Quando o período de aulas finalmente se esgotou, Kira, Ethan e Conner foram a pé para o Cyberspace da Hayley, que ficava próximo e era o point dos alunos do Colégio da Costa dos Arrecifes. Trent, que tinha ainda que cumprir duas horas de detenção por ter chegado tarde na aula, ficou na escola.

Sentaram-se a uma das mesas disponíveis e, enquanto Ethan pegou um avental para ajudar Hayley com os fregueses, coisa que ele vinha fazendo desde que Trent pedira demissão e Conner dedicou-se a azarar de longe uma das líderes de torcida da equipe do colégio, Kira viu a dona do Cyberspace no caixa. A jovem largou suas coisas em uma das mesas e foi conversar com ela.

— Oi, Hayley — disse ela apoiando os cotovelos no balcão e apoiando a cabeça nas mãos, ao mesmo tempo em que tentava soar despreocupada.

Hayley desviou a atenção das contas que estava fazendo e olhou para ela atentamente:

— Do que você precisa, Kira?

Kira surpreendeu-se e sua cabeça quase escapou do apoio e bateu no balcão. Com uma expressão de culpa misturada com surpresa, endireitou-se novamente.

— Eu... ahn... Como é que você sabe que eu preciso de alguma coisa? — a garota gaguejou.

— Só pela expressão no seu rosto e o tom da sua voz. — A mulher mais velha pausou e sorriu amigavelmente: — Relaxe, menina, só estou brincando com você!

Kira sorriu sem jeito.

— Está bem, me pegou. Eu estava pensando se você poderia ser a minha patrocinadora no evento de moda que eu vou ter que organizar para...

— Opa, espera um momento. — Hayley disse gesticulando, para interromper a estudante. — Patrocinadora? Não sei, não, Kira...

— É. Quer dizer, não é sobre dinheiro, eu só preciso que você me empreste o Cybercafé por algumas horas no próximo sábado, para eu fazer um desfile de moda aqui.

— Hum... Se é isso, tudo bem, eu acho — disse Hayley, pensando no pedido.

A conversa atraiu a atenção de Conner. Ele chegou perto de Kira e passou o braço pelo ombro da amiga.

— Desfile de moda? Esteve próxima de algum meteorito interessante ultimamente, Kira? — riu ele.

— Ha! — ela fez sem vontade, deixando o ombro cair para soltar-se dele. — Não tem graça nenhuma. É tudo idéia da Senhorita Sommers. Ela disse que preciso de atividades extracurriculares para poder conseguir entrar em alguma boa universidade. O que me lembra, como é que você vai conseguir?

— Simples. Bolsa de esportes para a Hearst — Conner respondeu.

— Hearst College? Muito bem, Conner! — Hayley exclamou.

— Já eu pontuei bem alto no teste da Mensa e isso impressionou muito o pessoal da MIT — Ethan interferiu, aproximando-se com sua bandeja e entregando os novos pedidos para Hayley.

— MIT? Parabéns, Ethan! Você vai adorar tudo lá — cumprimentou-o Hayley, visivelmente impressionada.

— Bem, sorte de vocês dois. Enfim, vocês todos vão ter que me ajudar — Kira suspirou, com uma leve pontada de inveja.

— Claro, nós ajudamos você. O que você precisa que a gente faça? — Ethan respondeu, em seu nome e em nome de Conner.

Conner sacudiu a cabeça para demonstrar que concordava com Ethan.

— Eu estive pensando; como eu vou estar mexendo na música e Hayley vai ajudar na luz e nas coisas técnicas... — disse ela hesitante, olhando esperançosa para a dona do estabelecimento e, sem receber nenhum sinal de negativa, continuou: — vou precisar de gente para desfilar as roupas e vocêsdoispoderiamfazerissonãoémesmo? — ela emendou extremamente rápido.

— O QUÊ? — Conner arregalou os olhos.

— Kira, por um momento, pensei que você estivesse dizendo que era para a gente desfilar. —disse Ethan, fingindo limpar os ouvidos. Kira assentiu, confirmando — De jeito nenhum! Por que eu não posso ficar nas luzes, enquanto você ou a Hayley desfilam? — ele concluiu indignado.

— É, isso mesmo. E eu poderia ficar na música — Conner contrapôs.

— Eu não gosto do seu gosto para música — Kira apontou incisivamente para Conner. — E quanto a você, não ia querer que fizesse um dos seus truquezinhos hackers no meio do desfile.

— Como se pode hackear uma lâmpada? — Conner perguntou.

— Sei lá. Mas sei que até sistema de sprinkler ele hackeia — foi a resposta de Kira.

Ethan apenas riu, orgulhoso.

