"Já é noite alta, a lua parece tão doce e a representar liberdade, liberdade que neste momento está tão distante, no entanto, a salvação está tão perto, nem sei em que acreditar, vejo a lua porque é a única coisa que me traz segurança neste buraco escuro sob o solo que uns dizem sagrado. E estar numa cela escura, praticamente seminua, não abona nada a favor desta tua serva, aqui sentada, impotente sem nada poder fazer, nada a não ser olhar para a fenda no tecto desta cave que deixa passar a luz da tua linda criação, a Lua. Meu Deus, porque permitis que isto aconteça? Porque deixais um servo teu desonrar uma das tuas seguidoras, e uma das tuas escolhidas? Porque deixais que eu fique aqui presa enquanto a minha melhor amiga é interrogada e provavelmente torturada por aqueles que nos perseguem." - Pensava Rosário enquanto olhava para o tecto da sua cela, numa cave imunda de uma casa, perto do Vaticano, Roma. Outrora feliz em Portugal, o destino quis que ela e Maria João, amigas de infância, fossem atormentadas pela bênção e desgraça de Maria João. Sentada, em posição ventral, com os braços a abraçarem as pernas, numa tentativa de se sentir mais segura no meio de um terror amargo, Rosário baixou a cabeça para entre os ombros e embora tentasse, não conseguiu com que os seus olhos castanhos cor de chocolate vertessem lágrimas. Custava-lhe saber que 20 metros á frente ouvia os gritos da sua melhor amiga.

"DIZ-ME, QUEM TE ENVIOU! O QUE ÉS, SE É QUE ÉS ALGUÉM!"

Maria João, agrilhoada nos braços e pés por correntes numa sala escura, sangrava "a jorros" devido ao tratamento de Jacques Santini, agente da Opus Dei. "Vai p'ó inferno, animal." "BLHUF!"

Santini havia-a esmurrado outra vez. Os sinais com Deus abençoara Maria já há muito se faziam notar, assim como os seus dentes, no entanto, ela procurava conforto nas lembranças da escola, em Odivelas, terra que havia deixado para trás em busca da sua protecção, e a dos seus amigos, da sua família, e embora soubesse que Rosário a havia acompanhado, ela sentia-se só no mundo, pois não havia ninguém no mundo como ela. Ela não era Escuridão nem Luz, nem limão nem morango, nem áspero nem macio. Enquanto velas iluminavam aquela cena macabra, onde via ossadas de outras pessoas sem sorte, ela apenas rezava para não ter a mesma sorte. Jorrava sangue, no entanto, este parecia vivo e interminável, como se de uma fonte pura se tratasse.

Entretanto, Santini retirava de um crucifixo da parede, enquanto se ouviam sons esquisitos no lado de fora do edifício, embora estes não dessem esperança ás duas. Santini estendeu o crucifixo para perto da cara de Maria. "'Tás a ver isto? Nada significa sua desgraçada, não enquanto nós formos os verdadeiros Shaitan!" Encostando-lhe o crucifixo ao peito, enquanto se ria e com a outra mão levantando o rosto dela, encostando-o ao seu, apenas disse: "É pena que tenha que acabar com um rosto tão bonito, será uma terrível perda, mas enfim, ordens são ordens." Entretanto, na rua, á entrada da velha casa onde tudo se desenrolava, um jovem alto, vestido de gabardina preta e com uma cruz ao peito, sorria pensando, "é aqui", mas rapidamente o seu sorriso desapareceu, pois havia percebido que poderia estar ali no sítio certo, mas na hora errada. "Ez aqui", pensou em voz alta, "Sinto-o". Rosário percebeu que alguma coisa tapava a pouca luz que a lua proporcionava á sua cela, olhou pela fenda do tecto, chão na parte da rua, e viu o homem da gabardina preta. Sorriu, mas rapidamente se encheu de medo pois temia que fosse apenas mais um. Viu a estranha figura a preparar uma mota com sidecar do outro lado da rua, deixando-a ligada, e voltando com aquilo que lhe pareceu uma pistola, e ajoelhando-se, Rosário voltou para trás num salto ficando sentada com as costas encostadas no lado oposto da sua clausura. "Traurig für meine Sünden, heiliges", e, dizendo isto, a estranha personagem atirou uma benzida, rebentando as dobradiças de cima da porta, e dando um pontapé derrubou a centenária porta. Ouvindo o tiro, Santini pensou para si próprio "O que raio?...NÃO!" Dizendo isto, na sua cara ficou gravado o medo, ajoelhando-se e caindo de caras no chão, jorrando sangue da sua testa enquanto um fumegante cano era colocado dentro da gabardina do homem alto. "Estás bem? Non estás ferrida?" Virando a cara, no seu corpo ainda agrilhoado, Maria João fez um ar de desprezo. "Deza-me tirar-te estas correntes. Prrecisamos de tirrarte de aqui!" Dizendo isto, uma por uma o alemão, descobrira Maria pelo estranho sotaque, os grilhões e correntes retirava dos pulsos e tornozelos. "Quem és?", disse timidamente Maria, enquanto coçava os pulsos e limpava o sangue do seu corpo. "Já me chamarram de muitas forrmas, mas aqueles a quem devo amizade me chamam de Priester Warella. Agorra, estás prronta para sair de aqui enquanto é tempo?" Pensando por momentos e olhando para o rosto sério, mas amigável de Warella, disse simplesmente "Não saio daqui sem ela, na sala contígua à nossa, ela está presa.". Esboçando um ar de preocupação e desespero, beijou o crucifixo e disse "Tudo bem, mas non temos muito tempo." Dirigindo-se ao corredor, e então á cela de Rosário, Maria e Warella verificaram se estava tudo vazio, sem ninguém, apenas Rosário. "Rosário, sou eu, vamos tirar-te daqui." Respondendo Rosário disse "Quem é ele?", "Não sei, mas reclama ser um amigo, e agora não temos muito tempo, portanto vamos confiar nele, e seu nome é Priester Warella.". Dizendo isto, a Desert Eagle voltara a fazer funcionar o seu cano, desta vez para abrir a porta da cela. Estando os três juntos, correram rapidamente para fora da casa, onde a mota já os esperava. Warella meteu-se na posição de condução, Rosário no sidecar e Maria agarrada a Warella, atrás deste. Depressa arrancaram para desaparecerem nas ruelas de Roma. Mas minutos depois chegavam num Jeep três personagens que ao saírem do carro revistaram a casa, apenas para descobrirem o macabro cenário de Jaques Santini, corpo já sem alma num pequeno oceano de sangue, sangue este que agora molhava os grilhões e correntes que minutos antes atormentavam Maria e seus pensamentos e suas esperanças. Um dos estranhos indivíduos pegou num telémovel e respodeu "We're too late."