RECOMEÇANDO

A lenda das armaduras sagradas

Longe dali.

- Eu sabia - Uma pessoa colocava um anel num dedo de pedra entre duas tochas - Aquele homem guardava o poder sagrado em seu coração.

O anel reluzia com um brilho infernal, mostrando o símbolo de Escorpião cravado nele. Também estavam lá os anéis com Áries e Câncer talhados em ouro.

- Só faltam nove.


- Milo Kleinpaul, não? - Saori se ajoelhava perto do sofá em que havia deitado o homem - Já chamamos uma ambulância.

- Como foi que tudo aconteceu? - Shido perguntava olhando desconfiado para Camus, mas o francês nem lhe deu atenção.

Milo ofegava como se quisesse falar alguma coisa enquanto Camus só ficava calado, olhando para ele sem dizer uma palavra. Saori se debruçou sobre o grego e afastou os cabelos da fronte e antes que Shido pudesse arrancá-la de lá Milo pegou a mão delicada da moça e colocou sobre seu peito.

- ...! -Shido - Ora, seu...

- Psiu! - Exigiu Camus sem encará-lo.

A expressão de Saori mudou para uma mais séria e controlada. De repente uma luz emanou de sua mão assustando a todos, inclusive a Camus, que tentava parecer indiferente.

- A...! - Shido arregalava os olhos e se afastava da noiva Saori!

- Milo... - Camus murmurava entre a surpresa e a admiração.

Quando a luz finalmente se apagou Milo largou a mão de Saori ficou sem movimentos. Shido e Camus ainda não sabiam o que dizer, ainda mais quando ela se levantou e meramente disse: "Ele vai ficar bem". E subiu as escadas.

Shido subiu as escadas e entrou no quarto da noiva como se fosse o dono da casa. A moça estava sentada na cama, de cabeça baixa e olhos fixos no chão.

- Saori... Saori, pode me explicar o que aconteceu? O que foi aquilo?

- Eu... Não sei.

- Como não sabe? Aquele aproveitador...

- Ele estava realmente passando mal. Eu senti isso - ela virou a cabeça para fitá-lo - Não sei como. Quando eu o toquei... Simplesmente senti.

- Quero ele fora daqui agora.

- Nem pensar. Ele ainda não está bom.

- Mas está curado. O amigo dele não o trouxe? Ele que o leve.

- Eu não estou com paciência para isso.

- Como é?

Saori fechou o punho e contou de 1 até 10. Respirou fundo, pegou sua bolsa e saiu do quarto.

- Aonde você vai?

- Sair. E não me pergunte pra onde eu vou nem tente me seguir - desceu as escadas à passos firmes - Minu, providencie algo para os senhores Milo e Camus se deliciarem. Eu estou saindo, mas os quero bem tratados.

- S... Sim, senhorita.

A moça passou direto por Camus, Tatsume e, antes que saísse, sussurrou discretamente para Aioria:

- Faça com que minhas ordens se façam cumpridas.

- Sim, senhorita.

Ikki estava bem acolhido nas cobertas. Já tinha acordado, mas não estava nem um pouco afim de se levantar. Era domingo. Nem precisava. Shun também estava dormindo já que não se ouvia o barulho da louça na pia nem se sentia o cheiro forte de café. Já era de se esperar, pois ambos dormiram tarde.

Ikki virou-se para o outro lado. Perguntava-se, entre o sonho e a realidade, como estaria Esmeralda e se ela esperava vê-lo na Ametista naquela noite também.

O telefone tocou de repente assustando Ikki. "Shun atende..." Cobriu-se mais ainda para dormir.

Shun caminhou até a sala no quinto toque e atendeu no sexto. Os cabelos verdes totalmente despenteados complementavam a cara sonolenta.

- Hum... Alô? Cumprimentou entre um bocejo Quem? ... Sim, ele veio pra cá, mas eu acho que está dormindo. Hum... Ah, então foi com você que ele esqueceu o casaco? - riu. - Hum... Sei... É eu fui lá uma vez, mas acho que ele também foi ontem balançou a cabeça e sentou-se no sofá É mesmo? Bem típico dele... Sei... Não! Não desligue... Sim, eu sei o que eu disse, mas é por uma boa causa... Não se preocupe. Como é seu nome mesmo? ... Certo, Esmeralda, espere um minuto.

Shun se levantou e bateu na porta do quarto onde Ikki estava. O primogênito fingiu não ouvir.

- Ô, Ikki, tem uma tal de Esmeralda no telefone. Parece que é sobre o casaco que você esqueceu.