— Viu? E é exatamente por isso — completou o ranger amarela — Pessoal, por favor, essa é, talvez, a minha única chance de conseguir uma vaga na UCLA. Vocês prometeram ajudar! Não me façam implorar, porque eu vou, se precisar.

— Está bem — disse Ethan, desanimado.

— Só porque eu prometi — Conner completou.

— Amo vocês dois! — ela exclamou, estalando um beijo na bochecha de cada um e afastou-se.

— Como é que ela vai conseguiu entrar na faculdade fazendo um desfile de modas? — perguntou Conner.

— Sei lá, mas nós prometemos. Espero que eu não tenha que vestir nada de lycra na frente do colégio todo.

— Isso seria engraçado, não é? — riu Conner.

Sem dizer nada, Ethan revirou os olhos para ele e apanhou a bandeja que Hayley acabara de reencher com os novos pedidos e Conner aproveitou para voltar ao flerte à distância com sua líder de torcida.

Com o problema parcialmente resolvido, Kira foi para o pequeno palco do café, apanhou seu violão e começou a tocar alguns acordes de sua nova música quietamente, mas com o pensamento não em seu instrumento preferido e sim no sonho que tivera com Trent naquela noite, mas que agora teimosamente voltava a sua lembrança. Empurrando-o para o fundo de sua mente, forçou-se a continuar sua composição, no que conseguiu ser bem-sucedida por algum tempo.

Sentada na borda do palco e meio curvada sobre o violão, Kira acabou por percebeu que algo estava fazendo sombra sobre si e seu instrumento. Intrigada, olhou para cima e topou com os enormes olhos verdes de Cassidy fitando-a propositalmente bem de perto. A jovem roqueira colocou o violão de lado e esperou.

— Kira, que bom que consegui atrair a sua atenção. Eu ouvi dizer que você está organizando um desfile de modas — Cassidy já começou dizendo.

— Sim. Como você ficou sabendo disso?

— As notícias voam, querida, não sabia? A imprensa tem que estar sempre bem-informada.

Kira limitou-se a cruzar os braços e levantar a sobrancelha para ela, e a outra se sentou ao seu lado, rindo descontraída:

— Eu estava escutando a conversa de vocês ali no balcão. Enfim, amiga, — ela disse, colocando ênfase exagerada na palavra "amiga" — Eu estou pensando em ceder um segmento do meu programa para a cobertura completa do seu desfile. Nem precisa agradecer — concluiu ela, como se esperasse o oposto de Kira.

— Olha, Cassidy, não sei se é uma boa idéia. — Kira tentou desvencilhar-se da presença da repórter do colégio.

— Como não? Se você quer que as líderes de torcida desfilem para você, precisa que elas saibam que as pessoas vão vê-las no meu programa. Duh. -- concluiu, como se aquele fosse o raciocínio mais natural do mundo.

— E por que eu iria querer que as líderes de torcida desfilassem para mim?

— Simples. Porque se você quer que as pessoas assistam o seu desfile, vai precisar que as líderes de torcida desfilem para você.

A declaração surpreendeu Kira, porque aquela lógica torta até que fazia sentido.

O problema é que Cassidy nunca fazia nada para ninguém sem esperar algo em troca.

— Está bem, mas por que o interesse, Cassidy?

— Porque... — Cassidy começou a explicar, mas Devin achegou-se a elas, interrompendo-a.

— Oi Kira — disse ele simpático.

— Oi, Devin.

— Então, Cassidy, já conseguiu convencer a Kira a deixar a gente transmitir o desfile naquele bloco que ainda não conseguimos programar nada que prestasse? Porque a gente precisa ir andando, você precisa ir ao Centro Cultural para a sua aula de dança de quadrilha agora.

Cassidy levantou-se em um pulo.

— Cala a boca, Devin — a loira sibilou na direção do amigo e quase-secretário.

— Eu sabia — Kira comentou, sacudindo a cabeça lentamente em sinal de desaprovação e comprimindo os lábios.

— Não é o que parece. Depois a gente conversa — Cassidy disse em tom de meia-desculpa para Kira e depois voltou-se para Devin: — Nunca mais vá me interrompendo desse jeito, está bem? E você fala demais! — gritou e os dois foram andando em direção da saída, ainda discutindo e esquecidos da presença de Kira, que ficou olhando os dois saírem do Cyberspace e notou Trent entrar ao mesmo tempo e quase ser atropelado pelos dois.

— Oi, gente, calma aí — disse ele, desviando a tempo.

Kira percebeu que estava encarando-o e, como não queria que ele percebesse isso também, desviou o olhar e agarrou novamente o violão, para disfarçar. Ele veio direto na direção dela.

— Ei, Kira. Está ocupada?

— Não, não muito — respondeu ela casualmente e colocou o instrumento de lado de novo. — Eu pensei que você havia pegado detenção hoje — estranhou um pouco.

