ARRAIAL NO SANTUÁRIO

CAPÍTULO 4 – A FESTA, PARTE 2

Dohko, que só ia participar da encenação do casamento mais tarde, aproveitou para mostrar a Liev toda a "ker-mess", como disse uma excitada Györgia na hora do almoço.

A alemã estava encantada com as barraquinhas, todas com bandeiras de papel de seda colorida, em cada canto uma pequena lanterna também de papel de seda e no meio da barraca um lampião.

-Parece algo saído de um tempo distante... bem folclórico...

-Nosso amigo brasileiro deve estar se sentindo em casa hoje...

-Oh, Dohko, tudo cheira tão bem... O que é isso? – a ruiva apontou uma panela cheia de um liquido branco onde boiava umas bolinhas também brancas.

-Canjica! – respondeu Marin, com a lição de casa na ponta da língua. – Também chamado de mugunzá, é leite de coco com milho branco, açúcar e canela...

-No mugunzá vai sal, ruiva teimosa, já te falei. – resmungou Aioria.

Liev tomou uma pequena porção e estalou a língua. Na barraca seguinte, era tudo de milho: bolo, pamonha, curau...

-E isto? Parece folha de alguma planta...

-É folha de bananeira, fraulein. – explicou Jabu. – Dentro tem um doce de milho mais molinho, chamado pamonha. Este aqui – mostrou o prato de curau – também é de milho, mas é mais consistente e menos doce.

-Nomes estranhos...

-Coisa de índio...

-Não seja preconceituoso, Dohko! – Liev bateu de leve no braço dele.

-Não, é verdade. As comidas dessa festa ou são comida de índio ou de escravos negros africanos. Aldebaran nos deu uma lição e tanto esses meses...

-Doce roxinho...

-Qualé o doce mais doce? – gritou Dumas, pulando na barraca dos doces caseiros.

-É O DOCE DE BATATA DOCE! – responderam Amata e Mion, pulando junto.

Pipe riu, depois que Ada ensinou aquilo pra eles, as crianças não paravam de repetir.

-Pensei que eles estariam correndo pela festa, entregando os "correios elegantes".

-Ah, meu querido. E criança consegue guardar segredo? Eles entregariam o ouro em dois tempos. Não se preocupe. Os marmanjos que estão fazendo isso estão se divertindo...

E como! Sukhi estava dando pulinhos na barraca do coelhinho, depois de ganhar um gato de gelo e um pano de pratos com borda de crochê.

-Ahan! Senhorita Sukhi.. – disse uma voz por detrás dela.

-Sim? – Ela se virou e tapou a boca para não rir.

Mu e Aioros, vestidos de caipira, no chapéu uma faixa de tule rosa e na frente o aviso "Correio elegante", entregavam a ela um papel dobrado.

-Mas esse correio ta muito elegante mesmo...

-Empresa Afromisty de Mensagens... – riu Aioros. – Leia logo, que se tiver resposta, a gente entrega já.

Sukhi leu, arregalou os olhos e olhou para todos os lados.

-Mas quem foi o tarado que me escreveu uma coisa dessas?

-Sigilo profissional. Tem resposta?

-Dá o papel. Acha? Vou dizer a esse sem vergonha onde enfiar a língua...

Aioros e Mu tentaram manter o rosto impassível. Mas o sexto sentido de uma canceriana nunca falha...

-Não foi meu marido, foi?

-Não! Mas também não podemos dizer nem dar nenhuma pista...

-E nem adianta nos seguir...

-Ah, é por isso que é você, Mu, que é o correio elegante?

-Claro... – riu o ariano. – Vamos, Oiros, temos outros bilhetes eróticos e amorosos pra entregar... – E se teletransportaram.

Sukhi, sem que os carteiros percebessem, tinha feito uma marca na resposta. E foi andando pela festa, pra saber quem a tinha convidado a "dar um beijo tão profundo, que suas línguas dançariam pelo céu da boca até que ela visse as estrelas do orgasmo."

Na barraca das argolas, Hydra dava tapas nas costas de Nachi de Lobo, pra desengasgá-lo. Do jeito que o garoto estava roxo, alguém também devia tê-lo convidado para "algo interessante". Shun e Seiya riam de um Shiryu sem graça, que tentava tirar o papel da mão de Ikki, que lia em voz alta "Experimentar o fogo do fogueteiro, pra ver se eu também vejo fogos de artifício..."

Mas ela não conseguiu descobrir nada. Mu era um carteiro muito rápido e discreto. E logo chegou a hora tão esperada. Milo subiu no tablado e abaixou um pouco o forró pé-de-serra que tava tocando.

-HEY! B'as noite, pessoar... Os atores da quadrilha por favor, já vão se arrumando... Porque toda festa junina que se preze, tem que ter quadrilha. A quadrilha, na verdade, é uma adaptação popular das danças das cortes do século... – o Escorpião puxou um papel – hummm... séculos XV e XVI, auge das colonizações na América.

Os espectadores abriram um círculo e os atores do casamento caipira foram se aproximando. Sukhi muito linda em seu vestido branco, com uma almofadinha na barriga. Ao seu lado, os pais da noiva... Elektra, muito pimpona de calças de suspensórios, camisa xadrez, uma barriga o dobro da filha, gravata borboleta, bigode e charuto no canto da boca. Aioros vinha ao seu lado, lencinho bordado no canto dos olhos toda hora... Vestido de florzinhas vermelho e branco, com um avental enorme na frente, uma peruca loira de trancinhas...

-Desonraram minha filhinha – soluçava ele, agarrado no braço do pai Elektra.

-Mas nois vai dar um jeitio nisso, muie. Eu te agarantio.

O povo ao redor estava maravilhado e divertido. Seiya estendeu a mão para a barriga de Elektra.

-Eh, quem ta grávida aqui, a noiva ou o pai da noiva?

Levou um tapão da "mãe" da noiva:

-Olha essa intimidade com meu marido!

-E cadê o noivo?

-O delegado foi buscar!

E lá veio o noivo, de má vontade, com o delegado em sua cola, o padre vindo também. A "mãe" do noivo, gozado, era a cara do pai, só que usava duas tranças com enormes laços verdes, um vestido curtíssimo, que deixava ver suas calçolas que chegavam aos joelhos...

-Kanon, isto é um casamento caipira, não a gravação do Moulin Rouge!