Oi, pessoal!
Finalmente, o último capítulo da fic.
Peço desculpas pela demora, tive alguns probleminhas...
Espero que vocês gostem.
Beijos...
Eu era muito pequena quando comecei a ver Draco Malfoy como um sol, e isso para mim era muito natural, assim como era natural que eu fosse um satélite à sua volta, apenas um entre muitos outros satélites. Desde garotinha me acostumei a sonhar que um dia me casaria com ele e iria morar naquela bela mansão.
Então, meu pai começou a se aproximar de mim de uma forma estranha, e mesmo sendo ainda muito criança, eu sentia que aquilo não era comum. Em minha inocência, cheguei a perguntar a algumas garotas se os pais delas faziam aquilo, e todas disseram que não. Contei a ele, que ficou furioso e me castigou severamente.
Então, compreendi que aquilo era um segredo, que eu deveria guardar só para mim, suportando tudo em silêncio. Mas chegou o tempo de ir para a escola, e lá, tudo pareceu diferente. Havia Draco, havia o mundo, e meu pai não estava presente. Como eu fui feliz naqueles primeiros tempos de Hogwarts!
Eu alimentava a esperança de fazer meu sol se apaixonar por mim, e o seguia como uma sombra onde quer que ele fosse.
Mas embora eu fosse uma garotinha inexperiente, logo percebi que ele não me amaria jamais. Então, comecei a reforçar a amizade entre nós, e abri para ele o meu segredo com meu pai. Ele foi solidário e gentil, e em troca do meu segredo, confessou o seu. Era um garoto idiota, que tinha nascido incapaz de honrar o nome nobre que carregava. Cresceu vendo o pai manifestar seu desapontamento por ter um filho tão indigno dele.
Eu sofri com o sofrimento dele, e ele sentiu por mim a cada volta de férias. Mas nos apoiávamos um no outro e nossa máscara de indiferença e frieza mantinha a piedade do mundo afastada de nós. E havia Potter, o inimigo por quem ele tinha obsessão. Eu nunca compreendi por que Draco se importava tanto com ele, quando reinava absoluto na Sonserina, e recebia dezenas de bilhetinhos apaixonados de garotas de todas as casas.
Eu sentia ciúmes, e Draco ria. Brincava, dizendo que só se casaria comigo.
O tempo passava, eu ganhava corpo, e por mais desengonçada e deselegante que eu pudesse parecer, meu pai não desistia de me tocar, cada vez mais ousadamente. Quando , nas férias do quinto ano, ele me despiu por completo e começou a se masturbar alucinadamente diante de mim, compreendi que o próximo passo seria a consumação do ato.
Então, na volta às aulas, pedi a Draco para fazer antes dele, e assim aconteceu. Foi perfeito, eu nunca tinha imaginado que sexo poderia ser algo tão bom. Em seguida, Draco me perguntou se , caso um dia eu fosse sua mulher, permitiria que ele levasse a vida como bem entendesse, sem ter que fazer coisas que não gostava, ou tendo que abrir mão do que gostava para me agradar. Eu respondi que lhe daria a liberdade que ele quisesse, sem cobranças. Então, firmamos o acordo. Eu sabia que ele tinha se tornado um comensal sob chantagem, seu pai estava preso e seu mundo estava de pernas para o ar.
E de repente, ele passou a se esquivar de mim, passando a agir como um lunático, desinteressado de tudo, o tempo todo sumido com Crabbe e Goyle.
Quando todos os acontecimentos do sexto ano se desenrolaram, eu ainda tinha esperanças de ser a mulher dele, conforme o combinado.
Mas depois, quando Potter venceu o Lorde e Draco já estava desaparecido há bastante tempo, compreendi que teria que buscar um outro caminho para me livrar do meu destino. Ao invés de mulher de Draco, eu me tornei a mulher de meu pai. Não tinha nenhuma esperança que o velho Parkinson buscasse uma união com um de seus amigos para mim.
Admito que pensei em enfeitiçar meu pai, não um feitiço mortal, mas algo que o tornasse incapaz , um vegetal, por que assim eu poderia assumir o controle da minha vida.
Então, Draco ressurgiu de repente, resgatado por Potter, e Lucius foi libertado da prisão. Meu pai escapou por um triz , na verdade ele nem imagina, mas deve sua lucidez e sanidade mental a Harry Potter.
