RECOMEÇANDO
Incertezas e decisões
O dia mal começou na sede da editora Óptica, e Hyoga já passava como um foguete na sala da redação.
- Alôô, galera! Parem as máquinas! Primeira página! Ikki ta amarrado!
- Melhor você falar baixo. – Shun tentava conter o riso enquanto sentava-se na ponta da mesa de Ikki. – A Pandora ta logo atrás.
Hyoga olhou para trás e viu Pandora passando, não com uma cara boa.
- Acho que ela quer me ver enterrado. – Ikki disse finalmente.
- Explica isso direito, Hyoga. – Shun. – É sério?
- Ta brincando? Quando saí da sua casa ontem troquei umas idéias com o Afrodite e ele falou que quando voltou para ensaiar com a Esmeralda viu ela no maior love com o "comigo-ninguém-pode" aqui.
- Pôxa, aniki.(1) E você não me disse nada!
- Pra que? Pra você ficar chamando ela de cunhada? Não mesmo.
- Eu não faço isso!
- Mas me induz a dar motivos para chamá-la. Em outras palavras, basta você saber que eu tenho namorada para querer que seja minha noiva. E eu não caso mesmo.
- Sei... – Hyoga apoiou o cotovelo no ombro de Ikki. – Pois pra mim você casa com essa sim.
- Nunca. Sou uma fênix. Um espírito livre.
- Bora apostar? Se casar vai ter que me dar de aniversário dois vidros de Shampanskoye.
- Que diabos é isso?
- Vinho... Rússia... Tomei muito quando viajei para minha terra natal de férias e estou com uma saudade...
- Certo. Mas a cada ano que eu passar sem me casar vou ter direito a um dia com você como meu escravo.
- Não estamos muito velhos pra isso?
- Não. Você vai se arrepender por duvidar da minha personalidade, dançarino.
Shun simplesmente balançava a cabeça. Não ia confessar, mas tinha certeza de que Hyoga beberia novamente uma taça de Shampanskoye. Ou melhor, duas garrafas.
- Hum... Hyoga, vem comigo até a copa? Quero falar a sós com você. – Convidou Shun.
- E o que eu não posso saber, heim? – Inquiriu Ikki enciumado.
- Conto quando você casar.
Hyoga começou a rir e acompanhou o amigo, sem antes mandar beijos a Ikki só de pirraça.
- Palhaço.
Na copa só estavam os dois.
- Fala, Shun.
-...
- Que foi?
- Conta pra mim. Eu não vou falar pra ninguém.
-...
Shun foi até a máquina de fazer capuccino enquanto Hyoga mirava a nuca do colega.
- Shun.
- Diga?
- Estou com um grande problema.
- E eu posso ajudar? – Se afastou um pouco da máquina e encostou-se numa parede.
- Estou apaixonado.
- Isso é um problema? Ela não corresponde?
- Agora é um problema porque agora ela me corresponde.
- Em japonês, por favor.
Hyoga respirou fundo, mordeu o lábio inferior e olhou para Shun como se estivesse olhando para um padre.
- Eu estou apaixonado pela minha prima, Shun.
-...
Shun sabia que havia algo errado, mas por essa não esperava. Se a cara de Hyoga não tivesse tão deprimente provavelmente já teria deixado seu copo cair. Resolveu agir naturalmente, mas não sem antes olhar para o teto e respirar fundo. Não deixava de ser virginiano e se há uma coisa que virginianos costumam ser é conservadores.
- Ah... Bem, Hyoga. Como dizia Freud... As primas são as primeiras amantes que Deus nos oferece.
- Amante! Ela é minha prima!
- E você a ama. Amante. Hum... Claro, não vão poder ter filhos, é arriscado, mas...
- Do que você ta falando? – Hyoga olhava Shun como se o café contivesse alguma droga letal. – Shun, ela é minha prima! PRIMA! É minha PARENTA! – Rematou com as mãos em posição de esganar o amigo pra que entendesse.
- Ah... Então você está olhando o lado moral da história. – Só faltou Shun dizer "É eu também pensei nisso".
