ARRAIAL NO SANTUÁRIO
CAPÍTULO 3 – A FESTA, PARTE 1
Depois que as atividades foram divididas, o Santuário virou uma colméia. O pessoal encarregado das comidas típicas passou horas na Internet pesquisando, assistindo programas de culinária, encomendando ingredientes...
Na casa de Escorpião, até os gêmeos já sabiam narrar a quadrilha, de tanto Milo ensaiar. Camus, no começo, corrigia a dicção em francês do marido, até que Dumas estressou:
-Pappa! Non é pa fala ceito! É pa fala eado mesmo... Qué para?
Depois dessa, Aquário ficou mais uns dias emburrado e foi ajudar o povo da casa de Gêmeos com as bebidas. Shaka se sentava no meio das crianças, a revista com a decoração de uma festa de São João da Paraíba no colo e a cada dia, eles faziam alguma coisa diferente. Cortaram zilhões de bandeirinhas de papel, fizeram lanternas de seda, balões, enfeites para as barraquinhas...
Os cavaleiros de prata e bronze iam ajudar arrecadando prendas, tanto para as barracas quanto para os prêmios menores do bingo. Shiryu fez um mini-curso de fogueteiro, porque esse negócio de fogos de artifício pode estar no sangue de todo chinês, mas não deixa de ser perigoso.
Mas durante o mês que antecedeu o dia da festa, todo mundo trabalhou normalmente, apesar da azafama. Dohko e Saga inclusive participaram de uma reunião importante nas Organizações Kiddo, para o fechamento do semestre. Dessa vez, o nosso "velho sarado" notou algo de diferente na mesa de negociações. Puxou um assessor de lado e perguntou:
-Quem é aquela ruiva?
-Senhorita Liev Kutines. É nossa gerente de operações na Alemanha.
-Não me lembro dela nas outras reuniões.
-Ah, ela estava no segundo escalão até o ano passado. Mas o que tem de bonita, tem de inteligente. E colocou o chefe dela no chinelo... – o rapaz deu uma risadinha. – Acho que o cara não sabe o trator que passou em cima dele até hoje...
Saga olhou para a citada. Alta, magra, cabelos ruivos e olhos violetas. Suprimiu um sorriso, a mulher era mais alta que Dohko. Mas o velho nunca demonstrou interesse real por ninguém... Sentou mais confortável em sua cadeira e montou uma torrinha com os dedos... Seria muito interessante...
E qual não foi sua surpresa quando Dohko pediu permissão à Saori para convidar Fraulein Kutines para a Festa Junina. "Pelo jeito, o último mês rendeu... Não foi à toa que ele não parou muito na Grécia... 243 anos sentado naqueles picos de Rozan não o impediram de conquistar uma gata..." Saga virou uma caneta nos dedos, pensando... Mas o próximo pensamento o fez deixar a caneta cair e se engasgar. Camus, que estava entrando, o ajudou, batendo em suas costas:
-Allez, allez, que é isso? Ta ficando velho e engasgando com a saliva?
-Não é isso... – disse o cavaleiro de Gêmeos, respirando fundo pra se recuperar antes de continuar. – Viu que o Dohko vai trazer a ruiva alemã pra nossa festa?
-Oui. Quem diria? Tanto tempo encruado naquela montanha e agora ele resolveu por as manguinhas de fora...
-Pois então. Imagine que não é só as manguinhas que ele quer por pra fora... Será que... – e Saga começou a sentir que a gargalhada vinha novamente.- ... depois de tanto tempo sem uso, a coisa funciona ainda? – E rachou de rir.
Camus ainda tentou ficar sério. Mas se deixou contaminar. Ele ainda teria que ouvir muito dessas piadinhas, quando a noticia se espalhasse.
Adamantina, uma das irmãs de Aldebaran, veio especialmente pra ajudar a fazer os doces. Afrodite tinha fobia em perder o ponto. Eles nem pensaram em fazer bala, por conta disso, mas Ada botou todo mundo pra ralar coco, milho, mexer tacho, etc. Tia Manda ria, mas aproveitava pra aprender um pouco mais. Ela já estava bem idosa, mas como ela dizia "Não to morta ainda, sempre há tempo de aprender uma receita nova."
