Capítulo Trinta e Sete
Friends
(Amigos)
— Eu tenho que perguntar — disse uma voz atrás de Harry —, como diabos foi que a Granger acabou nos braços de Krum? — Ron se mexeu ao lado de Harry, e Harry chutou gentilmente seu tornozelo para que ele não falasse nem fizesse nada idiota.
— Seu lado muggle está aparecendo, Benson — falou Harry, virando-se com as sobrancelhas erguidas.
— Desculpe — rosnou Blaise. — Como em nome de Merlin foi que a Granger acabou nos braços de Krum? — Blaise usava vestes pretas com detalhes em um tom metálico de verde e prata. Era para ser espalhafatoso, mas de algum jeito combinava com ele. — Digo, ela ficou mais bonita do que eu esperava, mas...
— A gente se vê depois — falou Ron, afastando a cadeira. — Zabini.
— Weasley. — Blaise se sentou na cadeira que Ron vagara, e Ron se afastou antes que Harry pudesse dizer qualquer coisa. — Bem? Ele é um atleta internacional e ela é... bem, Granger.
— Seja gentil — falou Harry. Observou Ron desaparecer pelas portas, suspirou e então voltou toda sua atenção para Blaise. Ele ergueu as mãos em um gesto de entrega.
— Não estou sendo maldoso, só estou dizendo que é uma surpresa.
Harry o observou por um momento, mas sentia a honestidade em seu cheiro, então cedeu com um sorriso pequeno.
— Se quiser a resposta literal: ele a convidou.
— Fascinante — disse Blaise. — Imagine se Ruth, Leanne e Ryan pudessem vê-la. — Harry abafou uma risada, mas sentiu o cheiro no ar; não era do feitio de Blaise fazer uma menção direta à escola primária, mesmo quando eram apenas os dois. Não ficou surpreso ao descobrir que o cheiro de Blaise era conturbado.
— Está tudo bem? — perguntou Harry.
— Não — responde Blaise sombriamente. Então, num tom de quem fala do tempo: — Não reconheci seu par. — Usou a cabeça para indicar a pista de dança, onde Luna fazia uma dança estranha ao lado de Neville e Ginny. Harry tinha cumprido a dança obrigatória com ela e, então, apressou-se a pedir licença e ir fazer companhia a Ron.
— Luna. Ela é do terceiro ano.
— Luna quem?
— Lovegood. Corvinal.
Blaise olhou para Luna, abriu a boca, então pareceu pensar melhor e a fechou.
— Certo — falou. — Vou passar o feriado em Hogwarts.
Harry piscou, confuso com a súbita mudança de assunto.
— Certo — disse. — Achei que você costumava passar com o seu pai.
— E passo — disse Blaise. — Era pra eu ter ido, mas Dolly estava lá para me interceptar em King's Cross. A elfo da Giovanna — adicionou ao ver a falta de expressão no rosto de Harry. — Ela está assustada com toda essa atividade do Lorde das Trevas, não quer que eu me misture com os muggles, caso isso acabe pegando mal pra ela.
— Giovanna ou a elfo...
— Honestamente, Potter. Giovanna — respondeu Blaise, revirando os olhos.
— Sinto muito — ofereceu. Blaise resmungou. — Você...
— Shiu — disse Blaise.
— Mas...
— Shiu — repetiu Blaise e escorregou pela cadeira, ficando largado, os braços cruzados. — Não quero falar sobre isso, só quero ficar bravo e não ter que me explicar, e você é a melhor opção pra fazer isso.
— Fico feliz em ajudar, então — disse Harry sarcasticamente, e Blaise ofereceu um sorriso pequeno, o cheiro grato.
— Não é como se você estivesse fazendo algo melhor com o Weasley — falou Blaise. — Ele também parecia estar chateado. — Harry deu de ombros, sem negar, mas sem querer contar os problemas de Ron a Blaise; Ron já estava terrivelmente desconfortável com quantas pessoas sabiam.
Harry voltou a observar a pista de dança, mas, quando notou Padfoot rodopiando com McGonagall, voltou-se para Blaise.