Em "Esmeralda" Ikki já havia "acordado" e vestido o roupão para abrir a porta e atender o telefone.

- Obrigado, irmão.

- Vou fazer um café.

- Certo. Alô?

- Oi, Ikki - Esmeralda sorriu - Eu... Eu não sabia que você estava dormindo. Já são onze da manhã.

- Não. Eu já tava acordado. Só não saí do quarto. Como achou o telefone do Shun?

- Você esqueceu seu celular no bolso.

- Como! - Ikki bateu na própria cara.

- Daí lembrei que você disse que iria para a casa do seu irmão e por sorte você não gravou o número com o nome dele. Só com "irmão".

- Mais prático. Existem "n" Shun's no Japão, mas só um é meu irmão.

Ela sorriu de meigamente:

- Como faço para devolver seu casaco?

- Eu passo por aí daqui a pouco. Tudo bem pra você?

- S...Sim... Acho que está tudo bem.

- Então... Até daqui a pouco.

- Até mais, Ikki.

Ikki desligou com um semblante de estranha satisfação no olhar. Foi até a sala onde estava Shun mexendo em uma cafeteira.

- Deixe isso aí.

- Como? Inquiriu Shun.

- Já é quase meio dia. Vamos sair para almoçar.

Shun e Ikki estavam a pé. O plano era pegar os objetos devolta, inclusive o carro que o primogênito havia deixado sob guarda na Ametista.

- Então você foi atrás da dançarina? Shun inquiriu após ouvir a história detalhadamente.

- Um maníaco queria agarrá-la.

- Sim, mas você não sabia.

Ikki colocou as mãos nos bolsos. Shun insistiu entretido:

- De qualquer forma ela teve sorte, não? Você a defendeu.

- Se você a visse não teria coragem de tocá-la. Meiga, sensível... Lembra aquelas bonecas de porcelana que a mãe costuma colecionar.

- Entendo... Só nunca imaginei que você esqueceria seu celular e seu casaco de estima numa só noite.

- Eu já estava com muito sono.

- Imagino.

Os irmãos pararam em frente à casa de Esmeralda e Ikki bateu na porta. Não demorou para a jovem abri-la.

- Bom di... Quer dizer, boa tarde - E a olhar Shun surpreendeu-se -E... Você é...?

- Shun Amamiya - Shun estendeu a mão - Ikki me falou muito de você.

- Bem, ele também falou de você. Entrem, por favor.

Ambos limparam os sapatos no tapete e entraram. Por dentro a casa absorvia a personalidade de sua moradora. Detalhes bem acabados, bibelôs perto dos porta-retratos e móveis com um toque feminino. Shun se ateve aos retratos enquanto Ikki seguia Esmeralda até um dos quartos.

- Tome. Eu dei uma ajeitada. E aqui está seu celular.

- Obrigado.

- De nada. Hum... Você freqüenta muito a Ametista?

- Vou estar lá hoje a noite.

Ela riu sem jeito:

- Parece bem vulgar, não?

- É bonito. Você dança muito bem.

- Obrigada, mas isso não vai durar muito tempo. Afrodite prometeu pagar parte da dívida quando soube o que aconteceu ontem. Eu liguei para ele contando.

- Ele?

- É meu parceiro. De dança, sabe.

- Entendo... Afrodite, não? Deve ser bem vaidoso.

- E é. Mas é um doce de pessoa.

O casal voltou à sala enquanto Shun os esperava, fingindo dar uma atenção excessiva às imitações de Monet penduradas na parede.

- Podemos ir já, Shun.

- É mesmo? Tudo bem então.

Os irmãos saíram da casa, se despediram da moça e andaram até a casa noturna, onde Ikki havia deixado o carro sob guarda.

O trânsito já fora melhor, pelo menos para um motorista apressado sem motivos como Ikki.

- E então? O que achou? - Ikki puxava assunto.

- Dela?

- Sim.

- É bonita. Bailarina, não? Vi as fotos.

- É.

Ikki teve que se segurar para não confessar o quanto a garota lembrava Shun, ou vice-versa.

- IKKI, CUIDADO!

Ikki girou o volante e pisou imediatamente no freio quando viu um homem atravessando a rua distraído, segurando um pêndulo com o cristal na ponta. Em segundos a buzina invadiu a monotonia sonora e quando o homem olhou para o lado Ikki já estava freando e parando a poucos centímetros de distância.

"BIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII"

- AAA...! - O homem pulou para trás assustado.

Ikki saiu do carro batendo a porta furioso e com Shun em seus calcanhares.

