Harry se olhou no espelho.
Usava camisa, jaqueta e calças novas, presente de Draco. O loiro, que adorava se vestir bem, vinha aos poucos lotando o guarda roupa de Harry de uma forma que parecia ao moreno exagerada. Afinal, jeans e camiseta era o que ele realmente gostava de usar. Mas tinha que admitir que era bom ter peças variadas à mão, para todas as ocasiões. Como o smoking.
Harry abriu a outra porta do armário e o viu lá, protegido da poeira e da luz pela grande capa opaca.
Ele o tinha comprado para um jantar formal, oferecido após a solenidade de posse dos novos assessores e diretores de departamento do Ministério. Draco, que o ajudara a escolher a roupa, ficara maluco ao vê-lo dentro do traje a rigor. Harry acabara chegando atrasado à solenidade, contrariando Moody mais uma vez, por que não conseguira escapar ao "ataque" do loiro, depois de vê-lo pronto. Suspirou, fechando a porta do armário e a mente às lembranças.
Sentia falta de Draco, sentia falta de Pansy. Afastou o pensamento, e rumou para Hogsmeade. Ao chegar lá, deu-se conta que estava indo pela primeira vez em muito tempo, ao encontro de pessoas que magoara, de quem se afastara. Sabia que encontraria todos os Weasley, e que reveria ex-colegas e professores de Hogwarts, entre outros.
De repente sentiu-se inseguro. E se não o recebessem bem? Apesar de Gina estar trabalhando com ele agora, isso não mudava o fato de que ele a trocara por Draco, quase às vésperas do casamento. Diante da construção feéricamente iluminada, ele não sentia a menor vontade de entrar. Mas a lembrança de sua casa vazia, da cama grande e fria que o esperava para mais uma noite solitária o fez decidir-se por ficar.
Então, viu quatro pessoas se aproximando dele, risonhas. Lupin e Tonks, Neville e a namorada cumprimentaram-no efusivamente, e Harry decidiu que tentaria entrar no clima dos amigos. Afinal, o que poderia acontecer de tão grave assim? Quem não quisesse falar com ele, que não se aproximasse. Acompanhado dos quatro e de mais um bando de pessoas que chegava, barulhento, entrou.
Logo na entrada, viu Rosmerta e Rony, que posicionados lado a lado davam as boas-vindas a quem chegava. Nesse instante Harry compreendeu que o que mais temia, realmente, era o reencontro com o ex-melhor amigo. Resolveu enfrentar logo o que quer que estivesse por vir, e se posicionou entre os que seriam recepcionados pelo ruivo.
Quando Rony o viu, não pode conter uma expressão de surpresa. Seu largo sorriso foi desaparecendo aos poucos, e ele ficou olhando Harry , em silêncio, sem estender a mão. Harry o encarou, firme.
—Boa noite, Rony. Eu queria dizer que fiquei feliz por você, e espero que seu novo negócio seja um sucesso.
Estendeu a mão para o cumprimento de Rony, que pareceu despertar de um transe, estendendo a mão e apertando a de Harry, um tanto friamente.
—Obrigado, Harry. Entre e fique à vontade. Espero que se divirta.
O ruivo desfez logo o aperto de mão e olhou por trás de Harry, provavelmente para ver se havia alguém mais com ele. Harry balançou a cabeça e seguiu em frente. Então ouviu Rony chamando-o. Voltou-se.
—Mione está lá dentro. Ela vai gostar de te ver aqui.
Um sorriso leve acompanhou as palavras do ruivo, e Harry sorriu largamente em resposta.
Era um sinal tímido, mas ainda assim um sinal de que as coisas um dia poderiam voltar a ser como antes entre eles. Depois de cumprimentar Rosmerta, Harry entrou na casa, sentindo que, afinal, aquela poderia ser uma ótima noite.
A casa de shows era como a maioria das que Harry já vira, nas suas saídas com Draco e Pansy pelo mundo trouxa. Claro que a magia era o diferencial, principalmente na decoração e iluminação.
Estava cheia, mas ainda haviam algumas mesas desocupadas. Lupin escolheu uma e sentaram-se, os cinco. Uma banda barulhenta tocava, mas o show mais esperado da noite era o das Esquisitonas. Na mesa, conversaram um pouco, trocando impressões sobre o lugar, e depois de alguns minutos Harry anunciou que daria uma volta para tentar encontrar Mione.
