e à sua evolução. Melhor dedicar-se a compreender a figura intrigante de Kannon do que caminhar sem rumo em direção a Shaka. Mesmo considerando as emoções em primeiro plano, precisava ser um pouco racional e - Quando queria, era capaz de traçar seus planos minuciosamente e ser implacável. – Acorda, Milo!
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Eu pensei em deletar a fic. Estou realmente inconformada com a posição conservadora de muitas pessoas que leram essa história.
Quando alguém conta uma história o que geralmente se faz? Abre-se a mente para o que o autor está escrevendo, mesmo que seja baseado em personagens já existentes. É realmente desagradável receber imposições de como os personagens devem ser ou de quem eles deveriam gostar. Detalhe: não estou generalizando, ok? Curto muito casais clássicos. Mas eu realmente queria escrever algo "diferente".
Eu pesquisei horrores para escrever essa fic. Revi todos os dvds e reli todos os mangás para fortificar as bases e ter idéias. Pesquisei sobre horóscopos alternativos para complementar a personalidade e dar humanidade aos personagens. Li tudo o que podia sobre BDSM e Kama Sutra, além de reler todas as minhas apostilas sobre educação grega na Antigüidade.
Li dezenas de fics antes de decidir-me por escrever uma versão particular da história e finalmente coloquei minha cabeça para trabalhar. Sorry, mas eu me reservei o direito de fugir do tradicional. Se é pra escrever um yaoi ou um lemon sem consistência, pode ter certeza de que não é comigo, tudo o que escrevi até agora está baseado em motivos, motivos que eu trabalharia e muito num futuro, dentro de uma temática adulta.
O que eu queria saber é se o enredo estava bom, se a exploração psicológica dos personagens estava adequada e tal. Eu acreditava que tudo era possível desde que fosse argumentado, mas para isso, quem lê tem que entrar no que escrevo. Escrevo porcamente, isso é um fato. Mas escrevo por que gosto, e se não tenho mais prazer em escrever... Melhor parar, certo?
Infelizmente, minha visão nada clássica de casais em Saint Seiya está me rendendo mais críticas (pela minha opção pelos casais não ortodoxos) do que pela história que eu quero contar, sendo assim... Não tenho realmente vontade de continuar escrevendo.
Peço desculpas as minhas amigas que sempre comentam aqui, mas essa mensagem definitivamente não é para vocês. Não deletei a fic e vou termina-la em respeito a vocês. Obrigada pelo carinho.
