Havia um grande número de pessoas na ante-sala que levava ao enorme salão. Por ser o maior do Ministério, fora escolhido para abrigar todos os julgamentos de envolvidos na guerra contra Voldemort. Seus seguidores foram, um a um, caçados, capturados e punidos com severidade e rigor. O julgamento de hoje abrangia seguidores sem grande importância, o restante dos colaboradores, prestadores ocasionais de serviços ao bruxo e seus comensais. Ainda assim, havia enorme quantidade de pessoas assistindo, sequiosas de vingança, mais do que de justiça. Harry não podia deixar de pensar que , na verdade, a justiça passara bem longe, pelo menos dos comensais mais próximos de Voldemort. Alguns pagaram com a vida, como Snape, embora mais tarde uma memória do diretor morto tivesse surgido, provando a inocência do mestre de Poções. Bellatrix também não sobrevivera para julgamento, embora seu marido, atualmente colaborador do Ministério, tivesse sido beneficiado por sua ajuda (leia-se delação) na captura de seus antigos parceiros, entre eles Greyback, preso em Azkaban. Petigrew fora morto pelo próprio Voldemort, e Lucius, libertado por bom comportamento depois de assinar um acordo com o Ministério , cumprira apenas alguns meses de prisão. O perdão veio fácil para Narcissa e Draco, assim como para os demais envolvidos que se dispuseram a trocar de lado, facilitando as coisas para o ministro. Tudo muito político, com julgamentos e prisioneiros para satisfazer ao público e à imprensa. Harry, distraído, notou que seu chefe o olhava fixamente. Acenou para ele, que de imediato desviou o olhar, sem responder ao aceno. Harry não se importou. Na verdade, compreendia o desapontamento de Moody para com ele. Herói desde bebê, vencera o Lorde das Trevas no grande duelo, era a grande personalidade do mundo bruxo, poderia almejar qualquer cargo, qualquer coisa que desejasse, içando seus amigos a um patamar político inacreditável. No entanto, para desgosto de todos, Harry escolhera... Draco Malfoy. Nem cargo, nem posto, nem carreira, sua paixão pelo loiro era o que tinha de mais precioso em sua vida. E o mais estranho de tudo é que não se sentia um gay, ao menos não no contexto real da palavra. Não gostava de homens, gostava de Draco. Não olhava para outros caras, não desejava ninguém mais além dele. Pena que isso não fosse uma coisa fácil de ser compreendida pelos que o rodeavam. Seus amigos se mantinham distantes, a família de Rony, que adotara como sua, não disfarçava seu desapontamento, especialmente por que Gina, que eles sonharam ver um dia primeira dama do mundo bruxo ao lado de Harry, ainda se tratava da depressão causada pelo rompimento brusco do noivado, quase às vésperas do casamento. Era perfeitamente compreensível que se sentissem apunhalados, e demonstrassem sua mágoa.

Harry divagava, perdido em reminiscências do passado. Forçou-se a prestar atenção ao julgamento, que corria monótono, entediante.

Percebeu que cochilara apenas quando viu o rosto assustador de Alastor muito próximo do seu, olhando-o com um ar de reprovação. Piscou, confuso, se desculpando enquanto olhava em volta, para as pessoas que deixavam o salão depois do fim do maçante julgamento. Estava se erguendo quando uma chuva de pergaminhos caiu sobre ele. Ergueu os olhos para Moody, que cuspiu entre dentes. — Esse material será suficiente para o seu relatório, já que não conseguiu se manter acordado para assistir ao julgamento. — Afastou-se, deixando Harry vermelho de raiva e vergonha por ter sido tratado de maneira tão desdenhosa, publicamente. Mordeu os lábios com força, até que doeram , respirou profundamente, e mais calmo, começou a recolher os papéis. Viu que Moody estava de pé junto à porta , cercado por Héstia, Neville e mais dois bruxos de sua equipe, o esquadrão especial do Departamento de Repressão e Controle do Prática de Magia das Trevas. Todos o olhavam, claramente à sua espera. Sem nenhuma pressa, Harry foi se reunir a eles. Neville sorriu e piscou para ele, que retribuiu . Olhou em volta, o maço de pergaminhos na mão. — Então, o que estamos esperando?

Registrou o sorriso irônico que Moody e Héstia trocaram. O diretor o encarou. — Realmente não se lembra, não é mesmo? Hoje é o dia da nossa reunião mensal, Potter — Pareceu cuspir o nome, fazendo Harry se lembrar de Snape. — Creio que terei que solicitar verba extra para a contratação de uma secretária, para lembra-lo de seus compromissos de trabalho e fazer anotações das reuniões e eventos nos quais você dorme... — Sorriu, cáustico, e todos os presentes, com exceção de Neville, exibiram sorrisos irônicos em apoio ao chefe. Harry adiantou-se um passo e encarou o olho bom de Moody. — Ou então pode se mostrar um diretor competente e economizar essa verba extra. Basta me dispensar, e colocar em meu lugar alguém à altura do cargo. — Viu a esfera no rosto do bruxo girar ainda mais loucamente, enquanto o outro olho parecia perfura-lo. — Ora, Potter, deve saber que eu realmente gostaria disso. Mas devo manter você na equipe por uma questão política, creio que compreende isso, não? Algumas pessoas lá de cima acham que sua simples presença nos beneficia, e embora eu não concorde, tenho que obedecer ordens... — Sorriu, mordaz .