- O que eu faço? A... Estávamos no quarto... Ela me beijou e eu... Ar... Quase a coisa piora de vez...
- Tudo bem, poupe-me os detalhes.
- Isso não tem perdão.
Perdão. Foi aí que Shun se tocou. A família de Hyoga era essencialmente católica. Ta certo que o russo não via uma missa desde mil novecentos e Adão, mas isso não queria dizer que não tivesse valores a serem seguidos. Sempre carregava no pescoço um rosário, que recebera da sua mãe desde criança.
- Olha, Hyoga... – Shun dava pequenas tapinhas de consolo nas costas do amigo. - Já passou. Talvez você tenha se excedido, mas agora já foi. E... Bem, sua prima é uma mulher muito bonita...
- Eu já gostava dela desde criança. – Murmurou em devaneios. – E ela era só uma menina bem magrinha.
-...
- To falando merda. – Bufou massageando o cenho.
- Não, cara... Você ta apaixonado. – Shun concluiu perplexo.
- E o que eu falei pra você no começo?
- Achei que era só atração. Um caso. Ah, me desculpe. Eu julguei você mal. Desculpa mesmo.
- E agora?
- Bem... – Respirou fundo. – Olha, vou ser sincero. Nenhuma escolha é isenta de responsabilidade. Você pode esquecer que fez isso e ficar com esse mal estar e essa culpa pro resto da vida, que provavelmente causará uma doença psicossomática, ou poderá assumir e viver esse amor, mesmo sabendo que jamais vão ser um casal como qualquer outro, mas ser feliz acima de tudo. Escolha.
-...
- É isso.
O louro abraçou o amigo e foi correspondido.
- Não conta pra ninguém, ta?
- Eu não farei isso. É uma promessa.
De repente uma musiquinha típica de celular tocou. Shun se afastou do abraço e tirou o aparelho do bolso. Ao ler o visor sorriu:
- Oi, June! Que bom te ouvir!
- Shun, eu to preocupada! A Shunrey não voltou pra casa! E o pai e o irmão dela são dois escolhidos!
- Quê!
- Por favor, me diga que você tem o telefone do Mu. É urgente!
- C.Calma... Nem Mu nem Shaka vão saber como ajudá-la.
- E você quer que eu fique calma depois de dizer isso?
- Ãhn... Certo. Foi um comentário infeliz. Eu vou ligar para a senhorita Saori, certo? Espero que ela não me mate.
- Obrigada.
- Eu ligo daqui a pouco. Tchau.
- Tchau.
Shun desligou e ligou rapidamente para Saori enquanto Hyoga apenas olhava tudo curioso.
- Alô?
- Saori, pelamordedeus, chama o Shiryu que é URGENTE!
- Oh, céus! S. Sim. Vou chamá-lo.
Alguns segundos e os dedos de Shun já tateavam descontrolados sobre a mesa.
- Shun?
- Shiryu, a June ligou e disse que a amiga não foi dormir em casa. O que aconteceu? Devem ter pegado ela!
- Calma, Shun! Respira!
- Respirar?
- É. Não se preocupe, ela foi dormir na casa do irmão. Quer o endereço?
Shun sentiu umas orelhas de burro crescer sobre sua cabeça. Sabia que se Hyoga soubesse riria até cansar da cara dele. Discretamente respirou fundo.
- Por favor. E fale devagar porque acabaram de me deixar nervoso. – Falava enquanto voltava a respirar. Estava louco para provocar June pelo que ela acabara de fazer com ele.
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No prédio Santuário...
Milo acordou com uma cara péssima. Os cabelos totalmente bagunçados e os olhos inchados. Olhou seu rosto no espelho do banheiro e detestou o que viu. Era melhor tomar um banho para despertar.
Camus fazia o café. Estava absorto nos pensamentos, com um olhar triste sobre a garrafa térmica. Ouviu um barulho na porta e sentiu uma pontada em seu coração. Milo havia entrado no banheiro.