— Os professores têm acesso ao flu no escritório deles, sabe — disse. — Acesso de verdade, não o restrito que temos nos Salões Comunais.
— Ótimo — disse Blaise sem entusiasmo.
— Não acha que seu pai está conectado ao flu? — continuou.
— Não — respondeu ele.
— Ah, bem, talvez possa usar o Flu até… — Era Blaise, mas Harry não sabia se era uma boa ideia contar o segredo da localização de Grimmauld — o Caldeirão Furado ou algum outro lugar. Ou talvez Padfoot ou Monstro, nosso elfo, possa te levar.
Blaise se ajeitou na cadeira.
— Será?
— Não vejo por que não...
— Ha... Ah.. — Hermione se aproximara por trás deles e agora observava Blaise com incerteza. — Olá.
— Granger.
— Não quis interromper — falou ela, cautelosa, olhando dele para Harry. Ela franziu o cenho com curiosidade para Harry, que deu de ombros.
— Não se preocupe — respondeu Blaise. — Eu já estava indo. — Ele apontou para Harry. — Eu vou te procurar amanhã, pode ser?
— Claro — disse, e Blaise ofereceu um sorriso pequeno antes de a expressão de desinteresse voltar e ele se afastar.
— Pensei em vir dizer um oi — comentou Hermione. — Viktor foi pegar bebidas. — Harry indicou a cadeira, e ela se sentou com um som agradecido antes de começar a esfregar os pés. — São horríveis — contou, soltando uma das tiras de prata dos saltos. — Pedi para a Lavender usar um feitiço neles, mas ainda estou ficando com bolhas.
— Tire — sugeriu Harry.
— Se eu tirar, nunca mais vou colocar — respondeu com uma careta. Ela trocou de pé. — Você vai passar a noite toda aqui, escondido da pista de dança?
— Provavelmente — admitiu. Hermione fez uma careta, mas era afetuosa.
— Acho que pelo menos você tem companhia — falou ela. — Eu vi o Ron aqui agora há pouco...? — Seu tom era casual, mas seu cheiro estava cheio de culpa e seus olhos corriam ao redor, como se tentasse encontrá-lo no salão lotado.
— Hã... na verdade, acho que ele subiu.
— Mesmo? — Hermione pareceu desapontada na mesma hora, mordeu o lábio e adicionou: — Já? — Harry fez uma careta. — Certo — continuou com a voz baixa e culpada, antes de parecer se recompor. — Certo. Bom, acho que isso significa que você vai dançar comigo, então.
— Achei que você tinha vindo descansar — respondeu. — Pés doloridos e...
— Vou sobreviver — disse Hermione, dando de ombros.
— Não pode dançar com o Krum?
— Já dancei com ele e com o Draco. Quero dançar com você. — Era desnecessário dizer que ela provavelmente também quisera dançar com Ron. — E acho que Luna provavelmente vai querer repetir a dose, e a Ginny. — Hermione correu os olhos pelo rosto dele e sorriu. — Não me olhe assim; estamos em um baile, Harry. — Ela terminou de esfregar o pé e se levantou, oferecendo uma mão. — Por favor?
Harry sorriu com relutância e se levantou.
-x-
Accio, Ron pensou, entediado, esticando a mão em direção à varinha. Ela continuou onde estava, acomodada no meio da mesa de centro da Sala. Accio. Ainda nada.
Imaginou se os outros ainda estavam no baile. Assumiu que sim — tinha perdido a noção de tempo enquanto estava na Sala, mas não achava que era muito tarde. E... e ele tinha voltado a pensar no baile, que era o tinha ido até ali para evitar.
Ron gemeu e correu uma mão pelo cabelo, voltando-se para sua varinha.
Accio.
Não era nem mais por Hermione ter escolhido Krum em vez dele, não de verdade; Hermione era inteligente e sabia julgar o caráter das pessoas. Ela certamente podia achar coisa muito pior do que Krum, mesmo que Ron achasse que ele era um pouco de um idiota grosseiro. E era óbvio que ela gostava dele — tinha visto naquela noite —, então era difícil ficar bravo com ela por não querer desistir de algo que já tinha e gostava pelo que poderia ser. Isso nem mesmo seria sensato, e Hermione era sensata.
