RECOMEÇANDO

O beijo

Mu quase levou um susto ao se deparar com Shaka acompanhado de Milo e Camus, e ambos carregando uma porção de malas. O louro ao ver o amigo sorriu gentilmente.

- Shaka, o que aconteceu? – Perguntou Mu.

- O rapaz Amamiya não veio aqui ontem falar conosco? Pois bem, eu contei a verdade aos senhores Kleinpau e Diderot. Aliás, o pêndulo acidentalmente me revelou que Camus também tem a energia sagrada.

- Como! – Olhou para a dupla. – E... Por que os trouxe aqui?

Shaka voltou-se para os dois e entregou uma chave:

- Este será o apartamento de vocês até que as coisas se resolvam. Pelo menos vamos ser vizinhos.

Milo pegou a chave:

- Cara... Você me deixou sem saber o que fazer.

- Ainda somos amigos, Milo. Pode confiar em mim.

- Eu sei...

Em seguida Shaka se virou para Mu:

- Está saindo?

- Sim. Mas tenho tempo para dar uma palavrinha com você.

- Certo. Licença, Milo.

E afastou-se com Mu da dupla.

- Olha, Shaka, você é herdeiro de uma indústria de tecidos de seda. Tem que cuidar para não está gastando muito.

- Você é mesmo preocupado. Lembra do que fizeram a você?

- Como vou esquecer?

- Pois bem, aconteceu a mesma coisa com meu amigo Milo e se não cuidarmos poderá acontecer com o amigo dele também.

- Eu sei. – Afirmou sincero – E como Milo conseguiu escapar?

- Sabe aonde vou agora?

- Não sou adivinho.

- Vou à casa de uma certa senhorita Kido. Quer vir comigo?

- Você sabe que tenho que dar aulas. – Olhou o relógio enquanto carregava uma expressão enigmática. – Mas quero que me coloque a par de tudo depois.

- Tudo bem.

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Milo os fitou se afastando até entrarem no elevador enquanto relembrava toda a história que Shaka havia lhe contado e, posteriormente, contado a Camus. O francês pegou a chave de sua mão, abriu a porta e jogou as malas no sofá, jogando-se depois.O grego mirou o amigo como quem contempla uma estátua.

- Camus... – Milo fechou a porta e sentou-se ao lado do francês. – Tudo bem?

- Por que não estaria?

- Hum... Por que você pode morrer?

-Meu pai sempre dizia que todos nós morremos mesmo.

- Seu François dizia cada coisa nobre... – Milo girou os olhos.

- Não fale assim dele.

- Muito severo. Pomposo, chato, desastroso... E ele não me suportava também.

Camus não pôde deixar de abrir umsorriso:

- Só você... Acha que vou morrer e ainda fica falando de meu pai.

- Você não vai morrer, Camus.

- ...

- Eu... Não vou deixar.

Camus mudou seu semblante como se acabasse de ver Milo ali. Com uma expressão enigmática olhou o melhor amigo sentindo-se surpreso. Não se soube quanto tempo os dois passaram trocando olhares, aliás nenhum dos dois pareceu querer desviar os olhos.

Esperavam uma reação alheia.

Mas só houve um silêncio.

Até que Camus abaixou o olhar esegurou uma das mãosde Milo carinhosamente.

- Você se preocupa a toa. – sibilou o francês.

- Não dá pra evitar... Não quando se trata... De você.

- ...

Milo estendeu os dedos e tocou suavemente o rosto de Camus, que a princípio hesitou, mas deixou o amigo acaricia-lo. Milo contemplava aquele rosto como quem contempla uma arte renascentista. Sua mão se ajeitou pelos cabelos do amigo enquanto seu polegar massageava lentamente seu rosto, fazendo com que Camus fechasse os olhos e inclinasse lentamente a cabeça para o lado.

Aquele gesto o envolveu demais e, com o coração quase na boca, Milo aproximou-se mais de um Camus levemente enrubescido que nem mesmo procurava resistência. Seria mais fácil se ele abrisse os olhos e se levantasse, mas não. Milo se aproximava de Camus que nada fazia.

- Milo... – Murmurou enquanto sentia a respiração morda do outro perto de seus lábios.