— Eu consegui escapar. A Sra. Carson se lembrou que não gosta tanto assim de mim, para ser obrigada a ficar olhando para a minha cara por duas horas inteiras, e me liberou mais cedo — Trent brincou.

— Que bom.

— É... — Ele hesitou um pouco. — Então, como ainda está cedo, eu pensei se você não gostaria de ir para a minha casa para ver a capa do seu demo que eu desenhei — disse, o mais naturalmente que conseguiu, a frase que veio ensaiando pelo caminho.

— Para ver a capa do meu CD? — ela repetiu, estranhando um pouco, já que não falavam sobre o assunto há um bom tempo. — Pensei que você tivesse até esquecido.

— De jeito nenhum. E eu prometo que está ficando legal.

— Claro, por que não? Hoje é minha folga lá no estágio do canal 3 — ela concordou, dando de ombros.

— Ótimo. Vamos, então — disse ele, estendendo a mão para ela se levantar.

— Trent! Trent! — Hayley gritou por cima do barulho de dezenas de adolescentes jogando nos arcades e computadores disponíveis, conversando e rindo. Também agitou as mãos para atrair a atenção dele de onde estava no balcão apinhado de estudantes que esperavam para serem servidos.

— Oi, Hayley, o que manda? — ele cumprimentou voltando para onde ela estava. Kira foi atrás.

— Dá para ir buscar uma caixa de leite de soja no depósito, para mim, por favor? Sei que você não trabalha mais aqui, mas... — Hayley fez um gesto abrangendo o pandemônio de jovens no Cyberspace.

— Claro — respondeu ele, cortando-a afavelmente — Isso não vai demorar nada, está bem? Espere bem aqui — pediu para Kira.

— Está bem.

As duas mulheres observaram o rapaz entrar pela porta dos fundos em direção à despensa do café.

— É ótimo ele estar, finalmente, de volta ao normal, não é? — a mais velha comentou baixo, apenas para Kira ouvir, enquanto despejava uma vitamina de morango num copo alto e ajeitava em cima de uma bandeja no balcão.

— Você nem faz idéia — Kira respondeu no mesmo tom, mas um pouco mais aliviada do que queria deixar transparecer. Percebendo o olhar curioso de Hayley em sua direção, emendou rapidamente: — Eu-eu quero dizer, ele é muito poderoso e é ótimo tê-lo do nosso lado, para variar.

— Sim, com certeza. Bom, estive pensando em oferecer o emprego dele de volta aqui, o que você acha?

— Que é uma boa idéia. Vai fazer isso hoje? — Kira respondeu meio desapontada, pensando que, mais uma vez, alguma coisa ficaria entre eles e o tempo que poderiam ficar sozinhos.

Porém, para seu alívio, a outra respondeu:

— Não, estou pensando em deixá-lo curtir o resto da semana e dizer que ele pode voltar no começo da semana que vem. Que tal?

— Esta é uma idéia ainda melhor! Bom, você não se importa se eu... — ela começou a dizer, usando o polegar para gesticular em direção a porta pela qual Trent acabara de passar, e que também levava aos sanitários.

— Não, claro, vá em frente — Hayley respondeu sorrindo e dispensou-a com um gesto rápido, já se ocupando com outra coisa.

Dentro do pequeno reservado, Kira trancou a porta e lavou as mãos com a água fria, secou-as com uma folha de papel, que mirou e arremessou distraidamente no cesto. Olhou para cima para checar a maquiagem nos olhos e o batom, concluindo que ambos estavam em ordem. Ela não era tão vaidosa como algumas meninas da escola, mas também não gostava de sair como se tivesse acabado de acordar. Por fim, passou os dedos por seus cabelos castanhos claros, compridos e anelados para ajeitá-los.

— Você pode fazer isso, Kira, tenha foco! — disse ela para a imagem que a fitava de volta com olhos ansiosos.

Afinal, ficar sozinha com Trent em sua casa não era motivo nenhum para ficar nervosa, ou era? Ele só era um bom amigo e devia querer só mostrar o tal desenho em cinco minutos e depois despachá-la para casa porque, muito provavelmente, sentia que devia isso a ela, já que prometera ajudá-la com a capa do CD demo. Ele não demonstrara nenhum sentimento por ela depois de se revelar como o ranger branco porque talvez nunca sentira nada mesmo, e o quase-beijo que os dois tiveram no hangar dos zords também possivelmente não passava de uma ilusão, diferente da forma que imaginara que acontecera.

— Certo. Vamos, então — sussurrou para si mesma, abriu a porta e topou com o corredor imerso em trevas, mas que estivera perfeitamente iluminado apenas alguns minutos atrás. Tateando em busca do interruptor, Kira andou cautelosamente em direção da porta e trombou em alguém, que fazia o caminho oposto.