— Provavelmente nem daria certo — falou para a Sala vazia; Krum era mais velho, talentoso (não só no Quadribol, mas com feitiços e outras coisas) e ele era famoso e rico, enquanto Ron, em comparação, era... Bem, era apenas Ron.
E estava tudo bem, mais ou menos; ele e Hermione eram amigos, até melhores amigos. Isso era mais importante para ele, de todo modo, e ele preferia tê-la como amiga a tentar um relacionamento que acabaria mal.
Só que ele meio que tinha tentado e tinha acabado mal, e talvez Hermione tivesse sido um pouco... Bem, ela podia ter sido mais gentil, mas tinha sido ele a colocá-la em uma situação difícil. Tinha sido ele que deixara as coisas estranhas entre eles... embora tivessem sido todos os outros que houvessem feito as coisas continuarem estranhas entre eles.
Ele sabia que a intenção era boa, mas toda a solidariedade de Harry e Draco estava o enlouquecendo, e desejava que eles parassem de ser tão cautelosos quando ele e Hermione estavam no mesmo cômodo. A própria Hermione... Bem, ela alternava entre fingir que nada tinha acontecido — o que Ron preferia, honestamente —, parecer culpada enquanto tentava não o ofender, e ficar defensiva sobre o assunto, e isso só fazia com que Ron se sentisse ainda pior; era óbvio que ele não estava exatamente feliz com o que tinha acontecido, mas ela estava e ele não queria fazê-la se sentir mal por isso, mas, mesmo assim, era o que parecia que passara semanas fazendo...
E ele estava pensando nisso de novo.
Ron soltou um som que era metade um rosnado, metade um bufar, e se levantou, pegando a varinha...
No ar.
Ron a olhou, descansando inocentemente em sua mão. Ele a olhou por vários segundos, antes de dar um passo para frente e voltar a colocá-la na mesa de centro. Como era de se esperar, ela ficou lá, imóvel.
Accio, pensou. Nada. Sentiu uma pontada de decepção.
Ron pensou, considerando como ela tinha ido até ele quando precisava dela, não quando tinha pedido ou mandado; como tinha acontecido quando estivera agitado em vez de quando estivera calmo e concentrado. Esticou a mão.
Accio. A varinha se chocou contra sua palma. Ele voltou a olhá-la, os olhos arregalados, e o começo de um sorriso descrente em seu rosto. Ele teria que...
A porta da Sala se abriu para revelar Hermione.
Ela estava de pijama e tinha tirado a maquiagem que usara no baile, mas o cabelo ainda estava liso e brilhante, fazendo com que ela parecesse... Bem, diferente dela mesma. Ron de repente ficou envergonhado da calça gasta do pijama e de seu suéter pequeno demais.
— Posso entrar? — perguntou ela, de algum jeito tanto tímida quanto energética. Ela não tinha chegado a entrar, então parecia ser uma pergunta sincera.
— O que está fazendo aqui? — perguntou ele, e ela pareceu entender a pergunta como uma permissão, pois entrou e fechou a porta atrás de si.
— Procurando por você — respondeu. — Fiquei lá fora uns dez minutos, tentando convencer a Sala a me deixar entrar...
— Hã... desculpa — murmurou Ron; ele tinha dito à Sala que não estava no humor para receber companhia. Então, curioso, perguntou: — Como conseguiu?
Hermione se aproximou e se encolheu em uma das poltronas. Ron percebeu que ainda estava de pé, segurando a varinha como um idiota, então também se sentou.
— Acho que não consegui — admitiu, dando um sorriso pequeno e incerto. — Achei que você tinha decidido me deixar entrar.
— Não decidi — disse Ron e, quando Hermione pareceu magoada, adicionou: — Não porque... Eu não sabia que você estava aqui. — Ele não tinha certeza se a teria deixado entrar se soubesse. — Imaginei que ainda estivesse no Salão ou... é.
— Meus pés estavam doloridos — falou. — E achei que a pós-festa não seria meu estilo...
— Pós-festa?
