RECOMEÇANDO

Cap. 3- A visita de Camus

- Primeiro o Hyoga solidifica o suco em um segundo, depois Ikki salta incrivelmente alto - Shun cruzava os braços e jogava a cabeça para trás - Eu tenho que descobrir o que está acontecendo.

- Temos poderes especiais, não ta vendo? - Não dava para ver se Ikki falava sério ou ironizava.

No AP do caçula Amamiya estavam Seiya, Shiryu, Ikki e Hyoga. Todos pasmos com a partilha de informações.

- Talvez muito mais coisas já tivessem acontecido, só não reparamos. - Hyoga finalmente pronunciou - E isso não parecem poderes especiais porque só aconteceram uma vez e não sabemos quando acontecerá de novo. Mas claro, é estranho.

- Estou vendo que isso só serviu pra perdermos o sono. O cara acabou morrendo de qualquer jeito. Talvez de parada cardíaca.

- Eu não entendi. Se ele estava tendo um ataque, como teve tempo de se jogar? Achei que as pessoas assim ficavam sem movimentos. Sem muitos movimentos.

- Essa é a parte mal explicada.

Seiya, Shun e Hyoga expiraram tensos.

- É melhor esquecermos isso Ikki sibilou.

- Como! - Seiya.

- Pelo menos por enquanto. Não vai adiantar nada ficarmos aqui discutindo. A essa hora já deve está ocorrendo o funeral dele.

- Não -Shiryu interveio - O corpo foi para um necrotério.

- Que seja. Está morto do mesmo jeito.

O pensamento de Ikki estava distante, ainda fixado na noite anterior, mas não bem no momento do salto, entretanto conseguia abrir uma brecha para a realidade enquanto admirava a vista. Sabia que Shiryu ainda falava alguma coisa para Shun, mas não tinha interesse de escutar.

- Ikki?

- Estou ouvindo.

Shun levantou-se e bateu no ombro do irmão:

- Essa conversa já deu o que tinha que dar.

- É mesmo?

Ikki saiu da janela e Seiya interveio:

- Como assim? Vai ficar por isso mesmo, Shun?

- Convenhamos, estamos juntando o nada com o vazio.

- Mas...

- Ele tem razão - Shiryu defendeu sem esforço - Já que estou ciente do que aconteceu vou ver como Aioria e a senhorita Saori estão.

- E eu vou vazar daqui -Ikki despediu-se dos amigos - Até mais.

Seiya assistiu à partida daqueles dois sem entender enquanto Hyoga meramente olhava para um ponto qualquer da sala.

Então, gostariam de ficar para o almoço? Shun quebrou o gelo enquanto se dirigia à cozinha.

- Valeu, amigo, mas já que estamos em estado vegetativo eu vou ver minha mãe anunciou Hyoga Esse negócio de morte... Até mais.

- E eu tenho que trabalhar. Falou Seiya.

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Enquanto isso, na mansão Kido encontrava-se um clima pesado que nem mesmo Saori e Julian conseguiam agüentar, mas se sentiam na obrigação de ficar lá com a amiga e sócia.

- Argol tinha uma saúde perfeita, eu tenho certeza disso! Nenhum problema mental ou físico - Falou Marim severa - Só vou descansar quando o resultado dessa autópsia confirmar ou não isso.

- Ele tem família? - Perguntou Sólon - Se tem, a família sabe?

- Ele era órfão e não tinha ninguém, só amigos e ex-namoradas.

Aioria estava num canto só ouvindo Marim falar. Para ele era uma mulher admirável. Físico forte sem perder as curvas femininas, cabelos ruivos sempre soltos e olhos decididos. Uma mulher como poucas.

- Aioria, está me ouvindo? - Saori interrompeu seus pensamentos.

- Ah... Senhorita?

- Onde está Shiryu?

- Bem, foi ver uns amigos que acredita terem presenciado o acontecimento. Espero que venha com informações.

- Amigos? - Marim inquiriu - E quais os nomes?

- De todos ou das possíveis testemunhas?

- Só das testemunhas.

- Dois irmãos de sobrenome Amamiyas e um tal de Seiya.

Saori suspirou nervosa:

- Seiya! Ele estava lá?

- Sim, senhorita - Aioria respondeu contendo uma risada.

- Conhece ele, Saori? - Marim perguntou.

- Não!... Quer dizer, sim, mas... Não muito bem, entende? Hum... Aioria, você se importa de levar Marim pra casa? Ela precisa descansar.

- Não há necessidade de dar trabalho a ele, Saori.

- Não vejo problemas - Afirmou Aioria lançando-lhe um olhar penetrante e um meio sorriso -Será um prazer, senhorita.

- Vá e tente descansar um pouco, Marim - Sugeriu Saori -Hum... Já sei, Shido chega hoje a noite, ele me ligou ontem. Pode aparecer aqui para um jantar.

- Não se incomode...

- Vamos, eu faço questão. Julian também pode vir.