As notícias sobre o envolvimento de Draco e Harry logo chegaram a mim, e eu confesso que me senti abalada. Mas então ele me procurou, e o acordo que me propôs pareceu perfeito. Para quem levava uma vida sem esperança como a minha, era como passar a viver um conto de fadas.
E Harry, ah, Harry... Como eu poderia imaginar que o protegido de Dumbledore, o amadinho dos bruxos do bem, insuportável, fosse na verdade maravilhoso, envolvente, gostoso?
Me sentia uma rainha entre eles, sendo amada pelos dois, vendo-os se entregando ao seu amor, e isso preenchia todas as minhas fantasias românticas. Eu sabia que não seria para sempre, mas não me importava. Afinal, eu era a Sra. Draco Malfoy, mãe dos filhos dele, poderia viver na mansão, e ainda receberia dinheiro bastante para viver independente para o resto da minha vida, caso eu desejasse deixar a casa de Lucius. Perfeito, para quem há pouco tempo tinha que fazer sexo todas as noites com o próprio pai.
Quando nasceu o meu primeiro filho e eu fui viver com os Malfoy, senti muito a falta do meu herói gostoso. Mas essa lacuna eu poderia preencher depois, o importante agora era cumprir as determinações do contrato. Parecia tudo certo, quando Lucius, que odiava a idéia de ver seu único filho vivendo com outro homem, começou a trabalhar para minar a relação dos dois.
Ele foi esperto o bastante para perceber a carência de uma vida inteira de Draco. Aproximou-se dele e, para delírio de Narcissa o envolveu com afeto, aprovação, estímulo, tudo o que passara a vida negando-lhe.
Draco, que buscara isso ansiosamente a vida toda, deixou-se envolver pelo pai. O golpe final foi a fábrica de carros voadores. Lucius disse que estava pesquisando a viabilidade do projeto, e que tudo levava a crer que seria um ótimo negócio, altamente lucrativo. Então, propôs ao filho financiar o projeto, caso ele se interessasse em assumir a direção.
Naquela noite, vi meu sol radiante e luminoso como não via há tempos. Falava com olhos brilhantes sobre a fábrica, sonhando com os modelos, com a exportação, com o faturamento. Estava empolgado, nem parecia Draco.
—E quanto a Harry?—Eu consegui perguntar quando ele finalmente fez uma pausa para respirar.
—O que tem Harry?—Ele me olhava, surpreso.
—Esse é um projeto para anos, você vai ter que se dedicar demais. Você mesmo disse que será a sua prioridade, agora. Isso poderia abalar a relação de vocês dois, uma vez que exigirá muita proximidade com sei pai, não?
—É claro que não, Pansy. Harry vai ter que compreender, não podemos mais viver como dois alienados, trancados naquela casa, fora do mundo. Será bom para ele também, quero que ele trabalhe comigo, que deixe aquele Ministério idiota.
Illan se remexeu no berço, e fui vê-lo. Draco me seguiu .
—Pansy, eu não quero passar a minha vida como o filho de Lucius Malfoy. Quero ser reconhecido por mim mesmo, e essa é a minha oportunidade. Harry já nasceu especial, o garoto-que-sobreviveu, ele combateu Voldemort e o venceu. Ele é Harry Potter. Eu vou fazer com que Lucius seja visto como o pai de Draco Malfoy, você compreende?
Concordei, apenas para o assunto não se estender mais. Mas estava claro para mim que a partir desse instante, o doce amor deles estava condenado. Lucius não jogava para perder. No entanto, achei melhor não dizer isso a ele.
Batidas soaram na porta, e o elfo que servia o casal Malfoy, uma espécie de criado de quarto, surgiu na porta, trazendo um recado de Narcissa, que queria ver o filho. Ele foi, e eu, que já estava pronta para me deitar, fui para a cama.
Tinha acabado de me deitar quando a porta se abriu e Lucius Malfoy entrou, sem pedir licença. Tranqüilo e seguro, veio em direção à minha cama, sentando-se na beirada. Eu não podia imaginar o que ele estava fazendo ali, mas o recebi com um cumprimento e um sorriso. Ele ignorou ambos.
—Preciso falar com você em particular, mas não é preciso se preocupar com Draco, Narcissa o manterá lá até que tenhamos terminado a nossa conversa.
Eu encarei aqueles olhos frios e penetrantes, tentando aparentar a maior tranqüilidade possível.
—Sim, estou ouvindo...
