- Alô? É do consultório do doutor Opulska? – Shaka falava ao celular antes de chegar ao carro.

- Sim, mas ele não veio, senhor. Deseja dar algum recado?

- Hum... Não. Eu só desejo saber o motivo da falta.

- Eu realmente não sei lhe informar. Já era para ele ter chegado. É sempre pontual.

- E tem como eu falar com ele?

- Eu creio que não.

- Tudo bem, senhorita. Obrigado.

- Bom dia.

Shaka desligou e tirou do bolso da calça brim o cartão do doutor Opulska.

- Vamos tentar o celular então.

Houve um momento de silêncio até que alguém atendeu. E pela voz o próprio doutor Opulska.

- Quem fala?- A voz no celular parecia inquieta.

- Doutor Opulska?

- Opulska errado. Acho que deseja falar com meu irmão.

- Sim. Ele se encontra?

- Senhor, sabe onde estou agora?

- Hum... Creio que ainda não tenho o dom da pajelança.

- Estou no hospital. Meu irmão foi atacado ontem a noite e só Deus sabe se ele vai sobreviver, portanto não me perturbe.

- Espere!

- Arre! O que foi?

- Em que hospital ele está?

- ...!

RECOMEÇANDO

A noite

Camus acordou e se espreguiçou na cama. Milo não estava lá. Muito estranho porque sempre acordara mais cedo que ele. Levantou-se, escovou os dentes e dirigiu-se até a cozinha. Lá estava ele com roupas de frio, em frente a uma mesa basicamente arrumada, ajeitando-a para o café da manhã. Talvez Milo nunca tivesse idéia do quanto ficava bonito com camisa de mangas compridas.

- Mon dieu. Não me diga que você resolveu fazer o café. – Resolveu pronunciar logo sua presença.

- Ainda bem que você acordou agora. Se visse a bagunça que eu tinha feito ia ter um treco. E eu cozinho bem, heim!

- Só se for macarrão instantâneo.

- Rá Rá.- Ironizou.

- O que é isso?

- Kourabiédes. Acordei tão disposto que resolvi cozinhar.

Camus pegou uma das bolachinhas brancas cuidadosamente armadas e colocou na boca.

- E então?

- Délicieux.

- Não falei que cozinho bem?

Camus o contemplou servindo, ainda que de forma descuidada, o café. Parecia perfeito demais. Sem conseguir se conter puxou Milo pela nuca e o beijou ardentemente, empurrando-o para sentar-se na cadeira , deixando-o em estado de choque, mas sem deixar de aproveitar o momento. Milo deixouos lábios se entreabriam para deixar-se explorar. As mãos de Camus massageavam a nuca do grego e apertavam-jhe os cabelos. Os movimentos tomaram um rumo candente, principalmente quando o grego o puxou pela camiseta, puxando-o cada vez mais contra si, como se fosse possível se unirem mais.

A boca de Milo arrastou-se até a orelha de Camus e depois passou a beijar o canto do pescoço, arrancando um gemido quase inaudível do outro.

De repente Camus se afastou bruscamente.

- Anh? Que foi? – Milo protestou visivelmente irritado.

– Não sei se você entendeu. Não é uma atração qualquer.

-...

- Eu sei que isso é papo de garota, mas eu amo você.

O coração de Milo deu um salto.

- Você cometeu uma burrice me beijando e eu outra retribuindo porque agora está impossível evitar o que eu sinto. Eu quero você.

O grego nunca demorou tanto para piscar. Ao ver o olhar atento de Camus sobre si, não pôde se conter. Riu.

- O que é tão engraçado? – Camus inquiriu furioso.

- Você não devia ter fechado os olhos, francês. Estava pedindo.

- E você devia ter se controlado.

Milo segurou-lhe delicadamente o rosto:

- Eu também te amo. Por isso que concordei em ficar. Por isso que eu nunca disse isso. Só a sua presença já me fazia sentir bem. Eu tentei me livrar desse sentimento, mas não consegui. E você também você não ajudou.

Camus expirou e sorriu incerto:

- Está falando de quando decidi ir com você para Kyoto?

- Tivemos muitos momentos. Mas esso foio ápice.

- Eu não sabia que era esse o propósito.

- Pois é... Mas era.

Milo pensou por um momento se iria se perder naquele par de olhos congelante de Camus, fechou os olhos quando sentiu a mão do amigo tocar carinhosamente seu queixo.

---

No hospital Hikari, localizado no centro da cidade, a nutricionista Li Shunrey analisava os prontuários recentes quando uma moça abriu levemente a porta.

- Senhorita, é um daqueles pacientes de emergência. Espero que não se importe.

Shunrey sorriu:

- De emergência? Nunca ouvi falar de uma dieta de emergência. Acaso ele quebrou alguma?

- Não. Ele está querendo ter uma. E está com uma certa paranóia depois que o amigo dele morreu devido a problemas cardíacos. Quer ser atendido o mais rápido possível.

- E quem o indicou para mim?

- Bem, na verdade foi o doutor Opulska. Parece que o paciente realmente tem maus hábitos alimentares, embora sinceramente... Ele tenha um corpo muito bonito.

- Espero que não seja um viciado em concentrados. É muito difícil. Ah, sim. Mande-o entrar.

A porta foi fechada e Shunrey voltou a sua análise. De todos os pacientes gostava mais das crianças já que, em geral, eram mais fácil de lhe dar.

O homem que entrou, entretanto, valeu por qualquer criança que tivesse entrado e se comportado bem. Cabelos negros amarrados num rabo de cavalo e olhos que se ressaltaram ao ver a figura da moça. Shunrey levou as mãos à boca assustada.