Desligou o fogo e passou para o coador. Estava tão distraído que o líquido respingou em seus dedos e, reagindo à dor, acabou desviando o saco fazendo uma considerável parte do café cair da panela para a sua mão.
- MERDE! – Urrou de dor enquanto a panela caía com tudo no chão.
Milo ouviu o grito e o barulho da panela caindo. Sem saber o que realmente acontecera riu com maldade para si enquanto deixava á água descer pelo seu corpo.
- Bem feito, francês idiota.
Camus correu para o quarto sacudindo a mão queimada e tentando abrir com urgência a maleta com primeiros socorros em busca de um adesivo contra queimadura. Isso acompanhado de uma vontade arrasadora de descontar tudo em Milo. Seria um longo dia.
O grego saiu do banheiro com a cara amarrada e a toalha amarrada na cintura. A porta do quarto de Camus estava entreaberta, mas não deu para o terapeuta ver o que o médico estava fazendo, pois o telefone tocou e ele foi imediatamente atender.
- Alô?
- Milo! – A voz de Shina soava chorosa do outro lado da linha.
- Shina! O que foi? Aconteceu alguma coisa? Por que você tá chorando?
- Eu to arrependida! Fiz uma burrada! Uma burrada e das grandes!
- Calma... Me conta isso direito.
- Eu devia ter me controlado! Estraguei tudo!
"Epa. Eu já ouvi essa conversa antes." Pensou Milo.
- Shina... Calma... Hã... Cadê o Hyoga?
Pra que foi perguntar? A garota só fez chorar mais ainda.
- Shina, o que aconteceu?
- Nós nos beijamos, Milo... Não! EU o beijei e ele... Ah, ele... Foi horrível!
Milo fechou os olhos como se tivesse levado um beliscão. Se Camus tivesse reagido mal ao beijo certamente pularia do hotel ao invés de somente ir embora.
Nisso Camus chegava do quarto já com a mão enfaixada.
- Olha... Calma, Shina. Calma... Controle-se!
- É minha prima? – Camus assustou-se ao ouvir o nome da italiana.
Milo ignorou sua presença o deixando furioso.
- Olha, Shina... Não faça nada, certo? Eu vou até aí.
- O que minha prima tem? Responda!
- Certo, Milo... Manda um abraço pro Camus.
- Ta. Eu mandarei (Mandarei nada). Tchau.
E desligou.
- FALA o que aconteceu com a minha prima AGORA!
- Acordou de mau humor, é? Ta, eu conto. Ela beijou o IMBECIL do Hyoga,que RECUSOU e agora está em LÁGRIMAS! SATISFEITO?
- Ela o QUÊ? E não o chame de imbecil! Eles sempre se gostaram, mas Hyoga não vai ceder porque são PRIMOS!
- E o pato anda se drogando por acaso! Eles nem são primos de sangue! Podem formar família, ter filhos e tudo mais!
- Não importa. Hyoga tem educação religiosa assim como EU e TODOS os meus outros primos, INCLUSIVE a SHINA! É por isso que ela está chorando! Está ARREPENDIDA! Primo NÃO BEIJA primo!
Tinha esquecido desse detalhe. Agora Milo presumia o que Hyoga teria feito e começou a cogitar a possibilidade de Shina querer realmente se jogar do apartamento. Ainda bem que a mandou não fazer nada até ele chegar.
Aliás, homossexualismo também era heresia.
Ótimo. Uma família de hereges. Tudo filho de beato. Claro, nada contra a senhora Natasha ou aos outros da família.
Milo massageou a fronte e só depois foi notar o adesivo na mão de Camus. Iria perguntar o que houve, mas seu orgulho não permitiu. Foi até a cozinha e se deparou com a bagunça do café da manhã.
"Ai... Deve ter doído". Pensou.
- Estamos sem café. – Falou o francês secamente enquanto se dirigia até o quarto e batia a porta com força.
- Grrr... Ô FAMILIAZINHA COMPLICADA A SUA, NÉ? – Gritou o grego enraivecido.
- ME ESQUECE! SOME DA MINHA VIDA! DESAPARECE!
