Harry olhava pensativo para o caldeirão à sua frente. Estava em Grimmauld Place, tentando se concentrar numa poção para acalmar a pele e retirar as marcas dos dedos de Gina do seu rosto.

Seu pensamento escapava. Revia-se diante da casa onde praticamente vivera com Draco.

Mas, bem diferente da primeira vez em que estivera lá, dessa vez o loiro não havia aparecido para chama-lo para dentro. Harry subira os degraus e batera à porta, tendo sido recebido por uma jovem senhora, que informou estar morando no endereço há uma semana.

E agora, ouvia incessantemente as palavras de Gina sobre Draco e Victória Avery, que chegara de Beauxbattons no início desse ano.

Harry se lembrava bem dela, vira-a com o pai no Ministério algumas vezes. Era bela, alta, tinha longos cabelos ondulados, num tom castanho-claro, e um ar tão entediado e frio como os Malfoy. Perfeita para ele, suspirou o moreno.

Nesse exato instante, a campainha estridente da porta soou, fazendo Harry se sobressaltar. Mas então, lembrou-se de que o retrato da mãe de Sirius, que invariavelmente despertava em fúria com o som, fora finalmente contido por um feitiço redoma que, como uma concha acústica voltada para o interior do quadro, impedia o som dos berros de se propagar para fora .

Desceu, imaginando quem poderia estar batendo, enquanto sentia nascer dentro dele um fiozinho de esperança de ver Draco parado à porta. Mas antes de chegar lá, a razão já tinha lhe dito que a chance era imensamente maior de se deparar com Lupin, Rony, ou Arthur, o último certamente pronto para mata-lo com requintes de crueldade.

Abriu a porta, para ver Draco recortado contra a claridade da tarde. Sentiu o coração dar uma cambalhota, mas usando todo o autocontrole que possuía, apenas o olhou.

—Olá, Draco. —Seu tom era polido, destituído de emoção.

O loiro o encarou , pela sua expressão Harry soube que ele olhava as marcas no seu rosto. O pensamento o fez lembrar da poção, que certamente já passara do ponto de cozimento.

—Não vai me convidar a entrar?

Harry demorou alguns segundos para responder. Agora, que tinha Draco diante de si, só conseguia sentir raiva dele, as palavras de Gina ecoando em sua mente. Devorando-se escandalosamente... ele não ama você.

—Entre. —Sua voz soou mais fria do que ele desejara, mas ignorou o olhar que o loiro lhe lançou ao passar por ele.

—Vamos subir, eu estava preparando uma poção.

Subiu os degraus rapidamente, sem verificar se Draco o seguia.

Foi até a cozinha, onde o caldeirão borbulhava e exalava uma fumaça densa e escura. Olhou para o seu conteúdo, e fez uma careta. Ouviu a risadinha de Draco, que se aproximou e olhou a poção .Em seguida, o loiro sacou sua varinha e apontou-a para o caldeirão, o mesmo gesto que Harry vira Snape fazer centenas de vezes, com a diferença que a expressão de Draco era de puro divertimento.

—Se não se importar e me disser onde ficam os ingredientes, eu farei uma poção para você. Sabe que eu sempre fui bom nisso...

Harry desviou o olhar do sorriso delicioso do loiro, e ignorou a aceleração do seu coração.—Ali...—Apontou o armário, num canto da cozinha.

Draco foi até lá, e depois de escolher o que precisaria, começou a preparar as ervas , com uma precisão de movimentos impressionante. Harry não conseguia tirar os olhos daquelas mãos brancas, macias, que cortavam, separavam e mediam os ingredientes.

—Sabe, Harry, eu vim até aqui esperando uma recepção mais calorosa...

—Verdade?—Harry sorriu, sarcástico, e encarou os olhos cinzentos.—Tão calorosa quanto a de Victória Avery?

O sorriso de Draco se ampliou e iluminou seu rosto. Ele fitava Harry, e o moreno sentia sua irritação aumentar com a reação do loiro, que agora ria francamente.

—Você deve estar achando tudo muito engraçado, realmente. —Harry sentia-se um idiota completo, tinha ganas de bater no loiro, que continuava rindo.

Draco deixou o que fazia e começou a caminhar na direção do moreno, sem deixar de rir. Harry, percebendo a intenção dele de se aproximar, recuou.

—Harry, Harry, Harry...—Draco parou e suspirou, aos poucos tornando-se sério.

—O que você veio fazer aqui afinal, Malfoy? Se divertir um pouco?

—Não, Harry. Vim ver em que estado está essa casa, afinal devo passar as próximas noites aqui...