Deixou-os e se embrenhou por entre a multidão que dançava e bebia, rindo despreocupadamente.
Não foi fácil, mas Harry finalmente a viu, dando instruções aos garçons que se preparavam para sair por entre os clientes, levando as bandejas com os quitutes que nessa noite seriam oferecidos pela casa.
Mione pareceu deslumbrada ao vê-lo, e Harry constatou mais uma vez a importância da amiga em sua vida, pelo bem-estar que sentiu ao receber seu abraço carinhoso.
Ela levou-o para cima, onde o barulho era menor. Foram se sentar numa das mesas colocadas no terraço, quase vazio, para poderem conversar.
Mione o conhecia bem demais, e embora Harry agora estivesse se sentindo ótimo, ela percebeu que havia algo errado com ele. Não demorou para que ele estivesse abrindo o coração para a amiga, apesar de sua determinação anterior em não sufoca-la com os seus problemas, ela que já tinha tantos.
Mas o fato é que ele precisava desabafar, e depois de falar com ela, sentiu-se leve. Olhou a amiga, esperando que ela, como sempre, desse sua opinião sobre os últimos acontecimentos de sua vida, especialmente sobre Draco.
—Bem, Harry... isso é difícil, realmente, mas pelo que você contou, acho que Draco pode estar deslumbrado com a possibilidade de agradar ao pai, fazer com que Lucius sinta orgulho dele. Você sabe, ele tentou isso a vida inteira, não é mesmo?
Ela acariciava docemente a mão de Harry por cima da mesa, e ele sentiu uma onda de carinho ao lembrar-se dos tempos de escola, dos jogos de quadribol onde Draco jamais conseguira vencê-lo, assim como não conseguia se destacar nos estudos, ofuscado pelo brilho de Hermione, sempre desapontando o pai arrogante, que esperava que ele fosse perfeito em tudo.
—Seja paciente com ele, Harry. Vocês investiram demais um no outro para deixar a relação se abalar agora, por causa de Lucius...
Harry pegou a mão dela e a levou aos lábios, beijando-a ternamente. Hermione sorriu.
—Agora, me conte exatamente o que Rony disse. Quero saber como ele olhou para você, qual foi o tom que ele usou, quero saber tudo...
Ela se debruçou sobre a mesa, com os olhos brilhantes cravados em Harry, que riu gostosamente, antes de contar com detalhes o que Rony tinha dito. Mione tinha esperança de voltar a aproxima-los, e Harry também desejava muito que isso acontecesse. Conversaram ainda por um bom tempo, embora ela se recusasse a falar sobre os próprios problemas.
—Hoje é uma noite especial, não vamos estragá-la com tristezas, Harry. Venha, vamos voltar lá para baixo, você está precisando se divertir, e eu tenho que ver o que está acontecendo naquela cozinha...
Riram, e voltaram para baixo. Hermione foi inspecionar os garçons e Harry foi para a mesa de Lupin.
A noite foi quase perfeita, excetuando-se o fato de Molly Weasley ter dito a Harry que esperava que, se ele pretendesse voltar lá depois daquela noite, não levasse aquele rapaz com ele. Apesar disso, Harry conseguiu colocar de lado suas preocupações relacionadas a Draco. Mione estava certa, era compreensível que o loiro estivesse empolgado com a proximidade do pai, com a aprovação dele.
Gina também estava lá, naturalmente. Ela e Colin passaram a noite toda juntos, conversando, dançando, se beijando. Num dado momento, a caminho do banheiro, Harry os viu num canto, num amasso que teria feito Rony perder a cabeça. O ruivo passara a noite circulando pela salão, conferindo tudo. Não tinha voltado a se aproximar de Harry, mas esse sabia que a distância entre eles teria que ser quebrada passo a passo, sem atropelos. Por volta de duas da manhã, Tonks disse a Lupin que estava cansada. Harry aproveitou para ir embora junto com o casal, e depois de se despedir de Mione , Neville e a namorada, foi para casa. Livre da tensão que o oprimia, conseguiu dormir depressa, e bem.
Acordou tarde na manhã seguinte, sufocado por alguma coisa inexplicável. Abriu os olhos e viu Draco, debruçado sobre ele, beijando-o. Harry abraçou-o e o fez deslizar para a cama, sem interromper o beijo.