- COM PRAZER!
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Prédio Aries Place. Shion acordava baqueado. Esfregou os olhos e se viu vestindo um short e uma camiseta que não eram seus. Sim. Havia dormido no sofá do apartamento de Dohko.
Esfregou os olhos e levantou-se.
- Hae, belo adormecido. – O chinês já estava vestido quando passou pela sala. – Kanon resolveu me encher o saco então tenho que ir. Minha irmã ainda não acordou, se quiser sair deixa a chave aqui e encosta a porta.
- Preciso de uma escova de dentes. – Manifestou-se num bocejo.
- Quando eu era pequenininho escovava com o dedo. Veja que coisa mais higiênica.
Shion riu do gracejo e se levantou.
- Tem uns pacotes lacrados no espelho do banheiro. Você não é o único que me visita. A laranja é da Shunrey. Ela adora laranja então comprei pra ela, mas você pode escolher entre a azul e a amarela. Eu vou tomar um café.
O psiquiatra balançou a cabeça entretido e andou até o banheiro. Escovou os dentes, lavou o rosto e supriu as necessidades matinais. Quando saiu de lá, Dohko terminava de tomar o café.
- Você não mastiga não?
- Nhaum. – O chinês bebia o café com tudo ainda com o pão na boca. – Faz tempo que não sei o que é isso.
Engoliu o bolo alimentar de uma vez e assustou-se quando se deparou com um par de olhos violetas o mirando de forma bastante sedutora.
- Obrigado por tudo, Dohko.
- Ah... De nada.
O psiquiatra se afastou e arrumou os lençóis do sofá, sem reparar que Dohko mirava sua nuca com um leve corado na face.
- Vamos ter uma sessão hoje, não? – Indagou o advogado.
- Sim. Ás quatro da tarde.
- Certo. Estarei lá.
- Dohko... Os remédios que você me deu ontem... O que eram?
O chinês prendeu um sorriso cínico e bateu no ombro do psiquiatra.
- Comprimidos de carvão. Excelente pro metabolismo humano.
-...
- Tem chá de erva cidreira no fogão. Toma uma xícara pra relaxar e deixa pra minha irmã. Tchau e até mais tarde.
Fechou a porta e andou rápido até o elevador.
Shion sentou-se no sofá e massageou a fronte rindo de si mesmo perante o truque daquele advogado que sequer parava para comer.
- Onde e com quem eu fui me meter...
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Shina estava sentada no sofá. As mãos cobrindo o rosto inchado, a perna ainda imóvel e uma dor no ventre de tanto chorar. Ouviu a campainha tocar. Enxugou as lágrimas e se apressou em atender.
- Milo!
- Você tem uma família que tira qualquer um do sério, Shina.
- Do que está falando? .
- A... Tudo bem, esquece.
Sentou-se no sofá e esperou ela sentar ao seu lado. A italiana tentou se manter firme, mas acabou chorando no ombro de Milo.
- Calma, cali... Tudo bem... – Afagava seus cabelos. – Você ia fazer isso mais cedo ou mais tarde.
- Eu devia ter voltado pra Kyoto assim que deu. E é o que eu vou fazer independente desse casamento.
Kyoto, o lá dos fugitivos sentimentais. Mude-se para lá se não quiser fazer uma besteira.
Milo girou os olhos e respirou fundo.
- Ele também gosta de você, Shina... O senhor do gelo ta sabendo da notícia e... Foi ele que me disse isso.
-...
- Mas... Olha, vocês são pessoas acostumadas a rezarem o terço todo o dia desde criança. Eu sem muito bem disso. E apesar de filha adotiva, a dona Natasha, de todos, é a mais religiosa e o pato aprendeu tudo com ela. Dá um desconto pra ele, vai...
- Ele sempre foi apegado à mãe.
- Bem, pelo menos ela faz jus ao terço que reza. – Bufou.
- Hum... Do que você ta falando?