- Você enlouqueceu? Se quiser se matar faça isso longe do meu carro!

- Oh... Me... Me desculpe. Eu sou muito distraído.

- Tudo bem com você? -Perguntou Shun olhando do sujeito para o carro.

- Sim. Não se preocupe, foi falta de atenção mesmo. Sorte que seu irmão tem reflexos rápidos.

Ikki e Shun se entreolharam:

- Como sabe que somos irmãos? Shun indagou.

- Bem... Tenho um sexto sentido muito forte - Sorriu constrangido - Desculpem-me pelo transtorno. Meu nome é Mu Seng.

- Eu sou Ikki e ele é Shun. Agora que nos apresentamos continue seu caminho com os pés no chão, okay?

- Ah... Sim... Olhou para baixo Meu pêndulo...

- O que é que tem?

- Procuro por alguém, mas perdi meu pêndulo.

- Estou vendo que além de alienado você não fala coisa com coisa.

- Que tal uma descrição mais exata? - Shun colocou cordialmente.

- Não posso. Não o conheço.

Ikki mirou Mu incrédulo:

- Por acaso tem idéia de onde está?

- Na verdade... Acho que estou perdido.

- Já almoçou? - Shun perguntou tentando de alguma forma tirar o homem dali.

- Não.

- Ótimo, então venha conosco. Depois procura pelo seu pêndulo e a tal pessoa.

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Saori andava aleatoriamente pela calçada. Shido era um bom homem, mas tinha o dom de estragar seu dia, não lembrava desse defeito seu quando começaram a namorar, na verdade a moça estranhava muita coisa. Sandália de salto, bata e calça leve, tudo puxando para o amarelo suave, Saori não se lembrava da última vez que passeara sozinha.

Suspirou e fitou o céu sem um motivo concreto, e quando voltou a olhar para frente se deparou com um conhecido repórter Amamiya.

- Acerto de contas. - Murmurou ela para si mesma.

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- Senhor Amamiya?

- Senhorita Saori! -Shun quase pulou ao ouvir Saori ás suas costas.

- Precisamos conversar. O senhor se importa?

- N... Não. E não me chame de senhor... Acredito que temos praticamente a mesma idade.

Alguém empurrara Saori propositalmente e quando ela se virou para exigir desculpas se deparou com Seiya uniformizado:

-Seiya!

- Aaaaaah, vejo que conhece meu nome, senhorita Kido.

Saori ficou ruborizada:

- O que faz aqui?

- Eu trabalho aqui! Sou barman. - E virou-se para Shun - Pode nos deixar a sós um instante?

- Ah... Bem...

Shun fechou a boca e respirou fundo para tentar começar de novo. Ainda mais ao ver o olhar de desaprovação e súplica de Saori:

- Certo. Eu não posso, Seiya. Eu... Tenho que falar pela Saori primeiro.

- Saori? - A moça virou-se para ele -Está me chamando pelo primeiro nome?

- Você me seguiu até uma boate porque queria falar sobre uma decepção amorosa. Me dê pelo menos essa liberdade.

Seiya ficou vermelho. De vergonha e de raiva:

- Shun, já falou o que queria?

- Ah... Ainda não. Olha, quando entrevistei Saori houve mais do que uma entrevista formal, acabamos conversando sobre coisas que... Hum... Não dizem respeito à questões profissionais. No final das contas dei meu cartão e falei para ela me ligar caso queira conversar.

- Achei que estava falando a verdade. -Murmurou ela tristonha. -Então... Como soube que eu queria conversar sobre problemas amorosos?

- Vi sua tristeza, a aliança presa no seu dedo anular e... Perdão, mas depois que Seiya me contou o que houve não deu para eliminar a possibilidade de você ter bebido algo antes de vir.. Eu peço mil perdões por ter ido contra suas expectativas, mas... Saori... Senhorita Saori... Eu estava sobrando quando o Seiya a conheceu. Vocês estavam se dando muito bem, entende? O que queria que eu fizesse afinal?

Saori corou violentamente enquanto seu sangue escaldava. Seiya, por outro lado, ficou totalmente desconsertado. Talvez com a lembrança da noite em que conhecera a bela Kido misturada às palavras de Shun o tivessem deixado assim.

- Agora acho que vocês já podem conversar. Seiya, nada de álcool pro cara que está com a gente, certo? Ikki acha que ele não bate bem da cabeça.

Shun bateu com os dois dedos na própria testa e deu meia volta.

- Eu sinto muito por tudo, Seiya. -Saori falou sinceramente.

