- Anh...- Shaka acordava num estado semelhante ao de uma ressaca. A primeira imagem que viu foi a de Mu sentado ao seu lado.

- Bom dia?

- Mu...? – Falava com voz embargada. – Você também veio pro céu?

Mu começou a rir:

- Está delirando. Eu queria muito que seus clientes vissem isso.

Shaka sentou-se na cama e massageou a cabeça:

- Minha cabeç... Arg! Isso é um galo!

Mu começou a rir mais:

- Sim, meu caro amigo. Dócrates reconheceu você e se não fosse o rapaz por quem você ganhara uma certa afeição você já estaria a sete palmos. Eles querem sua energia também, lembra-se?

- Docrates? Anh... Shun brigou com ele?

- Segundo o rapaz uma luz rósea emanou de seu corpo e uma ventania o mandou para longe. Acho que foi tão forte que Dócrates não conseguiu se levantar.

- Nossa...

Mu levantou-se:

- Deixei café pronto na mesa. É melhor eu ir para não perder a carona do Aldebaran.

- Ah... Certo. Boa aula.

- Se cuida. – E antes que saísse. – Ah, e mais uma coisa. Camus foi atacado por um tal de Spica, mas Aldebaran e eu devolvemos sua energia. Agora o prisioneiro está amarrado e amordaçado dormindo tranquilamente no sofá da sala.

- O quê!

- Dê um café a ele e... Tire o dia para fazer um questionário. Mas espere até as nove e meia para fazer isso.

RECOMEÇANDO

Coincidências

Museu Palas Athena. O único lugar onde Marim poderia perder seu tempo se estressando.

- Quem Julian pensa que é? Ah, se eu colocar minhas mãos nele...

- Senhorita... – Um senhor de cabelos grisalhos falava. – Pense no que vai acontecer com o futuro do museu.

- O futuro do museu está garantido. A proposta do aumento das entradas está vetada e da próxima vez que o senhor Julian Sólon discordar de uma idéia minha diga para ele vir pessoalmente e não mandar recado.

- Bem... Sim.

- Bom dia.

Aioria via tudo de fora e não deixava de admirá-la. Era bem diferente de Saori, com certeza.

- Vamos Aioria. Ah, esse Julian...

Aioria abriu a porta do carro para a senhorita entrar. Em seguida sentou-se no banco da frente ao lado do motorista. Enquanto o carro se movia Marim discou um número no celular.

- Julian!

- Eu sabia que você ia me ligar. - A voz de Julian era irônica e divertida.

- Da próxima vez não mande um mensageiro.

- Você não pode me acusar por tentar. Mas já que não deu certo...

- Nem se atreva a pedir para Saori me convencer.

-...

- Julian!

- Tudo bem, Marim. Dessa vez eu perdi. Dessa vez. Estou comprando meu smoking. Falo com você depois.

- Smoking?

- Sim, minha cara. Ou esqueceu que vamos ser padrinhos da noiva? Você e eu.

- Oh, não! O casamento!

- Esqueceu?

- Até mais, Julian.

A senhorita desligou o celular e mirou o motorista.

- Lantis, vá até a Everline. Pegue a rua principal.

- Sim, senhorita.

Marim suspirou e olhou para o espelho do passageiro. Foi quando percebeu que Aioria estava lhe observando. Sorriu deixando o segurança corado.

--------------------------------------------------------------------------------

-... Temos nossas emoções controladas por uma área do encéfalo denominada ponte. Ela estabelece o equilíbrio entre a alegria e a tristeza como forma de manter a homeostase no corpo. Sim, e muitas vezes nossas reações dependem dela a partir do momento que uma área específica de nossa memória é acionada. Ao ver uma pessoa muito querida por exemplo, sua reação é a de felicidade. Se em algum momento ela lhe machucou então você reage com tristeza... E assim por diante.

