13º Capítulo – A Campa do Vampiro
O lume na lareira ardia fugazmente. Labaredas laranjas e azuis subiam e aqueciam o frio ambiente da sala. Maylene regressou a si e viu-se sentada num cadeirão. Alguém, ajoelhado aos seus pés, segurava a sua mão. Kai… Mas não era ele! Uns olhos castanhos fitaram-na alegremente.
- Já acordaste Maylene. Ainda bem.
- O que aconteceu?
- Desmaiaste junto do portão do castelo. Eu tinha pedido que não saísses... Há lá fora criaturas devoradoras de homens e nunca me perdoaria se algo de mal te acontecesse.
Ele beijou-lhe a mão e ela, de novo, sentiu aquela sensação gelada, como se estivesse a ser tocada por gelo. Como alguém tão bonito como ele podia ser assim tão frio?
- Devias comer alguma coisa. Estás fraca e precisas de te alimentares.
Ajudou-a a levantar-se do cadeirão e conduziu-a até à mesa que se encontrava no centro da mesma sala. Esta estava, totalmente, posta e cheia de comida, que pelo aspecto devia ser deliciosa. Ela sentou-se com o auxílio dele numa das extremidades da mesa e o Conde dirigiu-se para a outra extremidade, que ficava afastada dela uns 3 metros.
Maylene não demorou a servir-se. Estava muito fraca e precisava de se alimentar. Ao contrário dela, o Conde, limitou-se observar.
- Não vai comer?
- Não tenho fome por agora. Alimentarei-me mais tarde, mas tu é que precisas de comer algo, por isso fica à vontade.
Ela serviu-se mais um pouco mas antes de comer qualquer coisa, fixou-o.
- Quem é o senhor e porque é que me trouxe para aqui?
- Chamo-me Vladimir Dracul e apenas estou de passagem por aqui. Como sentia-me sozinho, pensei em trazer-te para aqui só durante uns tempos. – ele fitou-a com um sorriso trocista. – Gostaria que ficasses a fazer-me companhia só durante uns dias, antes de eu partir de novo.
- E depois levar-me-á para casa, para ao pé dos meus companheiros?
- É claro! – ele fechou os olhos ainda mantendo o sorriso, mas havia algo estranho na sua expressão que ela não chegou a notar.
- E este vestido…
- Fica-te muito bem. – apressou-se a dizer. – Era o favorito da minha mulher. Elizabeth… E quando olho para ti, lembro-me logo dela. São muito parecidas e esse vestido merecia ser vestido por alguém como tu.
Ela quis perguntar-lhe o que acontecera à tal mulher, mas ao ver uma tristeza a apoderar dos olhos do Conde, não conseguiu dizer nada.
- Posso também chamar-te de Elizabeth?
Esta pergunta apanhou-a de surpresa.
- Er… não… quero dizer… o meu nome é Maylene. Gostaria que me tratasse assim!
- Maylene… – a tristeza manteve-se no seu rosto. – Tudo bem… Chamar-te-ei de Maylene, o teu nome.
Ela começou a comer. Ainda pouca coisa tinha levado à boca, quando uma dúvida a envolveu.
- O senhor não é o vampiro Drácula das histórias, pois não?
- Vampiro? – ele pareceu-lhe admirado, o que a acalmou ligeiramente. Mas mesmo assim, o sorriso matreiro e maldoso no seu rosto revelava tudo. – Há quem chame muita coisa a um guerreiro que apenas quis proteger o seu povo. Mas, se é isso que queres saber, esta noite não beberei o teu sangue…
Os olhos dela arregalaram-se e entrou novamente em transe. Não sabia porquê, mas os olhos daquele homem tinham-se tornado vermelhos e, só de olhar para eles, era como ficasse envolvida num feitiço maldito, do qual não se conseguia libertar. Cada célula do seu corpo pedia ajuda.
Ouviu-se um ruído do lado de fora da sala, o que a trouxe à realidade. Ele levantou-se nervosamente.
- Deve ser apenas o vento. Vou ver o que se passa. – e saiu da sala.
……….
- Que vocês pensam que estão a fazer?
- Desculpe mestre, mas é que o Ekiminu acabou de desaparecer. – guinchou, nervosamente, o Baital.
- Isso mesmo. Não sabemos como, mas aqueles rapazes imundos acabaram com ele. – completou o Obours.
Drácula, já com a sua habitual aparência demoníaca, cruzou os braços e fechou os olhos durante momentos.