- S... Shiryu!

- Shunrey?

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Mais adiante, no mesmo hospital...

- Doutor Opulska! – Shaka quase levou um susto ao ver o médico com calça comprida e casaco, sentado ao lado de um paciente, dentro de um dos apartamentos do hospital. Levou mais um quando viu que o paciente era igualzinho ao "doutor".

- Não. – Respondeu – Kanon Opulska e já vi que conhece meu irmão.

- Kanon? – Shaka tirou o pêndulo do sobretudo, que girou com grande raio.

Kanon levantou uma das sobrancelhas quando Shaka guardou o objeto.

- Com licença. Você e seu irmão são de que signo?

- Gêmeos. E não me venha com trocadilhos. Estou sem paciência.

- Longe de mim uma grosseria dessas. Pode me dizer o que está havendo com seu irmão?

- Eu não sei. Quando cheguei em casa ontem encontrei ele praticamente em choque no chão e a casa totalmente desarrumada. O Saga teve uns problemas de comportamento quando criança, mas acredito que não tenha sido ele que fez a bagunça.

- E o coração?

Kanon estranhou a pergunta, mas respondeu:

- Estava irregular antes de virmos. Agora está estável, mas por algum motivo ele ainda não acordou. Por acaso é médico?

- Hum?...Oh, sim. Cardiologista e neurologista, doutor Yehuda. Prazer. Posso dar uma olhada nele?

- Toda ajuda é bem vinda. Vá em frente.

"Oh, Buda! Perdoe-me pela mentira escandalosa que acabei de contar. É por uma boa causa." Pensou Shaka.

Shaka tirou o sobretudo e deixou-o sobre o espaldar de uma cadeira. Em seguida descobriu a parte de cima de Saga e colocou a mão sobre seu peito e a mesma coisa que aconteceu com Milo quando Saori o tocou aconteceu com Saga.

Kanon quase caiu para trás.

- O que você fez?

- É uma longa história, Kanon Opulska.

- Que você vai me contar agora mesmo. Ah, se vai...

Kanon já havia se levantado da cadeira enquanto Shaka calmamente sentava-se naquela onde havia colocado o sobretudo.

- É claro que vou contar. Sente-se.

---

Enquanto isso...

- Certo, vamos raciocinar. – Ikki colocou os pés em cima da mesa enquanto Shun sentava-se na ponta e Hyoga permanecia segurando a máquina fotográfica. – O nome do dono da Ametista é Alberich e aquela cor de cabelo não é comum. Então tem que ser a mesma pessoa.

- E o que você quer que façamos? – Perguntou Hyoga deixando a máquina em cima da mesa e afastando os pés de Ikki para sentar-se. – Entre lá e acabe com ele?

- Vamos ser presos se fizermos isso. – Shun cruzou os braços e abaixou a cabeça.

- Não se preocupe, irmãozinho. Dessa vez teremos que usar a cabeça. Quando encontrarmos quem está nessa com o tal Alberich aí sim, podemos dar um fim neles de uma vez por todas.

- Ikki...

- É melhor do que ficar matando os outros, Shun. Nossas vidas também correm perigo.

Shun respirou fundo, vencido:

- Está certo. Mas como vamos descobrir quem está com ele?

- Já desconfio de alguém. Fiquei a noite toda pensando sobre isso.

- Ficou?

- É. Eu estava com uma insônia desgraçada e minha mente maquinou de repente. – Ikki tirou os pés da mesa e colocou os cotovelos, olhando de Shun para Hyoga e vice-versa.

- É o seguinte. No dia que aquele homem atacou a Esmeralda – E olhou diretamente para Hyoga. – Uma dançarina daquela bendita boate que você me indicou. – E prosseguiu. - Bem, ela estava conversando algo com o dono do lugar e acabou deixando de sair com as outras dançarinas. Foi quando o sujeito quis agarrá-la.

- Está dizendo que estava tudo planejado? – Hyoga inquiriu inclinando-se para frente.

- Sim. E o cara não faria um favor desses a toa. Talvez sejam parceiros. Nem que seja de festas. Em todo caso vale a pena pesquisar.

- E como vamos fazer isso? – Shun descruzou os braços e passou os dedos pelos cabelos. – Você deve lembrar da fisionomia do homem, mas não sabemos como encontra-lo.

- Você e o dançarino podem ir à Ametista quando quiserem. Eu vou ficar perto de Esmeralda. Ela se demitiu, mas suponho que ele ainda a deseje.

Hyoga cruzou os braços, abaixou a cabeça e deu uma pequena risada, deixando Ikki entre uma vontade de esganar um certo russo quase insuportável.

- Certo, Ikki. Você fica perto da garota. Mas não vai querer que eu vá até a Ametista. Minha prima está no meu apartamento e eu tenho que cuidar dela. Quanto ao Shun...

- Me tire dessa. – Afirmou o caçula Amamiya tentando não rir.

- Por que? Shun, você pode ir sem problemas.

- Epa...

- Não tem nada a perder. E até onde eu sei você já se meteu em vários lugares para conseguir alguma matéria. É só fingir que é uma.

- Eu juro que quero muito ajuda-lo, mas... Olha pra mim! Eu não vou conseguir entrar num lugar desses sozinho sem chamar a atenção.

- É verdade. – Foi a vez de Ikki tentar não rir.

Hyoga olhou nos olhos de Shun, que se assustou e se afastou muito sem jeito.

- Eu sabia. – Falou o louro. – Tem garota nessa história.

