RECOMEÇANDO
Cap.2- O vôo
Saori chegara um pouco tarde em casa. Era final de semana, mesmo assim não estava com a mínima vontade de sair. Ao chegar na sala descalçou os saltos e sentou-se no sofá enquanto desamarrava os cabelos.
- Dragão, está dispensado - Falou ela olhando diretamente para seu segurança - Aproveite o fim de semana.
- Tem certeza de que está tudo bem, senhorita?
- Tenho sim. Eu vou dormir. Estou morrendo de dor na cabeça.
O Dragão fez uma pequena reverência e se retirou. Kido só queria ficar sozinha. Não se perdoava por ter traído Shido, ainda mais com alguém que acabara de conhecer. Esse tal Seiya. Sim, lembrava o nome dele.
E por alguma razão queria matar um certo repórter Amamiya por apresentá-los.
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- Shiryu? - Aioria via seu colega de trabalho saindo do casarão e tirando o paletó -O que foi?
- A senhorita falou que estamos dispensados -Se alongou por um instante - Nossa, estou cansado.
- Tenho que dizer que até que agradeço. Vivemos atrás dela e eu tenho vida.
Aioria bateu no ombro de Shiryu com uma cara muito cínica.
- É claro que não vamos passar nosso final de semana dormindo, né, colega?
- Não me leve a mal, mas nunca mais vou farrear. Da última vez um espírito de porco me fez fazer uma aposta ridícula.
- Que aposta?
- Não interessa.
- Eu vou estar com você. Não vou deixar que faça besteiras. Simples.
A noite parecia uma criança para quem entrava na casa noturna e se deparava com algumas mulheres bem "vestidas" em vários cantos distintos. Seiya foi levado, mas parecia ter ido de má vontade. Seu humor não estava nada legal, e quando parecia que não poderia ficar pior aquela figura apareceu. O Dragão.
- O que ele está fazendo aqui? -Seiya inquiriu tão alto que Shiryu, a poucos metros de distância, ouviu.
- É o Dragão Ikki.- Shun afirmou surpreso.
- Amamiyas... - Shiryu os encarou com frieza.
- Venha sentar com a gente. Sem apostas dessa vez.
- Não! Não quero aquele imbecil aqui! - Seiya.
- Tudo bem, Seiya. Ele é gente fina.
Shiryu, ao ouvir o comentário, sentou-se com o quarteto puxando um pouco a gola da camisa. De repente olhou para cada um com uma cara estranha.
- Hum... Já nos conhecemos?
- Perdão? -Hyoga.
- Essa cena. Nós cinco, aqui, sentados... Isso já aconteceu, não?
Shun, Ikki, Hyoga e Seiya trocaram olhares alienados:
- Não.
- De jeito nenhum.
- Acho que é meio impossível.
- Eu também.
- Deixa pra lá -Shiryu virou o rosto a procura de Aioria - Onde ele se meteu?
- Quem? - Seiya perguntou mal humorado.
- Meu colega. Aioria. Ah, esquece. Meu nome é Shiryu Suyama.
- Shiryu... - Ikki repetiu pensativo - Com certeza melhor do que Dragão. Como você deixa te chamarem assim?
Shiryu bufou e desviou o olhar. Seiya tinha vontade de incentivar Ikki com as brincadeirinhas.
- Eu sou Hyoga Yukida. Este é Seiya Ogawara.
-Yukida... Alguém me falou de você. É russo?
- Nasci lá, mas minha mãe se mudou para cá e me trouxe junto. Eu só tinha dois anos, então não lembro muito bem como era lá.
- Entendo... -Olhou para trás indignado - Onde será que Aioria se meteu... Ah, ali está ele.
Aioria chegava com dois copos de algo com cheiro forte e sentou-se ao lado de Shyriu.
- Esse é pra mim, não é? - Perguntou este.
- Pedi um licor de menta pra começar. Ola todos.
- Você também trabalha praquela Saori Kido? - Perguntou Seiya sério.
- É um bom emprego. Por que?
Antes que Seiya pudesse responder (Da maneira mais mal educada possível) o ambiente se encheu com uma música alegre de cinco notas e vários acordes. Todos ficaram de olho nas cortinas de seda do palco, do qual saíram várias dançarinas vestidas de modo provocante esbanjando charme enquanto passeavam pelo público. Ikki olhava cada uma interessado e reparou que Hyoga mantinha o mesmo olhar. Alguns rapazes colocavam dinheiro nas roupas delas, outros apenas lançavam cantadas.
- Realmente fascinante - Hyoga, de braços cruzados, fitou Shun -Tem um trocado?
- Esqueça.