O tom de Moody era tão carregado de desprezo que Harry se revoltou . — Nesse caso, facilitarei as coisas para você . Apresento aqui , diante de todos, o meu pedido de desligamento de seu esquadrão...

— Não, Harry! — Todos voltaram a cabeça para olhar na direção de onde partira a voz, inclusive Harry. Surpreso, viu Lupin, que se aproximou do grupo. Trazia no rosto uma expressão séria, que acentuava seu ar envelhecido pelo efeito dos cabelos abundantemente grisalhos. — Não devemos deixar que as emoções comandem assim os nossos atos. Moody, por favor, me dê um minuto para falar com eles. — O diretor fitou o recém-chegado , claramente aborrecido, mas manteve-se em silêncio — Sei que deveríamos estar reunidos no escritório agora, mas acho que , em virtude das circunstâncias, nossa conversa pode acontecer aqui mesmo. O salão está vazio, apenas nós estamos aqui. — Lupin voltou-se para Moody — Permite que eu fale a eles aqui mesmo sobre as mudanças? Creio que assim será mais rápido, já é quase hora do almoço. — Harry viu Moody hesitar por alguns segundos, para em seguida concordar novamente, visivelmente contrariado.

— Ótimo. Prometo que serei breve. — O ex-professor se posicionou de modo a olhar para todos enquanto falava, e começou. — Bem, o Ministério, muito satisfeito com o trabalho de Moody na equipe, resolveu coloca-lo na direção geral do DRCPMT. Fui contratado para assumir a direção do Esquadrão Especial no lugar dele. — Fez uma pausa, e sorriu levemente. — Por isso, Harry, gostaria que você reconsiderasse sua decisão. Não seria nada bom para mim perder um membro da equipe logo ao tomar posse... — Harry engoliu em seco, encarando Lupin. Claro que aquilo mudava tudo. Assentiu com a cabeça, vendo o sorriso do professor se ampliar.

—Ótimo, muito bom mesmo... e agora, o último comunicado antes que possamos sair para almoçar. Contratamos um novo membro para a equipe, que começará amanhã. Gostaria de contar com a colaboração de todos para que ela se sinta em casa conosco. Creio que todos já a conhecem, trata-se de Ginevra Weasley. — Parou , sorrindo, parecendo não notar a expressão de pânico no rosto de Harry, nem os olhares de todos, inclusive de Moody, fixos no rosto dele.

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Draco olhava por cima da amurada do restaurante, um enorme terraço cuja varanda fora dividida por imensos vasos com folhagens ornamentais, colocadas estrategicamente entre as mesas, garantindo assim a privacidade de seus clientes. Era o restaurante predileto deles, almoçavam ali quase diariamente. Ao seu lado, Harry olhava em outra direção, e tanto o moreno quanto o loiro estavam sérios e calados. Pansy, sentada entre os dois, tentou de novo.

— Então, posso pedir a salada tropical para nós três? — Olhou de um para o outro, percebendo que eles mal tinham ouvido o que dissera. Suspirou, e fez um sinal ao garçom para que se aproximasse. Harry fitou Draco.

— Deixe de ser criança, Draco. Sabe que eu não posso simplesmente parar de trabalhar.

— Ah, então não pode? E por que, posso saber? Já não fez o bastante livrando todos nós de Voldemort? Eu acho que sim, e que aquele idiota aleijado deveria demonstrar mais respeito por você. Como não demonstra, para que trabalhar sob as ordens dele? Ainda mais agora, quando a sua noivinha conseguiu uma maneira de se aproximar de você novamente...

Harry olhou para o loiro. — Ela não é minha noivinha, e não estarei mais sob o comando direto de Moody. Lupin me pediu, Draco. Quer que eu continue para ajuda-lo...

Draco riu . — Sua inocência me comove, Harry, embora às vezes me encha o saco! Será que não vê? É tudo uma jogada para resgatar você do mau caminho, para te reintegrar à vida perfeita planejada por eles desde que você tinha onze anos. Jogam a ruiva nos seus braços, você faz meia dúzia de filhos nela e todos vivem felizes para sempre. — O ar enfezado deixavam os olhos cinzentos com um aspecto frio, como o Malfoy dos velhos tempos. Encarou Harry.— Você não precisa trabalhar , Harry, sabe disso . Mas se realmente quer, há centenas de outros lugares no mundo. Por que se enfiar no Ministério, ainda mais agora que aquela zinha vai trabalhar lá? Por que , Harry?

