18º Capítulo – Morte Precoce: O Imortal
Duas presas brilharam nos lábios da rapariga. Seus olhos, que antigamente tinham ultrapassado a cor do céu, agora luziam como dois rubis, ardendo.
Ela arrastou-se pelo chão. Seu corpo, quase seco, pedia por alimento. Beber sangue passara a ser uma das necessidades básicas.
Kai não conseguia mexer-se. Sempre desejara conseguir salvá-la a tempo, mas agora… era tarde demais. Se ao menos tivesse evitado aquela dentada… Mas não iria desistir! Fora até ali para salvar a rapariga e não ia sair dali sem ela.
Sangue foi deslizando pelo chão até chegar às calças do Kai, manchando-as. Maylene olhava-o do outro lado com os olhos vermelhos e com os seus caninos maiores a cada segundo.
Drácula amparou a rapariga, ajudando-a a levantar-se. Aproximou ainda mais os dois corpos e olhou, triunfante, para o jovem estendido no chão.
- Nem imaginas o trabalho que tive para a trazer até mim. Quando, por acaso, li num artigo, a experiência de um homem famoso qualquer e com a imagem de um velho homem com uma rapariga ao lado. – a sua mão voltou a percorrer a cara dela, deslizando depois pelo seu pescoço abaixo. Ele parecia deliciado com a expressão que Kai estava a fazer. – E o resto consegues imaginar…
- Foste tu que mandaste a carta para o torneio?
- Tive de arranjar algo para a trazer até mim…
- Foste tu a puseste na nossa equipa?
- Digamos que dei uma mãozinha para tal…
- Foste tu que…
- Que bloqueei todos os telefones da vila para vocês não conseguirem sair daqui… Sim, fui eu!
A cabeça do jovem estava a explodir de raiva. Tinha de destrui-lo fosse como fosse…
Drácula libertou a rapariga, que teve de se encostar à parede para se manter em pé. Avançou, imponente, até o rapaz e fitou-o de novo com os seus olhos frios. Fez uns movimentos com as mãos, como se estivesse a ordenar para ele se levantar e… espantosamente, o Kai ergueu-se com aquele sinal. O seu corpo respondeu à ordem do vampiro.
Drácula aproximou a sua face da face do rapaz, até que apenas um centímetro as separasse.
- És bastante atraente e novo… – o olhar do Conde percorreu toda a cara do Kai e brilhou, deliciado. – Uma noite contigo, aposto que seria única… Não era minha querida Elizabeth… – voltou a sua cara para a rapariga que se encontrava no outro lado da sala, ainda encostada à parede. Tinha os olhos semi-fechados e parecia estar prestes a desmaiar.
- Vou acabar contigo de uma vez. – sussurrou o Kai, com o seu tom rouco. – Irás juntar-te à tua esposa morta-viva no Inferno…
O sangue do rapaz gelou, se é que era possível vida com gelo a correr nas veias pois, o olhar que Dracul lhe devolveu, continha um ódio imenso e ia fuzilá-lo… A sua voz soou com uma sonoridade fatal.
- Até estava para te deixar viver… – os seus olhos ainda brilharam mais. – Mas depois de insultares a minha rainha vou matar-te… JÁ!
Empurrou-o contra a parede com toda a força que tinha e, afastando-se dele, levantou a mão, ao mesmo tempo que fazia oscilar uma das velas que iluminava o caixão e atirou-a para o peito do rapaz.
Maylene gritou e o Kai cerrou os olhos com toda a força. Não se conseguia mexer e tinha os seus dias contados. Já sentia o impulso do vento a agitar os seus cabelos, quando algo líquido molhou-lhe a face, os cabelos e a roupa.
Lentamente abriu os olhos e não acreditou no que viu. Tyson estava à sua frente com uma das mãos estendidas para o lado e a manga do outro braço descaída e vazia. Espetado no seu ventre, estava o castiçal da vela, escorrendo sangue.
- Ty…son…
- É assim que salvas a Maylene? Ficas aí parado à espera que ela se salve sozinha ou que o Drácula acabe contigo?
Tyson arrancou o castiçal do seu corpo e, com o seu último impulso de força, atirou-o na direcção do Conde, que fora apanhado desprevenido e espantado por ter errado o alvo. A estaca do castiçal atingiu-o no braço e prendeu-o contra a parede.
Assim que se viu livre daquilo, Tyson caiu, desamparado, no chão, com o sangue a brotar da sua ferida, do seu coto e até da sua boca. O feitiço que prendi o Kai tinha sido desfeito e ele ainda foi a tempo de apoiar a cabeça do amigo no seu colo.