— Foi organizada por alguns alunos da Durmstrang. É no navio deles. O que… Bem, se há algo que me daria vontade de ir, seria a oportunidade de ver o navio, mas...
— Não é o momento — disse Ron.
— Não é — concordou, sorrindo. — Ainda assim, pode ser que o Harry veja ou ouça algo interessante.
— O Harry vai? — perguntou Ron.
— Não por vontade própria — falou Hermione, rindo. — Cedric o convidou, acho que só por educação, e Viktor entreouviu e disse que Harry tinha que estar lá como Campeão e, antes que Harry conseguisse achar um motivo para não ir, Fleur apareceu e disse alguma coisa sobre a idade dele. — A boca de Hermione tremeu, e Ron conseguiu imaginar como as coisas tinham acontecido. — Última vez que eu vi, ele estava sendo arrastado lá pra fora pelo Fred e pelo George. Eles parecem achar que Moony e Padfoot aprovariam... ou que teriam aprovado quando tinham a idade deles.
— Sem dúvidas — disse Ron; ele tinha conversado vezes o bastante com o Mapa para saber. — Aí você simplesmente o deixou?
— Harry dá conta de uma festa — disse Hermione. — Pode ser até que ele se divirta. E se não se divertir, ele é mais do que capaz de sair sem ser percebido. — Ron deu de ombros, tendo a opinião de que isso dependia mais da atenção que Fred e George tinham decidido prestar nele. Ainda assim, talvez Hermione estivesse certa; talvez ele fosse se divertir.
— O Malfoy foi? — Hermione balançou a cabeça.
— Eu o vi no Salão Comunal agora mesmo; ele estava indo dormir.
— Certo. — Ron procurou por mais alguma coisa para dizer, mas foi interrompido antes que encontrasse.
— Eu queria me desculpar — disse Hermione bruscamente. Ron piscou. — Eu fui... Eu fui muito injusta com você sobre... quando me convidou para o baile.
— Valeu — disse Ron, desconfortável e incapaz de olhar para ela; conseguia sentir que suas orelhas tinham ficado vermelhas. — Agora podemos nunca mais falar disso?
— Eu gostaria disso — falou Hermione —, só que não podemos. — O alívio, que estivera crescendo dentro de Ron como um balão, explodiu. Ele soltou um som meio ofegante, meio magoado. — Não conversar sobre as coisas foi como chegamos aqui — continuou ela. — E aqui tem sido horrível para mim... Espero estar certa ao assumir que foi para você também? Para não mencionar Harry e Draco, e...
— É, tem sido horrível — concordou Ron, interrompendo-a.
— Eu senti a sua falta — admitiu ela em voz baixa.
— Eu também — falou Ron, e o sorriso ansioso que ela lhe ofereceu aqueceu seu peito.
— Bem — falou ela, mais uma vez energética —, bom. Então... hã... Acho que o principal que precisamos conversar é... bem... onde estamos. — Ela olhou para as próprias mãos. — Eu gosto muito do Viktor.
— Eu sei — respondeu Ron e achou ter feito um bom trabalho em parecer acolhedor em vez de rancoroso.
— E... fico lisonjeada de verdade por você ter me convidado como... não apenas amigos. — Ela engoliu. — Mas eu não... eu... Nós somos bons amigos e gosto das coisas assim. — Ela olhou para ele então, preocupada, esperando.
— Eu também — falou Ron, e ela relaxou um pouco, apesar de seus olhos serem cautelosos.
— Não como algo a mais — adicionou.
— É, eu entendi — disse ele. Era, na verdade, ouvir aquilo lhe dava um pouco de alívio; talvez não fosse a resposta que ele queria, mas era uma resposta e era clara. Ela ainda parecia esperar por algo, então ele adicionou: — Está tudo bem.
— Está? — perguntou ela.
— Sim — disse Ron. — Nós somos amigos. Isso é o que importa.
— Tem certeza?
— Não quer ser minha amiga ou o quê? — perguntou Ron, erguendo as sobrancelhas.
— Não! — disse Hermione. — Não, eu só... se você gosta de mim... — Pelo menos ele não era o único achando aquela conversa extremamente desconfortável; o rosto dela estava tão vermelho quanto o dele devia estar. — Então eu não quero te chatear ao... bem, ficar por perto...