E numa atração contínua seus lábios colaram-se num beijo suave e profundo. Camus sentiu-se amortecido. Entreabriu os lábios acompanhando o ritmo de Milo sem resistência, sentindo seu corpoo abraçar durante o beijo e sua língua explorar os cantos da sua boca com veemência. Sem perceber colocava seus braços por cima dos ombros de Milo e o trazia cada vez mais para perto, acariciando sua nuca e suspirando,fazendo o beijo tomar um rumo ardente.

Nenhum dos dois pensava nas reais conseqüências do que estavam fazendo,a mão de Milo passou a mexer nos cabeços do francês enquanto este segurava o seu rosto, cedendo e retomando o controle dos gestos.

Foi a falta de ar que os separou. Camus teve a ligeira impressão que Milo parara de respirar nos últimos milésimos de segundo e puxara levemente os cabelos de sua nuca enquanto seus lábios se descolavam dos dele e arrastavam-se até roçarem na orelha do francês.

Foi quando este abriu os olhos atônito. Só depois se deu conta que seu coração batia acelerado e seus braços circulavam os ombros do amigo. Oscilava entre a possibilidade de ver até onde aquilo ia dar e a necessidade de sumir por dois anos, ou melhor, dois anos e meio. Camus sabia que definitivamente havia se excedido, contudo mal conseguia balbuciar alguma coisa perto daquilo. O bom senso havia voltado e, se pudesse, o enterraria a sete palmos.

- Mon dieu...

Afastou-se repentinamente de Milo e ficou o encarando esperando dizer alguma coisa. Mas o grego não falou nada. Sentiu os olhos marejarem.

-Camus, me desculpe! Eu... Eu não me segurei!

Milo afastou-se de repente e só então Camus viu o quanto o amigo estava escarlate. Provavelmente a volta do bom senso também o tivesse afetado.

- Eu estraguei tudo... – Falou o grego levantando-se do sofá. –Acabei de pôr tudo a perder...

Milo ofegava olhando para cima e para os lados e quando voltou a fitar Camus seu estado piorou. O francês o mirava atônito, com a boca meio aberta e com a respiração acelerada e descompassada.

- Me... Me perdoa, Camus.

E antes que Camus respondesse, Milo deu meia volta e saiu andando rápido.

Silêncio.

Nunca o raciocínio de Camus ficara tão lento. Agora sabia porque certos sentimentos emburravam a pessoa. Até que finalmente encarou os fatos: "Milo havia realmente o beijado, estava decididamente arrependido e planejava rapidamente irem bora."

- ... Mi... Milo, espere! – Levantou-se finalmente do sofá para ir atrás dele.

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Longe dali, exatamente na mansão Kido, Saori acordara com um embrulho no estômago. Procurou Shido ao seu lado, já havia saído. De repente correu para o banheiro e fechou a porta suando frio.

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Minu bateu levemente na porta.

- Senhorita?

Nenhuma resposta. A moça abriu a porta do banheiro assustando-se com Saori sóde camisola, testa suada e com ar de quem acabara de vomitar.

- Tudo bem, senhorita?

- T... Tudo... – Saori levantou a cabeça e limpou a boca. – Lembre-me de não encomendar mais comida tailandesa.

- A senhorita deveria ir ao médico.

- Não é má idéia. Ligue para Julian e diga que não vou ao museu hoje. Depois telefone para o doutor Opulska e peça para ele vir aqui ainda hoje.

- Sim.

- Obrigada.

- E... Senhorita.

- Fale?

- Tem um rapaz querendo falar com a senhorita. Atende pelo nome de Shaka Yehuda.

- E o que ele quer?

- Diz que está interessado no acontecimento de ontem... No que diz respeito àquele homem que chegou agonizando.

- ...!

Saori desceu as escadas depois de vestir algo mais apresentável e arrumar os cabelos. Shaka estava elegantemente sentado no sofá, segurando um pêndulo que girava insistentemente em sua mão.

-Esta cidade está cheia mesmo. - Murmurou o indiano olhando discretamente para Aioria de pé ao seu lado e Shiryu na porta de entrada.

- Senhor Yehuda? - Saori o cumprimentou.