-...

- Você não vai ficar com a imagem suja se der um pulinho até lá.

- Dessa vez eu concordo com o russo, irmão.

- Oh, Ikki... Até você. – apoiou a fronte na mão e balançou a cabeça.

De repente alguém abriu a porta. Era Thetys.

- Ah, você está ai, Hyoga.

- Me procurando? Shina por acaso telefonou?

- Saori Kido vai escolher o vestido.

- Santa paciência! Ao que meu trabalho se submeteu!

- Falando nisso. – Ikki virou-se para o irmão. – A entrevista com o tal Shion Kay foi marcada pra amanhã às sete e meia.

- Valeu, mas vou precisar de um fotógrafo de emergência.

- Eu vou com você. – Falou Hyoga. – E é bom que os riquinhos não inventem nada pra amanhã.

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Entardeceu e o sol quase não era visto pela cidade. Na verdade estava tão escondido que parecia nem existir.

Marim esperou Aioria abrir a porta da limusine, saiu e acabou caindo do próprio salto.

- Ops! Senhorita... – Aioria a aparou.

- Ar... Obrigada, Aioria.

- Está tensa.

- Impressão sua. – Falou sem jeito.

- Impressão? Bem... Perdoe-me a intromissão, mas eu tenho certeza que há algum problema.

- Bem... Falei com Saori pelo telefone e ela contou sobre o casamento e... Outras coisas.

- E isso não é bom?

- Eu não sei. Tente não comentar com ninguém, sim?

- Pode deixar.

Aioria soltou Marim e a acompanhou até a porta da mansão. Lá dentro estava Saori, sentada no sofá, tomando o chá da tarde.

- Marim... Que bom que veio.

- Conte-me essa história direito, Saori.

Saori engoliu o ar e olhou para os lados, tocando depois nas mãos da amiga.

- Minha vida, Marim... Ela está de cabeça para baixo e não sei o que fazer. O teste... Deu positivo.

- Ah, não... Saori, se Shido sabe...

- Marim...

Saori escondeu o rosto nas mãos e começou a chorar.

- Eu não sei o que fazer, Marim. Shido me pediu em casamento e eu aceitei. Depois descobri que estou grávida... E esse filho pode ser de Seiya!

- Calma... Acalme-se, Saori... Olha, você tem que contar tudo ao Shido. Melhor do que enganar ele.

- Eu sei... Mas meu casamento vai ser daqui a dois dias...

- Eu entendo... Queria saber por que ele marcou esse casamento tão de repente após um ano de adiamento.

- Eu não sei... Eu realmente não sei...

- Saori... Saori, escute-me.

Saori tirou as mãos da face chorosa.

- Você ama Shido? – Marim perguntou.

-...

- Pode parecer antiquado e meio fora da realidade. Mas... Se não ama é melhor parar de fingir e acabar de vez com o relacionamento.

Saori parou de chorar e virou o rosto perplexa. Marim olhou para trás e observou a silhueta do guarda-costas Aioria parado a porta, de costas.

- Marim?

- Hum? Sim? – Voltou-se para a amiga.

- Seiya... Seiya é um simples barman. O que eu faço?

- Infelizmente só você vai poder responder essa pergunta, Saori. – Falou a ruiva tirando a bolsa dos ombro direito e abrindo-a. - Eu, por outro lado... Tenho um problema.

- Qual?

- Argol está morto e Bian está muito doente. O frio costuma trazer esses desastres. – A ruiva tirou um lencinho da bolsa e ofereceu para Saori enxugar as lágrimas.

- Bem, não faz mal... Acho que posso resolver este pequeno impasse. – Falou Saori enxugando o rosto. – Só não sei como não foi assaltada ou coisa assim.

- Eu tento me virar.

- Talvez Aioria não se importe em trabalhar para você.

- Aioria? Mas Saori...

Saori deu um pequeno sorriso:

- Não se preocupe. Dragão é muito forte e muito eficiente. E eu nem estou andando muito, ao contrário de você e Julian.

-...

- Desculpe-me por não está presente nos assuntos do Palas Athena. – Abaixou a cabeça.

- Não precisa se desculpar coisa alguma, ouviu bem?

- Marim...

- Preocupe-se primeiro com o seu coração.

-...

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A noite estava gélida. Pessoas passeavam pelas calçadas totalmente agasalhadas, e isso não excluía Shun Amamiya. Dentro do prédio Santuário o caçula "meditava" na frente da porta do apartamento de Mu, Aldebaran e Shaka. Pensou em bater, mas sua mão recuou e parou no ar. Algo lhe dizia para tentar a outra porta e como sempre escutava esse "algo" resolveu tentar.

Quem abriu foi Milo.

- Oi... Hei, Amamiya, que você ta fazendo aqui? – Perguntou com o tom jovial de sempre.

- Eu estava indo falar com o Mu ou o Shaka... – Respondeu Shun surpreso. - Mas você aqui...

- Milo, você já ligou para Kyoto... Oh. Olá, Shun. – Era Camus se aproximando.

Shun sorriu:

- Sim! Vocês dois aqui... Talvez possam me ajudar mais!

- ?

- Se importariam em me prestar um pequeno favor?

- Se estiver ao meu alcance...

- Bem... Estou indo à Ametista essa noite, mas não quero ir sozinho.

Camus e Milo se entreolharam. Shun adiantou-se:

- Não! Não pensem besteiras... É pra algo muito importante. Sobre o tal Alberich. Mas não posso ir sozinho pra não ficar suspeito.

- Conte essa história direito. – A essa altura Camus já havia fechado a porta do apartamento por trás dos três.