Surpreendido, Harry não conseguiu conter um sorriso. Disfarçou logo , tentando colocar um tom irônico nas palavras.

—Ah, certo... compreendi. Mas eu gostaria de saber, Malfoy, o que o faz acreditar que vou permitir que durma na minha casa...

—Na sua cama... —Corrigiu Draco, que voltou a caminhar em sua direção.

Harry, atordoado, olhou para trás. Estava quase encurralado, a poucos passos do grande armário guarda-louças, impedido de aumentar a distância entre ele e o loiro demoníaco.

Aliás, como ele soubera do fim do noivado? Mas logo Harry se lembrou que o rompimento tinha acontecido no alfaiate que fazia as roupas dos poderosos, entre eles Lucius Malfoy e seu filho.

Draco continuava a se aproximar, enquanto falava.

—Ontem você ia se casar, e eu tentava afogar o meu desespero com bebida e garotas. Vi a Granger e o Weasel lá, e preparei um show para eles. Queria que contassem para você, queria que sofresse, que sentisse dor e raiva, como eu sentia. Isso me pareceu muito justo...

Harry sentiu as costas tocando o armário, e parou. Aliás, teria parado mesmo que não houvesse armário algum às suas costas. Estava fascinado, observando Draco acabar de se aproximar.

Olharam-se em silêncio, antes que o loiro inclinasse o rosto e envolvesse seus lábios com os dele.

Entreabriu os seus, dando passagem para a língua doce, que penetrou sua boca sem o furor costumeiro, dessa vez, mas calma e suavemente.

Enquanto se entregava ao beijo mais doce que já trocara com Draco, Harry o abraçou, sentindo o calor daquele contato como uma bálsamo que ia lentamente, curando todo o desespero que sentira nos últimos dias. Sentia o coração batendo forte, e também sentia as marteladas do coração de Draco contra o seu peito

Quando finalmente se afastaram, o loiro olhou-o nos olhos.

—Eu falei sério quando disse que vou dormir aqui alguns dias... É só até conseguirmos encontrar um outro lugar para morarmos., mais adequado.

Harry sorriu largamente, tinha consciência que fitava o loiro com os olhos cintilantes.

—Achei que tinha me livrado do casamento...—Viu o loiro retribuir o sorriso.

—Estava enganado, Potter.. —Beijou-o novamente, com a mesma doçura de antes. Harry saboreou o beijo com prazer. Sentia o corpo do loiro colado ao seu, e de repente desejou matar as saudades de tê-lo todo para si. Encaixou a coxa entre as dele, fazendo-o sentir que o desejava, mas ao invés do loiro se entregar às carícias íntimas, afastou-se, surpreendendo Harry.

—Primeiro vou fazer a sua poção. Não quero nenhuma marca da Weasel em você...

Beijou-o, e Harry sentiu que ali se iniciava uma nova etapa em sua vida, diferente de tudo o que sempre tinha vivido.


Estavam vivendo juntos há oito meses. Harry não se importava que as pessoas comentassem, nem ligava quando o tratavam mal por ele viver com alguém do mesmo sexo.

Mas o afastamento de Rony doeu nele profundamente. O ruivo nunca mais quis vê-lo ou falar com ele, embora Mione tivesse feito tudo o que podia para reaproximá-los.

Ela era a única pessoa que os visitava. O loiro, que tinha passado a vida toda implicando com ela, agora a adorava.

Outro que surpreendeu Harry foi Arthur Weasley.

Quando procurou o pai de Gina para explicar os motivos do rompimento, Harry, que esperava uma reação hostil e ressentida, viu-se diante do mais compreensivo dos homens. Molly já não fez questão de disfarçar seu desapontamento, evitando francamente os ambientes onde poderia encontrar o ex-genro.

Harry podia afirmar , sem medo de errar, que vivia o tempo mais feliz de toda a sua vida.

Então, num domingo pela manhã, quando ainda se espreguiçavam nos braços um do outro, a coruja dos Malfoy entrou pela janela do quarto trazendo uma mensagem do pai de Draco. Ele o esperava para um importante almoço de negócios, onde tratariam de um assunto pendente entre eles.

Nenhum dos dois se surpreendeu. Já sabiam que a qualquer momento, Lucius cobraria de Draco a união com um de seus amigos poderosos e um herdeiro para a linhagem dos Malfoy. Esse fora o acordo firmado entre pai e filho, há tempos atrás. Draco faria o que ele pedia, mas em troca, ele não interferiria na vida do filho.

Assim, Harry se viu sozinho no domingo mais longo e entediante dos últimos tempos.