—Que bom que é objetiva, isso nos poupará tempo. Estou aqui para dizer que quero que meu filho volte a viver como um homem normal. O fato dele ter mulher , filhos e um negócio para dirigir não representará nada para mim enquanto ele se entregar à devassidão ao lado daquele imundo.
Engoli em seco, e continuei ouvindo o que ele dizia.
—Não pretendo esperar mais tempo. Vou fazer com que isso acabe de uma vez por todas, e para alcançar meu objetivo, tenho duas opções: posso fazer Potter desaparecer da face da terra, o que me traria enorme prazer, mas ao mesmo tempo me daria trabalho demais, ou posso contar com sua ajuda para afasta-lo de meu filho de uma vez por todas. Não... não diga nada, eu ainda não terminei.— Respirou profundamente.
—Está tendo a oportunidade de viver no seio de uma família saudável, influente e favorecida financeiramente. Eu confesso que preferia a filha de Avery, mas tive que me curvar ao desejo de Draco para atender minha mulher. Compreende isso, naturalmente.—Fez uma pequena pausa, apenas para se acomodar melhor.—Não vou mencionar seu pai, seu passado, mas não sou tolo, sei muito bem com quem estou envolvido. Ou você me ajuda, ou então, além de cuidar do pervertido, vou ter que me ocupar do seu pai, e de você também. Até de Draco sou capaz de me livrar para não ter que conviver com essa deprimente situação por mais tempo. E se estiver se perguntado o motivo de eu estar aqui, pedindo que me ajude a resolver isso, a resposta é simples. Você já se relacionou intimamente com Potter, então será de grande ajuda para a meu plano. Quero que tudo seja feito de uma maneira que pareça casual. Já tenho tudo planejado, mas antes de contar o que pretendo, quero ouvir , em alto e bom som, a sua resposta. Vai trabalhar comigo ou contra mim? Não há meio termo, eu já adianto isso.
Seus olhos de lince estavam fixos nos meus. Agora eu já não me preocupava tanto em manter minha máscara de impassibilidade. Eu não podia declarar guerra a ele, não sobreviveria. Os olhos de gelo pareciam querer trespassar minha alma.
—Não há tempo para pensar, por que sua escolha nem é assim tão difícil. Resume-se a: quer viver cercada de luxo ou quer morrer?
—Quero viver.—Respondi logo, não havia necessidade de tentar encontrar uma saída, não havia saída.
—Ótimo. A filha do Weasley moveu céus e terra para se plantar ao lado do Potter no Ministério, minhas fontes me confirmaram isso. Use-a. Eu tenho prontas várias poções que você poderá precisar, inclusive, a que a fará ovular quando for conveniente para nós. Se ela for saudável, vai engravidar. Nosso precioso herói se verá forçado a casar para não macular a honra dela, e assim, sairá da vida de Draco.
Eu estava estarrecida. Ainda não entendia por que ele queria que eu executasse seu plano sujo, mas ele, parecendo ter lido meu pensamento, esclareceu tudo.
—Sua intimidade com Potter lhe dá uma vantagem que ninguém mais possui. Um pouco de poção polissuco, somada à sua orientação, e ela poderá ir direto para a cama dele sem levantar suspeita, como se fosse você, minha cara nora—Vi um sorriso irônico brilhar no seu rosto.— É bom que aconteça mais de uma vez, para garantir a fecundação. E para a ocasião em que ela deverá seduzi-lo sem disfarces, depois de grávida, tenho tudo o que vai ser preciso.
Ele se ergueu da cama.
—Compreendeu tudo? Não faça sinais, quero ouvir sua voz!
Limpei a garganta.
—Sim, eu compreendi, e amanhã mesmo vou procurar por ela. Não creio que terei dificuldades em convencê-la.
—Realmente, não deverá ter nenhuma dificuldade, mesmo que ela recuse. Conhece vários métodos de persuasão, estou certo disso. Não vai falhar na missão que lhe confiei, não é mesmo? Eu ficaria muito desapontado...
—Não vou falhar.
—Ótimo. Creio que não preciso dizer que meu nome jamais deverá ser mencionado diante dela, e que tudo deverá parecer sua iniciativa. Alguma dúvida?
—Não, nenhuma.
Ele me olhou por um bom tempo, o bastardo. Depois, sem dizer mais nenhuma palavra, deixou o quarto. Só então respirei.