- Alberich é o dono da Ametista. Ikki ficou sabendo disso porque uma ex-dançarina de lá contou a ele. Eles se conheceram porque alguém tentou agarrar ela a força e esse alguém só fez isso porque Alberich chamou a dançarina para conversar e ela acabou chegando ao camarim somente quando as outras saíram. Daí meu irmão chegou à conclusão que foi tudo planejado e se Alberich planejou isso é porque tem alguma relação com o tal agressor. E eu tenho que ir à Ametista vigiar o Alberich e de quebra tirar algumas fotos do sujeito.

- Ai, minha cabeça... – Milo massageava a fronte.

- Eu nem sei o que dizer, Shun. – Comentou Camus.

- Diga que vai comigo e já será de grande ajuda. Só para eu não ficar em destaque.

- Heeeei! Peraí! – Milo pareceu acordar e apoiou-se no ombro de Camus. – Como pretende tirar fotos sem chamar a atenção?

Shun sorriu e tirou uma caneta pequena prateada do bolso:

- Com isso.

- Hum...

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Enquanto isso, no outro apartamento Shaka estava sentado no sofá e lendo um livro de Mulk Raj Anand enquanto Mu corrigia algumas provas e Aldebaran lia alguns trabalhos.

- Oh, céus... – Mu gemeu enquanto lia uma das provas. – "Professor, eu realmente não sei essa questão, mas por favor me dê meio ponto que eu preciso passar urgente. Prometo estudar da próxima vez."

Aldebaran e Shaka começaram a rir. O primeiro até abaixou o livro.

- O que um jovem desses quer na vida? – Lamentou o tibetano.

- Nem me fale, amigo. – Aldebaran folheava uns trabalhos. – Pedi que fizessem um trabalho sobre as regras e a história do vôlei e já encontrei quatro trabalhos iguaizinhos. Todos com a fonte arial tamanho 10 e com seleção escrito errado. "S-e-l-e-s-s-ã-o" – Abaixou a papelada com desgosto. – Eu não mereço isso. Achei que tal tipo de coisa só existia no Brasil, por isso parei de passar trabalhos lá.

Mu abandonou as provas e se levantou da cadeira. Espreguiçou-se e olhou pela janela. A noite estava bonita afinal.

Foi quando uma idéia lhe passou pela cabeça. Mas tinha certeza que essa idéia não vinha dele. Vinha de outra pessoa, mas não de qualquer outra pessoa. Vinha de alguém de confiança e Mu sentia isso.

- Que tal sairmos um pouco? – Perguntou.

---

Na Ametista...

Shaka, dos três, era sem dúvida o mais infeliz com a idéia de ir para lá.

- Mu, é bom você ter uma boa explicação.

- Você confia em mim, não?

- Você sabe que eu e esse tipo de lugar não combinamos.

- Esqueceu que eu tenho uma intuição muito forte? Quase uma telepatia?

- E...?

- E algo me diz que nossa vinda até aqui pode ser bem lucrativa. Hum... Onde vamos sentar?

- Apesar de esse lugar me agradar, eu tenho que pegar no batente amanhã. – Falou Aldebaran olhando para as dançarinas. – Não vou conseguir dar aula para os moleques se estiver cansado.

- Nem eu, Aldebaran. Nem eu.

- Mu? – Shaka chamou.

- Hum?

- Acho que estou vendo Milo, Camus e Shun ali.

- Onde?

- Ali. Andando.

- Acho que estou vendo também. – Aldebaran confirmou. – E acho que não vieram a toa. Vamos?

- Concordo.

Quando o trio se aproximou de Shun, Milo e Camus, o primeiro quase pulou pra trás.

- Ah!... Mu?

- Você não parece o tipo de jovem que freqüenta este lugar.

- Sinceramente... Nem o Shaka. – Milo falou rindo.

- Então presumo que estamos com o mesmo objetivo. – Camus pronunciou.

- Na verdade não sei. Por que estão aqui?

- A discrição foi pros ares. – Shun murmurou transtornado.

- Que isso, Shun! Somos apenas seis amigos que saíram para beber e ver algumas mulheres dançarem. – Milo falou dando umas tapinhas na costa dele. – Ou melhor, seis vagabundos que vieram farrear em plena terça-feira.

- Milo, Alberich conhece Mu, Shaka e talvez Aldebaran.

- Alberich está aqui? – Perguntou Mu surpreso.

- Sim. – Respondeu Milo antes que Shun abrisse a boca. - O irmão dele, Ikki, ficou sabendo disso porque uma dançarina contou a ele. Ele a conheceu quando alguém tentou agarra-la a força e a pessoa só fez isso porque Alberich chamou a dançarina para conversar e ela acabou chegando ao camarim quando as outras saíram. Daí o Ikki chegou à conclusão que foi tudo planejado e se Alberich planejou isso é porque tem alguma relação com o tal agressor. E viemos até aqui procurar por ele.

- E por acaso sabem como Alberich é?

- Segundo June, um cara de cabelo rosa-chiclete. – Shun respondeu. - Não deve ser tão difícil encontra-lo, mas vai ser fácil dele reconhecer vocês. Aliás... Mu, você não chegou a dizer o nome dos seus outros colegas.

- Ah, sim. Dócrates e Reda.

- Pelo amor dos céus, quem batizou esses caras? – Milo sussurrou para Camus, que riu de canto.

- Já que estamos aqui vamos permanecer aqui. Teríamos que enfrenta-los mais cedo ou mais tarde. – Afirmou Aldebaran.

