Desafio 100 temas: Tema 100 - Sobre sonhos.

Beta: Slplima, meu carinho, amizade e lealdade para sempre ande ver! Obrigado amore, por mais uma vez aceitar betar uma de minhas loucuras!

Notas da Beta: Oi minha amiga querida!
Sua habilidade de vagar entre enredos lindos, românticos, fofos, dramáticos e trágicos, como esse especificamente, me fazem admirá-la ainda mais.
Pois que assim é a vida, não é?
Cheia de mistérios e que vem, de repente, e nos surpreende com coisas inimagináveis.

Meu coração ficou apertado quando percebi o que se passava com Yuuri.
E através da sua escrita elegante e delicada, fui sentindo junto dele a agonia e a dor de uma verdade que o assolava ferozmente.
E me entristeci também, com a tristeza dolorida dele.
Com esse destino que não perdoa e não poupa-nos das fatalidades.

Ah, minha amada Coelha! Que enredo inesperado e belo.
Só posso agradecer imensamente que tenha me permitido, outra vez, participar de mais essa construção. Estou lisonjeada e honrada com essa dádiva.

Parabéns!
Você é incrível; como pessoa e autora maravilhosa.

Fique bem.
Bjocas.

Notas da Coelha: Eu sempre pensei que nunca mais iria me inspirar, ou reencontrar minha inspiração ao estar assistindo um filme, e ainda mais um que eu amo de paixão. Essa fanfic é inspirada no filme que uma diva Queen Latifah protagoniza chamado Last Holiday (As férias da minha vida). Eu tentei apenas me inspirar na situação chave do filme, e espero que conseguido o meu intento, e que vocês me deem uma chance de contar minha estória.

Música Inspiração: A viagem - Roupa Nova

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O sonho não acabou

O sol já se punha no horizonte. A noite começava a descortinar seu manto cravejado do brilho das pequenas estrelas que iriam ajudar a abrilhantar ainda mais a Cidade Luz.

Sentado apaticamente em um canto da pequena sacada da construção antiga, o exímio cozinheiro parecia não se dar conta daquele magnífico espetáculo, e muito menos que já deveria ter ganhado como ruas da movimentada Paris para, por fim, chegar ao Bistrô de Pierry!

Pela primeira vez em anos, após conseguir ganhar um pouco de confiança no que fazer, se voltar novamente sua ansiedade e seus medos o afligirem mais uma vez.

O papel timbrado da clínica onde fizera seu exame jazia enroscado entre seus finos dedos trêmulos. Oh! Queria tanto atirá-lo ao ar. E como se não bastasse apenas isso, uma vontade real que o chefe de cozinha era de se lançar por sobre o parapeito do gradil da sacada, e quem sabe, com uma queda, conseguiria aplacar sua dor.

Ser formado pela mui digníssima escola de culinária Le Cordon Bleu não escolher mais diferença, pois que estava se sentindo tão miserável que não sabia mensurar.

Queria esquecer, não sentir-se mais angustiado. Mas ora ... até mesmo para isso lhe faltava coragem. Tinha medo ... era um maldito patife para sentir dor!

Com um suspiro resignado, resolveu pescar seu celular que já um algum tempo estava tocando a música elegida para seu melhor amigo, o qual também trabalhava no bistrô.

Ainda incerto se deveria atender, o nipônico deixou que a ligação mais uma vez caísse na caixa postal.

Esticando-se um pouco, deixou o eletrônico sobre uma pequena mesa retangular de ferro fundido, e tornou-se a abrir o exame para reler o resultado da tomografia computadorizada que ele havia sido submetido após se acidentado.

Balançando um pouco a cabeça, Katsuki Yuuri, um mestre cuca, chefe de mão cheia, e atual responsável pela cozinha do renomado Pierry's Bistrô, tentou afastar os pensamentos funestos que pareciam invadi-lo como uma onda descontrolada. Todavia, desde que abrira os resultados daquela tomografia, que ele parecia não mais sentir o chão.

Kami-sama não poderia estar lhe castigando por alguma coisa, ou poderia? Não... não podia pensar assim, afinal, aprendera desde muito novo, com os amorosos pais, que nada acontece ao acaso nessa vida, e que tudo tem um por quê e a hora certa das coisas acontecerem.