Numa sala confortável Shun estava sentado ao lado de um belo homem cujos cabelos verde-folha lhe caíam suavemente pelos ombros e pela fronte, seus olhos lembravam ametistas e seu olhar era um tanto gentil e triste. No sofá de fronte Hyoga tirava algumas fotos.

- Senhor Kay. – Shun colocava o pen drive sobre a mesinha de centro. – Onde atuam as drogas e a bebida alcoólica?

- As duas agem nas sinapses. Mas os efeitos da primeira atuam na área da ponte dependendo da droga. A segunda afeta o bulbo e a memória a curto-prazo. Posso saber por que a pergunta?

- Muitas vezes... A pessoa que cometem suicídios por causa da depressão tem algum envolvimento com um desses elementos.

- Mas não em todos os casos, estou certo?

-...

Shion inclinou-se mais para perto do repórter.

- O vício leva à depressão do mesmo modo que a depressão leva ao vício. O caso é... Depressão é algo inerente ao ser humano. Todos nós passamos por isso. Mas quando se perde a vontade de viver... Não resta mais salvação.

O senhor Kay voltou à postura normal e sorriu para Shun. Um sorriso triste.

- Tente imaginar por este ângulo. Somos como formigas trabalhando e andando em círculos. E quando um de nós realmente enxerga essa realidade... Perder a vontade de viver... Perder o sentido da própria vida não é tão difícil neste caos. Incomuns são aqueles que nos dão forças para continuar em frente. Acredita em anjos, senhor Amamiya? Pois pra mim os anjos são justamente estas pessoas.

Hyoga ficou segurando a câmera fascinado com aquelas palavras enquanto Shun mirava o homem com uma certa emoção.

- Teria algo a dizer para estas pessoas, senhor?

Shion sorriu e olhou para o relógio:

- Eu sinto ser grosseiro, mas nosso horário acabou. Tenho um paciente marcado.

Shun e Hyoga se entreolharam.

- Tudo bem.Já estamos de saída. – O fotógrafo levantou-se. Shun também.

Antes de saírem, a secretária anunciou a entrada do paciente esperado. Um homem alto, forte, com cabelos castanhos e pele morena. Trajava uma camisa semi-abotoada branca, de linho, e uma calça preta.

- Bom dia. – Shun cumprimentou antes de sair.

- Bom dia.

A dupla saiu deixando o psiquiatra e o paciente a sós. O homem moreno olhou para Shion e deu uma pequena risada sarcástica:

- Tive uma noite horrível ontem, mas foi só olhar para você que vi que não estou tão ruim.

- Sente-se, Dohko.

Dohko sentou-se no divã e Shion numa cadeira ao lado assim que pegou sua prancheta.

- Não vai dizer que eu sou louco porque gritei com você ontem, não?

- Não. Embora eu questione sua sanidade.

- Eu estou aqui obrigado. Quantas vezes preciso repetir? Meu cliente mentiu. Era um filhinho de papai envolvido com tráfico de entorpecentes e queria livrar a cara. Falou isso se sentindo o dono do mundo. Aquela surra que eu dei foi mais do que merecida e você também largaria o caso.

- Senhor Li... – Shion espremeu os lábios. – Eu tenho o dever de "trata-lo". Ainda deve me escutar ou vai escrito no próximo relatório que o paciente resolveu jogar pia abaixo os remédios do psiquiatra.

- Eram anti-depressivos.

- Independente disso. – Falou o profissional espremendo os lábios. - Já disse que posso ignorar o fato de que você foi ao banheiro, xeretou meu armário, jogou meus remédios fora e veio gritar comigo depois.

Dohko achava aquilo hilário, mas optou por manter a seriedade.

- Como ver, Dohko. Fui bem tolerável. Minha vida não lhe diz respeito.

O paciente ajeitou-se de modo que pôde encarar o psiquiatra:

- Você não entende, não é? Enquanto há pessoas sob a mira de um revólver dando tudo pra viver você joga tudo pro alto e zomba de todo mundo.