Shaka guardou o pêndulo, sorriu e levantou-se, estendendo a mão direita:

- É um prazer conhecê-la, senhorita Kido.

- O prazer é meu. Minu, mande trazer um café para o senhor Yehuda.

- Sim, senhorita.

- Não é necessário. - Interveio Shaka, acenando para Minu. Depois voltou-se pra Saori. - Eu pretendo ser breve senhorita. Preciso muito de sua ajuda.

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Na sede da revista óptica Shun andava apressado até a copa. Nunca soube o motivo de sempre andar apressado depois que chegou à vida adulta, mas já havia virado uma mania.

- E aí, Shun? – Hyoga o chamou - O que o chefe queria?

- Saber o que leva uma pessoa ao suicídio.

- E por quê?

- Porque ele gostou do assunto. Ah, e falou pra eu arranjar outro fotógrafo pra me acompanhar porque você já está com a Thetys.

- Pfff... Nem me fale.

- Não reclame. É a sua área. – Thetys falou espontânea enquanto chegava à copa. – Você só trabalha com o Shun uma vez ou outra.

- Sim, mas não vamos cobrir aquele tipo de festa que inúmeros jornais pagariam o dobro pelas fotos. Nem têm artistas famosos. Não. É um casamento.

- Casamento de quem? – Inquiriu Shun.

- Da... Caham... Saori Kido.

- Como!

- O noivo dela telefonou cedo pro chefe pedindo pra cobrir o casamento, que vai ser daqui a três dias. E como Shido é filho do dono da editora...

- Agora sim Seiya vai ter um ataque.

- Quem é Seiya? – Thetys perguntou.

- Só um amigo. – Hyoga e Shun responderam em coro.

Nesse meio tempo, ninguém reparou Ikki chegando:

- Alô. Preciso de um café.

- Nooossa! O que foi? – Thetys provocou. – Não dormiu bem?

- Sequer consegui dormir.

- Ah, sim. – Shun lembrou. – Eu encontrei Esmeralda hoje.

- Encontrou!

- Sim. Ela disse que não trabalha mais na Ametista. Acho que conseguiu pagar as dívidas.

Ikki deixou a xícara de café cair entre os dedos ao ouvir a notícia e gritou um palavrão indignado que fez Thetys recuar um passo.

-Quem é Esmeralda? – Hyoga perguntou.

- Voltem para o trabalho. – Resmungou Ikki saindo da copa com a xícara na mão.

- ...

- ...

- Que é que deu nele? – Thetys perguntou, colocando as mãos na cintura.

Ikki pisava andava pelos corredores indignado. Estava feliz ao saber que Esmeralda estava bem, mas agora... Não poderia se encontrar com Esmeralda novamente.

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Milo chegou apressado ao andar principal, arrependido até a última gota pelo que acabara de fazer. Se ele tivesse se segurado só um pouquinho... Havia sufocado isso por tanto tempo... Por que foi se deixar levar agora?

Assustou-se ao ver Camus à sua frente.

- Camus!

- Ainda bem que você não pensou em usar o elevador.

- O que está fazendo aqui?

- Eu moro aqui agora.

Milo grasnou algo e passou por Camus, que o segurou pelo braço discretamente. Havia algo diferente naquele toque. Camus já o segurou várias vezes, mas naquele momento aquilo parecia uma súplica.

- Eu sei que ainda está surpreso, Camus. Por favor, me deixa ir embora e eu prometo que esqueço tudo.

- Me perdoe, Milo.

-...

- Eu também estraguei tudo. - Segredou ao ouvido do grego. - Eu gosto muito de você.

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A tarde chegou fria e espessa, rasgando o céu da cidade. Sashira estava debruçada sobre o balcão dormindo. Talvez culpa da péssima mania que tinha de dormir após às duas da madrugada aos domingos.

June chegou tirando as luvas e ao ver a colega começou a rir, acordando-a.

- Sashira, o que faz aqui?

- Heim? – A mulher acordou de repente, olhando June alienada. – Oh... June?

- Estava dormindo?

- Hum... Não! Eu... Achei que havia algum estagiário aí dentro com você ainda.

- Você sabe que metade não agüenta nem ir até o estômago.