Passaram juntos um dia perfeito. À noite, quando Draco teve que voltar para a mansão, não havia mais nenhum resquício de dúvida ou insegurança entre eles. Aproveitaram o dia para esclarecer o que precisava ser esclarecido, reafirmar seu amor, seus planos de vida. Harry sentia a alma e o coração leves, embora ainda estivesse com vontade de ver Pansy.
Mas teve a oportunidade de vê-la logo no dia seguinte. No sábado, despertara com Draco. No domingo, foi Pansy quem o acordou com um beijo. Harry repetiu o gesto que tinha feito com o loiro e a puxou também, cobrindo-a de beijos. Draco se juntou a eles mais tarde, e puderam matar as saudades de ficar juntos. Pansy não estava amamentando o filho, Lucius achava isso tolice, e se ele pensava assim, Narcissa também pensava. Alegavam que assim Pansy estaria mais bem disposta para atender às outras necessidades da criança. O leite de cabra ou vaca era tão bom ou melhor que o humano, segundo ele, e evitaria que o bebê ficasse excessivamente dependente da mãe. Harry se revoltou ao ouvir isso, mas Draco apenas desviou o olhar.
—O lado bom disso é que você vai poder passar o dia aqui..—Harry beijou-a de leve, e Pansy sorriu, concordando.
—Bem, é o meu dia de folga, segundo minha sogra. Ela me sugeriu uma visita ao meu pai, mas eu sou uma filha meio desnaturada...
Entre risos e carícias, passaram toda a manhã na cama. Almoçaram, mas voltaram logo para casa, para aproveitarem melhor o tempo juntos.
Quando eles se foram, já no fim do dia, Harry estava tranqüilo e confiante. Em breve , Pansy poderia engravidar outra vez, e então, teria Draco de volta ao seu lado. Dormiu bem, e acordou bem disposto na manhã seguinte.
Algumas semanas depois, Pansy foi liberada pelos médicos para tentar a segunda gravidez. Harry contava as horas, nunca tinha imaginado que sentiria tanto a falta do loiro dormindo ao seu lado. Embora se vissem regularmente, quase todos os dias, ansiava pelo momento em que Draco não precisasse mais ir embora.
E então, numa noite, ao voltar do trabalho, Harry encontrou Draco esperando-o , empolgado. Ele estava usando a camisa branca que Harry mais gostava, e o moreno, antes de deixa-lo falar, beijou-o muitas vezes, longamente. Adorava sentir a pele do loiro por debaixo daquela camisa, isso sempre o deixava louco. Mas para sua decepção, Draco tinha que ir embora depressa, e estava ansioso para conversar.
Suspirando, Harry deixou-se guiar até o sofá, onde se sentaram. Draco contou-lhe então que o pai havia oferecido a ele a oportunidade de dirigir uma fábrica de carros voadores, projeto caríssimo, que para acontecer necessitaria de um investimento vultoso. Lucius bancaria, e Draco seria o responsável pela execução. O loiro terminou e olhou para Harry, cheio de expectativa. O moreno olhava para o chão, em silêncio.
—E então, Harry...você não diz nada?
Harry o encarou.
—Nós não tínhamos o projeto de fundar a escola de quadribol?
—Quadribol, Harry? Eu estou falando sobre algo muito maior, eu falo sobre carros voadores em larga escala, em uma fábrica que será a primeira do mundo bruxo, eu falo sobre exportação e lucro, muito lucro. Perto disso, uma escola de quadribol não é nada...
—Eu entendo, Draco. Mas um negócio desse porte... bem, eu conheço seu pai, ele com certeza vai querer algo em troca.
Draco o olhou, sério.
—Harry, escute. Sei que você já teve muitos problemas com meu pai, eu mesmo já tive vários, mas isso não significa que ele não tenha mudado. Eu fiz o que ele queria, ele está louco pelo neto. E vou dar outro a ele...
Harry balançou a cabeça, em silêncio.
—Harry, acredite em mim, ele está agindo diferente. Depois que o bebê nasceu, ele mudou. Quer me dar uma oportunidade, está confiando no meu talento, na minha capacidade, e isso é muito importante para mim...
Harry lembrou-se das palavras de Mione. Paciência, era só o que precisava ter , afinal, Draco estava realmente deslumbrado com o pai, ao ponto de defendê-lo ardorosamente.
—E como vai ser isso, quando começa, realmente?—Harry olhou para o loiro, que voltou a sorrir, cheio de entusiasmo.