Almoçou em Hogsmeade num restaurante novo que ele e Draco tinham se habituado a freqüentar. Pensou em enviar uma coruja a Hermione, mas sabia que ela estava às voltas com os testes de conclusão do seu curso avançado de Poções. Certamente, depois disso ela seria convidada a lecionar em Hogwarts.

Harry pensou nisso com uma pontinha de dor. Sentiu saudades dos tempos em que eram inseparáveis e cúmplices, e nada havia de mal entre eles três.

Mas a verdade é que fora ele mesmo quem fizera a escolha. E não se arrependia.

No fim da tarde, quando Draco finalmente voltou, Harry já estava ficando preocupado

O loiro o beijou, sério. Harry o olhou, sem entender.

Draco se jogou na poltrona de couro reclinável que ficava diante do sofá e suspirou.

—Ele precisa estreitar laços comerciais com Avery. Parkinson não o interessa nesse momento.

Harry continuou onde estava, sem mover um músculo. Victória Avery.

Mantendo os olhos baixos, não viu quando Draco se levantou da poltrona, só percebeu o loiro ao seu lado quando esse o envolveu em seus braços.

—E então?—Harry se sentia de repente pequeno e frágil, como a criança que fora entregue indefesa aos Dursley.

—Então? Brigamos, rompemos relações, ele vai me deserdar, e você vai precisar trabalhar mais ainda para manter os meus luxos...

Harry o encarou, rindo. O loiro o olhava com os olhos cinzentos brilhantes como lumes. O coração do moreno disparou. Agarrou Draco e o beijou, com ânsia.

Naquela noite, ficaram acordados até tarde , fazendo planos.

Harry tinha uma boa soma em dinheiro, suficiente para fazerem um investimento num negócio para os dois, como uma escolinha de quadribol, por exemplo.

Falaram sobre isso durante muito tempo, e só foram dormir por que Harry tinha que trabalhar cedo na manhã seguinte.

Não iam almoçar juntos, porque Draco iria ver algumas propriedades que poderiam servir para abrigar a escola de quadribol.

Harry se sentia tão empolgado como nos tempos de Hogwarts.

O dia pareceu mais longo do que costumava ser, e quando finalmente pôde deixar o Ministério e ir para casa, fez isso correndo.

Encontrou Draco jogado no sofá, com uma cara desanimada e um copo de firewhisky na mão.

Aproximou-se e o beijou nos lábios, já sabendo de antemão que as coisas não deviam ter dado certo.

—E então, como foi seu dia?—Sentou-se ao lado do loiro, que o olhou e suspirou.

—Não é bom ser um inimigo de Lucius Malfoy. Ele fechou todas as portas da cidade para mim.

Harry balançou a cabeça. Deviam ter pensado nisso. Naturalmente o ex-comensal não facilitaria as coisas, afinal, tratava-se do único filho que tinha, e por mais que o desprezasse, como Draco acreditava, era seu único descendente. Era natural que Lucius lutasse por ele, jogando sujo como era sua característica.

Sem saber o que dizer para animar o loiro, Harry apenas o abraçou.

Estavam assim quando a coruja dos Malfoy bicou a janela da sala.

Harry se levantou para abrir, e o animal voou até Draco. O loiro soltou o pergaminho, e depois de ler, sorriu, incrédulo. Estendeu o papel para Harry, que terminou de fechar a janela depois que a coruja saiu, e sentando-se ao lado de Draco outra vez, leu:

Querido, houve uma mudança na situação. Seu pai reanalisou os fatos, e chegou à conclusão de que Parkinson é tão digno quanto Avery de se unir à nossa linhagem. Aguarde um novo contato dele, marcando a data para um almoço de oficialização do noivado. Amor. Narcissa.

Harry leu o pergaminho, e na mesma hora veio à sua mente a lembrança de Narcissa, em prantos , implorando pela vida de Draco. Claro que ela devia ter interferido a favor do filho, e conseguira que o pai mudasse de idéia. Na mesma hora que o pensamento o ocorreu, ouviu a voz de Draco.

—Ela deve conhecer alguma fraqueza dele, ou não o teria convencido a voltar atrás. Ele não recuaria, a não ser por um motivo muito forte...

Draco sorria, parecendo orgulhoso da mãe. Harry, a quem esse jogo de intrigas não agradava, estendeu a mão para o loiro.

—Vamos dormir.

A verdade é que se sentia um pouquinho desiludido. O sonho do rompimento com os Malfoy, o fim do casamento, a escolinha, tudo fora por terra.

Draco pareceu notar a mudança no estado de espírito de Harry, por que no dia seguinte, enquanto almoçavam , disse a Harry que o casamento com Pansy só seria levado à termo se ele, Harry, pudesse se sentir bem ao lado dela.