- Porquê… Tyson…
- Tu sabes muito bem porquê, Kai… Tens de salvar a Maylene e vocês os dois têm de saírem daqui vivos…Promete-me Kai, que vais sobreviver… Não pude fazer nada quando ao Daichi e ao Kenny. Vi os dois a morrerem a minha frente sem poder ajudar, mas contigo é diferente… – o rapaz tossiu e mais pingos de sangue sairam da sua boca. – Nunca poderia permitir que algo te acontecesse… Kai… – Tyson estendeu a sua única mão para a cara molhada de sangue e lágrimas do amigo. – Tu sabes que nós éramos rivais, mas também éramos os melhores amigos. Eu faria qualquer coisa só para te derrotar e acabei por dar a minha vida para te salvar. Não morras Kai! Esta é uma ordem!
E foi a última vez que os olhos do Tyson fitaram o Kai, pois logo as suas pupilas desapareceram, deixando-os brancos. A mão de Tyson caiu para cima do seu corpo e ele deixou de respirar. Kai só quis gritar mas não foi capaz. Baixou a sua cabeça e deixou que lágrimas se derramassem sobre o cadáver do seu melhor amigo.
Passados alguns momentos, levantou a cabeça com os seus olhos vermelhos de raiva, fitou o Conde que acabara de se libertar do castiçal e… se o olhar pudesse matar e se Drácula fosse mortal, já estaria morto. Poisou a cabeça do amigo no chão e fechou-lhe os olhos. Caminhou na direcção do monstro e, mesmo com o seu braço já destroçado por dentro, agarrou no outro castiçal e empunhou-o contra o Drácula.
- Não me irás matar com isso…
Kai falhou o primeiro golpe, mas não desistiu. Tentou o segundo e o terceiro. Segurava o castiçal com a sua mão esquerda já que perdera por completo os movimentos com o braço direito. Tentou uma nova investida, da qual, Vladimir escapou de novo, mas desta vez enormes garras espetaram-se no ombro direito do rapaz, fazendo-o gritar com dores.
- Merda! Falhei no golpe… Mas na próxima não vais escapar-me.
Com a sua outra mão, Drácula apontou as garras ao coração do rapaz, mas algo o agarrou por detrás, impedindo-o de continuar o golpe.
Maylene abraçara-se às costas dele.
- Pára por favor! Não o mates… Eu farei tudo o que quiseres mas não lhe faças mais nada.
- Recua Maylene… Não deixes que ele te controle. Sai daqui o quanto antes! – Kai voltou a encarar o morto-vivo com o seu olhar de desafio. – Vou enviar-te para a cova, para junto da tua maldita esposa.
- NÃO!
O movimento impulsivo que Drácula fez de repente, obrigou a rapariga a largá-lo. Arrancou a garra do ombro do Kai e rapidamente conduziu-a até ao coração.
Mais sangue manchou o pavimento e salpicou para a cara do monstro. Em vez de acertar no coração do Kai, acertara no peito da Maylene. Retirou a sua garra e recuou…
- Porquê? Porquê…? Porque me abandonaste Elizabeth?
- Porque eu o amo… – foi a voz que saiu da alma da rapariga. – Eu amo o Kai e nunca iria permitir que ele voltasse a gritar como gritou há muitos anos atrás.
- Não… NÃO! SUA TRAIDORA!
Maylene desfaleceu no chão, ao mesmo tempo que Drácula levava as mãos à cabeça. Até aquilo que ele mais amara, acabara de abandoná-lo… Kai aproveitou o seu momento de fraqueza e espetou a estaca bem no centro do seu coração. Desta vez, foi ele que não conteve um grito de dor e começou a contorcer-se de dores.
- Não adianta… Eu sou imortal! Nunca morrerei… Elizabeth! Porque me fizeste isto… – o seu olhar prendia-se na figura caída e coberta de sangue. – Logo agora que estávamos a alcançar a imortalidade juntos! Já faltavam poucos momentos… – lentamente virou a sua cabeça para o caixão. Ali dentro repousava mortalmente a sua verdadeira esposa. Ele arrastou-se até lá e fitou a cara adormecida da dama. – Minha querida Elizabeth, tudo o que eu queria era voltar a estar contigo… Era voltar a ver-te… a sorrires para mim como fazias… Meu amor…
A mão do vampiro tocou na figura que repousava dentro do caixão e após o toque, transformou-se em morcego e voo pela porta fora. Atravessou o céu e entrou dentro do seu caixão. Este, por sua vez, fechou-se sozinho e a terra começou a cair sobre ele. Drácula regressara a mais uma época de sono, em que tentaria recuperar de outro falhanço de recuperar a sua amada. Mas passado 500 anos, ele regressaria de novo…
……….