—Vamos começar a colocar as coisas em prática assim que tivermos falado com as pessoas certas, você sabe, não existe mão de obra especializada nisso, não de qualidade...
Harry não sabia, conhecia apenas os carros trouxas, ouvira falar na moto voadora de Sirius e sabia que na floresta proibida o carro que roubara com Rony, enfeitiçado, tinha adquirido vida própria, e rodaria por lá até que se tornasse um monte de ferrugem. Suspirou.
—Certo. E onde vão encontrar essas pessoas?
—Não sei. Vamos ter que viajar, sair conversando com todos os fabricantes que há no mundo. Há vários por aí que fazem adaptações dos carros e motos trouxas, todos fora da Inglaterra. Mas a nossa será a primeira fábrica do mundo, já imaginou isso?
Harry se levantou e foi até o bar. Serviu-se de uma dose de firewhisky e ofereceu uma a Draco, que recusou. Voltou para o sofá.
—Isso significa que você vai sair pelo mundo viajando com seu pai, e que pode levar meses nisso, quando os nossos planos eram bem diferentes.
Draco estava sério. Encarou Harry.
—É muito dinheiro, Harry. É poder, reconhecimento. Nossos planos se resumem numa coisa: ficarmos juntos. Poderemos ficar juntos e seguir com o projeto da fábrica. Por que não?
—Isso depois de alguns meses, quando você conseguisse contratar o pessoal necessário para o negócio.
—Não, você pode viajar comigo agora. Deixe esse seu empreguinho e me acompanhe, Harry...
Olhava o moreno com os olhos brilhantes e um sorriso nos lábios.
—Eu, você e Lucius viajando pelo mundo, isso depois que eu deixar o meu empreguinho...
Draco respirou profundamente.
—Então espere, Harry. É só um tempo, só algumas viagens, isso não é o fim do mundo...
—Não, as viagens não são o fim do mundo. O fim do mundo é você se deixar subornar pelo seu pai, que na verdade só quer que a gente se separe...
Draco ficou de pé e encarou Harry.
—Está me ofendendo, Harry. Não estou aceitando suborno, é uma proposta irrecusável por que significa algo muito além do que você poderia imaginar. Eu vou ser grande, Harry, maior do que Lucius. Entende isso?
—Não! Eu não entendo essa sua ambição, essa fome por dinheiro e poder. Quer ficar bem com seu pai? Tudo bem, eu entendo isso. Vocês estão bem agora, então, pra que mais? Por que uma fábrica tão grande, que vai exigir que nós dois nos distanciemos um do outro? Acorde, Draco. Acho que é hora de você escolher o que quer realmente...
—Está me pedindo para escolher entre você e a melhor oportunidade da minha vida, Harry? Você, que sempre foi alguém, que sempre teve reconhecimento, respeito e bajulação, quer que eu me prive do melhor negócio do mundo por causa da sua implicância com o meu pai?
Harry começou a rir, sarcástico, mas vendo que Draco se preparava para ir embora, segurou-o.
—Espere, espere... não se trata disso, não vamos brigar. Eu só preciso pensar um pouco, eu não estava preparado para essa alteração brusca dos planos...
Draco suspirou, e soltou o braço que Harry segurava.
—Tudo bem, não vamos brigar. Se você precisa de tempo para pensar, pense. Eu vou precisar fazer uma viagem de uns quatro dias, quando voltar procuro você e conversaremos, está bem?
—Está...— A voz de Harry saiu num fio. Draco já ia viajar, ou seja, já tinha tomado a decisão, estava ali apenas para comunicar isso a ele. Suspirou.—Tem mesmo que ir embora depressa?
—Eu preciso ir. —Draco desviou o olhar. —Hoje à noite algumas pessoas vão se reunir lá em casa, precisamos acertar alguns detalhes...
Lá em casa. A mansão Malfoy voltara a ser a casa de Draco. Harry fez um esforço e conseguiu sorrir.
—Espero você voltar, então...
Draco se aproximou e o beijou , um beijo breve e leve, um toque de lábios apenas.
Depois, aparatou, deixando Harry entregue aos seus demônios.
Harry passou o dia calado. Só falava se perguntavam algo, e mesmo assim, em poucas palavras. Perceberam que ele não estava bem e o deixaram em paz.