Ikki abriu a carteira e tirou alguma nota quando uma delas se aproximou, entretanto, pro seu azar (ou sorte) acabou olhando diretamente para o rosto dela. Era linda. Mas não uma beleza qualquer e sim a de uma azaléia em meio a um milharal. Cabelos negros, lisos e retos, olhos claros, e apesar da maquiagem pesada era possível notar um olhar puro naquele rosto. Como se ela não quisesse nada demais. Nem mesmo que apreciassem seu corpo.
Quando ela chegou perto de Ikki sorriu, e um sorriso tão angelical que parecia ser alguém intocável. Ikki não soube quanto tempo ficou naquele estado, mas parecia uma eternidade e a coragem para colocar a nota na cintura da moça quase não veio. Quando ele o fez, ela foi embora.
Hyoga, Shiryu, Aioria e até Shun riam secretamente. Só Seiya que mantinha os pensamentos distantes.
- Ela me usou...
- Ah, por favor, Seiya -Ralhou Hyoga - Ta bom. Ela é bonita, rica, inteligente... É normal ficar vidrado nela.
- De quem estão falando? - Aioria perguntou.
- Da senhorita Kido, sua... Patroa, vamos dizer.
- Sabia que o conhecia de algum lugar. -Confessou Shiryu bebendo um gole de licor. -Foi o cara que eu expulsei.
- Você dormiu com a senhorita? -Aioria
Seiya abaixou a cabeça, triste e ao mesmo tempo enfurecido.
- É. E eu achei que já tinha visto tudo.
- É bom essa informação não sair daqui. Se o noivo dela descobre...
Seiya bateu com força na mesa, acordando Ikki de seu transe.
- Droga!
- Perdi alguma coisa? - Ikki o mirou indiferente.
- Eu vou falar com ela e dizer umas verdades! - Ele se levantou, mas Shun, Hyoga, Shiryu e Aioria o puxaram devolta ao assento.
- Quê isso, Seiya? Ta louco? - Hyoga tentava contê-lo-Isso acontece. A vida é assim. Você mal conhece a moça, como pode se comportar como se tivessem jurado fidelidade?
- Tenho orgulho próprio. Só isso.
- Esqueça o orgulho então. -Rematou Ikki bebendo toda sua cerveja e deixando um dinheiro em cima da mesa. -Minha parte da conta. Eu já vou.
- Como é? - Shun surpreendeu-se -Você?
- Não gostei daqui.
- Tá brincando, não é? - Gracejou Aioria.
- Eu também já vou - Avisou Seiya emburrado - ... Depois vocês vêem quanto eu fiquei devendo.
- Ah, então se sentem e esperem - Pediu Shun apoiando o queixo nos dedos entrelaçados -É o tempo que eu pago a conta e nós três vamos.
- Nossa, Shun. Até você? - Hyoga suspirou decepcionado - Bem, até outra hora então.
Shun vestiu ocasaco e cumprimentou os presentes, antes deixando sua parte da conta com Hyoga.
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-Então, esse estado de "Não quero mais saber dela" vai durar até quando? - Ikki puxou conversa enquanto chamava um táxi.
- Ela quem? - Seiya fingia.
- É. Já é um começo.
- Ainda não vou esquecer o mico que ela me fez passar. E ainda é sua culpa, Shun. Shun?
Seiya e Ikki olharam para trás. Shun estava parado olhando para cima.
- O que foi, irmão?
- Ikki... Está vendo a mesma coisa que eu?
Ikki olhou para o alto e engoliu todas as palavras ao ver algo no mínimo assustador. Um homem em cima de um prédio corria de um lado para o outro desnorteado, pernas corriqueiras e olhos fechados, pronto para se jogar.
- Mas o que esse cara pensa que está fazendo! - Seiya arregalou os olhos.
E desejando abandonar a superfície ele saltou, caindo como uma pedra no chão.
"HEEEEEEEI!"
Não se sabe quem gritou, mas foi Ikki que correu e saltou para pegá-lo, mas não foi um salto qualquer. Ele estava voando.
- ...!
- IKKI!
Não só Shun e Seiya, como um grupo de presentes pararam tudo o que estavam fazendo para ver aquela cena. Ikki não parecia ter saltado. Parecia ter voado e pousado no chão, com o suicida em seus braços. Muitos aplaudiram, Shun e Seiya, entretanto, só correram até o Amamiya. A verdade é que nem Ikki entendeu realmente o que fez e ao chegar no chão ficou impressionado consigo mesmo.
- Procurem ajuda! Chamem um médico - Um gritava.
- Rápido, alguém tem celular?
- Ikki!
- Tudo bem, cara?
Ikki olhou perplexo para Shun e Seiya:
- ... Vocês por acaso... Viram?
Seiya e Shun concordaram. O primeiro pasmo, o segundo admirado. O suicida levantou a mão agonizando:
- Não estou... Não estou... Ar! Acostumado... A dor...