Mas Yuuri não queria ter aquele fim. Ninguém merecia partir na flor da idade, e bem, no exato momento que iria começar a colher os frutos de seu trabalho árduo.

Suspirou; irritado, ressentido e nada resiliente! E passando uma das mãos suadas sobre os cabelos lisos e negros como uma noite sombria e sem qualquer vestígio de luz, sentiu o coração acelerar.

"Que merda!" - pensou, já sufocado pela aflição.

Não poderia ficar se lastimando desse jeito! Ele não era assim, mas com tudo que havia desabado sobre sua cabeça... bem, se poderia até dar um desconto por estar se martirizando assim!

Ao fechar os olhos, desejou ardentemente que o tempo voltasse atrás, que ele voltasse a ser criança, e pudesse correr para o colo materno quando se sentia angustiado e amedrontado.

E abraçando a si mesmo, tentou controlar a vontade de gritar aos quatro cantos a sua dor, mas era impossível, até mesmo, conter as lágrimas.

Afundando o rosto entre os joelhos, abraçou com mais força as pernas dobradas, e seus pensamentos o traíram mais uma vez! Isso sem levar em consideração que estava morrendo de saudades de Hasetsu e toda sua família. Aquilo sim, estava calando fundo em sua alma.

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- Yuuri, meu filho, não se abale! – a voz doce, melodiosa e sempre conciliadora de Hiroko chamou a atenção do pequeno e rechonchudo menino. Olhos chocolate de tom iguais ao dela, a miraram com certa relutância. – Não se abale pelo que aconteceu, e lembre-se que você é forte, você é inteligente, você é gentil e muito importante! – murmurou ao limpar as lágrimas sentidas que deslizavam por seu rosto.

- Mas a Mari-nee... – choramingou inconsolável.

- Esqueça o que sua irmã lhe disse. – pediu, com aquela calma branda de sempre, ao acarinhar os cabelos macios de seu pequeno filho. - Ela quando tinha sua idade também não era habilidosa na cozinha. – fazendo uma breve pausa, sorriu ao perceber o menor ficar mais interessado. - Apenas, meu amor, não se deixe abater, suas mãos ainda são pequeninas demais, e lhe falta certa agilidade, mas um dia fará milagres na cozinha! – tentou animar ao pequeno de oito anos. – Enxugue as lágrimas e vamos mostrar para Mari que ela está errada. – e estendendo a mão, puxou o filho para um abraço, o levando consigo de volta para explicar-lhe como se fazia para empanar com perfeição as porções de filé de costela de porco.

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Com uma fungada, Katsuki tornou a mirar o aparelho sobre a mesa. Na tela a foto de Phichit parecia lhe gritar que ele não deveria estar ali ainda. Bufando, esticou-se um pouco, e finalmente o atendeu.

- Yuuri, graças aos céus! – o tailandês parecia aliviado. – Onde você está? Didier já perguntou por você duas vezes! – a preocupação parecia ser palpável, o que deixava o japonês um tanto mais angustiado. – Estamos com um crítico gastronômico no salão, Yuuri, e precisamos de você! – choramingou Chulanont.

Aquilo sim, era surreal, pois desde que se conheceram, Yuuri nunca tinha visto o amigo choramingar daquele jeito.

- Phic, eu não tenho condições de ir para o bistrô hoje! – Yuuri respondeu prontamente, mesmo sentindo-se muito mal ao estar tentando enganar ao melhor amigo. – Os medicamentos receitados para dor estão me deixando muito letárgico, e tecnicamente, eu ainda não posso voltar. – comentou. O japonês detestava agir daquele jeito, mas legalmente, ele não deveria ter ido para ajudar aceitando a chantagem feita pelo velho professor e dono do estabelecimento. – Eu tenho certeza que meu braço direito dará conta do recado. – gracejou o moreno, tentando elevar o humor do outro cozinheiro.

- Oh! Yuuri, somente você! Mas não estou seguro do que servir. O que eu faço? – indeciso poderia ser o segundo nome de Phichit Chulanont.

