A maternidade era um edifício quadrado, na verdade um conjunto de dois prédios, ambos baixos, pintados em cores claras, cada um deles num plano diferente do outro, e separados por jardins . Havia um grande muro que começava no último prédio, localizado na parte mais alta, e vinha descendo, circundando todo o conjunto. Olhando ao longo do muro, Harry viu a alguma distância uma espécie de guarita. Dirigiu-se para lá, parando diante do grosso vidro escuro que separava o mundo de dentro do de fora do hospital Um homenzinho sorridente apareceu . Harry se identificou e disse que procurava pela Sra. Malfoy. O homem então disse a ele que estava no edifício errado, os Malfoy certamente deveriam estar no prédio de cima, mais afastado, destinado aos privilegiados, ricos e poderosos. O jovem agradeceu e seguiu para lá.

O outro prédio era uma espécie de palacete, cheio de surpresas como fontes de água colorida, esculturas em mármore e granito em quantidade bastante para ofuscar a vista. Lá , um homem bem menos simpático do que o primeiro demorou-se consultando uma lista antes de abrir o portão para Harry entrar. O garoto seguiu pelos jardins bem cuidados, até que viu diante de si o imponente hall de entrada da maternidade dos bem-nascidos do mundo bruxo.

Meio perdido, Harry olhava de um lado a outro quando uma atendente se aproximou dele. Parecia muito rígida e engomada em seu uniforme imaculadamente branco. Seu aspecto era absolutamente asséptico, como se tivesse acabado de se desinfetar. Olhou Harry com o que pareceu ao garoto uma certa repugnância, antes de indicar o local onde Pansy Malfoy e sua família se encontravam. Com a intuição de que não seria bem recebido, Harry se encaminhou até o local indicado por ela. Assim que chegou ao corredor do último andar da maternidade, Harry estacou. Lucius Malfoy, vestido de preto dos pés à cabeça, voltou-se para cravar no recém-chegado seus olhos azuis de gelo. O contato visual durou apenas alguns segundos, de imediato cortado pelo pai de Draco. O homem virou-se de costas, e Harry pode ver Narcissa Malfoy parada, olhando-o . Vestia roupas em tecido leve e vaporoso, charmosas e femininas. Trazia soltos os cabelos loiros, levemente cacheados e bem dourados, diferentes do tom platinado de Draco e de seu pai . Mas os belos traços do rosto, a boca vermelha e bem desenhada, a elegância no caminhar e no vestir, eram idênticos aos de Draco. Harry olhou para a mulher , que não exprimiu surpresa nem desagrado ao vê-lo. Na verdade, a mãe de Draco não exprimiu nenhuma emoção. Apenas o olhou por alguns instantes, antes de passar por ele e seguir em direção à saída . O marido a seguiu, sem olhar uma segunda vez para Harry.

O jovem parou no meio do corredor, olhando para a porta por onde os Malfoy tinham saído. O encontro com o casal, especialmente com a mãe de Draco, depois de tanto tempo, o fez recordar-se da última vez em que a vira. Ela não parecera tão perfeita e segura de si, naquela ocasião.

A reunião terminara, e os que tinham participado dela agora apreciavam Molly Weasley e sua habilidade em lidar com caldeirões fumegantes, pratos e talheres. Estavam em Grimmauld Place 12, onde a Ordem da Fênix reunia-se pela primeira vez depois da queda de Voldemort, uma semana antes.

Harry tinha deixado nessa mesma manhã o St. Mungus, totalmente recuperado dos ferimentos da batalha final. Ainda se comemorava largamente a derrota do bruxo das trevas, e tudo parecia um tanto irreal para o grande herói , acostumado à ameaça constante que o bruxo representava para ele desde os onze anos. A reunião dessa manhã tratara dos avanços na conquista do território inimigo, tarefa fácil depois da morte de Voldemort. E então, para surpresa de todos, Kingsley Shacklebolt chegou à sede acompanhado de Narcissa Malfoy.