Uma musiquinha eletrônica se perdeu no som do local, mas Shun conseguiu ouvi-la e, sem ao menos ler o visor, atendeu o celular.

- Alô?

Houve um silêncio e Shun agradeceu por ter o dom da paciência.

- Alô? – Perguntou de novo.

- Ah... Oi, Shun?

- June!

- Agora sim dá pra você ouvir. Acho que era algo na linha.

Provavelmente não já que não se ouvia nenhum chiado ou coisa assim. E Shun sentiu seu peito esquentar violentamente ao se tocar que June ouvia o barulho do ambiente.

- Eu ligo depois. – Falou ela. – Acho que você está ocupado.

- Onde você está?

- Em casa, vendo televisão com a Shunrey.

- Posso ligar para você depois?

- Ah... Desde que não seja muito tarde... Olha, não se preocupe... Eu só queria conversar mesmo, sabe... Jogar papo fora.

- Olha, June... Eu também queria muito conversar com você, mas não dá agora.

- Ah, tudo bem. Fica pra próxima. – A voz parecia cordial.

- Na verdade estou mais enrolado que lã em novelo.

- Então a gente conversa outra hora. Tchau.

- Certo. Tchau.

Ela desligou.

- Minha noite de sorte e de azar ao mesmo tempo. – Murmurou Shun.

- Você liga muito para os seus objetivos. – Falou Shaka impressionado.

- Só quando é um caso de vida ou morte como esse.

- E o que vamos fazer? – Milo perguntou olhando o espaço em volta. – Nos separarmos?

- Parece uma boa idéia. – Shaka concordou. – Mu, você vai com Aldebaran. Eu irei com o jovem Amamiya. Milo, pode ir com seu amigo Camus. Assim não parecerá uma caravana.

- Por mim tudo bem. – Concordou Aldebaran. – Vamos.

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June desligou o telefone sentindo-se num estado pior que o da torre de pizza. Sentou-se no sofá ao lado de Shunrey e agarrou uma almofada.

- Pelo visto ele não estava muito afim de falar. – Shunrey comentou enquanto comia a pipoca da vasilha que segurava. Também não estava num estado melhor.

- Estava ocupado. – Disse June puxando a vasilha de pipocas e descontando sua frustração nela.

- Calma, aí. Não vai comer tudo que eu também quero.

- Desculpe. Tome.

- Ele estava com outra, não?

- Não sei. – Abaixou o olhar. – Ouvi música, mas não ouvi voz de mulher.

- June, você tem certeza que ele é solteiro?

- Não. Tsc... Mas que mico...

- Mico paguei eu quando Shiryu entrou na minha sala. Nossa, que vexame...

- Você devia ter falado com ele.

- Como? Tenho tanta coisa pra dizer... E não dava pra falar com uma lista de pacientes na espera.

- ...

Shunrey respirou fundo e inclinou a cabeça para trás:

- Ele viu o meu estado... Fingi que passava a dieta, mas estava nervosa... Pareci tão tola...

- Não pareceu não. E... Por que não marcaram um encontro?

Shunrey virou um tomate e cobriu o rosto com as mãos:

-Ele marcou! Ele me convidou para jantar amanhã...

- Convidou! Como não me contou essa parte?

- Eu... Ar, eu nem sei o que dizer...

June girou os olhos, sorriu e pegou a vasilha de pipocas. Via que, apesar de tudo, Shunrey estava bem feliz.

- Melhor prestarmos a atenção no filme.

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Na Ametista Shun e Shaka mal sabiam por onde começar. Resolveram então parar de andar e sentar-se à mesa para pedir umas bebidas. E jogar conversa fora (uma coisa que Shaka nunca fez desde que vira para o Japão. Ainda mais um bom tempo de conversa acompanhado de varias doses de martinis).

-... Foi aí que desisti da minha terceira noiva. – Shaka acabava de contar uma história enquanto tomava um gole de sua bebida. - Queria que parassem de arranjar pretendentes pra mim e cuidassem das suas próprias vidas.

- Nossa... Como conseguiu largar os negócios e vir pra cá sem ter gente pegando no seu pé?

- Ora... Querendo ou não sou eu que mando. Não preciso dar satisfações... Embora eu dê.

- Se eu fosse você me livrava desses encontros. Sabe... Esse é o mal de gente muito rica. Tem uma burocracia toda pra relacionamentos. A própria Saori Kido que diga.

- Conhece ela?

- Já entrevistei uma vez. Eu sei que ela gosta do Seiya. Na verdade quando vi aquela troca de olhares não tive coragem de censurar nada... Eu prezo muito o coração em algumas situações.

- Só em algumas?

- É. Só em algumas. As vezes eu sou racional, embora não pareça. Tipo... – Apoiou os cotovelos na mesa e passou distraído o dedo na borda do copo enquanto abaixava a cabeça. – Eu estava com muita vontade de falar com a June, mas não podia.

- Entendo.

- É. – Tomou mais um gole do Martini.

- Eu falei com ela. A Saori. Está muito triste. Abatida.

- Está dividida.

- Por que? Há mais alguém além desse tal Seiya?

Shun deu de ombros:

- O noivo dela talvez.

- E ela gosta do noivo?

- Não sei.

- Ela é uma deusa, sabia?

Shun riu. Mas um riso daqueles que diz "Acho que você bebeu Martini demais".

- Você não acredita? Lembra-se que eu disse que há deuses entre nós?

- Lembro.

- ...

- Hum... Se é assim, você é um deles, não é?

- Sou. Embora não ache que você esteja falando sério.