- Devemos tratar nós deles? – perguntou o Baital com o seu guincho agudo.
- Não. Deixem-nos chegar ao castelo que eu próprio me encarregarei deles. Até as criaturas da noite os irão deixar passar até ao meu castelo. Muahahahahahahahahaha!
Um grito horroroso ecoou por todo o castelo.
- Então não incomodaremos mais o senhor e a sua dama.
- Retirem-se…
- Sim! – e com um vénia profunda as duas criaturas desapareceram.
……….
- O que aconteceu?
- Nada, minha querida Maylene. Como eu tinha dito, foi só o vento.
Vladimir entrou de novo no salão, reparando que ela já acabara a sua refeição. Estava tão bela, ali sentada, com aquele vestido e à luz da lareira.
- Devias ir descansar um pouco.
Uma expressão relutante alertou-o para o pensamento da jovem.
– Vou levar-te a um sítio agradável…
Conduziu-a pelos labirintos do castelo até chegar a um quarto do segundo piso, na ala direita do castelo. Parou frente a um quarto e abriu a trabalhada porta de madeira. Maylene deparou-se com um quarto bastante amplo, com um cama grande de dossel, mesmo no centro deste, e um mobiliário bastante mais acolhedor que todos os outros que já vira.
- Era o quarto da minha Elizabeth e por isso gostaria que o usasses.
Ela deu alguns passos para o seu interior. Era de facto acolhedor mas, ao mesmo tempo, era como se o espírito da dama ainda ali se encontrasse. Numa das paredes, existia um buraco onde, teve a certeza, existira uma tela, talvez um retrato. Olhou melhor à sua volta e respirou de alívio, ao constatar que não havia qualquer caixão.
- Então boa noite e descansa até amanhã. – ele fechou a porta atrás de si e retirou-se. O sol começava a querer nascer, o que significava que não tinha mais tempo. Após comer a sua refeição depressa, encaminhou-se para o seu caixão e ali repousou até à noite seguinte, na qual teria trabalho extra.
……….
O sol voltava a desaparecer no horizonte, indo finalmente dormir, depois de mais um dia a brilhar. O grande portão, o único meio de entrar possível naquele castelo, abriu-se. As muralhas eram enormes e assustadoras e havia o leito de um rio agora seco e coberto de pedras. Estaria o Conde Drácula a convidá-los a entrar? Mas eles tinham de entrar se queriam salvar a companheira.
Ficar mesmo de frente ao castelo seria uma loucura. Entrar pela porta principal seria uma loucura ainda maior. Deviam esconder-se um pouco, para que não fossem vistos, mas o Kai suspeitava que estavam a ser observados a partir do momento que tinham chegado.
Entraram no grande pátio que dava acesso a uma escadaria coberta de trepadeiras secas e amarelas, e esta, por sua vez, ia dar ao portão do castelo. Gárgulas estavam em revelo no mesmo. Eles não avançaram em frente, em vez disso viraram à direita e foram dar a um cemitério.
- Não… acredito! Vamos… por outro… lado! – pediu o Kenny quase sem pinga de sangue.
- Não. Ficamos aqui durante uns momentos até descobrirmos um meio de entrar no castelo. Ele nunca suspeitará que estamos aqui no cemitério. – decidiu o Kai e sentou-se junto ao tronco de uma árvore, com uma copa densa e muito próxima do chão. Ali eles podiam ver facilmente o ambiente em redor, sem serem vistos por ninguém.
Tiveram de arrastar o Kenny para o lugar escolhido pelo Kai porque estava, nada mais, nada menos, do que uma campa de um defunto mesmo ao lado.
A noite ia caindo e os ruídos dos lobos voltavam a despertar.
- Já que estamos aqui, que tal irmos ver a famosa tumba do Drácula. – sugeriu o Max.
- Tenho a certeza que está vazia.
……….
Passos ecoaram pelo castelo. Pé ante pé, Maylene desceu a escadaria até ao salão. Ali estava a mesa posta para ela, repleta de comida ainda melhor que na noite anterior. Comeu sozinha e quando estava a terminar a refeição é que Vladimir entrou.
- Peço desculpa pela demora mas tive uns assuntos urgentes a tratar.
- Não tem problema. Sente-se e coma também.
- Já comi. Agora queria mostrar-te uma coisa.
Pegou na mão dela e levou-a até uma das torres do castelo. Através da varanda, a rapariga avistou tudo à sua volta, até onde o horizonte o permitia. Estava uma noite calma, iluminada e viam-se poucas nuvens no céu.