- Na verdade eu já perco a fome quando você já começa a abrir o tampo da cabeça. – Confessou se espreguiçando.

- Deixe de rodeios. Por que ainda está aqui?

- Eu... Bem... Acho que eu dei um cochilo.

- Tente dormir mais cedo da próxima vez.

- ... É. Eu escuto... Isso.

- Tá na hora de apreender então. Eu vou acabar de arrumar tudo para irmos almoçar, tudo bem?

- Ta.

June entrou na sala de autópsia e fechou a porta enquanto Sashira tentava arrumar os papéis empilhados em cima do balcão. Como estava olhando para baixo só percebeu a enorme sombra que envolvia quando o dono dela já estava bem próximo.

- ...? – Olhou para cima - AAH!

Silêncio.

- Oh... Desculpe! – Pediu ela ao ver que se tratava de um homem muito grande cujo rosto com traços fortes e os cabelos remexidos para trás complementavam ous olhos negros e a pele morena. – Me perdoe.

- Eu é que peço desculpas por tê-la assustado.

- Oh... Não. Tudo bem. É que eu estava muito distraída. Hum... Não é daqui do Japão, é?

- Não. Sou do Brasil e me chamo Aldebaran Varela.

- Ar... É...Eu sou Sashira Tachikawa. – Sorriu o fitando melhor - Hum... O que deseja?

- Usar o telefone. Posso? Meu celular descarregou e é uma situação de emergência.

- Ah, claro. Fique a vontade.

- Obrigado.

Ela indicou o telefone e Aldebaran discou os números apressadamente.

Primeira chamada...

Segunda chamada...

- Alô? Que bom que atendeu, Mu. Acho que encontrei Alberich.

- Como! Onde? – Mu parara uma aula para atendê-lo.

- O vi segurando o pêndulo e olhando para onde estou agora. Mas quando ele me viu se escondeu no meio da multidão. Acredito que ainda esteja interessado em algo daqui.

Sashira levou uma das mãos à boca enquanto ouvia a conversa.

- Onde você está? – Perguntou Mu.

- No necrotério municipal, acho que você sabe onde fica.

- Sei sim, estou a caminho. Mas tente sair daí se puder. E com quem estiver nesse local.

- Certo. Até.

E desligou.

- Hum... A moça se importa de vir comigo?

- Por que!

- Não dá tempo pra explicar, mas tem alguém de olho aqui faz alguns minutos.

- ...!

- Tem mais alguém com você?

- S... Sim! June!

Sashira saiu correndo para a sala de autópsia, com Aldebaran correndo às pressas atrás. Abriu a porta impulsivamente e deu um grito ao ver June encostada na parede, à poucos centímetros do chão, com a garganta apertada entre os dedos de um homem cujos cabelos rosas o destacavam. A loura estava de olhos abertos, entretanto permanecia imóvel.

Foi tudo muito rápido. No momento que Sashira gritou o homem olhou para o lado e foi acertado por Aldebaran, que correu o empurrando contra a parede:

- AAAARG! – O homem sentia a dor da pancada.

- Seu filho da mãe, acha que pode me passar para trás? – Urrava Aldebaran o acertando na barriga.

- Afaste-se! – O homem gritou estendendo a mão, emanando uma força invisível que jogou Aldebaran para longe dele.

Enquanto os dois brigavam, Sashira corria para acolher June:

- June! June, reaja!

- ... S... Sh... - A moça tentava emitir alguma palavra.

-O que você quer dizer?

- Sh... Shun...

- Shun! É o nome daquele tal repórter?

June acenou positivamente e deixou a cabeça cair para trás. Enquanto isso Aldebaran ainda brigava com Alberich.

- Você vai saber porque não conseguiu tirar nada de mim,traidor!

Aldebaran conseguiu dar um soco em Alberich que o fez perder os reflexos e, até mesmo, o equilíbrio.O brasileiro só teve tempo de carregar June e puxar Sashira pelo braço antes que o agressor o acertasse com mais um de seus "golpes".

Quando Alberich conseguiu recuperar os sentidos limpou o sangue da boca e andou até a rua. Já não havia mais ninguém.

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Continua...