-...

- Se quer se matar vá em frente. Não tenho nada haver com isso, não é?

E voltou a deitar-se no divã.

---

Camus espreguiçou-se na cama, carregava um sorriso espontâneo nos lábios. Virou-se e abraçou Milo que dormia ao seu lado.

- Mon ange? – Sussurrou ao pé do ouvido do grego.

Milo grunhiu e se aconchegou mais no francês mesmo estando semi-consciente.

- Preguiçoso.

- Não enche...- Murmurou entre um bocejo e de olhos fechados.

- Vou fazer o café.

Quando Camus ia se levantar, Milo segurou o braço que o abraçava e abriu os olhos.

- Fica aqui, vai?

O francês riu e beijou o pescoço do amante.

- O que fizemos foi realmente uma loucura, sabia?

O grego sorriu:

- A melhor de todas.

Camus começou a rir. Ia beijá-lo, mas um pensamento racional e muito inconveniente o interrompeu.

- Milo... Você ligou ontem pra Kyoto?

- Nai...

- E...?

- Quinze dias das licenças que eu suei pra conseguir. Mas tudo bem. Não sei quanto tempo essa "caça às bruxas" vai durar.

- Pegou todas as suas licenças! – Camus, dessa vez mais sério, sentou-se na cama enquanto Milo se espreguiçava. – Milo... E quando você realmente precisar delas?

- Eu não sei quanto tempo vou ficar aqui. Esquece. Eu ia usar para emendar minhas férias, mas isso é mais útil.

- Desculpe... Se eu não fosse por mim você ainda estaria em Kyoto.

- E perder a chance de ver sua cara depois que eu te beijei? Nunca! Se eu tivesse uma câmera na hora...

- Você sequer saberia usa-la. – Camus ria e prendia os pulsos do grego na cama usando as próprias mãos. - Ou esqueceu que você saiu correndo pelas escadas ao invés de usar o elevador?

- Ah, mas... Pensa... Que graça ia ter? Eu saio agoniado, arrependido, transtornado, e fico parado no corredor esperando o elevador subir? Meio imbecil, não?

- Você nem exagera.

Ambos ficaram se olhando. Calados. Era incrível como os olhos de Milo lhe mantinham estático. O francês acariciou o rosto do grego por um bom tempo. Riu para si e deu um beijo carinhoso.

- Melhor eu fazer logo o café. – Camus se afastou e ficou de pé. Vestiu um short qualquer jogado no chão (Short de Milo) e foi até o banheiro.

Milo riu e balançou a cabeça. Virou-se para o lado para dormir por mais cinco minutinhos.

---

Shaka andava pela sala, massageando ligeiramente as têmporas com uma das mãos e segurando um pêndulo com a outra, enquanto Spica o acompanhava amarrado e amordaçado no sofá, com o olhar.

Quando a campainha tocou o indiano atendeu.

- Alô, Shaka?

- Milo! O que faz aqui?

- Viemos interrogar meu ex-cunhado. – Respondeu Camus diretamente.

- Mas... Ar...

- Tudo bem, cara. Foi marcado um interrogatório aqui as nove e meia. Você não se lembra. – Milo falou dando umas tapinhas na costa de Shaka e entrando sem mais nem menos. – Ooooi, Spica? Que pena que o Shun não está aqui pro interrogatório. Vida de repórter, sabe?

Spica tremeu visivelmente:

- Esse nome lhe é familiar? Shun Amamiya? Coleguinha de faculdade?

O jovem perdeu a cor. Quando Camus o viu seu humor mudou bruscamente. Lembrou-se da noite anterior, lembrou-se de Milo, lembrou-se de Jisty.

Foi quando arregaçou as mangas e se preparou para avançar no prisioneiro:

- Seu desgraçado!

- Pera aê, Camus!- Milo segurou o francês surpreso.

- Pera aê, nada! Vou fazer uma dissecação nele agora mesmo!