- Primeiro de tudo, respire com calma... – começou o Katsuki, e seria cômico se não fosse um momento de muita seriedade. Afinal, quem tinha mesmo esse tipo de ataques de ansiedade e insegurança era, justamente, quem estava tentando passar segurança e acalmar a situação. – Tente se acalmar! – pediu com cautela. – Você é tão bom quanto eu e Didier juntos! Assim, se atenha ao menu de hoje e apenas faça o que ele solicitar! – ponderou. – Você consegue, Phichit! – tentando soar convincente, Yuuri deixou que um sorriso anasalado lhe escapasse. – Você é capaz e eu confio em você!

- É até estranho... – gracejou, por fim, o outro chefe, sorrindo abertamente. – geralmente sou eu que tento te acalmar, e veja só você! – fazendo um minuto de silêncio, Phichit voltou sua atenção para quem se aproximava. – Yuuri, vou desligar, o "todo poderoso" vem voltando, e não quero levar uma bronca por não estar em meu lugar! Até depois! – despediu-se sem dar tempo para o amigo de longa data dizer mais alguma coisa.

Mirando a tela do celular, Yuuri acabou por dar de ombros. Mais tarde ligaria para Chulanont a fim de saber como tudo havia terminado, e também para agradecer por distraí-lo um pouco.

Pegando os papéis de seu exame, o nipônico deixou a sacada indo direito para seu quarto. Deixando o corpo cair pesadamente sobre o confortável colchão, fechou os olhos por alguns poucos segundos. Deixando os papéis espalhados ao seu lado, se esticou um pouco pegando o que lembrava um livro de capa de couro envelhecido, e o abrindo, sorriu saudosamente ao se ver ainda um bebê no colo de sua amada mãe.

Como sentia falta dela e de todos os seus. E estava se arrependendo amargamente por não ter aproveitado as férias que vendera e ficara trabalhando, para ir visitar seus pais em casa. Agora, talvez, seria impossível fazer tudo o que queria.

Foleando as páginas seguintes, foi invadido por um saudosismo imensurável. E em meio a toda essa revolução de sentimentos, uma luz no fim do túnel pareceu brilhar tão logo avistou os recortes que se seguiram intercalados com fotos variadas da passagem de sua vida até aquele momento vivido. Não seria fácil, mas tudo iria depender de como as coisas poderiam seguir seu curso, mas primeiro precisava fazer uma visita ao banco onde deixava suas economias todas guardadas.

Com um olhar decidido, mirou uma última vez a foto de seu ídolo, o chefe russo mundialmente conhecido; Viktor Nikiforov.

Era agora ou nunca!

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Um tanto desorientado, Yuuri despertou sem conseguir se lembrar a que horas havia adormecido e como tinha deixado seus óculos sobre o álbum que jazia ao seu lado em sua cama.

Era sempre assim, quando se sentia estrangulado por suas angustias; não conseguia se lembrar de quase nada. E o mesmo acontecia quando ingeria bebida alcoólica sem tomar o devido cuidado.

Dando de ombros, coçou os olhos tentando afastar de uma vez a preguiça característica que sentia todas as manhãs. Se espreguiçando, recolocou os óculos e ao checar as horas em seu celular, viu as várias mensagens que Phichit lhe enviara.

Mordiscando o lábio inferior em um tique nervoso, Katsuki ouviu todas as mensagens que o amigo lhe enviara.

Algo, realmente, estava causando o temor em Phichit, mas pelo que ele havia entendido, tudo fora perfeito. Bem, a não ser, é claro, se Didier falasse algo, o que era ridiculamente normal de acontecer. Mas isso descobriria mais tarde! Agora, ele tinha de se preparar para seguir até o banco e fazer o que precisava.

Após tomar um bom banho, e se vestir sobriamente, o chefe tomou um café leve, e tão logo ajeitara as coisas, deixou a pequena cozinha arrumada e ganhou as ruas da cidade, seguindo até o centro onde se localizava o bando o qual era correntista.

Tendo de esperar um pouco para poder conversar com o gerente de sua conta, Yuuri se perdeu um pouco em seus pensamentos. Era muito conflitante se ver daquela forma, e por mais que não quisesse sentir-se tão acuado, entristecido e, por vezes, até um pouco revoltado com sua situação, o japonês não se deixou levar como muitas outras pessoas teriam feito. Queria acreditar que para tudo que vinha lhe acontecendo, existia um propósito.

