9º Capítulo – Sombras e Lembranças na Noite
Kai recuou. Se já estava com suores frios ainda piorou. Não sabia o que pensar, não sabia o que fazer e nem sabia que sentir. Perdeu a consciência durante momentos e quando seu por si tinha caído de joelhos no chão.
- Kai, o que se passa? – o Tyson entrou a correr no quarto e aproximou-se dele aparando-o, impedindo que desmaiasse. A Hillary tinha acordado com os gritos do Tyson e tinha ligado as luzes. Kai olhou para o seu companheiro com a pior expressão que alguma vez os seus amigos tinham visto. Estava aterrorizado e tremia também. O Tyson não acreditou que o amigo estivesse naquele estado. Nunca o tinha visto assim!
- Vão buscar água depressa! – a sua voz saiu exaltada para os outros rapazes que estavam à entrada do quarto a observarem tudo. – O Kai está a entrar em choque!
O Max correu a buscar água e levou-a até eles.
- Kai olha para mim! Kai… KAI!
Foi preciso abaná-lo para que o jovem voltasse a si.
- Ty…son… – gaguejou.
- Bebe isto. – o Kai bebeu o conteúdo do copo com alguma dificuldade. Porém os seu olhar recusava-se a abandonar a figura que dormia na cama mesmo em frente. Os seus olhos arregalaram-se e, sem saber se era real, viram a rapariga a erguer-se na cama com os dentes afiados de um vampiro e os seus olhos vermelhos, mas ninguém tinha reparado nisso.
- NÃO!
O choque foi tão forte que o rapaz acabou por desfalecer nos braços do Tyson e do Max.
- Ó não! O Kai não está nada bem, temos de chamar alguém! – o Ray também se tinha aproximado. Olhara para a cama tentando perceber o que o seu colega teria visto para gritar assim, mas não viu nada de estranho. Maylene ainda dormia, mas também era normal devido ao seu estado de saúde.
Levaram o Kai de volta à sua cama e deixaram-no aí ficar. Nunca o tinham visto desmaiar e nem manifestar tal comportamento. Ainda se questionavam se aquele era realmente o Kai e se ele se tinha passado.
- As coisas não estão nada bem. Primeiro a Maylene e agora o Kai! Temos de sair daqui o quanto antes… – a voz do Ray soava grave e insegura. Hillary estava junto deles mas não muito próxima da cama do Kai, nem do Tyson ou do Max, que neste momento limpavam o suor das testas de terem levado o Kai para o quarto. A forte estatura do rapaz fazia-o ser pesado e difícil de transportar, mas com algum esforço, e ajuda do Ray também, lá eles tinham conseguido. O Kai continuava lavado em suor e eles tiveram de lhe tirar a camisola. Hillary foi buscar uma toalha e outra camisola para ir ajudá-los, mas o Ray deteve-a quando estava a entrar novamente no quarto.
- Deixa estar que nós tratamos disso… Vai ver como está a Maylene. É também com ela que estamos preocupados.
Hillary concordou e retirou-se. Regressou ao seu quarto e foi verificar o estado da companheira. A face da Maylene estava mais rosada e já não se encontrava tão fria. Ajeitou-lhe um pouco os cabelos e os lençóis, voltando a tapá-la. Sentou-se na beira da cama e olhou pela janela. A lua cheia erguia alta no céu com poucas estrelas à sua volta.
……….
Kai acordou cerca de hora depois de ter desmaiado. Sentiu uma coisa húmida sobre a sua testa e quando abriu os olhos viu um fio de claridade da luz da sala a entrar pela frecha da porta entreaberta do quarto. Ouviu as vozes dos seus companheiros e apercebeu-se que eles estavam reunidos num círculo no chão a falarem. Ergueu-se da cama e notou que tinha repousado na cama do Tyson e tinha uma nova camisola vestida e que lhe ficava bastante justa, salientando os seus peitorais e músculos.
De repente lembrou-se do que acontecera. Levantou-se num salto e correu para fora do quarto. Precisava de confirmar se tinha sido um sonho… Quando os seus colegas viram-no a sair do quarto levantaram-se num ápice e foram agarrá-lo.
- Deixem-me!
A voz dele soou nervosa e autoritária. Desobedecer àquela ordem podia significar a morte deles, mas pela primeira vez eles enfrentaram o companheiro e não o largaram.
- Primeiro tens de te acalmar Kai. Não vais dar mais nenhum passo até te acalmares.
- Vocês não percebem! A Maylene…
- Ela está bem. Ainda está a dormir e a Hillary está com ela. Está tudo bem, só tu é que estás passado!