- Tente manter o controle. Precisamos de respostas... Depois pode fazer com ele o que quiser... Eu até ajudo.

- Podem me explicar o que está acontecendo? – Perguntou Shaka fechando a porta enquanto Spica "gritava" e se debatia no sofá.

Camus soltou-se de Milo e puxou com força a fita que prendia a boca de Spica, arrancando um grito de dor.

- Sim, mon ami. Conhecemos Shun, um coleguinha seu de faculdade. E sabe o que ele disse? QUE VOCÊ É HOMOSSEXUAL! UM DESGRAÇADO QUE FICOU COM A MINHA PRIMA SÓ PARA MATÁ-LA!

- Peraí, Camus! – Milo voou novamente para detê-lo. – Não foi bem isso que Shun disse não!

- ESTOU RESUMINDO!

- Ahn... Estou perdendo alguma coisa?- Shaka interferia muito surpreso, com cara de quem não tinha ouvido direito.

- ELE TAMBÉM FALOU QUE VOCÊ TINHA UMA QUEDA POR UM TAL DE REDA! QUEM É REDA, HEIM?

- Estou realmente perdendo alguma coisa. Oo

Spica ficara vermelho enquanto Milo ainda tentava segurar Camus:

- Calma, Camus... Olha... Você não tava assim agora a pouco, francesinho... – Sussurrou discretamente no ouvido do francês. - Controle-se. Controle-se e poderemos vingar a morte de Jisty. Você não vai conseguir nada agindo desse jeito, tudo bem?

Camus parou. Olhou no fundo dos olhos de Milo. A lembrança do grego quase perdendo a vida no dia do enterro lhe cortou o pensamento. Regulou a respiração tensa. Relaxou os punhos e cedeu:

- Tudo bem. – Abaixou o olhar sério.

- Sabem, eu adoro ficar a par de tudo o que acontece. Que tal contribuírem pra isso? – Perguntou Shaka já impaciente.

A campainha tocou novamente. O indiano girou os olhos e foi atender.

- Cheguei atrasado?

- Ikki? Afinal, o que está acontecendo?

- Meu irmão me contou assim que pôde e dei uma escapada do trabalho. Não podia perder isso.

Mesmo sem entender Shaka abriu mais a porta e Ikki entrou.

- Oi, Ikki! Quanto tempo! – Milo cumprimentou.

- O que você faz aqui?

- Eu estava lá ontem a noite porque seu irmãozinho nos convidou. Ele é amigo do Hyoga, primo do Camus aqui.

Camus não ligou. Ainda olhava com ódio para Spica.

- Ikki...! – Spica sibilou assustado.

- Eu lembro desse aí. Não suportava o Shun.

Novamente a campainha tocou. Shaka impaciente foi atender. Era Hyoga.

- Você também?

- Estava numa entrevista. Shun disse para eu vir logo enquanto ele pegaria uma pessoa.

- Pessoa!

- Vamos logo fazer as perguntas. – Anunciou Milo.

- Esperem! – Bradou Shaka mais do que impaciente.

Todos ficaram calados:

- O que está acontecendo? Por que este rapaz está aqui e que diabos aconteceu ontem depois que me acertaram?

Houve um silêncio. Milo olhou para os presentes e por fim somente para Shaka.

- Ta. Vamos contar. É o tempo que Shun chega.

---

Shun tinha dito para Hyoga ir na frente. Tirou um cartão da carteira e discou o número em seu celular. Presumia que, depois de um ataque como aqueles, June não voltara a trabalhar tão cedo. Poderia ter tirado licença ou coisa assim.

- Alô? – A voz por no telefone lhe causou um frio na barriga.

- Oi, June. Sou eu, Shun.

Houve um breve silêncio. Daqueles que se faz quando se ajeita numa cadeira ou se encosta numa parede para continuar conversando.

- É bom ouvir você, Shun.