Por estar compenetrado, quiçá ensimesmado, Katsuki quase perde sua vez para ter com o gerente, e ao escutar seu nome ser chamado energicamente, seguiu quase aos trôpegos para a sala do homem baixinho e atarracado que quase se escondia plenamente por detrás da grande tela do computador que este usava.

Deixando de lado tudo o que poderia lhe atrapalhar, e esquecendo de tomar o cuidado com o que poderia falar, finalmente o mestre cuca fez-se entender, mas não sem antes ter de aplacar a curiosidade ferrenha que o gerente parecia ter despertado com relação a sua pessoa. Convicto de que, para o banco, era crucial manter esse dinheiro ali; um benefício único. E perder um correntista era sempre uma coisa que iria contra a política daquela instituição.

- Sim, monsieur Bertrand! Eu entendo que perderei rendimentos, mas eu gostaria mesmo de resgatar o valor total de minha conta e encerrá-la. – Yuuri mirou o outro decidido.

- Compreendo! - expirou derrotado. - Mas caso queira voltar a abrir nova conta, estaremos à disposição! – ofereceu o gerente, antes de se levantar e deixá-lo sozinho por alguns minutos. Quando retornou, ele vinha com uma jovem que trazia o valor economizado por ele naqueles dez anos em que havia se formado e começado a trabalhar arduamente.

Assim que terminou de assinar a documentação necessária e exigida pelo banco, o moreno ganhou as ruas mais uma vez, e desta seguiu para o bistrô, que naquele horário estaria sendo preparado para abrirem as onze para o almoço.

Ainda no passeio encontrou com Phichit, e este se jogou sobre o outro, praticamente abraçando o amigo.

- Yuuri, fiquei preocupado quando não me respondeu as mensagens! – o tailandês não conseguia esconder sua preocupação. – O que te aconteceu? – perguntou com curiosidade, e sustentando-lhe o olhar mordiscou o próprio lábio inferior. O sempre tão alegre rapaz, sentia que algo não ia muito bem com o melhor amigo, mas ainda não sabia o que poderia ser.

- Venha comigo, Phic! – convidou, ao puxar o amigo para longe da entrada dos fundos do restaurante.

Sentaram-se lado a lado em um muro baixo e, por uns minutos, deixaram que um silêncio pesado recaísse sobre eles. O que começava a se tornar um tanto opressor.

Notando que o amigo de mais de vinte anos parecia estar matutando, tocou o braço deste enquanto murmurava receoso. Phichit começava a sentir muito medo do que estava por vir.

- Ok! Quem é você, e o que fez com o meu melhor amigo? – e arqueando as sobrancelhas, aguardou impaciente por uma resposta.

- Phic, deixa de ser bobo! – Yuuri o cutucou, ao sorrir divertido. Phichit, mesmo com sua preocupação, ainda era, depois de sua família, a pessoa mais próxima a si, e já começava a lhe doer o que iria fazer apenas para poupar o amigo. – Phic, eu preciso lhe contar uma coisa, e bem, eu creio que teremos de esquecer alguns de nosso planos que temos a longo prazo! – começou um tanto incerto de como se portar, e quais as palavras seriam as certas para usar.

Desde que havia se decidido a viver tudo o que pudesse naquele curto espaço de tempo que teria, Yuuri não sabia como seria dizer adeus para as pessoas que ele realmente se importava. E Phichit talvez, quem sabe, seria o mais difícil de deixar para trás.

- Como assim esquecer? – aprumou-se o moreno mais baixo. – O acidente vai te deixar com alguma sequela? – perguntou com genuína preocupação ao puxar sem delicadeza alguma o braço, que até pouco tempo atrás, estava sendo amparado por uma tipoia.

- Phichit! Não... não é isso! – tentou puxar o braço para junto do corpo, mas falhando miseravelmente, trincou os dentes ao sentir uma leve dor. Ainda não havia se recuperado totalmente, e sabia que mesmo agora, não teria um por quê continuar fazendo fisioterapia. – Não é nada disso, eu terei de voltar para Hasetsu, e ficarei lá por tempo indeterminado! Meus pais... minha família precisa de minha ajuda, e assim creio que o sonho ficará um pouco esquecido. – mordiscando o lábio inferior, torceu para que o amigo acreditasse naquilo.