- Não estou falando sério. Estou falando o que acho.

- Por que acha?

- Mu contou que foi a primeira vítima e deveria ter morrido, mas não morreu. E se você quer que todo mundo fique perto de você... – Shun tomou outro gole – Eu posso não ser o gênio da lógica, mas sei somar dois mais dois.

- É mesmo muito inteligente. – Esvaziou a taça e pediu mais duas doses para o garçom. Depois voltou a olhar para Shun. – Milo se salvou porque a Saori curou ele e se ela tem esse poder é porque é uma deusa.

Shun respirou fundo. Dessa vez impressionado.

- Agora pegue sua teoria, Amamiya, e encare como algo sério.

- Deusa de que?

- Não sei. Só ela pode saber.

- E você? Quem é?

- A reencarnação de Buda.

- Tomando martini?

- Também sou ser humano.

O indiano inclinou-se mais para frente. Shun também, já que presumia que se tratava de algum segredo.

- Eu encontrei os prováveis donos da antiga armadura de gêmeos. – Confessou Shaka.

- Hahn?

- Isso mesmo. Parece que, segundo a lenda, a armadura de gêmeos foi usada por duas pessoas na guerra divina. E ela veio dividida em dois irmãos. Irmãos gêmeos. Um foi atacado e só não morreu porque o outro, sem saber, emprestou as energias dele até o momento que chegaram ao hospital. Fascinante, não?

- Fascinante... E confuso.

Shun voltou a posição normal e acabou com sua bebida. Logo o garçom veio com mais duas taças.

- Eu ainda não vi Alberich, e você? – Shun olhou para os lados.

- Ele é inconfundível. Também não o localizei. Agora me diga uma coisa.

- Pois não?

- Como achou Milo e Camus?

- Eu arrisquei. Ia procurar vocês, mas achei melhor bater na outra porta. E lá estavam eles.

- E como consegue adivinhar as coisas?

Shun riu e balançou a cabeça:

- Tenho psicomância.

- Fala com os mortos?

- Não falo exatamente. Nem ouço. Só percebo.

- Interessante.

- Como soube que é um deus?

- Eu sempre fui muito espiritual. Não foi difícil. Mais difícil é viver no mundo onde vivo. Negócios, casamentos...

- Entendo.

De repente um dedo pesado cutucou o ombro de Shaka, que se virou e recebeu um golpe violento na cabeça.

- Shaka! – Shun pareceu despertar de um sonho. – Mas o que... Arg! – Alguém o levantou pelo pescoço. O mesmo homem que atacara Esmeralda.

- Você. O que é pra ele? – Perguntou o agressor.

- A...?

- RESPONDA!

- N... Nada... – Tentava falar.

- Nada?

- Sou um... Repórter... Gasp! Estou há tempos reservando... Um horário... Com esse senhor... Que você acabou de... Acertar!

O homem trouxe Shun para mais pra perto, o encarando bem nos olhos e o repórter sentiu que iria desmaiar com aquele cheiro horrível de bebida barata.

- Eu conheço esses olhos. – Falou o homem corpulento. – Os olhos da dançarina Esmeralda.

- Epa...

- Sim. Esses olhos inocentAAAAAAR!

---

Camus e Milo estavam juntos procurando por qualquer coisa que desse sentido à ida deles até lá. Até que acharam Alberich sentado em uma das mesas, quase escondido, contemplando a dança das garotas.

- Camus!

- O que foi?

- Foi aquele cara que me atacou! Ah, eu vou lá.

- Espere. – Segurou Milo pelo braço e puxou para si. – O que pensa que vai fazer?

- Descer o cacete nele.

- Como eu previa. Venha. – Recuou com o amante.

- Peraí, o que está fazendo?

- Temos que ser discretos e ficar de olho em Alberich. Se provocar uma confusão vai atrapalhar as investigações dos outros.

- E o que vamos fazer?

- Eu direi, mon ange. Vamos sentar e pedir uma bebida. – Falou conduzindo Milo até uma cadeira e sentando-se logo em seguida.

-...

- Você entendeu, não?

- Do que você me chamou?

Camus corou:

- O que vai querer?

- Uísque com gelo. – O grego resolveu relevar.

- Garçom? – Chamou. – Dois uísques com bastante gelo.

Camus olhou para Milo, e este sorriu e segurou sua mão por cima da mesa.

- Do que você me chamou? Fala... Eu gostei.

- Como você gostou se nem sabe o que significa?

- Ah, mas soou bonito. Fala pra mim o que significa.

Milo inclinou-se para frente encarando o francês com aquele olhar felino e sedutor. Camus lançou um sorriso discreto e se aproximou para beijá-lo, mas ao fazer isso o amante se afastou bruscamente.

- A... Milo! – Exclamou indignado.

- Camus... Olha pra trás.

- Eu sei, tem um monte de gente olhando. – Camus cruzou os braços parecendo uma criança mal humorada. E o pior é que DETESTAVA quem agia assim.

Milo não pôde deixar de rir com aquela reação:

- Não é isso, francesinho. Olhe.

Camus corou, bufou e olhou para trás. Quase deixou o queixo cair ao ver um homem jovem de cabelos azuis e rosto delicado se aproximar deles.

- Aquele era o namorado da Jisty, não? – Milo inquiriu.

- Spica! Mon dieu... O que ele faz aqui?

- Nem podemos perguntar isso. Você também traja luto e está aqui agora.

- Mas ele não está trajando luto, Milo! Na verdade está com roupas bastantes... Fora de luto!