— Desculpe — disseram em uníssono.

— Kira, sou eu, Trent — disse ele, reconhecendo a voz da garota.

— O que aconteceu? Está muito escuro aqui.

— Venha comigo para a despensa. A lâmpada acabou de queimar, eu estava voltando para pegar outra e trocá-la — explicou ele, batendo de leve na arandela da parede.

— Eu deveria ter deixado a luz do banheiro acesa — comentou ela, embora sua visão já começasse a se acostumar com a escuridão que os envolvia, estendeu a mão para apoiá-la no ombro do garoto e assim percorreram o curto trajeto até o depósito; ela quase grudada nele e sentindo a fraca nota de sua colônia masculina.

Enquanto Trent procurava nas prateleiras por uma nova lâmpada, Kira sentou-se em uma das caixas não abertas que se encontravam no chão e esperou.

-X-X-

Conner estava muito satisfeito porque havia, finalmente, conseguido convencer Kayla, a bonita e loura cheerleader a lhe dar seu número de telefone de forma que pudessem combinar um encontro para aquele fim-de-semana. Voltou rapidamente para a mesa onde havia deixado seus livros de escola e pegou o primeiro caderno que alcançou, que era de Kira.

Distraidamente, folheou o caderno em busca de uma folha em branco que pudesse arrancar e, ao fazer isso, notou que derrubou algo dobrado no chão. Abaixou-se e pegou o papel, que não era nada menos que o desenho que Trent fizera para Kira naquela manhã. Desdobrou a folha de papel e imediatamente reconheceu sua companheira ranger nele. Preocupado, foi até Ethan e sacudiu-o defronte seus olhos.

— Já viu isso? — disse o ranger vermelho, certificando-se que ninguém prestava atenção na conversa dos dois.

Ethan afastou-se um pouco para ver melhor e comentou casualmente:

— Legal. Não sabia que você desenhava, cara.

— E não fui eu, mesmo. Não está assinado, será que é alguma espécie de chantagem? — Conner retorquiu, revirando o papel em busca de marcas.

— Chantagem? Como assim? — Ethan espantou-se e tirou o desenho da mão do amigo para olhá-lo mais atentamente. Por fim, soltou uma risadinha.

— E se alguém descobriu que a Kira é ranger amarela e está tentando chantageá-la? — Conner continuou sua linha de raciocínio.

— Só se for alguém que está muito a fim dela, hardy boy. Você olhou bem para esse desenho?

— Não. Por quê?

— Vem aqui — o ranger azul chamou, levando-o até uma parede com os desenhos antigos de Trent e que Hayley emoldurara e pendurara. — Reconhece?

Conner imediatamente reconheceu o mesmo traçado, mas não acreditou. Aqueles estavam assinados e não deixavam dúvida.

— Você só pode estar brincando. O Trent está tentando chantagear a Kira? Sabia que não dava pra confiar nele — disse, fechando os punhos com raiva.

— Conner, você não existe. Quem falou em chantagem? Só você mesmo, pra chegar a essa conclusão. Olha, eu tenho que voltar ao meu trabalho, mas se quer um conselho, deixe isso quieto — concluiu, dando-lhe as costas.

Conner, no entanto, não quis aceitar o conselho; queria tirar aquilo a limpo logo. Não era a primeira vez que Trent fingia ter ficado bom, só para traí-los logo em seguida; O Dr. Oliver estava preso em seu uniforme por culpa de Trent, e se Kira, Ethan e até mesmo o próprio Dr. O faziam questão de esquecer aquilo, era seu dever como líder da equipe lembrá-los.

— Ei, Hayley, você viu a Kira?

Hayley olhou imediatamente para o palco e, ao vê-lo desocupado, lembrou-se.

— Ah, ela está lá atrás, Conner — respondeu, apontando para a porta.

— Valeu — respondeu o garoto e andou na direção indicada.

O corredor estava às escuras. A luz acesa no cômodo dos fundos atraiu sua atenção e, com seu poder de supervelocidade, atravessou o caminho num piscar de olhos. Lá, para sua surpresa, deparou-se com Kira e Trent abraçados, se beijando.

CONTINUA

PS: Sim, eu sei, eu também não queria parar aqui. Por outro lado, queria muito menos ser forçada a descrever o beijo de Kira e Trent sob o ponto de vista do Conner, então eu volto no quarto capítulo com o beijo dos dois sob o ponto de vista deles mesmos, e também para contar o que esse novo relacionamento nascente entre o ranger branco e a ranger amarela causa na restante da equipe dos dino rangers. Fique ligado.

(Se você gostou ou mesmo se não gostou desse capítulo, por favor, não se esqueça de comentar)