- Mas você vai voltar, não vai? – Chulanont perguntou, já parecendo saber qual seria a resposta do japonês.

- Talvez em uns meses, ou em um ano! – Yuuri detestava mentir, mas não queria que o melhor amigo acabasse caindo no vórtex que estava sua vida naquele exato momento.

Não queria vê-lo sofrer também.

- Então, deixe-me ir junto com você! – praticamente exigiu, e ao ver o outro negando veementemente com um movimento de cabeça, ficou bravo. – Como não? Deixe-me ir e ajudar também! – insistiu.

- Phichit, eu sei que você tem um coração enorme e está sempre pronto a ajudar, mas comigo voltando para casa é a sua grande chance de assumir meu lugar, pois eu vou estar lhe indicando. E não seria justo com sua felicidade, sabendo que Seung e você estão finalmente se acertando. Eu seria muito calhorda se o deixasse vir comigo! – e segurando as mãos do moreno, sorriu. – Eu quero que você seja feliz!

"Mas que porra é essa!" - Phichit praguejou, arregalando os olhos frente a fala de Yuuri. Aquilo estava parecendo mais com um daqueles discursos clichês de uma... despedida definitiva?

- Mas e a sua felicidade? – rebateu Chulanont, já perdendo a compostura.

- Ela vai acontecer quando tiver de ser. – respondeu evasivo, ao puxar o amigo para um abraço. – Nunca vou te esquecer!

- Credo, Yuuri! Isso está com cara de despedida! – Phichit reclamou; as lágrimas a um átimo de deslizarem por seu rosto. Ele não era um bobo e podia sentir que o amigo lhe escondia algo.

- Creio que seja, meu amigo! – respondeu baixo, em um fio de voz.

- Não, não será! – bradou, mirando o amigo direto nos olhos. – Será apenas um até a volta! Um até logo! Ainda temos de viajar juntos para conhecermos o restaurante Imperiya! E o seu crush! – sorriu todo meloso ao pronunciar a última palavra.

- Está bem, Phichit! – preferiu concordar, dando-se por vencido. – Agora deixe-me ir falar com o chefe! – pediu ao ficar de pé.

Sem olhar para trás, entrou, pela última vez, por aquelas portas que o recebiam há tempo.

E isso doeu mais do que pensou que fosse possível!

Yuuri chegara ali ainda um jovenzinho aprendiz para estagiar junto ao seu professor, e do estagiário inseguro e desastrado havia se tornado um dos melhores chefes que o lugar já tivera, e no auge de seus vinte e nove anos teria de deixar tudo para trás.

Talvez, quiçá, em alguma de suas outras vidas, tivesse sido uma pessoa muito má para ter de passar por esse provação, mas estava decido, não iria ficar chorando pelos cantos, iria aproveitar ao máximo tudo que podia.

E fora pensando assim que adentrara para falar com o ex-professor e chefe. E por mais que tentara ensaiar tudo o que iria dizer, as coisas não foram bem como ele queria. A conversa supostamente fácil, estava longe de ter sido a que gostaria de ter tido, mas Katsuki deixava seu posto com a cabeça erguida, sabendo que mesmo sem ele ser reconhecido, não se deixaria abater pelas críticas do renomado senhor "sei de tudo da cozinha", e mesmo após tudo dito, este foi um tanto contraditório ao lhe fazer vários elogios.

Um tanto aloucado, tresloucado... não havia uma forma de explicar o que Didier lhe passava. Mas aquilo, de fato, não importava mais, e assim após ter as portas do estabelecimento sempre abertas para um possível retorno, Phichit foi chamado para enfim assumir seu novo lugar.

Sem esperar, despediu-se de todos os colegas, e esvaziando seu armário, saiu apressado, não querendo que ninguém o visse com os olhos cheios de lágrimas.

Pelo caminho, ignorou as mensagens e ligações de Phichit, não sabia se teria coragem de esconder os verdadeiros fatos do tailandês.