- De nada. Quer saber? Não se culpe por isso não. Se ele gosta mesmo de você vai assumir isso de um jeito ou de outro! Pô, não tem nada haver! Vocês nem são primos de sangue! Podem até casar no civil!
-...
- Cara, que vontade de dar uns socos nesse loiro agora. Eu já não to num bom dia. Pra fazer isso não vai precisar de muito não.
Shina pôs a mão no rosto e começou a rir descontraída, principalmente quando o amigo cruzou os braços e fechou a cara.
- Só você mesmo pra me fazer rir numa hora dessas.
- Vamos tomar café, Koritsi.(2) Estou com fome e aposto que você também não comeu.
A italiana viu o grego levantar-se e se dirigir à cozinha. Sentia-se bem melhor.
- Você tem razão, Milo... Eu tenho que ser paciente.
-...
- Não vou chorar. – Enxugou as lágrimas e sorriu. – Eu já fiz a minha parte. Ele que faça a dele.
- É assim que se fala. Panquecas?
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Aioria aproveitou a manhã tranqüila para fazer uns exercícios matinais. Marim provavelmente ainda estaria dormindo, e mesmo que estivesse acordada, não precisaria de seus serviços tão cedo.
Marim...
Como uma mulher pode chamar tanta a atenção? Havia algo de diferente nela. Além da beleza e do jeito seguro e até mesmo simples. Se Saori parecia uma donzela indefesa, Marim lembrava uma amazona capaz de se defender e atacar.
Ia voltar pro seu alojamento. Abriu o portão e atravessou o jardim. Ficou encantado ao ver a senhorita Tsukino com roupas caseiras próprias para dias de frio, sentada em um balanço do jardim. Absorta nas próprias lembranças e planos. Parecia estar viajando.
- Uma moeda pelos seus pensamentos. – Sussurrou o segurança.
Marim sorriu surpresa:
- Desculpe. Acho que estou meio distante hoje.
- Tudo por causa da senhorita Saori?
- Sim.
-...
- Hum... Não quer sentar-se ao meu lado?
Aquilo era mais um presente do que uma pergunta para Aioria. Sentou-se ao lado da senhorita, sendo levado pelo balanço.
- Não precisa ficar preocupada. A senhorita Saori sabe tomar as próprias decisões.
- Não sei. Às vezes me sinto na obrigação de protegê-la. Sei que não vai fazer bem se ela se casar com Shido.
- Sente isso, não é?
A senhorita assentiu com a cabeça:
- Eu nunca me casei por isso. É difícil saber se o que você sente é amor, desejo ou necessidade social.
-...
Marim o focou. O homem a mirava com uma certa admiração, mas não deixava de ser um olhar devorador. Aioria trajava uma camiseta cinza bem clara, e apesar do frio que se fazia, estava suado.
- Estava fazendo o que, Aioria?
- Uns exercícios matinais. Se alguém raptar a senhorita eu vou precisar correr.
- Você é uma graça mesmo. E por favor, vamos tirar o "senhorita". Estamos sozinhos e você sequer está com a roupa de segurança.
Aioria empurrou o chão com os pés e o balanço voltou ao embalo sutil.
- Sabe, Marim... Você é linda mesmo com roupas casuais e chinelos por cima das meias.
Marim começou a rir:
- Você acha?
- Acho.
- E... – Umedeceu os lábios instintivamente. - Você fica bonito de camiseta.
Ele se aproximou mais e sorriu:
- Se você pedir eu juro que visto ela mais vezes. Até nos dias de frio.
A senhorita sorriu interessada pra Aioria. Os braços fortes e o tórax largo era mesmo uma tentação. Mas quando o homem se aproximou mais...
- Aioria... Você é meu segurança.
...Acabou levando um banho de água fria.
- Não. Eu trabalho para a senhorita Saori. – Contestou revoltado.
- Mas no momento está trabalhando pra mim. – Levantou-se. – Eu vou tomar café.
E foi embora o deixando sozinho no balanço.
Quando entrou em casa comemorou em silêncio com as mãos juntas perto da face e foi tomar café toda feliz.