- Este é o meu reino e ainda é mais extenso do que o horizonte permite ver e, se quiseres, também será teu.
Maylene olhava encantada para as árvores, a floresta que cercava o castelo e até a vila conseguia ver dali. Era fantástica a vista…
……….
- Será esta a campa dele?
- Não tenho dúvidas Daichi. Não vês que é mais rica que os outros túmulos? Só esta pedra tumular deve valer uma fortuna e ser muito pesada.
Estavam frente a uma campa com uma pedra tumular enterrada na terra e ricamente trabalhada. Era de mármore e tinha gravado no seu centro a imagem de um dragão. Max a contemplava encantado.
- Então malta, só uma pergunta muito simples… – disse a Hillary. – Porque é que o túmulo está aberto e até conseguimos ver o caixão intacto?
Um frio gélido tocou-os a todos. O Ray afastou-se uns passos. De facto eles viam o caixão no interior do buraco que não estava tapado. Um monte de areia estava na borda do túmulo e parecia ter sido retirado recentemente.
- Vamos ver o que tem lá dentro.
O Kai saltou para dentro da cova e tentou abrir o caixão. Este era muito pesado, mas logo o Tyson e o Daichi também se juntaram a ele.
Com o ruído das dobradiças enferrujadas, o caixão abriu-se sem mais nenhum esforço e, para espanto de todos, puderam constatar que estava totalmente vazio.
- Meu Deus! – a Hillary levou as mãos ao peito. O Kenny tremia junto da árvore onde tinham estado momentos antes de se porem a explorar o cemitério.
Estava escuro mas a luz das estrelas e da lua dava bastante luminosidade para eles. O luar batia nas brancas pedras tumulares e era reflectido, o que tornava o cemitério, um pouco, menos assustador.
- "Sete eles são! Sete eles são! Espíritos que dominam o céu e a terra. Que diminuem o céu, espíritos que diminuem a terra. Com força gigantesca. Com força gigantesca e gigantesco pisar demónios, como touro bravos, grandes fantasmas. Fantasmas que invadem todas as casas. Demónios que não têm vergonha. Sete eles são! Sem nenhum cuidado, pulverizam a terra como milho. Sem perdão, investem contra a humanidade. Vertem seu sangue como a chuva. Devoram a sua carne e sugam as suas veias. São demónios repletos de violência, devorando a carne sem cessar."
Quando Max acabou a sua citação, o silêncio envolveu-os a todos. Poderiam vencer inimigo tão poderoso?
- A vida de uma pessoa pode ser melhorada consideravelmente, no fim da sua existência, se esta tiver um enterro digno e com cuidados afectuosos com o cadáver. Os espíritos que morrem sós, não podem ir para o Outro Mundo e estão condenados a vaguear pela terra. Estes espíritos retornam após a morte e podem-se tornar vampiros ou fantasmas ou mortos-vivos, que apenas vêm assombrar o mundo dos vivos. – o Max voltou a calar-se. Tinha respeito ao local, à campa e à lenda que esta ocultava. Então era ali que Drácula dormira durante os 500 anos? E nunca tinha sido destruída! A maldição era real e maior do que eles esperavam.
- Sabem, pessoal, como se pode encontrar um vampiro? – perguntou o Tyson tentando parecer calmo. Ninguém respondeu e então concluiu que todos queriam ouvir. – Pode-se suspeitar se uma pessoa é vampira ou não se aparecerem buracos no chão por cima da sepultura; se os cadáveres tiverem olhos abertos, testa rosada, sem sinais de decomposição, unhas e cabelo crescido, roupas parcialmente rasgadas, marcas de dentadas no pescoço, sangue nas veias, caixão com sangue, corpo aparentemente em condições, membros flexíveis…
"E se não souberem qual é a campa de um vampiro, podem mandar um rapaz virgem cavalgar nu em cima de um cavalo sem sela através do cemitério. Quando o cavalo parar numa campa e não andar mais, é essa a sepultura do vampiro. Ou, então, pode-se conduzir um cavalo branco através do cemitério. A campa que ele não pisar é a do vampiro.
Todos engoliram em seco. Mas agora só havia uma questão na mente de todos e até o Kenny tinha a mesma dúvida. Foi o que o levou a aproximar-se dos companheiros.
- Como podemos acabar com um vampiro?
- Há vários utensílios que o podem combater. – começou o Tyson.
- A prata é um delas. – declarou o Ray.