Harry já a havia visto algumas vezes, altiva e desdenhosa, uma versão feminina de Draco Malfoy. Foi com surpresa que encarou a mulher abatida e chorosa, de olhos vermelhos e inchados , que se lançou de joelhos diante deles implorando que salvassem seu filho, atualmente prisioneiro no covil do bando de seguidores de Fenrir Greyback. Torcendo desesperadamente as mãos , ela explicou que o Lorde Negro enviara Draco para o esconderijo dos lupinos como uma espécie de servo, um castigo pela incapacidade do garoto em levar até o fim a execução de Dumbledore. No entanto, durante a lua cheia, Voldemort o protegia da sanha dos lobos, retirando-o do esconderijo , mantendo-o em outro local até que fosse seguro voltar para o meio deles. Mas agora , com a morte do bruxo, Draco estava entregue ao medonho bando, indefeso. Por isso ela estava ali, diante deles, implorando que salvassem seu filho.

O estupor era geral, mas Moody se recompôs depressa. Ergueu-se da cadeira que ocupava e olhou a mulher prostrada à sua frente.

—Infelizmente, senhora, nada pode ser feito pelo seu filho. Como a senhora mesma disse, o perigo que o cerca é mortal, apesar de termos conseguido prender Greyback Seria arriscado demais , não vou enviar nenhum dos meus homens numa missão suicida com o objetivo de resgatar o responsável indireto pela morte de Dumbledore.

Suas palavras causaram impacto , não só na mulher que agora chorava copiosamente, como entre os aurores, que sabiam que o velho bruxo poderia ter sido mais suave com ela. Entre lágrimas ,ela ainda conseguiu argumentar que o filho era uma criança ainda, que fora praticamente forçado a fazer aquilo, e que se Moody o salvasse, poderia contar com a lealdade, fortuna e influência dos Malfoy . Harry começava a se sentir desconfortável assistindo à cena, que o fazia pensar na própria mãe e no desespero que ela deveria ter sentido ao enfrentar Voldemort para tentar salvar seu bebê da morte.

Voltou a prestar atenção à cena quando ouviu uma risadinha cínica.

—Sra., os Malfoy já não tem tanto assim a oferecer, não é mesmo? Um bando de traidores, cujo chefe está preso em Azkaban. Sua fortuna, assim como sua lealdade ou influência, são insuficientes para a negociação que propõe, assim como qualquer outro préstimo que a senhora acredita poder oferecer...

O tom de escárnio era tão acentuado que chocou Harry. Sem pensar direito no que fazia, caminhou até a mulher que desabara no chão depois das últimas palavras de Moody e a segurou pelos ombros.

—Levante-se, por favor. Eu vou tentar, vou até lá e farei o que puder para trazer o seu filho...

Harry viu que todos o olhavam espantados. Viu também que Moody abriu a boca para falar alguma coisa, mas no mesmo instante sentiu a mão de alguém em seu ombro e ouviu a voz calma de Lupin.

—Ótimo, Harry, iremos os dois. Traremos Draco de volta, Sra. Malfoy.

Harry não conseguia se lembrar com clareza o que tinha acontecido depois, sabia que ouvira os agradecimentos dela, que sentira suas mãos molhadas de lágrimas segurando as dele, ao mesmo tempo que ouvia as imprecações de Moody, que falava sobre insubordinação, enquanto um calmo Lupin argumentava com tanta lógica que fazia parecer que a arriscada missão seria uma brincadeira de criança.

O fato é que no final desse mesmo dia partiram para o covil .

Lupin conhecia bem a região, estivera entre os seguidores de Greyback durante meses a pedido de Dumbledore. Toda a região era protegida por feitiços anti-aparatação e Lupin ia explicando a Harry o caminho que teria que fazer na volta, depois que libertassem Draco. O resgate aconteceria exatamente na lua cheia, o que impediria Lupin de seguir com eles .