Quando, finalmente, colocou os pés em seu pequeno apartamento, pensou que, talvez, pudesse deixá-lo para Chulanont, mas isso pensaria como poderia fazer. Não deveria ser difícil passar toda a papelada e as chaves para o amigo. A modernidade podia ser maravilhosa, não?

Sem muito pensar, começou meio que no automático a arrumar sua mala. Não levaria muita coisa, afinal, poderia se dar ao luxo de comprar o essencial no Japão e até mesmo em seu destino final.

Enquanto ajeitava tudo, utilizando seu notebook, conseguiu uma passagem para a tarde do dia seguinte com escala para o Japão.

Sentia seu coração batendo descompassado. Desde que saíra de casa, aquela seria a segunda vez que estava retornando, e sentia muito por não ter conseguido voltar para ver a família mais vezes. Quem sabe era para ser daquela forma, ou não? O que Yuuri, realmente queria, era conseguir fazer valer aqueles dias ou meses!

Evitando pensar nisso, escondeu no fundo da mala o resultado de seu exame, e tentando não pensar em seu maior problema, ao fechar a mala, mirou-se no espelho de corpo inteiro.

Talvez os médicos estivessem errados! Talvez ele pudesse ter buscado uma segunda opinião. Mas o medo o havia impedido, e agora não iria se amedrontar e seguiria em frente. Ainda era senhor de seus atos e deveria agradecer a Kami-sama por ainda não sentir os efeitos da doença que, sem se anunciar, havia se instalado em seu corpo.

Balançando a cabeça tentou se esquecer, mas as lembranças de alguns dias atrás pareciam o assolar.

oOo

- Senhor Katsuki, não tem como explicar porque motivos o senhor não sente dores de cabeça, ou mesmo dormência nos membros do corpo. – o doutor Moretti continuava a falar pausadamente como se estivesse falando com uma criança.

- Mas ninguém em minha família teve essa doença! Como pode ser? – Yuuri estava apavorado. – Eu não posso ter apenas três ou quatro semanas de vida! Não é justo! – irrompeu em estresse que nem mesmo ele se lembrava de ter passado.

- Compreendo sua revolta, senhor Katsuki, mas podemos fazer com que estas três ou quatro semanas sejam suportáveis...

- Suportáveis? – grunhiu enraivecido. – Eu não quero, e não vou passar o que me resta de vida no hospital sendo submetido a tratamentos experimentais que nunca saberemos se irão surtir algum efeito. Não! Desculpa! Mas aqui eu não fico! – e sem mais, não esperou para escutar o que aquele homem tinha para lhe dizer.

Tinha a saúde de ferro e era inadmissível terminar sua vida, seus sonhos, sem vê-los concretizados. Ou pelo menos alguns!

Caminhava sem saber para onde ir e acabara parando no primeiro piso da Torre Eiffel. O vento daquele fim de tarde, agitando seus cabelos e deixando-os em maior desalinho, só conseguiu anestesiá-lo mais. E ali deixara que as grossas lágrimas marcassem seu rosto pela primeira vez.

Estava morrendo.

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Sem perceber, havia começado a chorar apenas por recordar-se daquele fatídico dia. Mas ele não queria se abater. Iria passar aquelas últimas semanas como se nada disso estivesse acontecendo. E quando tudo, finalmente, tivesse seu ápice, bem... pelo menos teria feito algumas coisas que sempre quis antes da Glioblastoma surgir em sua vida.

Deixando a mala em um canto de seu quarto, deu-se por satisfeito. Voltando seus olhos para todos os lados, tentou guardar na memória as pequenas peculiaridades de seu lar.

Sobre a mala, deixou o álbum antigo, este iria dentro de sua mochila, queria que seu tesouro fosse junto consigo. Talvez o deixasse com sua mãe ou apenas o deixasse ali, como se tivesse se esquecido dele, apenas para não levantar suspeitas, ou o que quer que fosse.

Tirando o celular do silencioso, surpreendeu-se com todas as mensagens de Phichit, mas preferiu o silêncio.

Tudo o que estava fazendo poderia ser taxado como egoísmo, mas Yuuri estava se dando ao luxo de o ser pelo menos uma vez na vida!