- Eu digo o mesmo. – Sorriu. – Eu achei que deveria lhe manter informada.

- Fale?

- Um dos homens do grupo que quis pegar você está amordaçado e amarrado na casa de Mu. Foi marcada uma entrevista com ele às nove e meia. Quer que eu te leve?

- Como é? Mas... Como conseguiram pega-lo?

- Se aceitar minha carona e me dar seu endereço vai saber o que eu estive fazendo ontem a noite.

Ela sorriu. Shun percebeu isso de certo modo.

- Esta bem.

---

- Oh, céus... – Shaka murmurava para si mesmo após ouvir tudo. – Devo ter parecido um inútil.

- E foi. – Milo ria dando tapinhas amigáveis na costa do amigo. – Eu até riria na hora se não estivesse tão puto.

Camus tentou imaginar o que teria acontecido enquanto estava semi-consciente. Ao olhar para Spica e ver a quantidade de hematomas no seu corpo pôde presumir o que Milo fez.

- Mon dieu... E ele fala pra eu me acalmar. – Murmurou para si.

- Desgraçado... – Spica encarava Milo com ódio.

- E é melhor você ficar quieto porque amarrado é bem mais fácil descer o cacete em você. Caso não saiba o Camus também ta muito afim de acabar com a sua raça.

Novamente a campainha tocou.

- Lembrem-me de destruir esse troço depois. – Falou Shaka ao abrir a porta. – Entrem.

- Bom dia? – June cumprimentou e todos retribuíram.

- Para quem não conhece, esta é June Selassie. Uma das vítimas de Alberich. – Shun apresentou a garota.

- Entre pro grupo. – Milo acenou e foi sentar-se ao lado de Camus.

- Certo. Todos estão aqui? – Shaka falava em tom chamativo. – Sentem-se e fiquem a vontade.

Hyoga sentou no braço do sofá onde Spica estava amarrado, Shun e June sentaram-se no sofá de fronte e Ikki permaneceu de braços cruzados, encostado na parede.

- Vocês são ridículos achando que vou contar algo pra vocês. – Spica falou em tom sarcástico.

Camus não se segurou e avançou no pescoço de Spica:

- ORA SEU VERME!

- Camus!

Milo não teve coragem de segura-lo. Ninguém teve. No momento que a mão do francês apertou o pescoço do rapaz uma camada de gelo o envolveu da cintura até o pescoço em segundos.

- A... AAAAR! – Spica afastava-se assustado.

Camus tirou a mão rapidamente de lá e permaneceu olhando para a própria palma.

- Primo... Você também? – Hyoga balbuciou.

-...

- Você também pode congelar as coisas?

- Tem certeza que isso não é genético? – Shun olhava tudo impressionado.

- Era um cavaleiro de ouro com poderes de gelo. – Shaka sorriu. – Interessante.

- E como se cura isso? - Perguntou Milo.

- Não se cura. É só um lapso das habilidades que possuía anteriormente. Depois cessa.

- Interessante. – Ikki sibilou se voltando para Spica. – É melhor você falar antes que alguém revele poderes de fogo e você morra tostado.

Spica tremeu visivelmente e seu olhos só faltavam sair.

- Não vou... Trair meus amigos.

- Deixem comigo. Trouxe isso pra caso de emergência. – Falou Milo abrindo sua maleta e mostrando uma infinidade de agulhas.

- O que você vai fazer?

- Você vai falar tudo o que sabe. Ah, se vai...

Camus fechou os olhos e massageou o cenho enquanto todos olhavam Milo interessados (E Spica mais assustado ainda).

- Eu espero que você goste de filmes do tipo Jogos mortais, O colecionador de ossos, Lenda urbana 2... São meus favoritos.

- EU CONTO! – Gritou antes que Milo, já com as luvas, pegasse o álcool para esterilizá-las.

- Muito bem. A primeira pergunta é minha. Quem estava e está na lista. E quem vocês já mataram.