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Dohko dirigia-se à própria sala com uma pasta cheia de processos na mão e ao entrar encontrou Kanon na outra mesa, com os pés em cima dela, lendo um documento qualquer.
- Meu caro Dohko, que bom que chegou. Pensa nessa proposta. Que tal deixamos isso e montamos nosso próprio escritório?
- Proposta tentadora. Olha que eu aceito. A firma ta quase pra me colocar na rua. – Sentou-se na outra mesa.
Kanon tirou os pés da mesa e pôs os cotovelos:
- To falando sério.
- Capital, meu querido. Precisamos de capital.
- Endáksi.(3) Sei como arranja-lo.
- Hum... Você não ta em nada ilegal, né? Nem em jogos.
- Oxi. (4) Tem um caso aqui em minhas mãos que vale ouro. A cliente é rica, mas ninguém quis a causa. Eu peguei e é mais fácil de resolver do que possam pensar.
- Fale?
- Ela sofreu o golpe do baú e quer se separar sem dividir nada com o marido.
- Desista. Casaram-se por comunhão de bens. Vai ter que dar cinqüenta por cento... A menos que você tenha como provar que se trata de um safado completo que não ama nem a mãe.
- Um mar de lama. Mas isso não vem ao caso. Casaram-se porque ela mentiu a idade. Só faltava um mês para ela atingir a maior idade. Dohko... Esse cara não tem direito a nada! O contrato é nulo!
O chinês ficou boquiaberto.
- Mas... Kanon, e a união estável...
- Estamos falando de um processo de divórcio com um detalhe que ninguém tinha prestado a atenção. E se recorrerem temos material suficiente pra vencer. Pra começar ele seduziu uma menor. Ela é bem rica. Pense nos honorários!
-...
- Então. Tenho um sócio?
Dohko suspirou e olhou para ele atento:
- O que eu preciso pra dar o fora?
- Eu tava pensando em pedirmos uma licença pra arrumarmos tudo. Caso não dê certo pelo menos ainda temos esse emprego.
- Ótimo. Você salvou minha vida. Eu to pra ficar louco.
- Estou vendo. Espanca um pobre adolescente aqui mesmo na firma, compra briga com seu psiquiatra...
- O adolescente era um criminoso filinho de papai que acha que dinheiro pode tudo. Me nego a cuidar desse caso. E meu psiquiatra precisa de mais cuidados que eu.
O grego caiu na risada:
- Só você... Que azar, não?
- Muito azar. Já nem estranho mais.
- É... E ainda por cima você ta na lista.
- Que lista!
- A lista dos caras que o grupo quer matar... Você não ta sabendo?
Dohko olhou para Kanon como se esperasse que um cuco saísse da cabeça dele.
- Não. – Respondeu estranhando.
- Ops... Já vi que vou ter que contar a história pra você.
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Meio dia. A hora que ninguém suporta. Todo mundo louco pra almoçar em suas casas, fazendo o trânsito passar de caótico para infernal.
Camus e Shaka saíram do elevador e conversavam enquanto andavam.
- Não sabia que era tão disputado, mon ami. Pour dieu, tantas noivas...
- Milo chegou a conhecer uma delas. Diana. Minha pequena jóia.
- E por que não casou com ela? – Indagou Camus levemente enciumado.
- Ninguém com a minha idade se casaria. Meu pai morreu antes d'eu atingir a maior idade e quando a completei não queria simplesmente casar. É um absurdo. A família dela se sentiu ofendida e se mandou de Nova Deli.
- Hum... Você mora na capital.
- Acho que Milo deve ter uma foto dela. E uma minha também. Ele vivia andando com a câmera por lá.
- Certamente as tem.
O indiano parou e tirou as chaves do bolso da calça.
- Obrigado pela companhia, Camus. Vemos-nos hoje à noite no casamento.
- É bom termos sorte.
- Até mais. – Sorriu.
O francês abriu a porta e entrou. Pelo silêncio Milo ainda não tinha chegado. Tirou o casaco e deixou sobre o braço do sofá. Andou até o quarto do grego. Ninguém lá.