Sabia que não teria um final desejado, mas tinha em seu ser que o sonho não havia acabado, e ele iria tentar fazer, pelo menos, algo que queria muito!

Seu maior desejo!

E com esses pensamentos, deixou que seu corpo afundasse no colchão macio e, tão logo se livrou de seu óculos, adormeceu.

Em seus sonhos, viu-se feliz! De mãos dadas com aquele que sempre amou em segredo, sorrindo ao lado dos amigos mais queridos e da família que tanto estimava. Desfrutando de uma vida plena, saudável e apartada de todo aquele pesar.

E isso era o que seu coração ferido mais queria...

Viver!

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Explicações e lembretes:

Como sempre, eu não sou uma pessoa entendida em tudo que venho a escrever. Por muitas vezes eu faço longas pesquisas para poder escrever sobre um tema, e nem sempre eu posso dizer que tudo é certo, pois não entendo muita coisa de culinária, de restaurantes e muito menos sou da área da saúde que possa dizer que tudo o que pesquisei com a ajuda da ferramenta de busca seja cem por cento correta! Por isso mesmo, uso o livre arbítrio para criar tudo o que se encontram em minhas fanfics. Tento ser o mais fiel possível ao que acho nas pesquisas e quando isso não pode acontecer, muita coisa acaba sendo criada por mim.

Assim sendo, Pierry`s Bristrô bem como o Imperiya são criações minhas, e se os quiser usar, basta pedir e por favor dê os créditos, isso não faz cair a mão e muito menos nascer uma verruga no nariz de ninguém. O uso indevido dos mesmos será considerado plágio!

Vamos as pesquisas...

Le Cordon Bleu: Fundada em Paris em 1895, Le Cordon Bleu é hoje considerada a maior rede de escolas de culinária e hospitalidade do mundo com 35 institutos em 20 países e 20 mil alunos de mais de 100 nacionalidades treinados todos os anos. Le Cordon Bleu combina inovação e criatividade com a tradição através de seus certificados, diplomas, bacharelados e mestrados, incluindo um diploma online em turismo gastronômico. – Fonte: Le Cordon Bleu

Glioblastoma: Tumor maligno que afeta o cérebro ou a coluna vertebral.
Esse tipo de tumor cresce e se espalha rapidamente, muitas vezes criando pressão. Os sintomas incluem dor de cabeça, náuseas, sonolência, visão turva, alterações de personalidade e convulsões. Os tratamentos incluem radioterapia, quimioterapia e cirurgia. - Hospital Israelita A. Einstein

Momento Coelha Aquariana no Divã:

*Coelha arrumando a fanfic nova para colocar no ar, ouvindo A Viagem de Roupa Nova a um volume razoável no headset*

Kardia: Ora mas vejam só vocês... *arqueando uma sobrancelha um tanto ressabiado*

Dégel: Kar, se eu fosse você, deixava ela em paz. Soube mais cedo que ela não está muito legal, e você sabe que ela fica mais casquinha de ferida nessas situações.

Kardia: Dedé, se supõem que você deveria estar do meu lado, não?

Creio que não há lados por aqui, Kardia! *retirando o headset e voltando a cadeira um pouco* Se está com algum problema, fale comigo, e não fique mexendo em minhas coisas, e espiando o que estou fazendo no computador.

Kardia: Você vai nos deixar só com o primeiro capítulo, eu te conheço...

Conhece tão bem, que esquece que quando eu travo, ou tenho falta de inspiração, eu começo projetos novos e isso me ajuda a voltar a trabalhar no parado, e...

Ah! Vaza! Nem sei por conta do que eu fico me explicando para você! Vaza que o kit fic ainda continua sendo meu! *vendo o bichinho rabudo sair de perto* E eu achando que ele tinha ficado desacordado para sempre! Rsrsrs

Agora, vamos lá ... obrigado por você que aqui chegou, espero de coração que me deem uma chance com esse novo projeto, e que gostem do que está saindo de minha caçoleta. E por favor, se gostarem, deixem seu comentário, afinal ficwriter feliz, consegue escrever muito mais.

E bem ... até o próximo capítulo.
Bjs
Theka Tsukishiro