- Eu não me lembro bem... Além de vocês... Ah... Um italiano conhecido como Máscara da Morte. Reda o liquidou. Depois viajou para a Espanha e acabou com Shura Cabotto. Ele chegou recentemente. Eu estava no Japão, mas em Kyoto. Conheci Jisty e quando soube que os primos dela e o amigo da família também eram pessoas especiais resolvi namora-la. Aqui no Japão Alberich tratou de liquidar um infeliz chamado Guilty e um tal de Argol, mas são energias inúteis. Tão inúteis quanto as de Jisty.

Camus cerrou o punho mas permaneceu impassível.

- Guilty! – June pronunciou. – Esse foi o nome da primeira pessoa que apareceu com aquelas características estranhas!

- Sim, doutora Selassie. – Respondeu Spica secamente. - Não tínhamos ligado muito para o que aconteceu com ele, mas a morte de Argol chamou muita atenção. Decidimos então dar uma de curiosos e ver o laudo para não levantar suspeita... Foi quando encontramos você. Nem chegamos a entrar e sua energia já fazia o pêndulo girar.

- Seu insano! A esposa e a filha dele ficaram cheias de dívidas! Ela não agüentou as pontas e se matou!

- Epa... –Ikki olhou para June. – Esta é a história de Esmeralda!

- Sim! Esse era o nome da filha dele! – June já estava alterada e só não se levantara porque Shun a segurava pelo braço.

- DESGRAÇADO! – Foi a vez de Ikki partir pra cima de Spica e esgana-lo. – VOCÊ SABE O QUE AQUELA GAROTA TEVE QUE PASSAR POR CAUSA DE INFELIZES COMO VOCÊ?

- Nossa! Que esquisito! – Hyoga mostrou-se surpreso com a coincidência. – Como esse mundo é pequeno!

- A ordem é algo estranho para o ser humano. Quando as peças se encaixam nos surpreendemos. – Shun sibilou mais para si do que para os outros.

- Deixa ele, Ikki. O carinha já virou nosso saco de pancada oficial. – Milo riu e sem querer espetou uma agulha na perna do rapaz. Este soltou um pequeno gemido e prosseguiu assim que Ikki o largou.

– As outras pessoas... Da lista é você, Camus, Shina, Alexei Yukida, Aioria Komninos, Kanon Opulska, Marim Tsukino, Shiryu Suyama, Li Dohko e Afrodite Arvidsson.

- Afrodite? – Ikki, Shun e Hyoga disseram em coro. Depois os três se entreolharam.

- Estamos falando da mesma pessoa? – Hyoga indagou.

- Se está falando de um homem com esse nome então estamos. – Respondeu Ikki.

- Se está falando de um homem que tem a beleza de uma mulher então estamos. – Respondeu Shun convicto.

Hyoga sorriu surpreso:

- Então estamos falando da mesma pessoa!

- Conhece ele?

- Sim! Ele é professor de balé da Academia Rosa Branca. É lá que eu faço aulas de dança.

A forma como Ikki olhou para Hyoga era indescritível. Agora sim aquelas coincidências estavam o surpreendendo.

- Pelo menos um todos conhecem. – Afirmou Shaka sentando-se elegantemente no sofá.

- Dois. – June interrompeu com uma expressão perplexa, que só depois foram notar. – Li Dohko... É irmão mais velho de minha amiga Shunrey. A namorada de Shiryu Suyama. Eles vão até jantar juntos hoje.

- Okay. Chega. – Shun colocou as mãos na cabeça e inclinou o corpo para trás. – Agora sou eu que estou assustado com tanta ordem. Aioria é amigo de Shiryu! Guarda costa da Saori... Que é sócia do Palas junto com Marim Tsukino!

Todos, exceto Shaka, ficaram mudos.

- Não se assuste, Shun. – Shaka falou calmamente. – Isso é normal. Se, na reencarnação passada, nos conhecíamos então é claro que nossos destinos estão ligados.