Um murro certeiro deitou ao chão o Max. O Ray e o Tyson tiveram de segurar com mais força o colega. Kai continuava a lutar contra os seus amigos e ignorara completamente o que o Max dissera. A Hillary ao ouvir a tremenda barulheira saiu do quarto para ver o que se passava e viu os rapazes a lutarem com todas as suas forças, impedindo que o Kai de dar mais um passo.
- Vão buscar algo! Um calmante ou uma merda qualquer!
O Daichi obedecendo de imediato ao pedido do Ray, foi procurar imediatamente qualquer coisa que os pudesse ajudar.
- Aí na minha mala pequena estão uns sedativos que trouxe para o caso de não conseguir dormir. – informou a Hillary. O Daichi rapidamente os encontrou e enquanto o Kenny foi buscar um copo de água, o Max voltou a levantar-se do chão a ajudou de novo os seus dois amigos a segurar o Kai.
Daichi tirou uns comprimidos e colocou-os no copo que o Kenny trouxera e em poucos segundos os comprimidos misturaram-se com a água. Como o Kai recusou-se a pôr à boca o que quer que fosse, eles tiveram de o fazer engolir aquilo pela garganta abaixo. Foi muito difícil e com algum conteúdo do copo por fora, mas lá conseguiram e milagrosamente em poucos minutos e Kai caía de novo nos braços deles.
Respiraram de alívio e levaram-no para o quarto novamente. As últimas noites eram sempre assim tão agitadas e não tinham descanso. Aquele país era uma maldição e pela primeira vez eles rogavam pragas ao Beyblade. Se não fosse pelo Beyblade nunca tinham ido ali parar…
Voltaram para a sala e atiraram-se todos para o sofá.
- A nossa sorte é que os comprimidos fizeram logo efeito. – suspirou o Kenny.
- Para mim, só vou lá com coisas fortes. Um comprimido daqueles e tenho uma noite de sono garantida sem interrupções. Demora é ainda uns minutos a fazer efeito. Ainda bem que os tinha trazido…
Daichi mostrou-se um pouco agitado ao ouvir o que a rapariga dissera. Começou a mexer muito nas suas mãos e a olhar comprometidamente para todo o lado.
- Hillary disseste que aquilo era forte? – perguntou como quem não quer a coisa, ou assim tentando parecer.
- Exacto. Pelo menos o Kai vai dormir a noite toda e amanha estará mais calmo. – respondeu a jovem sorrindo para os rapazes. Sentia-se um génio por ter tido a ideia de ter a solução para o que sucedera. Eram as raparigas que salvavam sempre estas situações e a Hillary não era excepção. Ela era um elemento indispensável da equipa. Podia não jogar Beyblade mas sem ela eles também não conseguiam ir muito longe. Sem a fonte da razão e a génia nestas situações, os rapazes bem que podiam bater com as cabeças nas paredes que não lhes chovia nenhuma solução. Mas neste momento a Hillary notou que algo não estava bem. – Quantos comprimidos puseste no copo? ('')
O Daichi desviou logo a cara e começou a assobiar enquanto uma gota muito grande começava a escorrer-lhe pela cara.
- Acho que foram uns cinco.
O silêncio abateu-se sobre a sala. Ninguém disse nada e os outros rapazes limitaram-se a olhar para a rapariga, encontrando-a completamente branca e com os olhos esbugalhados.
- CINCO! TÁS MALUCO! QUERES MATAR O KAI?
- Matar…? – todos ficaram iguais à jovem.
Esperaram que ela explodisse e desatasse a gritar mas isso não aconteceu. A Hillary limitou-se a levar as mãos à cabeça e disse com uma voz baixinha e fina.
- Acho que o Kai vai dormir durante uma semana!
- UMA SEMANA?
……….
(FLASH BACK)
- Não lhe posso dizer quando o rapaz irá acordar porque tivemos de apertar na anestesia. A operação não correu mal mas as hipóteses de ele voltar a recuperar totalmente são muito pequenas.
- Doutor, ele poderá voltar ao Beyblade quando?
- Senhor Voltaire, lamento dizer-lhe isto mas ele poderá nem sequer recuperar os movimentos normais do braço…
Vozes ouviam-se ao longe e os ouvidos de um rapaz apenas apanhavam fragmentos de palavras. Uns olhinhos azuis roxeados abriam-se vagarosamente e no início viram tudo branco à volta. Aos poucos sombras foram ganhando cores e os contornos foram definindo os objectos. Um pequeno rapaz fitou um candeeiro enorme, cheio de cristais e lacado a ouro suspenso no tecto. Não sentia o corpo e nem se conseguia mexer. Tentou virar o pescoço com alguma dificuldade e por vim vislumbrou uma porta entreaberta que ocultava dois indivíduos que falavam sobre o seu estado de saúde. Uma das vozes era conhecida, era a voz do seu avô, a outra era desconhecida, supostamente da pessoa que o operara.
