ARRAIAL NO SANTUÁRIO

CAPÍTULO 05 – QUADRILHA E BINGO...

Ele sorriu. E Milo voltou ao microfone:

-Em seus lugares, hora de dançar pra comemorar o enforcamento do noivo. Saga, eu quero conhecer sua mulher melhor depois! Ô coisa mais linda, sô!

Kanon piscou para ele. Saga fechou a cara e puxou a mulher pra perto...

-Todo mundo dançando! Aos seus lugares! Atenção, pessoal, AVANTUR!

Os pares se deram as mãos e fazendo uma roda, avançaram para o centro.

-Pro Camus ter dor de barriga, ANARRIÊ!

Todo mundo deu uma gargalhada e voltaram atrás. Camus e Misty sacudiram a cabeça, diante do assassinato do francês. Mas estavam rindo também.

-Vamos, seus caipiras. Larguem as muié! EM FILA!

Formaram duas filas, uma só de homens, outra de mulheres. A voz irônica de Seiya se sobressaiu:

-Aioros e Kanon, não se confundam!

Dedos médios erguidos e muita risada. Milo estava no céu naquela festa.

-Agora, sejam educados: CUMPRIMENTAR AS DAMAS!

Os homens caminharam dançando até às mulheres e tiraram os chapéus, depois voltaram para a fila.

-Vamos lá, muierada, mostrem pra esses caboclos que vocês também sabem ser educadas. CUMPRIMENTAR OS MACHOS!

E as mulheres também foram em direção aos homens dançando e pegando nas laterais dos vestidos, fizeram uma curta reverência. Depois voltaram pra fila.

A partir dos noivos, as filas se juntaram, as mulheres pegando nos braços dos homens depois e os casais formando a grande roda de novo. Daí os homens colocaram um joelho no chão e as mulheres foram passando por eles dançando. Quando a noiva voltou ao noivo eles voltaram à fila para o "Caminho da roça". Milo foi gritando:

-Vamos no caminho do baile, meu povo! Eita! OLHA A CHUVA!

Todos vaiaram e colocaram as mãos sobre a cabeça.

-Já passou! Chuva de verão... Balançando as cadeiras, mulherada! Caminho do baile... OLHA A COBRA! Pega, pega, Misty!

Todos deram um pulinho e Misty levantou o dedo médio. Risadas e novo aviso do narrador:

-É mentira! Kanon, abaixa essa saia, pelo amor de Zeus!

-Ele quer mostrar o pau e matar a cobra... – gritou Seiya.

Shun olhou para o Aldebaran:

-Não é ao contrário?

-Nesse caso...

Mais risadas. E aos gritos de "CARACOL", "AVANTUR", "ENTRAR NO TUNEL"... Milo conduziu a quadrilha com perfeição. Camus abraçou-o no final:

-Mesmo assassinando minha língua materna, foi ótimo, Ucho.

-Mas a graça tava ai, Camye. Vamos ao bingo, agora?

Numa barraca maior, Aldebaran já estava arrumando as bolinhas.

-Primeira rodada, cambada. Vertical paga 50 Euros, horizontal também, cartela cheia, 100. Vê se vocês não ficam distraídos e "comem barriga", oquei?

-A gente prefere comer mais pra baixo! – Milo gritou e levou um beliscão de Camus. – Que foi? Falei alguma bobagem?

-Seus hábitos alimentares não interessam à população local, Milucho.

-Caracas, a primeira pedra que saiu é I-24.

-Número de macho!

-Ah, é, né? Porque agora número de veado é 11, meu bem... Um atrás do outro... – respondeu Afrodite, abanando o leque de plumas de avestruz pink, que ele tinha trazido.

Risadas. Mas nem tinham cantado 15 pedras ainda, Sukhi gritou:

-Fechei na horizontal!

-ÊEEEE... Marmelada, hein? Não é porque o casamento é seu, que pode sair ganhando...

Ela mostrou o dedo médio para Milo e foi buscar o prêmio.

Várias rodadas, várias horizontais e verticais saíram, todo mundo ganhou alguma coisa. No Bingão, Aioros foi o vencedor, saindo com a bolada.

Aproveitaram pra leiloar o chapéu de palha e a gravata do noivo, assim como as meias e as botinas da noiva. Deu um bom dinheirinho pra ajudar na lua-de-mel.

Depois do Bingo, as crianças que já estavam meio derrubadas, foram levadas pra cama. E o baile de São João começou. Era tudo que Aldebaran queria, dançar uma autêntica música brasileira com sua galega. Györgia sabia "forrozar" muito bem – também com um professor em casa...

Os outros casais não fizeram feio. Eles entenderam o espírito da dança, que era sensual, de mexer as cadeiras sem medo de ser feliz e foram atrás. Kanon, Elektra e Aioros foram se trocar, porque a roupa (e no caso de Elektra, a barriga) atrapalhava e caíram na dança.

A surpresa maior da noite foi a alemã Kutines se soltar no "bate-coxas" com o velho sarado Dohko. Todo mundo se cutucava pra chamar a atenção para o casal. O sempre sério cavaleiro de Libra demonstrava ser um exímio dançarino e uma face atrevida que ninguém imaginava. As mãos dele corriam pelo corpo da ruiva, talvez na desculpa de segurá-la em seus movimentos rápidos, tocavam e apertavam lugares estratégicos. Os outros cavaleiros riam, de pura alegria e malícia, piscando uns para os outros.