- Espero que não tenha levado a sério quando falei "desaparece". – Murmurou para si enquanto sentava-se na cama (Desarrumada) e abria a gaveta do crido-mudo ao seu lado. Havia uma coleção de canetas, balas e uma caixa de madeira que ocupava quase toda a gaveta. Tirou-a. Era bem curioso.
Não havia muitas coisas lá. Só algumas lembranças. Fotos principalmente. Uma miniatura da Torre Eiffel se escondia por lá.
- Ele ainda guarda isso? – Contemplou feliz a peça e a deixou no lugar.
Dentre as fotos tinha uma de um adolescente loiro, olhos azuis, cabelos compridos, louros e amarrados num rabo de cavalo. Shaka.
- Melhor não olhar isso. – Deixou a foto no lugar e fechou a caixa antes que começasse a bater o ciúme perante as outras lembranças. Nem queria ver a foto da moça.
Água fervente, legumes e verduras cortados e agora Camus cortava a carne. Desenfaixara a mão, mas resolveu fazer o almoço antes de trocar o curativo, afinal com o humor que Milo estava era capaz do grego fazer macarrão instantâneo só pra compensar o café.
Ouviu alguém abrir a porta. Provavelmente era ele. O coração de Camus deu um salto, mas sequer olhou pra trás. Continuou a fazer o que estava fazendo. Ouviu o clique da porta e presumiu que o grego tinha entrado no quarto. Depois falaria com ele pra saber como foi com a prima.
Continuou cortando, mas seu braço não agüentava mais o calor da panela. Olhou pro local da queimadura e a viu mais vermelha que antes.
- Vai despelar depois e quando isso acontecer vai ficar muito engraçado. – Uma voz soou ao seu ouvido.
- Milo...
- Deixa que eu cozinho. É só me dizer o que eu tenho que fazer.
- Apenas corte e jogue os pedaços na panela.
O grego tomou a faca e começou a cortar a carne em pedaços pequenos, jogando um a um na água fervente. Camus puxou uma cadeira e sentou-se.
- Hum... Como está minha prima? – O francês timidamente puxou assunto.
- Bem. Já estava sorrindo quando a deixei. Como você diz: Ces't l'amour.
-...
- Como foi com o Shaka?
- Bien.
- E... Ele disse o que queria?
- Alianças.
Milo jogou os pedaços na panela e colocou a tampa, depois puxou uma cadeira e sentou-se ao lado de Camus, de frente pra ele.
- Quero conversar. – Pediu o terapeuta angustiado. – Olha, se ta arrependido de ter ficado comi...
- Não estou arrependido.
Um silêncio se fez e Milo soltou todo ar dos pulmões aliviado.
- Mas eu estou em choque, Milo. Cinco anos passaram muito rápido pra mim. Shina e Jisty vieram morar comigo, noivei, terminei o noivado para ir atrás de você, Jisty se meteu nos ambientes mais impróprios de Kyoto, meus pais morreram, Jisty morreu, descubro que tem um maníaco querendo a imortalidade e ainda fico com meu melhor amigo!
- Que negócio é esse de "Terminou o noivado" por minha causa? – Perguntou num misto de curiosidade e sedução. – O que foi que eu fiz?
- Você voltou pra Kyoto. – Respondeu sério.
- Ah... Achei que você tava falando do porre que eu tomei no dia da festa
Camus ficou calado enquanto Milo resgatava uma lembrança. O médico riu sutilmente:
- Você se lembra do que aconteceu naquele dia?
- Oxi.
- Foi o que eu pensei. Se lembrasse já estaríamos juntos antes de virmos pra cá.
- Nos beijamos!
- Oui. Mas você dormiu e eu fiquei com muita raiva.
- E você não me falou nada!
- Não. E mesmo que você lembrasse, eu poderia dizer que compadeci do seu momento de carência.
-...
- Você sabe disso.
- A desculpa sempre foi essa, não?