- E encarar o Shido? Não mesmo, Saori - Beijou carinhosamente o rosto dela - Fica pra próxima. Eu vou ao museu. Tchau.

Saori balançou a cabeça agradecendo por aquele momento de descontração oferecido por Julian. Em seguida acenou para Marim:

- Hoje a noite ás oito. E tente descansar.

- Sabe que não conseguirei. Até mais.

Aioria acompanhou Marim até o carro modelo esportivo, e abriu a porta para ela entrar. Quando o veículo entrou em movimento aquela vontade de puxar conversa o chamou insistentemente:

- Não foi culpa sua, senhorita - Comentou Aioria olhando-a pelo retrovisor. - Eu tenho certeza.

- Você é muito gentil.

- Na verdade estou sendo franco. Eu também nunca imaginei Argol com problemas. Ele sempre me pareceu sadio e era muito cheio de vida. Orgulhoso.

- Eu também penso assim, mas ele só tinha a mim. Eu deveria ter cuidado mais dele.

- A senhorita não faria nada que não estivesse em seu alcance. Se me permite, pare de se lamentar.

Marim olhou Aioria pelo retrovisor e sorriu:

- Obrigada... Aioria, estou certa?

- Vejo que tem boa memória.

- Então obrigada, Aioria.

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- Hyoga!

- Oi, mamãe - beijou o rosto da senhora e entrou na casa - Vim fazer uma visita, aproveito e almo... Camus?

Camus, um homem de rosto bonito, olhos azuis e frios, cabelos longos e braços bem delineados levantou uma das sobrancelhas e fitou Hyoga enquanto carregava uma xícara de café em uma das mãos. Apresentava um semblante triste.

- Seu primo veio nos fazer uma visita. Por que não mata a saudade dele enquanto eu vejo o almoço?

- Mas m...

A senhora Yukida foi até a cozinha deixando o filho a sós com aquele homem e em nome da boa educação Hyoga sentou-se num sofá em frente a ele sem discutir. Pelo menos até ter certeza que sua mãe estava ocupada.

- Muito bem, você não veio de Kyoto para tomar chá, não é mesmo?

- Isso é café, Alexei. - Colocou a xícara de volta no pires e ambos em cima da mesa. -Mas é melhor saber por mim do que deixar sua mãe repetir a história.

- Que história?

- Jisty morreu ontem.

- Jisty? Como?

- Foi depois de um almoço que teve com o namorado.

- Foi envenenamento. Só pode!

- Não há sinais de envenenamento segundo os legistas. De qualquer forma Shina disse que queria que o corpo dela fosse enterrado aqui, próximo de suas raízes.

- Shina também veio? – O coração de Hyoga deu um salto.

- Sim. E Milo também.

- Sei. É bom que ele não tente nada com minha prima.

Natasha chegou da cozinha e os dois pararam o que estavam falando.

- Ótimas notícias, rapazes. Vamos ter Yakissoba.

De repente a campainha tocou novamente e a senhora Yukida atendeu. Um homem de beleza felina, olhar profundo e cabelos longos e anelados entrou como se já fosse da casa

- Milo!

- Senhora Natasha, sempre linda - ele beijou suas mãos e entrou - Já deixei Shina no hotel, aproveitei e vim te dar uma carona, C... Oi, Hyoga?

- Fale, Milo.

Camus se levantou e entregou a xícara para Natasha, dando-lhe um beijo no rosto:

- Obrigado, tia. Mas infelizmente não ficarei para o almoço.

- Eu entendo. Tente relaxar um pouco e... Milo, cuide bem dele.

- Pode deixar. Até amanhã.

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Dentro do carro...

- Você não passou dos limites com minha prima, passou? - Camus perguntou friamente.

- Eu respeito o luto dela - Milo respondeu repentinamente sério.

Silêncio

- E olha que você me conhece desde pequeno. – Bufou o grego.

Milo continuou fitando a estrada num tal silêncio que nem mesmo Camus agüentou.

- Me desculpe. - Murmurou Camus tentando parecer indiferente. Mas não conseguia.

- Esquece.

- Nada de mulheres hoje e quando você sair leve a chave porque...

- Não vou sair. Você está na maior deprê. Eu não vou te deixar sozinh...

- Saia, Milo.

- Como?

- Quero ficar sozinho hoje. As únicas pessoas que não negarei a companhia são meus parentes e parentes de Jisty.

Milo não disse nada. Talvez mais sério que Camus, continuou dirigindo.

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A noite se firmou na cidade de Tókio.

No necrotério Shun cruzou os braços pensando que argumento iria usar para convencer o médico legista a deixá-lo saber sobre o resultado do exame do cadáver de Argol. Doutor Selassie, Shiryu tinha lhe dito quem e onde era. Deveria contar a verdade? Pelo menos não sairia perdendo. Apoiou as mãos no balcão e abaixou a cabeça, quando a levantou assustou-se com uma figura feminina, loura, com os cabelos amarrados numa longa trança, e vestida de branco.

- Posso ajudá-lo? - Perguntou ela rotineira.