Lupin e Harry deixaram roupas quentes e suprimentos nos abrigos em que eles passariam as duas noites que fariam parte da jornada de volta.

Assim , ao final da segunda noite, puderam finalmente avistar a entrada da caverna que abrigava os remanescentes do bando do Lobo Greyback. Harry teve que admitir a si mesmo que sentia medo. Será que realmente valia a pena? Viu que Lupin o olhava de canto, o ex-professor o conhecia bem demais , certamente sabia como ele estava se sentindo, da mesma forma que adivinhara o motivo que o levara a se lançar na aventura. Fez isso por sua mãe, não foi? Harry tinha concordado com um gesto de cabeça e não tinham mais voltado a falar sobre o assunto.

Conforme o plano , Harry ocultou-se do lado de fora da caverna enquanto Lupin penetrava no esconderijo. Estava oculto por uma moita espessa, espremido entre ela e um paredão rochoso que compunha o exterior da caverna. O silêncio só era quebrado pelo monótono barulho de uma queda d'água próxima dali. Harry esperou durante horas, ignorando a dormência nos membros, a fome, a dor pela incômoda posição. Segundo o plano, Lupin deveria criar a situação que permitiria a Draco deixar a caverna, mas Harry agora temia que algo pudesse ter saído errado. A tarde avançava, e nenhum sinal de Draco. Harry já deixara o esconderijo para comer alguma coisa e ativar a circulação dos membros, já voltara a sentir o início do desconforto , mas o pior é que a tarde caía. Dentro de pouco tempo, chegaria a noite , trazendo a lua cheia e o perigo de morte. Seu coração disparava dentro do peito, não sabia o que fazer, começava a pensar em voltar para se abrigar num dos esconderijos , quando finalmente ouviu um ruído de passos . Olhou e viu Draco Malfoy, ou melhor, um garoto sujo e rasgado, magro e ossudo, ainda mais pálido do que sempre fora, caminhando vacilante em direção à moita onde ele se escondia.

Harry levantou-se, e o outro pareceu um pouco surpreso, como se não esperasse realmente encontrar alguém oculto ali com a intenção de ajuda-lo a fugir. Harry também ostentava no olhar uma expressão de surpresa ao ver que de perto o loiro parecia ainda mais arruinado. Foi um momento muito breve, o da troca de olhares. Draco resmungou alguma coisa sobre terem que sair dali depressa, e em instantes estavam fazendo finalmente o caminho em direção ao primeiro abrigo.

Era distante, e Harry estava preocupado, sem saber se teriam como alcança-lo a tempo. Depois de uma hora, quando o sol finalmente desaparecia, Harry viu o rio que teriam que atravessar a nado para alcançar o abrigo da primeira noite. Lançou-se na água, seguido por Draco, com a sensação de que estava sendo observado da margem do rio que acabara de deixar. Tentou se acalmar, e concentrou-se apenas nas braçadas vigorosas que aos poucos o aproximavam da margem oposta. Ao seu lado, Draco nadava concentrado, alheio ao frio mortal da água. Chegaram afinal ao outro lado, e quando o loiro fez menção de parar para descansar, Harry fez que não com a cabeça e seguiu quase correndo em direção à vegetação que margeava o rio. Penetraram nela, Harry na frente, correndo agora sob a luz da lua que despontara, imensa. Estavam ofegantes quando finalmente chegaram na entrada de uma pequena gruta. Entraram, e Harry parou diante de duas pedras imensas, colocadas uma sobre a outra de modo a fazer dois degraus rústicos , que levavam até uma abertura no teto de pedra. Draco olhou e compreendeu na hora que teriam que subir. Começou a escalar com dificuldade, as pedras eram altas, mas depois de algum esforço, Harry o viu içar o corpo para dentro da abertura, parando por alguns instantes, sentado na beirada, as pernas penduradas para fora do buraco. Depois, recolheu-as e colocou o rosto na abertura, olhando para a entrada enquanto Harry escalava as pedras e também alcançava a parte superior da gruta.