O dia custou a passar, mas finalmente anoiteceu. Harry só queria um bom banho e cama, estava se sentindo péssimo. Estava saindo do banho quando Pansy surgiu de repente, no meio da sala. Ele a olhou, surpreso. Ela olhou em volta e se aproximou, sorrindo. Beijou-o. Ele retribuiu ao beijo, porém sem muito entusiasmo.
—Você comeu alguma coisa?
—Não, estou sem fome.— Encarou-a.—Draco viajou?
—Sim, hoje bem cedo. Ele e o pai.—Ela deu dois passos na direção dele.—Vamos, não faça essa cara. Venha até aqui e me beije, estou morrendo de saudades...
Embora não estivesse muito animado, ele a abraçou e beijou. Ela retribuiu com ardor, acariciando suas costas, colando o corpo ao dele. Aos poucos, o desejo o dominou, então, puxou-a pela mão em direção ao quarto.
Amaram-se até bem tarde. Então, ela disse que precisava ir, mas avisou que voltaria na noite seguinte, trazendo um vinho. Ele se animou e disse que prepararia um fondue de queijo para acompanhar. A garota sorriu.
—Vou cuidar muito bem de você enquanto Draco estiver fora...
No dia seguinte ele estava um pouco melhor, embora ainda não tivesse voltado a ser o Harry de sempre. Quando deixou o trabalho, passou num mercado para comprar os ingredientes que iria precisar, e depois seguiu para casa.
Encontrou Pansy lá, vestindo o quimono vermelho que ele adorava vê-la usar. Tinha os cabelos molhados, outra coisa que ele gostava. Animado, ele se aproximou e a beijou, enquanto deixava a mão percorrer a linha da cintura dela. Ela o segurou.
—Não, eu ainda não voltei à minha forma..
Ele ignorou o protesto e voltou a acariciar-lhe a cintura.—Deixe de tolice, você está linda..
Ela riu, e caíram no sofá. Só bem mais tarde foram preparar o fondue.
Quando ela se despediu, avisou-o de que voltaria novamente, no dia seguinte. Ele a olhou, surpreso.
—Ora...
—O que foi? Você não quer?
—Não, claro que não é isso. É que você nunca fez isso antes...
—Estou fazendo agora. E só não venho amanhã se você não quiser...
Ele a apertou contra si e a beijou. —Se dependesse da minha vontade, você passaria essa noite aqui, e todo o dia de amanhã...
Os encontros com Pansy aos poucos foram fazendo com que se sentisse melhor. Ele não comentou com ela sobre a discussão que tivera com Draco, em primeiro lugar por que imaginou que ela já soubesse. Depois, se ela estava ali, era com o intuito de anima-lo, fazê-lo sentir-se melhor. Ficar remoendo o assunto não ajudaria. Mas realmente estava gostando de tê-la em casa noite após noite, isso diminuía um pouco o vazio que se instalara dentro dele desde a discussão com Draco.
Encontrou-a na cama, esperando por ele com champanhe num balde e flores espalhadas pelo quarto. Um enorme cacho de uvas estava colocado na mesinha , ao lado da bebida. Harry se aproximou dela sorrindo, e a beijou.
—Você caprichou hoje...
—Quis que a noite de hoje fosse especial, amanhã não vou poder vir.
Ele a beijou de novo.
—Vou só tomar um banho, e já venho...
Deixou-a aninhada entre os lençóis e foi para o banheiro.
O dia seguinte encontrou Harry finalmente bem disposto. Pansy era maravilhosa, tinha o dom de fazer com que ele se sentisse bem. Neville, que o olhava de sua mesa, brincou.
—Você parece bem animado hoje, Harry... —Deu uma piscadela para Harry, que riu. Neville era o único ali que brincava com ele com mais liberdade, os demais evitavam a qualquer custo que as conversas seguissem o rumo da sua vida pessoal.
—Tive uma boa noite, Neville...
Moody entrou na sala, fazendo com que as conversas e brincadeiras morressem no mesmo instante. Enquanto trabalhava, Harry se perguntava onde Draco estaria. Sentia saudades, queria que ele voltasse logo, queria beija-lo, desfazer o clima ruim entre eles. Por mais que ainda acreditasse que Lucius estava tentando comprar Draco, Harry estava disposto a não brigar mais com o loiro. Que ele fosse viajar, que fizesse o que precisasse para o seu negócio, Harry só não queria brigar mais. Esperaria, com paciência, como Hermione aconselhara. O importante realmente era o que sentiam um pelo outro, e isso, ninguém conseguiria arrancar deles.