- S... Sim. Sou Shun Amamiya e preciso falar com o médico, o doutor Selassie, que está cuidando do corpo de Argol. Argol alguma coisa.

- Já percebi que não lembra o sobrenome. - Ela o encarou repentinamente fechada.

- Na verdade, não sei o sobrenome. Pode chamar o legista por favor?

- Está olhando para ele. Minha assistente não veio.

Shun corou violentamente:

- Desculpe... Você é... Você não parece com uma...

- Senhor Amamiya, está tomando meu tempo. O que é para a vítima?

- Um conhecido que estava no local do incidente.

- Isso não é nenhuma novidade. Sim porque sei que isso sairá em todos os jornais de amanhã.

A senhorita cruzou os braços e deixou transparecer um sorriso repulsivo que fez Shun relaxar os ombros e passar as mãos pelos próprios cabelos. Aquele era um sinal de que ela estava fechada pra qualquer acordo.

- Já entendi - Confessou Shun - Você já me conhece, não?

- Sim. É repórter.

- Certo. Realmente me conhece.

- Eu também leio, senhor Amamiya. E embora ache suas matérias interessantes não quero ninguém do seu ramo aqui. Não estou disposta a dar entrevistas e muito menos ter minha conversa com o senhor gravada.

- Estou sem gravador.

- Que seja.

- Olha não é por isso que estou aqui. Eu, meu irmão e um amigo vimos tudo o que aconteceu. Meu irmão inclusive foi quem salvou a pessoa. Ela falou com a gente, não tinha sinais de insanidade mental. Eu vi essa pessoa morrer e foi algo muito estranho. Aposto que mesmo que muitos tenham vistos apenas eu vim para cá.

- É. Realmente só você veio.

- Porque isso não é tão interessante assim quanto você pensa. Pelo menos não a causa da morte. Só querem saber que um homem tentou suicídio, não conseguiu e morreu assim mesmo. Não é uma matéria digna de uma revista.

Silêncio

- Eu só queria uma resposta. Só isso. E talvez a senhorita possa me ajudar.

Ela descruzou os braços e suspirou:

- Não. Não posso.

- Ainda acha que só estou querendo lhe prejudicar, não é?

- Antes fosse. Venha.

Ela fez sinal para Shun acompanhá-la até uma das salas, lá havia um forte cheiro de éter, e vários cadáveres embrulhados que fez Shun sentir uma verdadeira náusea. Se não estivesse tão curioso...

- O que sabe de medicina? - Perguntou ela.

- O básico do básico.

- Vamos ver se entende isso - Entregou uma prancheta para ele analisar. - São minhas anotações. Faço-as antes de dar o diagnóstico.

Shun tirou do bolso do sobretudo um óculos de leitura e passou a vista no papel.

- Então? O que um leigo como você daria como causa da morte?

- Eu não entendo bem do assunto. Parada cardíaca?

- Como vê, chegamos à estaca zero - pegou a prancheta de volta - Agora venha. E ponha essas luvas.

Ela o guiou até um corpo embrulhado e puxou o lençol. A cena mais horrenda para Shun estava na sua frente. Um cadáver dissecado da cabeça aos pés, totalmente desfigurado.

- Oh... - Shun virou o rosto e tirou os óculos.

- Interessante não?

- Sim... Muito.

A médica sorriu parecendo confortável com a companhia.

- Não. Não cubra - O rapaz esfregou os olhos e reuniu forças para encarar aquilo. -Mostre o que tem pra me mostrar.

- O coração. Toque-o.

Shun estendeu a mão encostando seus dedos finos e delicados no coração entreaberto.

- Parece que ficou dias mergulhados em formol. - Disse finalmente tirando a mão de lá.

- Para um repórter você até que entende de medicina.

- Obrigado. Meu pai é médico e aprendi muita coisa na convivência.

- E por que não seguiu o caminho dele?

Shun mordeu o lábio inferior e olhou para o teto:

- Cubra o cadáver, por favor. - Pediu finalmente.

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- Como vê, senhor Amamiya...

- Shun.

- Como?

- Tem dois Amamiyas da mesma mãe. Você precisa saber meu nome.

Ela sorriu descontraída:

- Certo, Shun. Como vê eu não sei qual é a causa da morte. Tirando o estado do coração o corpo me parece normal - Ela confessou tirando o jaleco. - Vão passar para outro estudioso.

- Na verdade você me deu uma resposta sim. A causa da morte está além dos nossos conhecimentos. Não precisa ficar aborrecida.

- Já é o segundo caso só este ano.

- Ah... Entendi.

- Tudo bem. Vou tirar uma licença. Respirar um pouco.

- Bom, se quer saber a opinião de um leigo. - Shun tirou as luvas e devolveu na mão dela -Você é muito boa no que faz. Até um dia, senhorita Selassie.

- June.

- Como?

Ela balançou a cabeça e olhou-o nos olhos:

- Você disse até um dia. Se nos reencontrarmos precisa saber meu nome.

- É um belo nome... June.

- Até um dia então, Shun.

Continua...