Harry jogou-se no chão, exausto, alheio às roupas molhadas que estavam grudadas no seu corpo, fazendo-o congelar. Estivera tenso demais durante todo o dia, precisava descansar, mas então se lembrou das pedras, e forçou-se a levantar e aproximar-se de novo da abertura, empunhando a varinha e proferindo o feitiço que as fez rolarem , cada uma para uma direção. Draco, que o observava , comentou, desdenhoso.

—Até que você não é muito burro, Potter. Lobos não carregam pedras..

Harry o olhou. —Vê se cala essa boca, Malfoy. Tem roupas e comida ali no canto, vai comer e me deixa em paz...

Tornou a se jogar de costas no chão, de olhos fechados , sentindo finalmente os músculos se relaxando. Ficou assim até que sentiu um cutucão nas costelas. Abriu os olhos e se deparou com Draco, já de roupas trocadas, por sinal enormes para ele, que emagrecera demais.

—É melhor você se trocar e comer alguma coisa. Não vai conseguir fazer isso quando os lobos estiverem lá embaixo, nos farejando aqui...

Ele foi forçado a concordar com Draco. Levantou-se, sentindo o frio percorrer seu corpo inteiro. Foi para o canto onde os suprimentos tinham sido deixados, observando no caminho que o loiro já tinha colocado a pesada pedra sobre a abertura, tampando-a. Surpreendeu-se, ele e Lupin tiveram que unir suas forças para coloca-la ali. Olhou furtivamente para Draco enquanto se trocava, e viu o garoto sentado, parecendo perdido nos próprios pensamentos. Virou-se de costas e terminou de despir as roupas molhadas, substituindo-as pelas secas e quentes. Depois, começou a comer , observando que Draco continuava na mesma posição de antes.

Já estavam deitados, cada um enrolado no seu cobertor , quando começaram a ouvir os sinais de que lá embaixo, os lobos finalmente tinham reencontrado o seu rastro, certamente perdido quando os dois atravessaram o rio a nado. Como tinham acabado de se deitar, ainda estavam despertos quando o primeiro uivo chegou até eles, fantasmagórico, ameaçador. Um arrepio percorreu Harry de alto a baixo. Pensou em Lupin, e desejou que o amigo estivesse bem em meio à matilha enlouquecida que caçava em busca de sangue.


Oi, pessoal, sei que prometi que falaria sobre a Pansy nesse capítulo, mas não posso falar sobre ela sem antes narrar como tudo começou entre o Harry e o Draco... perdoem, tenham paciência comigo, no próximo capítulo juro que a curiosidade de vocês será satisfeita...beijos...

Laura: É um garotinho, e já tem nome escolhido. Em primeira mão, só pra você... Illan D. Malfoy... Não é lindo? Continue lendo, beijos...

Fabi: Ai, desculpe, tinha prometido desvendar o mistério da Pansy nesse capítulo, mas ficou para o próximo. Juro que não passa dele, tá bom? Quanto à Gina, bem, você vai descobrir lendo a fic...hahahaha... beijos...

Sofia: Ah, pena que eu não posso dizer nada ainda sobre a Gina e os "peteleco"... Amei seu comentário, espero que não desanime e continue lendo a fic .Me diga se gostou do capítulo, Ok? Beijos, e obrigada...

Srta. Black: Hahahahaha... Compreendo que esteja um pouco confusa, a culpa é minha, ainda não expliquei a relação deles. Mas você vai saber tudo no capítulo cinco, eu juro. Beijos...

Raymond Black: Ah, Raymond... le bebé é só o começo de um nó pra lá de intrincado... leia e me diga o que achou, com sinceridade... Beijos, valeu a review...