A chegada do garçom com o pedido deles fez com que interrompessem a discussão. Pansy aproveitou para pedir a eles que deixassem de discutir e esperassem até a noite para conversarem em casa. Lembrou-os da cláusula do contrato que proibia escândalos e manifestações públicas de qualquer natureza entre eles. Comeram em silêncio, e deixaram o restaurante sem voltar a tocar no assunto.

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No final da tarde, ao encerrar o trabalho, Harry aparatou, surgindo no meio da sala da casa que dividia com Draco, não Grimmauld Place n.º 12, com toda as suas lembranças sufocantes, nem uma casa ao estilo Malfoy, luxuosa e cara. Era apenas uma casinha de dois quartos com uma sala com lareira, outra de jantar, cozinha e dois banheiros, simples e aconchegante, alugada temporariamente até que as coisas se acertassem entre eles em definitivo. A primeira coisa que Harry viu foi Draco, sentado numa poltrona, com um copo de bebida na mão, parecendo distante dali. Pansy, de pijama e pantufas, falava com o loiro como se ele a estivesse ouvindo. Os dois voltaram a cabeça para Harry. Pansy se levantou sorridente, vindo em sua direção, enquanto Draco voltou a desviar o olhar..

Harry recebeu a garota em seus braços , abraçou-a e beijou-a de leve nos lábios. Estava engraçada, a barriga protuberante dentro do pijama de flanela com bichinhos estampados, e as enormes pantufas de coelho. Ela começou a falar, primeiro sobre as novas recomendações do médico , depois sobre o jantar que estava quente na cozinha, depois sobre a chuva e o vento frio em contraste com o calor da manhã, e depois de tagarelar bastante, tendo como resposta apenas alguns resmungos distraídos, finalmente anunciou que ia se deitar um pouco. Harry insistiu em acompanha-la até o quarto, e ajudou-a a se deitar, cobrindo-a cuidadosamente. Acendeu o abajur, entregou-lhe o livro de nomes de bebês e seus significados, que agora era o livro de cabeceira dela, a caixa de chocolates, e depois de beija-la novamente, deixou-a para finalmente ir em busca de Draco.

Encontrou-o de pé diante do bar, ao lado da lareira, servindo-se de mais uma dose de bebida . Firewhisky, Harry viu a garrafa. Aproximou-se dele , por trás. — Boa noite, amor — Enlaçou-o, levando uma das mãos até o rosto pontudo e virou-o de lado, até que sua boca pudesse encontrar a boca do loiro, que apesar da frieza demonstrada anteriormente, não recusou o beijo nem deixou sem retribuição as carícias que os lábios de Harry faziam nos seus. Estiveram assim durante alguns minutos, o beijo calmo e doce substituindo as palavras na reconciliação, as mãos de Harry afagando o rosto e a cintura de Draco, sentindo o gosto da bebida na boca do loiro, sugando-a voraz, apaixonado. Draco, sem interromper o beijo, virou-se de frente para Harry e o abraçou, acariciando os cabelos e a nuca do moreno, que se arrepiou ao toque dos dedos gelados do amante.

—Não se afaste de mim, Draco. Eu não saberia mais como viver sem você ... — A voz de Harry era apenas um sopro, a boca colada ao ouvido do loiro, que aproximou o corpo ainda mais do moreno, para que ele pudesse sentir o efeito causado pela sua deliciosa declaração de amor.

Harry se remexeu levemente, as mãos descendo pelas costas de Draco em direção aos seus quadris, apertando-o mais contra si, enquanto mergulhava a boca em seu pescoço. Draco estremeceu, para suspirar em seguida ao ver Harry se afastar dele.

—Venha... — Ele puxou Draco pela mão, tentando conduzi-lo na direção do quarto , mas o loiro parou, fazendo-o retroceder. Foi a vez de Harry olha-lo, sem entender.

— Vamos para o outro quarto. Eu preciso de uma noite inteira sozinho com você...— Sorriu de leve , os olhos cinzentos brilhantes, o rosto corado. Harry retribuiu o sorriso, maravilhado com o amor e a paixão que podia ler no rosto amado. Seguiu Draco quando ele o puxou, sentindo o corpo todo vibrar de ansiedade pela noite que teriam , apenas os dois, como no início.


Agradecimentos

Srta. Kinomoto - Taí o segundo capítulo, espero que tenha gostado...Me diga o que achou, ok? Beijos!

Ana - Hahahaha... Eu não posso fazer simplesmente os dois sendo felizes direto, né? Tem que sofrer só um pouquinho... XD Beijinhos!

Fabi - Se você tava ansiosa, agora sou eu quem está, para saber o que achou do segundo capítulo. Beijos!

Laura - Espero que você tenha recebido o e-mail e lido o segundo capítulo. Estou ansiosa pra saber sua opinião. Beijos!