Quando uma das músicas terminou, Dohko e Liev trocaram um french kiss ardente antes de entrelaçarem os dedos e sumirem escadaria acima, em direção à casa de Libra. As piadas infames foram inevitáveis, as mulheres se preparando para no dia seguinte, não deixar Liev voltar pra Alemanha sem contar até os detalhes sórdidos – principalmente, os detalhes sórdidos.

Sukhi parou para tomar uma cerveja. Aquele calor e aquela dança estavam desidratando-a. Pipe e Saga estavam encostados na barraca de bebidas se refrescando também. Mu passou dançando uma lambada com Shaka, os dois rindo porque não acertavam os passos. Sukhi resmungou:

-E eu não descobri quem me mandou aquele correio elegante safado... Mas eu ainda vou pegar esse tarado no flagra...

Shura viu Terpsicore esconder o rosto no peito do marido e abafar uma risada. Mas não disse nada. Nem precisava ser a deusa da sabedoria nem nada pra saber que a maioria daqueles correios elegantes saíram das mentes poluídas de Pipe, Milo, Afrodite e talvez Kanon. Mu e Aioros não eram santinhos também. Aliás, ninguém prestava naquele Santuário. Até Dohko estava lá embaixo, dando um trato na namorada, demonstrando mais de 200 anos de experiência...

"Será que ele ainda lembra como é que se faz?" – e o espanhol não pode evitar a risada. Os outros olharam pra ele, que se explicou em uma palavra – Dohko.

-Pois é, hermano. É a prova viva que ninguém deve perder a esperança de trepar na vida.

-SAGA!

-Zinha, fala que é mentira... Quando que você pensou que nosso velho sarado ia arrumar alguém pra partilhar da sua cama?

-Vocês não acham que ele viajou esse tempo todo só trabalhando e continuou na seca, ne? – Sukhi terminou sua cerveja – Depois nós mulheres é que somos as ingênuas.

Risos. Mas conforme a noite ia chegando ao fim, os casais foram se despedindo, prometendo fazer aquela festa todo ano, pra comemorarem o aniversário do Carlo e o casamento de Sukhi e Shura. Ela não sabia como subiu a escadaria pra casa de Capricórnio, pois seus pés estavam formigando. Shura estava "meio borracho", então não queria se arriscar a carregá-la e acabarem esborrachados lá embaixo.

Mas ao chegar à porta da casa, ele sim, ergueu-a nos braços.

-Ahora, vamos hacer direito...

-Shu...

-"En mi cielo al crepúsculo eres como una nube/Y tu color y forma son como yo los quiero/Eres mia, eres mia, mujer de lábios dulces/Y viven em tu vida mis infinitos sueños..."

O coraçãozinho de Sukhi acelerou. Seu marido ia declamar Pablo Neruda de novo, do livro que ela deu a ele, no dia do noivado. Aquelas palavras doces, naquele sotaque cantado, era tão belo, tão... perfeito...

-"La lampara de mi alma te sonrosa los pies/El agrio vino mio es mas dulce en tus lábios/ oh segadora de mi cancion de atardecer/ como te sienten mia mis suemos solitários."

Subindo a escada, firme e sóbrio, embriagado apenas de amor e poesia, Shura alcançou o quarto, agora deles mais que nunca e pousou Sukhi no meio da cama de casal, pondo um joelho na beirada.

-"Eres mia, eres mia, voy gritando em la brisa/ de la tarde, y el viento arrastra mi voz viuda/ Cazadora del fondo de mis ojos, tu robo/estanca como el água tu mirada nocturna."

E tirando a camisa, se debruçou para um primeiro beijo. O primeiro de uma série de vários da noite, de uma série infinita de toda uma vida, sussurrando o final da poesia ao seu ouvido:

-"En la red de mi musica estas presa, amor mio/ Y mis redes de musica son anchas como el cielo/ Mi alma nace a la orilla de tu ojos de luto/ Em tus ojos de luto comienza el pais del sueño."

N/A: Wow, ficou demais. Quero pedir perdão a Faye, porque começamos em Abril a bolar essa fic, e talz. Mas daí minha vida virou do avesso, e foram muitas coisas ruins e eu desanimei. To falando vida real, não essa putaria de gente me xingando e dizendo coisas absurdas sobre meu eu virtual. Isso foi absoluta falta de ter o que fazer. Bom, ainda tem um epílogo, porque a Liev tem algumas coisas pra revelar, a danadinha. O poema do final é EN MI CEILO AL CREPUSCULO, de Pablo Neruda, do livro 20 poemas de amor y uma canción desesperada, cuja tradução vai abaixo:

No meu céu, ao entardecer...

No meu céu, ao entardecer você é uma nuvem/ E sua cor e forma são como eu quero que sejam/ Você é minha, minha, mulher de lábios doces/ E meus sonhos infinitos vivem em tua vida.

A luz de minha alma te avermelha os pés/ Meu vinho amargo é mais doce na tua boca/ Oh, ceifeira da minha canção da tarde/ Como te sentem minha meus sonhos solitários/

Você é minha, minha, vou gritando para o vento/ da tarde, e o vento leva minha voz viúva/ Caçadora do fundo dos meus olhos, teu ritmo/ para como água em sua olhada noturna.

Na rede da minha música está presa, meu amor/ E a rede da minha música é ampla feito o céu/ Minha alma nasce na beira dos teus olhos negros/ Em teus olhos negros começa o pais do sonho.

Lindo! Faye, demorou, mas foi de coração. E se a tradução do espanhol tiver algum erro, podem me escrever. Educadamente. 30/09/06.