- Fizemos os possíveis e agora só nos resta esperar. Conseguimos controlar a inflamação e não será necessário amputar-lhe o braço, mas se ele irá recuperar os movimentos só tempo o irá dizer.
- Muito obrigado doutor. Tenho a certeza que o meu neto vai recuperar e será rapidamente.
- Não espere por isso. Até mesmo que ele recupere os movimentos no braço nunca serão como antigamente. Irá levar muito tempo e só será possível com fisioterapia. Creio que se tudo, realmente, correr pelo melhor, no mínimo daqui a três anos teremos alguns resultados.
Passos acusaram o afastamento de um dos indivíduos. O rapaz fechou os olhos e sentiu o sono a apoderar-se dele outra vez. A porta foi aberta e o senhor Voltaire entrou.
- Raios te partam Kai! Tinhas de destruir a Abadia e além disso tinhas de estoirar com o teu braço direito. Mas custe o que custar vais regressar ao Beyblade o mais rapidamente possível! Serás um campeão e dar-me-ás a vitória total. – e dizendo isto o homem retirou-se do quarto.
……….
A porta abriu-se um pouco e uma face infantil espreitou. Kai acabara de acordar outra vez e ouvindo a porta guinchar voltou-se. Viu uma face rosada com uns olhinhos azuis brilhantes espionarem. Ele piscou os olhos e voltou a olhar. Lentamente a pequena figura saiu de trás da porta timidamente e mostrou-se. Era uma rapariga com uns cabelos negros caídos até às suas costas. Era mais nova e mais baixa do que o rapaz que repousava na cama.
Ela aproximou-se da cama e fitou o rapaz enquanto corava. Queria perguntar-lhe como é que estava mas não conseguia falar. O Kai fitou-a e deixou-se ficar a olhar para ela sem ter qualquer reacção. Quem era aquela rapariga e que estava ali a fazer?
(FIM DO FLASH BACK)
Após todas a inter-ocorrências, o dia que se seguiu foi mais calmo. Os rapazes dormiram pouco mas também não queriam perder tempo com os olhos fechados. Almoçaram, treinaram um pouco durante a tarde mas após o Daichi ter partido uma cadeira da suite levaram um sermão da dona e tiveram de parar e passar o resto da tarde sentadinhos no sofá sem sequer fazer o mínimo ruído, não fosse a mulher ouvir.
Maylene ainda não tinha acordado e quanto ao Kai, nem vale a pena falar dele. Não iria acordar tão depressa…
Jantaram cedo e pela primeira vez (um acontecimento histórico), o Tyson, o Daichi e o Max não comeram tantas sobremesas como das outras refeições.
Entretanto, Maylene abria os olhos e erguia-se na cama. Sentia a cabeça aos ziguezagues e estava muito fraca. Olhou pela janela e viu o sol a começar a descer no horizonte. Tentou pôr-se de pé mas teve de se voltar a sentar na cama. Estava desarrumada e despenteada mas também não se preocupava com isso. Com grande esforço lá conseguiu pôr-se de pé e caminhou devagar até a porta. Teve de se segurar ao vão da porta e as forças nas pernas faltaram-lhe. Doía-lhe imenso o corpo, mas principalmente o seu ombro do lado esquerdo. Deixou-se escorregar até ao chão e aí ficou encostada à parede.
Alguns minutos depois os rapazes entraram no quarto e ficaram admirados quando a viram no chão. É claro que se assustaram, mas ela só estava fraca.
- Maylene, estás bem? – o Ray e o Tyson foram bater um contra ao outro de terem corrido, ao mesmo tempo, até ela.
- Estou sim, não se preocupem. Apenas estou fraca.
- E não é para menos, há dois dias que não comes nada.
O Kenny saiu da suite e foi buscar alguma coisa para ela comer. Os outros ajudaram-na a ir para o sofá e passados momentos, o Kenny subia com uma sopa. Ela não quis comer, mas eles lá a conseguiram convencer a comer algumas colheres. A Hillary ajudou-a a pentear e a arranjar-se um pouco.
- E onde está o Kai? – perguntou a rapariga notando a falta de alguém.
Os outros olharam uns para os outros e ficaram embaraçados. Não tinham coragem para lhe dizer o que acontecera. Não tinha sido uma situação muito agradável!
- Ele está um pouco ocupado. – rematou o Max de imediato.