- Calma, respire fundo - Shun olhava dele para os amigos - Já foram procurar ajuda.
- Não... Não vai dar tempo...
- Vai dar. Calma. Fique quieto. Como se chama?
- Ar... Argol...
O homem fechou os olhos e deixou sua cabeça cair para trás. Estava morto. ..Em volta do corpo um falatório geral.
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- O que tivemos aqui foi uma catástrofe!
- O que aconteceu? Eu quero saber!
- Queremos entender se a causa da morte foi o... Esperem? Cadê eles?
Ikki, Shun e Seiya saíram assim que o homem morreu e a confusão aumentou.
- Era só o que me faltava. Ver alguém morrer na minha frente - Ikki resmungava andando rápido.
- Ele nem se mexia -Seiya sibilava temeroso.
- Por que? Queria que ele desse um tchau antes?
- Eu estava querendo dizer que a cena foi macabra.
Shun andava mais atrás sentido. Ikki o mirou:
- Morte é uma coisa natural, irmão. Isso acontece.
- Eu sei.
- Então o que foi?
Shun cruzou os braços, encostou-se na parede e escorregou até o chão. Parecia um menino. Ikki e Seiya se entreolharam. O primeiro se agachou perto do irmão e o segundo acompanhou-o.
- Eu ainda não sei lhe dar com a morte -falou Shun encarando assustado os próprios joelhos.
- Ah... Isso..
- Eu achei que estava falando do Ikki - Seiya riscava o chão com o indicador - Aquele salto foi incrível!
Shun encarou Ikki que tentava desviar o olhar para disfarçar sua tensão.
Já em volta do corpo o tumulto era grande. Até quem estava dentro da Ametista se deparou com as pessoas invadindo e gritando o que estava acontecendo. Hyoga foi logo na frente, se fosse uma cena dantesca ainda dava tempo de pegar sua câmera no carro, Aioria e Shiryu foram atrás por mera curiosidade.
- As pessoas morrem todos os dias, pra quê tanto escândalo? - Aioria criticou a atitude dos presentes que saíam.
- Não custa nada dar uma olhada - Sugeriu Shiryu.
Hyoga viu a cena um pouco decepcionado. Imaginava um corpo totalmente dilacerado, não um que parecia um boneco de trapo.
- Ele se jogou! Eu vi!
- Mas não morreu!
- Isso mesmo, um homem o salvou!
- Ele voou!
Em meio a confusão várias vozes se misturavam, mas Hyoga conseguia captar algumas palavras soltas. Realmente não fora uma morte qualquer para deixar todos tão eufóricos. Precisava pegar sua máquina.
Shiryu e Aioria não pretendiam se dar ao trabalho de passar pelo maciço de gente só para ver o corpo, mas Hyoga apareceu com sua câmera pronto para empurrar qualquer um que aparecesse em seu caminho.
- Você já viu? - Indagou Shiryu o interrompendo.
- Não tem nada de mais, só que as pessoas estão dizendo que ele se jogou, veio um cara e voou para salvá-lo... E eu achava que não havia espaço para o Ultraman em pleno século vinte e um - riu - Mas vou tirar umas fotos por via das dúvidas.
Hyoga passou em meio a multidão e Shiryu e Aioria o seguiram. Ao chegar lá começou a fotografar o corpo, Aioria por outro lado teve um surto assim que viu o cadáver:
- Mas esse é Argol!
- Quê! Shiryu Não pode ser!
- Conhecem? - Hyoga perguntou abaixando a câmera.
- Claro! Ele trabalha para a senhorita Marim! - Aioria passou as mãos no próprio sobretudo e pegou um celular - Tenho que ligar para Saori e... Fazer com que ela encontre a senhorita Marim o mais rápido possível!
Marim já estava dormindo, mas não estava tendo um sono pesado. Uma prova disso é que acabou acordando com o barulho de seu telefone que ficava no corredor. Que martírio. O aparelho vibrava incessantemente e os empregados estavam dormindo.
Mais uma vez o aparelho tocou e Marim rolou na cama e pôs o travesseiro na cabeça. Não adiantou. O melhor seria se levantar e atender o bendito telefone.
- Alô?
- Marim, ainda bem que acordou.
- Saori?
- Aioria me ligou e pediu pra eu avisar a você do incidente.
- Incidente? Aioria não é aquele seu segurança?
- Sim, mas não é isso que vem ao caso. Você havia dispensado Argol?
- Hoje é sexta feira , ou melhor, sábado. Lógico que o dispensei.
- Então venha pra minha casa agora. O corpo dele foi encontrado sem vida.
- O quê!
Continua...
Ta bem curtinho porque só deu pra cortar aí. Se eu continuasse iria dar muita folha.