— Tá, chega — falou Ron. — Eu achei... — Ele respirou fundo. — Olha, quando eu te convidei, eu achei... sabe, que pudéssemos tentar porque somos bons amigos. Que seria... sei lá, fácil. — Ele desejou que o sofá o engolisse ou que pudesse afundar no chão. — A gente já se conhece e você é brilhante... — Apesar de isso ser algo que ele dizia com frequência, de alguma forma pareceu pesar mais dessa vez, e Hermione pareceu mais cautelosa do que lisonjeada. — Então... seria mais fácil pra mim. Mas você não precisa concordar... você não concorda, e está... você pode...
— Ron?! — disse Hermione chamou subitamente, horrorizada. Ela começou a ficar em pé em cima da poltrona, apontando; o sofá tinha o envolvido até a altura do peito. Ele olhou para baixo, piscou e riu, o rosto pegando fogo, e se soltou.
— A Sala faz o que a gente quer — lembrou enquanto o sofá voltava ao formato normal, e Hermione ficou inexpressiva por um momento, depois divertida e apologética ao entender o que tinha acontecido.
— Lá se vai a coragem Grifinória — disse ela depois de um momento, voltando a se sentar em sua poltrona. Ron sorriu.
— Estou sendo corajoso — falou. — É algo horrível a ter que se conversar...
— É mesmo — concordou ela, com uma careta e uma risada. — Então, nós estamos bem?
— Estamos — disse ele. — Podíamos estar bem sem termos falado de nossos sentimentos, mas você tinha que nos obrigar...
— Só queria ter certeza de que estamos na mesma página! — disse Hermione.
— Acha que estamos?
— Acho que sim — falou. — Somos amigos... apenas amigos, e tudo bem. Para nós dois. — Tinha quase sido uma pergunta, então Ron assentiu. — E você não vai ficar chateado com...
— Sua existência? — sugeriu ele.
— Viktor — falou ela, com um sorriso pequeno de censura.
— Ah, não prometo nada — falou ele, mas sorriu para que ela soubesse que estava a provocando. Ela riu. — E você não vai me tratar de um jeito diferente. Se você vai falar sobre o Viktor com o Harry e o Malfoy ou vai apresentá-los para ele, deve fazer o mesmo comigo.
— É o que você quer? — perguntou ela.
— Sei lá — respondeu. — Mas eu vou decidir se consigo lidar com isso ou não.
— Tudo em — concordou ela.
— Tudo bem — repetiu Ron, sentindo-se quente por dentro mais uma vez. Eles trocaram um sorriso por vários momentos, e Ron soube que tudo realmente ficaria bem.
Hermione bocejou e se levantou.
— Bom, agora que já resolvemos isso, eu vou dormir — falou e fez um show do ato de esfregar as mãos. Ele sorriu com aquela petulância fingida. Mas ela não foi embora imediatamente, apenas ficando parada. Ela esperava, mas não era de um jeito tímido e não era um teste; era mais como se anunciasse que ela e Malfoy iam à biblioteca, mas Harry ia visitar Hagrid, e ela simplesmente esperava para se certificar de que não o deixaria para trás se ele decidisse seguir o mesmo caminho.
Era bacana. Casualmente amigável de um jeito que não tinham sido por semanas, e por isso Ron também se levantou, deixando a varinha no sofá.
— Obrigada — falou ela. — Por... conversar de verdade. E sinto muito que a sua noite tenha sido péssima. — Ela esticou o braço e apertou a mão dele.
— Não foi de todo ruim — contou ele, devolvendo o aperto na mão dela. — Nós fizemos as pazes. E olha isso. — Ele ergueu a mão livre.
Accio.
Nada aconteceu, e Hermione o olhou com confusão.
— R...
— Não, espera. — Ron esticou mais um pouco o braço, impaciente. Accio. A varinha se chocou em sua palma, e Hermione o olhou com os olhos arregalados.
— Isso...
— É — falou Ron, sentindo-se satisfeito consigo mesmo. — Maneiro, né?