- Oui. No fundo você tinha certeza que não ficamos juntos porque eu me negava a aceitar que era de você que eu sempre gostei. E você... Bem, tinha a perder em relação à imagem também.
Trocaram olhares. O terapeuta abaixou a cabeça:
- Olha, Camus... Eu não to pedindo pra que você me apresente como namorado pra toda a família. Só fiquei chateado com a sua reação na casa do Mu.
- Eles estavam incomodados, Milo. Ainda gostam de nós, mas jamais nos verão como um casal normal. Não somos. E estávamos na casa deles. Eles é que são educados.
-...
- Eu não pretendo esconder isso, mon ange. Toda vez que me perguntarem vou falar que namoro você e mais cedo ou mais tarde todos saberão. Ontem só fiquei estressado e acabei descontando em você.
- Descontou mesmo. Poderia ter falado isso dessa maneira. – O mirou com azedume.
- Pardon. Eu morreria se fosse verdade que você me odeia.
Milo soltou o ar e ajoelhou-se em frente a Camus para fita-lo mais de perto. O outro, com a mão boa, acariciou-lhe a face.
- Se agapw (5). Essa é a verdade, independente das besteiras que eu venha a falar. – Confessou Milo aconchegando o rosto na mão de Camus. – Somos namorados?
- Se disser que não, não falo mais com você.
Milo sorriu mordendo o lábio inferior, ficou de pé e puxou a nuca do namorado para um beijo ousado e cheio de carícias.
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No salão próximo da Everline, Saori tinha seu dia de noiva. Óleos, perfumes, descanso pra pele. Entretanto seu olhar se perdia no vazio. Casar-se-ia com Shido.
Parecia que tinham cravado uma espada em seu coração. As lágrimas rolaram teimosas pelo seu rosto:
- Seiya...
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Longe dali, no aeroporto local.
Julian Sólon olhava para todos os lados. Quando encontrou três recém chegados sorriu confiante e acenou. Um deles apontou para Julian e fez sinal para o trio se aproximar.
- Como vão? – O rapaz os cumprimentou. – Prontos pra ajudinha dos mortos?
Dois deles balançaram a cabeça e seguiram-no.
Continua...
Peixe Babel
1- Aniki: Expressão de grande respeito ao irmão mais velho.
2- Koritsi: Garota.
3- Endáksi: Tudo certo
4- Oxi: Não
5- Se agapw: Que mais poderia ser? Eu amo você.
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No próximo capítulo:
Saori se casa com Shido e Seiya tenta se jogar da Torre Eiffel quando vai para a França com Camus. Ahahahahahahahaaa! To zoando, galera. Não levem minhas nóias a sério.
Beeeeem, vou responder as reviews aqui mesmo porque acabei aceitando a postagem anônima (E não confio muito no e-mail. De repente a mensagem não chega...)
Royal One: Que bom que gostou do quinteto bancando os detetives, o Hyoga ta com uma crise de consciência básica, mas vai passar n.n, já a Shunrey... É, né, quem diria.
Quanto ao yaoi... É melhor continuar pulando as partes indesejáveis (Ah, tudo bem. Foi perto do final dessa vez). XD
TamiresTDK: Aaaah! Ta aqui! Ta aqui, Tami! Milo e Camus forever, Shaka lindo, Ikki e Esmeralda, Shun vidente e tudo mais. Gosta de UA? Temos algo em comum. Eu a-do-ro! Dohko e Shion são fofos mesmo n.n
Nebula chan: Nebulita, você sabe que adorei a capa, né:D To exibindo ela a torto e a direita aqui. Ah, e o Deba sobre o efeito de umas cervejinhas pode pensar que tava vendo coisa. XD A fala dele foi mesmo hilária. Quanto ao yaoi... É. Essa briga ia acontecer mais cedo ou mais tarde. Valeu por tudo!
Dana: Pôxa, Dana, já ta acabando sim. :( O Aioria recebeu um banho de água fria, mas leonino não desiste tão fácil não. :) Aproveita e ver que com a Marim o buraco e mais embaixo. Muito kawai esse casal.
Bjos a todos!
Fui!