Draco não apareceu na noite seguinte, nem na próxima. Harry esperava , tentando evitar pensamentos ruins. Mesmo quando não teve notícias dele na terceira noite, não deixou seu humor declinar. Algum contratempo devia estar retendo-o lá, independente de onde fosse esse lá. Harry resolveu simplificar as coisas para evitar sofrimento. Então, recebeu no quarto dia uma coruja de Draco, avisando que chegara nessa madrugada, e que iria viajar outra vez, mas que não demoraria. Assim que voltasse, iria vê-lo.
Impossível conter a frustração. Estava louco de saudades, sonhava a noite toda que estava com o loiro, pensava nele o dia todo. Seu bom humor, mantido a custo de muita determinação, foi de repente por água abaixo. O dia tornou-se longo e chatíssimo. Viu Gina entrar correndo, tinha ido fazer algumas compras na hora do almoço e se atrasara. Ela entrou, preocupada.
—Moody esteve aqui?
—Sim.—Harry a tranqüilizou.—Mas não percebeu que você se atrasou. E mesmo que percebesse, acho que não se importaria. Ele anda encantado com o seu desempenho.
A garota riu, balançando os cabelos, e Harry achou que ela parecia mais bonita a cada dia. Certamente, era Colin o responsável por isso. Distraiu-se, observando-a guardar as sacolas de compras, enquanto tagarelava sobre a bolsa que tinha comprado para sair com Creevey, mas então tinha visto um sapato que combinava melhor com ela e teve que compra-lo, só que percebeu que ia precisar de uma blusa que combinasse com a bolsa e o sapato, por isso se atrasara. Harry riu daquela confusão toda, e acabou esquecendo um pouco as suas dores.
Estava quase na hora de ir para casa. Gina, que tinha ido se aprontar no vestiário feminino, voltou perguntando se Colin aparecera. Harry disse que não, registrando o perfume delicioso que ela usava. O cheiro invadia suas narinas de uma forma tão agradável que ele desejou senti-lo por mais tempo. Por onde Gina passava, deixava o rastro do perfume, embora ele fosse absolutamente suave. Harry ia perguntar a ela o nome do perfume quando uma coruja veio entrando pela janela até parar diante da moça. Gina retirou a mensagem e leu. De imediato, sua fisionomia se alterou. Olhou para Harry, a decepção estampada no rosto.
—Ele não vem...me produzi toda para nada...
Harry fez um ar clássico de sinto muito, mas ao mesmo tempo pensou que Colin não sabia o que estava perdendo, aquele perfume era mesmo enlouquecedor, dava vontade de se manter perto.
—Ora, não fique chateada. Se quiser, poderemos tomar um drinque, só para que você não tenha que ir para casa tão cedo, depois dessa produção toda...
Quando percebeu, já tinha falado. Sentiu que não deveria ter falado aquilo, mas certamente ela recusaria, e então tudo estaria bem.
—Ah, que bom, Harry. Eu iria me sentir frustrada se tivesse que voltar para casa sem ao menos sentir a brisa da noite batendo no meu rosto. Podemos ir agora mesmo.
E se pôs de pé, olhando para ele. O perfume invadiu novamente as narinas do moreno, que saiu com ela, fechando a porta atrás de si.
—Que perfume é esse?
Gina riu, enquanto caminhava pelos corredores vazios de braço dado com Harry.
—É uma mistura especial que mandei preparar, eu pretendia fazer uma surpresa para Colin. Você gostou?
O moreno disse que sim, e conversando animados deixaram o prédio , sob o olhar de estranhamento dos que passaram por eles no caminho.
Estavam sentados num bar trouxa, por precaução. Já tinham tomado algumas doses do vinho aquecido com especiarias que serviam ali, e estavam soltos e felizes. Riam agora da cara que algumas pessoas fariam ao vê-los juntos, bebendo como amigos.
Isso nem era tão engraçado assim, mas provocava gargalhadas nos dois. Efeito do vinho. Gina saiu um instante para ir ao toalete e quando voltou disse a Harry que era melhor que fossem embora.
—Você retocou seu perfume...—Ele sorriu, olhando para ela, que devolveu o sorriso e fez que sim, com a cabeça.
Harry estava inebriado pelo cheiro, pediu a conta a contragosto, se pudesse ficaria ali por horas sentindo aquele perfume. Quando iam deixar o bar, Gina pediu mais duas doses do vinho, para um último brinde. Harry deixou-a para ir ao banheiro, e quando voltou, ela o esperava, as duas taças à sua frente.