- É isso mesmo! Ele está ausente e não sabemos onde está. – continuou o Tyson mas com uma expressão que dizia que era completamente mentira. Ela ia reclamar mas um chamamento ouviu-se do andar inferior. A dona da pensão estava aos berros a chamá-los.
Ficaram nervosos mas era a oportunidade óptima para se esquivarem da Maylene. Saíram todos ao mesmo tempo para irem ver o que se passava.
Maylene ficou novamente sozinha mas não por muito tempo. Deslizou-se até à mesa onde estava o seu pião ao lado dos outros piões. Pegou nele e ficou a observá-lo. Fora aquilo que a levara ali e a partir daquele momento seria aquele objecto que a prenderia ali. Sentiu uma voz acordar dentro dela e começar a chamá-la. Olhou pela janela e viu tudo escuro. Não vislumbrava o castelo. A voz que a chamava começava a ouvir-se mais intensamente na sua cabeça. Ela voltou-se para a porta da suite e avançou. Saiu e caminhou pelos corredores da pensão, mesmo de camisa de dormir. Foi até às escadas que conduziam ao terraço e sem hesitar começou a subi-las. Abriu o alçapão e viu-se em cima da grande varanda onde o Kai estivera dias antes. Avançou até ao muro e daí pode ver o castelo brilhante no cimo da montanha. Curiosamente, todas as janelas do castelo estavam iluminadas como se este fosse habitado. Viu uma sombra voar na sua direcção à medida que se ia tornando mais nítida. Um vulto poisou na sua frente no cima do muro. Estava coberto com uma capa negra, mas assim que saltou para o chão, a sua capa desapareceu e ela viu que se tratava do mesmo homem que vira nas outras vezes. Altos, loiro, jovem, pálido e agora sorridente. Segurou-lhe na mão e voltou a beijá-la.
- Elizabeth!
Ela sorriu e olhou-o nos olhos. Não sabia explicar porquê mas agora sentia-se à vontade com ele e era como se ele já não fosse um estranho.
- O meu nome é Maylene.
- Maylene… – ele esboçou um sorriso e voltou a beijar-lhe a mão. – Lindo nome!
O sangue dela começou a gelar e de novo entrou em transe. Ele ajudou-a a subir até ao muro e de novo flutuou no ar, sem notar o seu Beyblade tinha caído por entre as mãos e ressaltado no cimento do terraço. Convidou-a a avançar e ela sem hesitar deu um passo em frente e, milagrosamente, conseguiu flutuar no ar, mas de repente perdeu o equilíbrio e deixou de se aguentar. Ele agarrou-a apertando-a contra o seu corpo.
Aquele abraço… Uma lembrança percorreu as memórias dela. Foi como recordasse o calor do abraço que Kai lhe havia dado antes. Mas este abraço, ao contrário do outro, era frio e pouco acolhedor.
- Kai… – e murmurando este nome acabou por desmaiar nos braços do estranho. Ele envolveu-a na sua capa e ergueu-a nos braços. Asas de morcego nasceram-lhe nas costas e voou em direcção ao castelo.
……….
Kai, adormecido sob o efeito do medicamento, entrou num sono agitado no qual a Maylene estava a ser raptada por um monstro e ele não a conseguia alcançar nem salvar. Mas depois já não era a rapariga que precisava de ser salva mas sim ele. Eram crianças que corriam que nem loucas, sorrindo e amando-se. Kai carecia de ser salvo e regressar a este estádio da sua vida que perdera há muitos anos atrás.
(FLASH BACK)
Kai nunca mais poderia jogar Beyblade nem pegar num pião – fora este o diagnóstico pós-operatório. Mas quando menos esperavam, ainda nem uma semana tinha passado depois da operação, um milagre tinha acontecido.
Numa das visitas que a pequena rapariga lhe fizera em segredo e tocara-lhe na mão, ele respondera movimentando os dedos para juntar ainda mais as mãos.
(FIM DO FLASH BACK)
É claro que estas eram lembranças que Kai esquecera, por terem sido muito dolorosas no seu passado.
Fim do 9º Capítulo
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Sem mais nada a dizer para além de: "Desculpem a demora!"
Este capítulo tem alguns pontapés na gramática e peço desculpa por isso. Eu notei imensas falhas quando o estava a reler mas não tive paciência para queimar alguns neurónios a corrigi-las. Espero que não diminua a qualidade da Fic e para o próximo capítulo prometo que me esforçarei mais (nessa altura já estarei, definitivamente, de férias - XD).
Arigatou a todos os que leram e especialmente às minhas meninas! Hoje não há agradecimentos pessoais, apenas um grande agradecimento geral!
E ANIME TALES FOREVER!
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