- Pelo menos é o que dizem. – admitiu o Max. – A hóstia consagrada é outra forma, ainda há os rosários, metais consagrados, alhos, algumas plantas silvestres, água benta.
- Não te esqueças das estacas de madeira espetadas no coração e do sinal da cruz. – alertou o Tyson.
- Ya! Mas pessoal… não é só isto… Os vampiros podem ter um absoluto controlo sobre as suas vítimas.
- Como? – perguntaram espantados, em uníssono.
- Eles têm o poder de ressuscitar alguns dos mortos, só aqueles que são espíritos malignos como eles. A pessoa ressuscitada vira seu servo. Além disso, há sempre aqueles que apenas com os seus poderes controlam qualquer pessoa que esteja debilmente ao seu alcance. Uma pessoa fraca de espírito e vontade, pode facilmente ser controlada e fazer tudo o que o vampiro ordenar…
- Bah! Isso é treta! – gozou o Daichi. – Nenhum vampiro vai controlar-me! Mas é melhor teres cuidado Tyson. O único aqui com espírito e vontade fraca és tu.
O Tyson limitou-se a deitar-lhe a língua de fora e não responder.
……….
O olhar da Maylene deteve-se, durante momentos, numa parte da grande muralha que era diferente das outras. Estava coberta de flores secas pelo tempo e as suas pedras estavam mais limpas e arranjadas do que o resto.
- Porque é que aquela parte da muralha é diferente?
- Aconteceu ali, há anos, uma tragédia. Uma tragédia que a partir daí assombrou este castelo.
Ela conseguiu notar finas lágrimas correrem pela face de Vladimir. Algo lhe disse ao coração, que essa tragédia estava relacionada com a tal Elizabeth.
- Mas agora isso não importa. Tenho-te aqui comigo e isso chega. – ele chegou-a para mais perto de si e abraçou-a. – Quero que fiques ao pé de mim.
Um ruído voltou a importuná-los.
- Que foi isto?
- Não te preocupes. Tenho um trabalho para fazer, podes aguardar uns minutos?
- É claro.
Se ela estava à espera que ele se retirasse, enganou-se. Em vez disso, Vlad limitou-se a estender a sua mão e a fechar os olhos.
……….
Daichi ao ver que conseguira irritar o Tyson, desatou num gozo de desprezo. Pulava que nem um louco, dava cambalhotas, enquanto chamava de fraco ao amigo.
De repente, ele parou e fitou os companheiros assustado. Baixou-se e pegou num punhal caído no meio do chão, esquecido ali há séculos, junto de uma das sepulturas. Devia ter sido uma arma oferecida a um morto, para que ele a usasse na sua outra vida. Levou o punhal ao seu pescoço e não se mexeu mais.
- Estás a tentar convencer-nos que te vais matar, Daichi? – desta vez foi o Tyson que se riu.
- Não é isso Tyson. – a voz do rapaz soou muito assustada e em pânico. Todos os outros ficaram ainda mais assustados só de ouvir aquela voz. O que se estava a passar? – O meu corpo não me obedece…
- O que estás a dizer? Não brinques com isso Daichi! – a voz do Tyson também soava agitado.
- Não estou a brincar. Eu juro. Alguém está a controlar o meu corpo.
A mão que segurava o punhal afastou-se um pouco do seu pescoço, mas a lâmina deste continuou virada para a sua garganta.
- Ajudem-me malta.
As lágrimas correram pela sua face e com um último impulso, o punhal foi conduzido ao seu pescoço com toda a velocidade, atravessando-o. Um berro agonizante cortou os ares e chegou até à vila.
Maylene ouviu-o no cimo da torre, ao mesmo tempo que Vladimir apertava a sua mão com força no ar.
O corpo de Daichi caiu no chão todo ensanguentado, ainda com a lâmina enterrada na sua garganta. Nem os Bladebreackers conseguiram conter um grito de horror.
Fim do 13º Capítulo
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(Escondendo-se atrás do sofá) Vocês devem querer matar-me, mas é melhor prepararem-se porque isto só poderá piorar!
Era agora que devia responder aos Reviwes mas estou sem a mínima inspiração. Peço desculpas, mas fico muito feliz por estarem a gostar!
Eu avisei que os Bladebreackers vão sofrer! E quando disse que o Kai e a Maylene iam pagá-las, era verdade…
E obrigada a todas por todo o apoio que me têm dado…
E espero que continuem a ler, porque muito ainda está para acontecer…