- Milo! Camus! – O rapaz sentou-se à mesa com um largo sorriso. – Quase não acreditei quando vi vocês aqui. Aliás... O que fazem aqui?

- Viemos enterrar o corpo de Jisty em Tókio. – Camus respondeu entre os dentes. – Acaso você não sabia?

- Sabia. Mas o que estão fazendo aqui? Na Ametista?

- A... Bem...

- Fui eu que o trouxe pra cá. – Milo falou sorridente. – Devia ver como tava a cara dele e eu o trouxe para aliviar a pressão. As pessoas morrem todo o dia, não é mesmo?

Camus não quis acreditar no que ouvia. Amarrou a cara para Milo, que tentou ao máximo não olhar para ele, e indignado levantou-se e foi embora.

"A conversa vai ser longa quando chegarmos em casa." Pensou o grego enquanto via o amigo afastar-se.

- Deixa que ele vai relaxar mais cedo ou mais tarde. – Spica cortou seus pensamentos.

- É... É mesmo.

- E por que você veio? Achei que Jisty não suportava você.

- To vendo que isso é unânime.

O garçom apareceu com dois copos de uísque.

- O francês se importa?

- Não. Fica a vontade.

- Duvido. – O rapaz riu e tomou um gole. – Mas aceito mesmo assim.

- E você, cara? Ela não era sua namorada?

- Era uma garota legal. E não era minha noiva. Só minha namorada. Eu ainda tenho vida.

- É. Você é dos meus.

- Espero. Eu acho você um cara legal. Não sei qual era a da Jisty com você.

- Eu sei. Mas... Se não veio para o enterro dela o que você faz aqui então?

- Kyoto é um saco. Eu resolvi me mudar pra cá e... Dividir uma casa com um amigo. Bem, eu já vou. Não quero deixar o francês brabinho. – Disse de repente. – Divirta-se. O lugar é ótimo.

O rapaz saiu e desapareceu em meio a multidão enquanto Milo o acompanhava com o olhar, se segurando para não se levantar.

- Porcaria. Nem deu pra descobrir o que esse desgraçado esconde.

Milo voltou-se para a sua bebida frustrado e despejou os cotovelos em cima da mesa.

- Estranho. Pra mim namoro também não é algo lá tão sério, mas eu não viria pra um lugar desses se uma namorada minha morresse. E até onde eu me lembro a Jisty gostava muito desse cara.

Uma dançarina passou por Milo, mas este nem lhe deu atenção.

- Aí tem... – Pensou o grego bebendo um gole do uísque. – Ah, se tem... – E olhou ao seu redor. Uma estranha sensação correu até a espinha. – E Camus que não volta? Ah, não. Eu vou procurá-lo.

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"Ele achou mais um" Alguém sussurrava.

"Eu não falei que ele era esperto." Outro dizia.

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Milo usou o bom senso. "Aonde Camus iria para relaxar?". A resposta veio como uma luva. Ele simplesmente sairia do local.

E ao fazer isso levou um choque.

Seus olhos se arregalaram, sua mão não obedecia seus olhos, seu corpo não seguia a sua mão e sua língua ficara travada. Spica prensava o francês contra um muro distante e sugava todas as suas energias com a ajuda de um pêndulo, até que Camus finalmente caiu inconsciente no chão. Em choque.

- DESGRAÇADO!

Spica olhou assustado para o grego que praticamente voou em direção a ele e encheu-o de surras.

- O QUE VOCÊ FEZ A ELE? – Socou o estômago e o segurou pela gola da roupa. – O QUE VOCÊ FEZ? – Socou mais uma vez.

Nesse meio tempo, Mu e Aldebaran saíam apressados do estabelecimento, olharam para os lados sem saber o porquê e ao olharem Camus foram socorrê-lo direto.

- Aldebaran, veja se acha o anel! – Mu pedia enquanto se ajoelhava e catava alguma coisa no chão.

Aldebaran também se colocou de joelhos e começou a procurar. Na mesma hora um anel caiu da mão de Spica e rolou até o joelho do brasileiro. Um anel dourado, grosso, com o símbolo de aquário cravado em sua superfície.

- Achei, Mu!

- Ótimo!

Enquanto Milo surrava Spica, Mu pegou imediatamente o anel, engatinhou para perto de Camus e colocou a jóia em um de seus dedos. Imediatamente esta começou a brilhar insistentemente até ser absorvida pelo corpo de Camus.

- Ar... Ar... Pronto. – Falou Mu aliviado . - Agora tudo vai ficar bem.

No mesmo momento a porta foi empurrada com força, e logo apareceu Shun arrastando Shaka para fora.

- Shaka! – Aldebaran foi o primeiro a ver. Correu até o jovem e carregou o corpo do indiano.

- Shaka? – Mu virou-se para olhar. – Céus! O que aconteceu?

- Ar... Ar... Um cara... Um dois por dois... Ar... Bateu nele... – Shun, ofegante, apoiou as mãos nos joelhos. - Ar... Um monstro... Ar...

- Acalme-se, rapaz. Respire.

- Estou calmo... Ar... Ar... E estou... Respirando... Ar... Eu acho...

De repente (E para a surpresa de todos) os olhos de Shun caíram em um homem inconsciente e estirado no chão.

- Spica?

- Conhece ele? – Perguntou Milo mal humorado enquanto se agachava perto de Camus e o trazia para perto de si.

- Foi meu colega de faculdade. – Respondeu boquiaberto. – O que você fez a ele?

- Ele atacou Camus.

- Atacou? A... Como? Por que?

- Ele é um deles. Humpf. E pensar que Jisty namorou esse cara...