Beberam e finalmente deixaram o bar, de braços dados. E de repente, Harry teve consciência de que ela ondulava os quadris de uma forma encantadora ao caminhar, que a pele perfumada lhe causava arrepios em contato com sua pele, e mais, ele podia sentir a rijeza do seio dela contra o seu braço.
—Você vai me levar em casa?
—Claro. Mas pensei que você poderia querer conhecer a minha, você nunca esteve lá. Não fica longe daqui.
Ela o encarou, e Harry enxergou o brilho de estrelas nos olhos castanhos. A boca carnuda era um convite tentador. Desviou o rosto, não queria assusta-la. Ouviu quando ela concordou em ir até sua casa e sentiu uma alegria irracional.
—Venha comigo, vamos aparatar.
Surgiram bem no meio da sala . Ela olhou em volta com um sorriso nos lábios, e quando voltou-se para fazer um comentário agradável, do tipo que se faz ao se conhecer a casa de alguém, ele a puxou e tomou aquela boca carnuda e tentadora na sua. Ele não saberia dizer o que estava fazendo, só sabia que não podia parar. E ela retribuiu ao beijo, às carícias que se intensificavam, ao roçar de corpos. Foram para o quarto, arrancando roupas e sapatos pelo caminho, ansiosos demais para conseguir esperar.
Vê-la nua em seus braços foi demais para a intensidade do seu desejo. Não conseguiu se deter em preliminares por muito tempo, logo já a estava possuindo alucinadamente. Gina, que parecia estar tão louca quanto ele, gemia, virando a cabeça para um lado e outro. Foi só quando tudo explodiu em luzes diante de seus olhos que a lucidez voltou à mente de Harry. Tinha feito amor com Gina.
Estava extenuado demais para mover um músculo sequer, caso contrário, teria se erguido da cama nesse momento. Então, ouviu o estalido característico de alguém aparatando e forçou-se a abrir os olhos. Quando intuiu o que aconteceria, era tarde. Draco estava parado na porta do quarto, olhando para os dois, nus e cobertos de suor.
Reunindo suas forças, Harry pulou da cama, indo na direção do loiro.
—Draco, não...
—Cale a boca, Potter. Você é um lixo, merece mesmo seu emprego medíocre e essa aí ao seu lado...—Draco estava lívido. Olhou bem nos olhos de Harry antes de virar as costas e deixar o quarto.
Harry ainda tentou retê-lo, mas o loiro se desvencilhou dele com um safanão e aparatou.
Como um sonâmbulo, Harry caminhou de volta até o quarto. Gina vestia-se, as mãos trêmulas dificultando a tarefa. Quando terminou, encarou o moreno.
—Perdão, Harry...
Ele a olhou, o semblante demonstrando toda a sua confusão e dor.
—Você não teve culpa.
Ela sufocou um soluço e saiu do quarto.
—Espere, Gina. Eu levo você.
—Não... fique aqui, ele pode voltar para conversar.—As lágrimas desciam pelo rosto dela.—Me perdoe, Harry.
Foi embora em seguida, deixando Harry , atordoado, sentado na beirada da cama.
Bem, pessoal, depois desse, vai ser o final da fic. Espero que tenham gostado, mas se não, não se acanhem em mandar sua opinião assim mesmo. Os elogios que eu venho recebendo são maravilhosos , me deixam super feliz, e louca para fazer um final que agrade a vocês. Vou tentar fazer o meu melhor...
Beijos a todos...
Fabi: Que bom que gostou, Fabi. Você tem sido uma presença constante aqui, e eu adoro isso. Falta só um pouquinho agora, espero que você continue lendo. Obrigada pelo carinho de sempre...
Beijos...
Laura: Hahahaha... esse Lucius tá merecendo mesmo é muita porrada, né?
Quanto aos dois, eu ainda não sei o que vai acontecer, como dizia Jorge Amado, personagem tem vida própria, e às vezes a gente quer uma coisa e eles querem outra...
Enfim...
Obrigada pelo carinho e força de sempre...
Beijos...
Mewis Slytherin: Também quero que os dois fiquem juntos e bem, com certeza...
Espero que tenha gostado desse capítulo, depois dele vai ser o final da fic.
Obrigada de coração pelo apoio de sempre...
Beijos.