- É fácil dizer, não acha? Você é legal. Ao menos me pareceu. Achei que... Tivesse rolado alguma cois...

- Não "rolou" nada.

Saori deu meia volta, mas Seiya a deteve, pegando em seu braço.

- Estou trabalhando. Mas quero vê-la.

- Está louco? Eu sou noiva, você sabe!

- Mas está me devendo. Sei que está ressentida, por isso não tente fugir.

- Se eu for promete me deixar em paz?

- Prometo.

- Então ta.

-Aqui. Amanhã.Oito da noite.

- Certo, agora me deixe ir. -Puxou o próprio braço.

Saori não olhou para trás ao ir embora. Totalmente nervosa e com a respiração pesada, acabara de ter aceitado encontrar Seiya, mas isso só porque sua consciência pedia. Nada mais que sua consciência. Pelo menos na teoria.

Estava tão distraída que nem reparou na motocicleta que corria em sua direção. Só ouviu a manobra do veículo ao perceber que podia atropela-la:

- AAAH! - Saori largou a bolsa e colocou as mãos nos olhos assustada.

A motoqueira tirou o capacete, deixando os longos cabelos verdes caírem por cima dos ombros:

- Hei, garota, tenha cuidado!

- Me... D... Desculpe.

- Você está bem?

- S...Só... Assustada. -Respondeu em choque.

- Certo. Hum... Suba. Eu lhe dou uma carona pra casa.

- Como!

- Você esta nas nuvens! Suba logo.

Saori olhou desconfiada pro veículo. Nada contra a garota, mas Saori sempre achara a moto o veículo mais imprudente e incerto já fabricado. Entretanto realmente não estava em condições de voltar para casa sozinha.

Subiu na moto e segurou a cintura da mulher.

- A propósito. Sou Shina Scarabelli.

- Italiana?

- Só nasci lá.

- Eu sou Saori Kido.

- Tudo bem, Saori. Segure-se.


Enquanto isso o celular de Mu tocou e o tibetano atendeu com se Ikki e Shun não estivessem lá.

- Alô? Shaka?... Sim, eu estou bem, por que?... Bem, quase fui atropelado, mas daqui a pouco estarei aí. Acho que perdi meu pêndulo. ... Como? ... Não. Na verdade eu avisei Aldebaran que sairia mais cedo, mas acho que ele estava com sono. ... Ele está bem? ... Certo. Então tá, eu voltarei para casa mais tarde. ... Tá. Tchau.

Mu desligou o celular e olhou diretamente para os irmãos Amamiya:

- Sinto que devo explicações a vocês.

- Com toda a certeza. - Respondeu Ikki sem rodeios.

- É uma longa história. Sou historiador e, junto de mais dois estudiosos, um muito jovem por sinal, comecei um trabalho baseado nas lendas recentes no chamado "berço da civilização". A que mais interessou a mim e aos meus colegas foi a que diz respeito às armaduras sagradas. - Parou e entrelaçou seus dedos. - Diz respeito a oitenta e oito armaduras, sendo doze feitas de ouro, que foram dadas a oitenta e oito pessoas cuja missão seria proteger a deusa Athena. Foi uma espécie de guerra divina, muitos morreram aos vinte anos e alguns sequer chegaram aos quinze.

- Nunca ouvi falar dessa lenda. - Shun pensou alto.

- Deve ser porque é muito fácil desmenti-la. - Ikki afirmou - Se fosse real pelo menos uma armadura, ou pedaço dela, seria encontrado.

- Na verdade, segundo a lenda, quando os cavaleiros morreram as armaduras "morreram" junto com seus donos.- Exoplicou Mu.

E- você quer que eu engula essa?

Mu sorriu:

- Lendas são lendas, concorda? Como esta se propagou é um mistério, mas encontramos uma escritura nas paredes do santuário da Grécia, em que alguém entregava Athena aos cuidados de outra pessoa. Até aí tudo bem. O problema ocorreu quando terminamos o trabalho. A mesma equipe viajou para a Índia faz uns três ou quatro meses. Foi lá que conhecemos Shaka, uma pessoa no mínimo... Interessante. Ele nos ensinou a arte da meditação e do pêndulo.

- Bom, bom... - Ikki sibilou - Mas aonde quer chegar?

Mu abriu o cardápio, mas antes de fazer o pedido encarou os irmãos:

- Acho que vocês deveriam conhecer Shaka.


Continua...


Hei, Shaka, que bom que c gostou dafic. Fikei muito feliz pelos seuscomentários

Abraços