— Maneiro — repetiu ela num fio de voz antes de balançar a cabeça. — Nós vamos conversar sobre isso. Eu tenho várias perguntas.
— Devia ter adivinhado que você não ia só achar legal e seguir a vida — falou Ron, resignado. — Pergunte, então.
— Hoje não — disse Hermione, abafando outro bocejo. — Estou cansada demais para pensar direito. — Mal tinha dado o primeiro passo quando ela perguntou: — Há quanto tempo está praticando?
— Desde o verão — admitiu.
— É o que esteve tentando fazer com os talheres e as penas?
— Sabe, tá parecendo com um monte de pergunta...
Hermione revirou os olhos, mas sorria levemente.
Ron se certificou de que o corredor estava vazio — já tinha passado bastante do toque de recolher, mesmo se considerassem as exceções feitas para o Baile — antes de guiar o caminho para fora da Sala, bocejando.
— Bem, bem — disse a Mulher Gorda, olhando de um para o outro, e depois virou os olhos cheios de significado para Violet, com quem dividia o retrato naquela noite.
— Visco — disse Hermione.
— Atrevo-me a dizer que teve — riu-se Violet, apontando para eles.
— Quieta, Violet. — A Mulher Gorda balançou uma mão para ela antes de cruzar os braços. — Vocês...
— Ron? Hermione? — Harry e Sirius apareceram no topo das escadas, os dois ainda usando as vestes de gala, apesar de estarem com os rostos e os cabelos molhados e algumas manchas úmidas nas roupas.
— Por que estão molhados? — perguntou Hermione.
— Pirraça — falou Harry.
— Eu pedi que ele desencorajasse quem estivesse pelo castelo fora de hora — falou Sirius secamente. — Esqueci de abrir a exceção para mim e para os outros professores, e ele foi bastante entusiasmado em sua abordagem... ele passou pelo Saguão de Entrada bem na hora que os professores estavam juntando quem ficou para trás, com uns balões cheios de água gelada... Snape tomou seu banho anual.
Ron gargalhou.
— Você não ficou muito na festa, então — comentou Hermione.
— Moony estava acompanhando algumas garotas da Beauxbatons até a carruagem e viu a gente ir em direção ao lago — contou Harry, mas não parecia particularmente chateado. — Ele diz que estava escuro demais para reconhecer qualquer outra pessoa além de mim, então diz ter assumido que eram todos de Durmstrang, maiores de idade e por isso eles podiam seguir em frente, mas que eu tinha que ir com ele.
— Isso não foi muito responsável — disse Hermione.
— O que... McGonagall nunca deixa que vocês fiquem acordados até tarde depois de uma partida de Quadribol? — Sirius sorriu. — Eles vão descer daqui uma ou duas horas e mandar todo mundo ir dormir. — Sirius inclinou a cabeça. — Por falar nisso... O que vocês dois estão fazendo acordados?
— Estávamos na Sala — disse Ron.
— Mesmo? — perguntou Harry e passou a ter uma conversa silenciosa com Hermione por meio de uma série de inclinações de cabeça, assentir e sorrisos.
— Com essa reação, posso assumir que não foi nada demais — disse Sirius, olhando para Harry. — O que significa que não vou pedir os detalhes, mas vou dizer que está na hora de irem dormir. — Ele indicou o buraco do retrato, de onde a Mulher Gorda e Violet ouviam a conversa sem pudor.
— É isso? — perguntou Violet. — Sem sermões?
— Ele seria um hipócrita se desse um sermão — disse a Mulher Gorda. — Não reconhece o Sirius Black, Violet?
Continua...
N/T: É, eu sei. A volta dos que não foram.
Quem diria que trabalhar com livros cansaria e tiraria a vontade de mexer com texto depois do expediente, não é mesmo? Mas o fim de ano está aí, o recesso tá chegando e espero usar meus dias de folga para voltar. Não prometo atualizações frequentes como antes, mas prometo que um dia termino de traduzir e postar a tradução dessa série (de preferência com mais frequência do que... sei lá, primeira vez em mais de seis meses?).
Se ainda tiver alguém interessado em ler essa fic, deixa um comentário aí pra eu saber! E até a próxima!