Kai atirou-se para o chão e pegou em Maylene. Aproximou-a o mais que pode de si e olhou-a. Ela estava muito fraca e a respirar com muita dificuldade. Estava muito fria e pálida.
- Rápido Maylene, morde-me e bebe o meu sangue… – ele levou a boca dela ao seu pescoço. Mas se esperava sentir algo, não o chegou a sentir.
- Não… Kai… Eu nunca o faria.
- Que dizes Maylene! Despacha-te antes que seja tarde demais… Morde-me e bebe. – mas continuou sem sentir nada. – Vá lá Maylene! Por favor, não morras…
- Não quero viver assim Kai. O processo está quase completo e em breve serei como ele. Não me peças para viver assim…
- Arranjaremos um meio para te trazer de volta… Para te curar… Para…
Os dedos dela fecharam-se sobre os lábios do rapaz.
- Estou feliz Kai… Até mesmo neste momento vivi para ti! Sabia que me virias salvar e aqui estás tu. Esperei este tempo todo por ti… amor! Sempre esperei pelo pequeno rapaz que ouvi gritar há muito tempo atrás, cujos gritos prenderam a minha alma à dele e traçaram o meu destino. Só me arrependo de não ter passado mais tempo contigo.
- Por favor May…
- Não Kai! Chegou a minha hora de partir e tu de viver. A minha vida chegou ao fim, e fico feliz de morrer aqui contigo. Não me deixes transformar-me numa morta-viva. Não me deixes levar esta vida horrível, sem ti e sem ninguém…
Os dentes dela cresceram mais um pouco. Em breve estariam do mesmo tamanho que os do Drácula, e ela seria como ele.
- Os vampiros não podem ver a luz do dia, mas eu quero ser a única vampira que irá ver a luz do sol nascer. Leva-me até lá fora Kai. Deixa-me partilhar contigo o meu último amanhecer do sol! Deixa-me ficar nesse momento contigo.
O seu olhar fechou-se e a sua face repousou no peito do rapaz. Sem saber como conseguira voltar a mexer o seu braço direito, ergueu-a nos seus braços e conduziu-a até à varanda. Voltou a poisá-la no chão e ficou ali, abraçado a ela. Parecia que só a presença dela curava a sua ferida de há muitos anos.
Os primeiros raios de sol começam a brilhar e, em breve, chegariam até à varanda. Maylene abriu os olhos, mas não conseguiu abri-los muito. Só aquela pálida claridade já lhe queimava a vista.
- Amo-te Kai!
- Eu também te amo Maylene.
Por momentos, os dentes dela voltaram ao normal e Kai apertou a sua boca contra a dela. A jovem deixou que ele a envolvesse ainda mais e que a sua língua entrasse mais profundamente. Este seria o primeiro e último beijo. Seria o único…
Quando as duas bocas se separaram, ela permaneceu com os olhos fechados. A luz estava a tornar-se mais intensa.
- O sol está a vir.
Maylene abriu mais uma vez os olhos e fitou-o pela última vez.
- Nunca me esqueças Kai! Eu estarei sempre contigo!
Os raios de sol começaram a tocar-lhe no corpo, à medida que ela ia-se transformando em cinzas que desapareciam logo. A última coisa que Kai viu nela, foram aqueles dois olhinhos azuis brilharem de felicidade e de tristeza, antes de serem convertidos em cinzas também.
E assim Maylene desaparecia para sempre. Seu corpo, sabe-se lá para onde foi levado, deixara este mundo e nem havia provas da sua existência. Fotografias em que o seu rosto era mostrado, agora, somente, uma mancha negra ocupava aquele lugar. Excepto… Uma foto guardada algures no castelo, onde a bela Elizabeth ainda repousava.
Kai abraçou-se a si próprio e só apeteceu-lhe gritar e desatar a chorar. Mas secara as suas lágrimas todas. O seu braço ficou pendurado no seu corpo. Agora era mesmo impossível mexê-lo e… Kai sabia que a partir daquele dia, nunca mais poderia pegar num Beyblade. E, … possivelmente, nunca recuperaria os movimentos do braço.
Deixou-se ficar ali com o seu olhar preso no chão. Tinha perdido tudo e já não havia mais nada a fazer. Mas Tyson pedira-lhe para viver! Este fora o último pedido do amigo…
Uma mão tocou-lhe no ombro. Kai voltou-se para trás espantado e ficou ainda mais, ao ver alguém conhecido.