Shun agiu como se não tivesse ouvido direito. Para a surpresa de Milo o repórter agachou-se perto dele e o mirou bem nos olhos.

- Anh... Milo... Jisty era prima de Hyoga, não?

- Sim. Por que a surpresa?

- Porque isso é impossível.

- ?

- Quer dizer... A menos que ele tenha mudado e... Isso é possível apesar de não parecer. A menos que... – Shun arregalou os olhos fascinado. – A não ser que seja AQUELE Reda!

- Shun... Do que está falando?

Shun voltou-se para Milo como se acabasse de ter-lo visto ali.

- Milo... O Spica... É homossexual.

O queixo de Milo (E não só o de Milo como os de Mu e Aldebaran) caiu. Esperava que Shun gritasse "Primeiro de abril!"

- Como é que é!

- Ele tinha um... Anh... Interesse por um cara do pavilhão de história. Nossa, nem havia me atentado pra isso.

- Reda era homossexual! – Foi a vez de Mu mostrar-se bestificado. A expressão dele não era muito diferente de Aldebaran e Milo.

- Ele eu não sei. Pode nem ser o mesmo Reda... Hum... Por acaso Reda é um nome comum?

-...

- Ah, e... Esse cara nunca pareceu dar muita bola para o Spica, sabem... Isso se não for um boato.

- Boato! – Milo só não se exaltou mais porque Camus apoiou a cabeça em seu peitoral enquanto sua respiração voltava ao normal. – Tem que ser um boato! Por que um gay namoraria a... Ah, não...

- Que foi?

- Jisty... A morte dela também foi estranha.

-...

Mu, Aldebaran e Shun se entreolharam, Shaka permanecia inconsciente no chão e Milo sentava-se perplexo, abraçando Camus e acariciando aleatoriamente seus cabelos.

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Depois de algumas horas a confusão se amenizou. Ainda foi difícil engolir a revelação de Shun.

Aldebaran tomou a decisão certa sobre "O que fazer com Spica", Shun contou o que aconteceu com Shaka (Mais claramente) deixando Mu fascinado pelo modo como o repórter se livrou do agressor.

Num apartamento, Camus estava deitado no sofá, com a cabeça no colo de Milo, que lhe fazia uma compressa de gelo sobre a testa.

- Ta doendo, Camus?

- Só o meu orgulho.

- Vamos esperar até amanhã.

-...

- Eu fiquei preocupado com você.

- Não acredito. – Respondeu ele tirando a compressa da mão de Milo e colocando sobre a própria cabeça. – Eu não devia fantasiar tanto você.

- Por que está me dizendo isso?

- Se Spica não tivesse me atacado você seria o próximo caso dele.

- Como é que é? – Milo riu.

-Você sabe. Foi só ele chegar que você desonrou o nome de minha prima, deixou eu ir embora e não foi atrás de mim. Também aposto que ainda deixou aquele verme beber meu uísque.

- É. Deixei.

Camus fez menção de se levantar, mas Milo curvou mais seu corpo e acariciou a face do aquariano, mantendo-o deitado.

- Sabe por que eu fiz isso? Porque eu queria descobrir o que Spica estava fazendo num lugar como aquele, em memória da prima que me odiava, mas que você adorava. Também não ia fazer bem para a sua imagem se encontrassem você num lugar daqueles em estado de luto e eu sei o quanto você preza isso, por isso resolvi bancar o amigo irresponsável e insensível que eu sou.

- N... Não... Você não é.

Milo acariciou sua face:

- Sou sim, francesinho. Sou uma péssima influência pra você.

Camus o empurrou de leve e sentou-se ao lado dele, com a compressa sobre a cabeça. Milo então deitou a cabeça no ombro do amante e o encarou com olhar infantil.

- Você não desiste, não é? – Disse Camus abaixando a compressa.

- Só se me der um beijo.

O francês olhou para o teto e suspirou:

- É incrível o que você consegue fazer comigo, Milo.

Tocou na face do grego e o beijou ternamente e o sentiu passar as mãos pelo seu peitoral e envolver seu pescoço com os braços. Afastaram-se e Camus sorriu, passando depois a mordiscar o lábio inferior seguido de leves beijos no canto dos lábios por parte do outro. Milo deitou-se no sofá puxando o francês a medida que passava a beijar de forma mais intensa enquanto o amante abria cada vez mais a boca, deixando-a ser explorada com lascívia.

- Do que você me chamou, na Ametista, heim? – Sussurrava ao ouvido de Camus enquanto este beijava seu pescoço e desabotoava sua camisa.

- Mon ange... – Respondeu quase num sussurro. Afastou-se e tocou suavemente no seu queixo, sorrindo. – Meu anjo.

-...

- É o que você sempre foi pra mim... Apesar de acharem que você era um caso perdido.

Milo sorriu e acariciou de leve o rosto do francês, o trazendo para mais perto e o beijando suavemente.

- Espero que não esteja muito cansado. – Sussurrou Milo quando as bocas se afastaram.

Camus riu com o convite.

- Não estou.

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Shun chegou a sua casa, jogou as chaves em cima da mesinha de centro e sentou-se no sofá. Apoiou os cotovelos nas pernas e baixou a cabeça depois de um longo suspiro. Olhou para o telefone ao seu lado. Continuou olhando. Depois voltou a baixar a cabeça.

- Já está tarde. – Murmurou entristecido.

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Continua...

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Nossa! Que capítulo grande! Oo

No próximo vcs saberão como Shun se livrou do grandalhão

Espero que o próximo seja menor. Desculpem-me pela empolgação.