No dia 22, o pátio dos cavaleiros de prata estava limpo e enfeitado. Já estavam com as barraquinhas armadas, os cavaleiros com maior massa muscular adorando se exibir carregando as toras da fogueira e as cortando em pedaços iguais, que estavam sendo somente empilhados. No dia 24, os lemurianos viriam e armariam a estrutura. Shura fez questão de cortar o pau para o mastro ele mesmo e lá estava, no chão, sendo agora montado com as estampas dos santos, que Ada trouxera da terrinha.
No dia 23, o Santuário parou para terminar tudo a tempo. As crianças aprenderam a enrolar as balas nos papeis coloridos, a mulherada colocando as pamonhas em folha de bananeira, já cortando o curau, os pedaços de bolo de aipim e fubá, ajeitando nos balaios o milho e o pinhão pra ser assado...
Sukhi experimentou pela última vez o vestido. Estava ótimo! Ao seu redor, todo mundo de vestido de chita, acertando as barras ou as mangas... Marin riu:
-Todo casamento deveria ser assim... Amanhã estaremos com esses vestidos confortáveis, curtos e os cabelos em tranças...
-Falando nisso, pai da noiva, já arrumou o charuto?
Elektra deu uma gargalhada, satisfeita em seu disfarce, calças com suspensórios, uma almofada pra fazer uma barriga postiça, camisa xadrez, gravata listrada. Puxou para todo mundo ver o charuto e o chapéu.
-Sim, minha filha adorada. Amanhã estarei lá, pronto pra obrigar aquele safado sem vergonha consertar o estrago que fez, desonrando voismece. – disse a filha de Mu, engrossando a voz.
As mulheres caíram na gargalhada. Pipe disse:
-Não dá um aperto no coração ver um homem casar "obrigado"?
-Com uma praga dessas, realmente...
-HEY! Eu sou um doce de pessoa, ta? Uma jóia rara...
-Um prêmio! Devia ser dada pra quem conseguisse bater o bingo!
-Vocês não prestam, mesmo...
-Agora que você percebeu?
Ninguém dormiu direito aquela noite, de ansiedade... Pela manhã, Afrodite e Carlo, Terpsicore e Saga acompanharam Sukhi e Shura a um dos cartórios de Atenas para assinarem os papéis. O almoço foi festivo, comemorando o casamento E o aniversário do cavaleiro de Câncer, mas ninguém quis encher muito a cara, pra não estragar a festa de depois. As crianças não paravam de perguntar se ainda ia demorar pra chegar a noite. E a novidade, claro: Dohko apresentou Liev como namorada. Ela estava um pouco atordoada com tanta gente, uma hora falavam em grego, que parecia a língua comum, daqui a pouco mudavam cada um para sua língua natal –e o que era pior, quem era questionado respondia em SUA língua natal. Uma autêntica torre de Babel. Mas todos se esforçaram em fazê-la se sentir à vontade.
O carro do Sol naquele dia não tinha pressa. Mas o povo tinha... E as seis horas em ponto, Shion, Elektra, Mú e Belier se posicionaram ao redor das toras e foram montando a fogueira, num cone perfeito. Os massudos, enquanto isso, erguiam o mastro e Shiryu já foi acendendo algum foguetório. Estava aberta oficialmente a Festa Junina do Santuário!
N/A: Isso vai ser muito divertido... espero que vocês estejam gostando de ler tanto quanto eu de escrever... As fogueiras variam de formato conforme o santo, visse? Quadrada para Santo Antonio, cônica para S. João, piramidal para S. Pedro. A Adamantina não é a Adamantina Heloísa da novela, eu só usei o nome porque eu gosto dele... Mas a Liev Kutines é alguém que vocês conhecem e daqui pra frente vai estar nos acompanhando nas Crônicas do Santuário, como namorada do Dohko. Ela é ninguém menos que a Evil Kitsune, legal o anagrama que ela montou com o nick dela, não? Sukhi casada no civil, agora é hora de se "casar"... "Papai eu quero me casar/ Oi, minha filha, ocê diga com quem..." huahuahuahuahauahua... 19/06/06.