- Kai… Parece que acabou tudo! Não da maneira que desejávamos mas da maneira que tinha de ser.
Max tentava, forçosamente, sorrir-lhe do outro lado. Mas a sua face também estava marcada com um sofrimento terrível.
- Isto podia não ter acabado assim… Eu podia a ter salvado! A ela… ao Tyson… e a todos!
- Enganaste Kai! Foram os outros que te escolheram salvar. Agora não podes desperdiçar a vida que eles deram por ti. – Max fitou o horizonte, já iluminado e sentiu o vento a despentear-lhe os cabelos loiros. – Um novo dia chegou… – o barulho de um helicóptero cortou o silêncio da madrugada. Aproximava-se do castelo… – Agora chegou o tempo de continuarmos a viver… Vamos Kai!
Max ajudou o seu amigo a levantar-se e conduziu-o para fora daquela torre. Agora era tempo de viverem e de tentarem esquecer. Mas como poderia Kai alguma vez esquecer, se no seu bolso estava o pião que pertencera à única rapariga que amara na sua vida?
E foi à luz de um sol brilhante, que eles os dois abandonaram o castelo maldito da Transilvânia, onde habitava o Conde Drácula, para nunca mais voltarem…
Fim
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Pulando de felicidade Conclui mais uma Fic Ouve protestos por todo o lado
Er… ''
Pessoal, também não precisam de me fazerem isto. Eu sei que não acabou da maneira que vocês gostariam, mas acabou da maneira que eu gosto. Trágico e belo ao mesmo tempo! No mesmo género que Ironia do Destino.
Agora algumas considerações da minha parte: Esta Fic não saiu tão bem como esperava. Ficou muito longe de igualar Ironia do Destino e cometi erros muito graves na gramática (por mais que digam o contrário eu sei que é verdade e admito os meus erros), mas prometo que vou tentar fazer muito melhor numa próxima Fic.
Alguns avisos da minha parte: Estou a pensar fazer uma pequena continuação para Ironia do Destino já que vos tinha prometido, mas não sei como vou pegar na Fic, uma vez que matei uma das personagens principais, mais ainda vou tentar trabalhar nisso e em breve começarei a escrever.
Quanto à minha próxima Fic, que virá substituir esta… bem… tosse… Já fiz umas tentativas falhadas de a começar a escrever. Tenho algumas ideias mas no momento de passar para o papel aquilo não fica bem. Talvez leve algum tempo até ela começar a sair, mas irá sair… Até lá acompanhem Ai Os Homens, uma Fic, predominantemente, de Naruto mas com personagens de Beyblade e bastante Cross-Over. Tenho a certeza que vocês irão rebolar no chão a rir.
E penso que tiveram uma pequena surpresa com esta Fic. Vocês acham que eu ia matar o Max? Eu não tinha razões para matar aquele pobre rapaz, ao contrário do Tyson e do insensível do Kai…
Mas agora, terminando com isto (já parece um testamento), vou passar a agradecer às Reviews!
Dead Lady – Assustei-te? desato a correr e a saltar de alegria Consegui o impossível! Bem quanto ao final não era bem o que estavas a espera mas paciência! Também não podia ser muito má com a minha sósia né? Bem vamos ver no que vai dar a próxima Fic, que está empenada…
Aki Hiwatari – Oixxx… A aqui está, finalmente, o último capitula. Espero que tenha correspondido às tuas expectativas, senão… espero ao menos que tenhas gostado
littledark – As fics também servem para nos ajudar a escolher livros na escola xD! Boa sorte para as tuas aulas… Agora vou dedicar-me à tua Fic, enquanto não sai a minha próxima e vamos começar a publicá-la também. Aquilo merece um lugar de honra aqui no Fanfiction
Xia Matsuyama – Pelo menos, apanhei-te de surpresa! Muahahahahaha Eu nunca tinha dito que o Tyson tinha morrido hihi riso estridente Mas eu adoro fazer coisas destas… Surpreender as pessoas! Muahahahahahaha Bem, agora também vou continuar a ler a tua Fic. Já ta na hora 1 século depois de a teres começado a escrever
Obrigado a todos os que leram e gostaram… Obrigado a todos os que leram e não gostaram… Obrigado a todos os que ainda vão ler… Obrigado a todos os que estão com paciência para ler este testamento enorme… Obrigado a todos os que deixaram Reviews! Raios para os que leram e não deixaram uma única Review! E aqueles que nem chegaram a ler a Fic completa, bem… esses serão apanhados pelo Drácula e vão lhe fazer companhia.
Drácula não me pertence, mas esta Fic é toda minha! Muahahahahahaha
Até à próxima pessoal…