- Mas é assustador. – Milo falou boquiaberto.

Nem mesmo Spica conseguiu disfarçar a surpresa. Até esqueceu que era um prisioneiro por alguns segundos. Olhava para todos e quase não piscava.

- Acho que não precisamos mais fazer perguntas. – Milo sentou-se no chão e fechou a maleta.

- É melhor agirmos. – Ikki passou a mão pelos cabelos. – Hyoga, pode me mostrar onde é a academia?

- Se me deixar dirigir eu levo você.

- Então nos empreste a chave de seu apartamento. – Milo pediu. – Camus e eu veremos Shina.

- Anh? Ah, certo... Tome. – Jogou a chave para o grego.

- Eu posso falar com Dohko, mas acho difícil convence-lo. – June afirmou.

- Eu posso ir com você. – Shun se ofereceu. – Falamos com a sua amiga e ela... Ela vai se encontrar com Shiryu, não? E Shiryu contará para Aioria.

- Isso é bem arriscado.

- E quem é Alexei Yukida? – Perguntou Shaka.

- Sou eu. – Hyoga falou "p" da vida. – Aposto que me descobriu através do Camus. Só ele me chama assim.

Shun adiantou-se:

- Só vai ser mais difícil falar com Marim Tsukino.

- Vai nada. Amanhã é o casamento da Saori. Ela vai estar lá.

- Sim. E vai bater um papinho com a gente. – Ikki cruzou novamente os braços.

- Depois resolvemos isso. Vamos falar logo com essas pessoas.

- Certo.

Saíram um por um. Shaka foi o último e antes de trancar a porta voltou-se para Spica.

- Hum... Eu não vou demorar, mas é melhor tapar sua boca de novo. – E colocou um outro pedaço de fita adesiva. – Não quero ninguém fazendo escândalos. E você vai gostar daqui. O Mu cozinha bem e Aldebaran é bastante divertido.

---

No caminho para o elevador Shun olhava discretamente para a maleta de Milo.

- Isso deve doer.

- Dói nada. – Respondeu o grego rindo e batendo no ombro do jovem. – Eu sempre faço no Camus quando ele está com dor de cabeça. Mas sou bom em terror psicológico.

Camus, mais a frente, corou.

Ikki mais atrás falava para Hyoga e Shaka:

- Da próxima vez que eu for até a Ametista não vai sobrar nem a carcaça do tal Dócrates. É bom ele não beber muito por esses dias.

- Ikki... – Shaka pousou a mão em seu ombro. – Por favor, não faça nada precipitado.

- Ele tentou violentar Esmeralda e eu sei muito bem o que ele planejava fazer com meu irmão. Você já conhece a peça, Shaka. Levou uma na cabeça e fala na maior naturalidade?

Shaka suspirou. "Ô homem do gênio difícil."

- Certo, Ikki. Mas por enquanto não faça nada, ouviu?

- Humpf.

- Eu vou com vocês até a academia Rosa Branca e ver esse tal de Afrodite.

- Seu queixo vai cair. – Hyoga riu para si. – O cara é muito bonito.

---

E os grupos se separaram. Hyoga levou Ikki e Shaka até a academia, Shun foi até o hospital com June para procurar Shunrey e Milo e Camus foram para o apartamento de Hyoga.

--------------------------------------------------------------------------------

Aioria observava Marim enquanto ela se olhava no espelho, trajando um vestido azul turquesa longo. Ao olhar para o grande espelho e perceber isso, a moça deu meia volta e o chamou:

- Então? O que acha?

Aioria assustou-se, mas tentou manter a postura:

- Sinceramente, senhorita Marim... Achei que a noiva tinha que ser a mais bonita em um casamento.

- Não deixe Saori ouvir isso.

- Não deixarei.

A moça virou-se para a atendente que a ajudava a se vestir e disse:

- Vou ficar com este.

--------------------------------------------------------------------------------

Continua...