—Eu fiz minha escolha, Harry. É você quem eu quero ao meu lado, e se o casamento com Pansy ameaçar a nossa relação, então, não vou me casar.

Não se esqueça disso nunca...

Harry sentiu o coração disparar. Não tinha como duvidar, Draco o amava. E se o loiro precisava dessa união para restabelecer a paz com o pai, Harry é que não seria empecilho para isso.

Na semana seguinte, saíram para jantar, Harry, Draco e Pansy. Escolheram um restaurante reservado, na parte trouxa da cidade, onde poderiam estar à vontade para a conversa que teriam.

Já de início, Harry se surpreendeu pela aparência da moça. Estava bela, não lembrava em nada a adolescente bochechuda e sem atrativos da escola. Quando mais, tarde, depois da quebra da tensão inicial, ele comentou isso com Pansy, ela tinha rido, jogando os cabelos para o lado.

—Eu me esforçava demais para não parecer atraente. Se pudesse, teria me transformado num sapo ou numa pedra, naqueles tempos...

O sorriso dolorido que acompanhou as palavras dela fez com que Harry se sentisse enternecido. Draco, que num primeiro momento parecera tão tocado quanto os dois, fez um comentário sobre o local, com isso restaurando o clima ameno do início da noite.

Harry sentiu que se estabeleceu entre eles uma cumplicidade instantânea. Pansy era franca, divertida , e parecia mais sensual do que realmente desejava ser.

Quando terminou o jantar, Draco sugeriu que voltassem ao apartamento para um último drinque.

Todos concordaram, e quando Pansy deixou-os para ir ao toalete , Draco sussurrou no ouvido de Harry que estava louco para vê-lo com ela. Harry sentiu um arrepio leve percorrer sua espinha, e teve que se conter para não agarrar e beijar o loiro ali mesmo

O gramofone, cuja alavanca enfeitiçada não parava de rodar, tocara pela quinta vez a mesma música, um blues sensual que Draco adorava ouvir quando fazia amor com Harry.

Estavam os três, dançando juntos no meio da sala, meio "altinhos" de firewhisky, risonhos . Estavam abraçados, e trocavam beijinhos quase inocentes, Draco e Pansy, Pansy e Harry, os três juntos.

Harry sentia sua mão resvalar pela cintura marcada, e seu pulso acelerado lhe dizia que sim, ele desejava Pansy. Draco, percebendo isso, afastou-se para encher novamente os copos. Harry apertou Pansy, que se encaixou com perfeição em seu abraço.

Ele olhava o loiro se mover, e pensava que o que , aparentemente, poderia ser classificado de descaso da parte de Draco, era na verdade a maior prova de amor que seu loiro poderia lhe dar.

Se tinha que se envolver com alguém e ter um filho dessa relação, Draco queria que isso acontecesse sob o olhar de Harry. Mais do que isso, o loiro desejava que o moreno, virgem de mulher, conhecesse e usufruísse dos encantos de uma, mas também sob sua "supervisão"

Harry o viu se aproximar trazendo os copos, e sem soltar Pansy, fez com que Draco se unisse ao abraço, envolvendo-o em seus braços. Beijaram-se, numa mistura estranha de pescoços e bocas, mãos e corpos.

Harry estava louco para sentir mais, queria testar a maciez da pele feminina e perfumada de Pansy, queria sentir as coxas grossas de Draco envolvendo-o, queria mais, queria tudo.

Os outros dois pareciam tão excitados quanto ele, e Harry dessa vez, contrariando seu hábito, tomou a iniciativa e , puxando-os pela mão, conduziu-os em direção ao quarto.


Laura: Hahaha... Espero ter matado sua curiosidade. Quanto ao e mail, é um prazer para mim. Obrigada pelo carinho e pela review. Beijos...

Fabi: Eu também amo esses dois juntos, não são lindos? Obrigada pelos elogios e por ler a fic, isso me estimula a escrever... beijos, Fabi...

Manu Malfoy: Você viu só, Manu? Atrevida demais essa ruiva...Que bom que você tá gostando da fic, fico muito feliz, e é por causa de estímulos como o seu que eu não pretendo abandonar a fic de jeito nenhum... tomara que um dia você retome as suas. Mil beijos...

Raymond Black: Hahaha... já deu pra sentir que você é "fã" do Harry... Mas embora eu goste do herói, tenho que admitir que concordo com você, ele é mesmo lento e inseguro, e com certeza aceitaria de bom grado uma "forcinha" do Ron e da Mione...Continue lendo... beijos...

Tatiana: Hahaha... Não só merece como levou... Obrigada pela sua review, continue lendo a fic... Beijos...