Quando Draco voltou, eu fingi que dormia. Tentava avaliar as minhas chances de me rebelar contra Lucius, mas quanto mais eu pensava, mais claro se tornava para mim que não havia nada a fazer a não ser obedecer.
No dia seguinte procurei a Weasley. Ela foi hostil, tinha ciúmes de mim, e tive que ser firme com ela para que me ouvisse em silêncio. Mas não usei nenhuma maldição imperdoável, bastou um simples feitiço paralisante. Eu disse a ela que estava farta da presença de Harry entre Draco e eu, e que não o queria mais entre nós. Bastou esse discurso simples para convencê-la a participar da armadilha suja que jogaria Harry em seus braços. Se pudesse, eu a teria esbofeteado.
O próximo passo seria fazer com que Gina perdesse a virgindade, mantida até então à espera de Harry. Ela relutou um pouco, mas o seu desejo de tê-lo para si falou mais alto. Ela estava saindo com Colin Creevey, mas não achou conveniente que fosse ele o primeiro. Não era prudente que acontecesse com alguém conhecido. Não sei o que ela fez, nem quis que me contasse como foi, mas o fato é que ela me procurou logo na manhã seguinte e me disse que estava tudo resolvido.
Então, partimos para a segunda parte do plano. Usando a poção polissuco, ela começou a visitar Harry como se fosse eu. Ela estudou o meu jeito de falar, dei a ela algumas dicas sobre o que Harry e eu fazíamos sempre, e uma poção para aliviar a tensão e acender o desejo dela completaram o pacote, juntamente com a poção que a tornaria fértil , independente do período em que estivesse. Bastaram três visitas para que ela engravidasse. Então, passamos para a terceira etapa. Foi preciso apenas criar a oportunidade. Uma poção poderosa de atração sexual, disfarçada em perfume, e Harry Potter e Gina Weasley, dessa vez sem disfarce, foram para a cama, para justificar o bebê que ela já esperava.
O flagrante também já tinha sido armado. Eu sabia que Draco chegaria naquela noite e correria para ver Harry, ele tinha viajado aborrecido com a discussão entre os dois. Falsifiquei uma mensagem onde Draco avisava que viajaria novamente. Também enviei à Weasley a falsa mensagem de seu namorado. O palco estava armado para a encenação torpe que a ruiva executaria , empolgada.
Quanto à Draco, estava desgastado pelo desentendimento com Harry por causa da fábrica. Ficou maluco, seu ego não suportou a traição, e romperam.
O que se seguiu depois, foi tão natural que não precisou de nenhuma interferência. Gina sentiu-se mal e desmaiou, a família descobriu a gravidez e pressionou Harry, que, totalmente fragilizado depois do rompimento com Draco, casou-se com ela.
Narrando os fatos assim, friamente, pode parecer que eu agi como uma bruxa maligna, mas o casamento trouxe de volta para Harry coisas que ele tinha perdido, como a amizade de Rony Weasley, e o convívio com a família de Gina, que sempre tinha sido para ele como sua própria família. Além, é claro, de preservar sua vida.
Mas o principal é que agora havia o garotinho. Ele nasceu três meses antes de Blanda, minha filha com Draco. Os Potter deram a ele o nome de Andrew, e escolheram como padrinhos Rony e sua mulher, que a essa altura já tinha desistido do sonho de ser mãe. Eu desejei de todo o meu coração que a criança pudesse preencher na vida de Harry a lacuna deixada pelo fim do romance com Draco.
O tempo passava, o empreendimento de Draco tomou corpo e ganhou vida. Ele agora era reconhecido e respeitado mundialmente, conforme desejara, e embora fosse mimado e invejado, eu sabia que seu coração ainda sangrava.
Ele tentou , por mais de uma vez, se reaproximar de Harry, mas conforme eu, e até mesmo Lucius tinha imaginado, os laços que uniam Harry ao filho tinham se tornado fortes demais. Sem contar que ele via Gina como uma inocente vítima da sua sedução.
Então, Draco se rendeu ao fato de que Harry estava perdido para ele, para sempre. Embora mascarasse sua dor, eu sabia exatamente o que se passava dentro dele, principalmente quando bebia dose atrás de dose de firewhisky, em busca de anestesia e sono.
Seu sofrimento era perceptível apenas para quem o conhecia bem, e enquanto a mãe e eu tentávamos tudo o que estava ao nosso alcance para tentar fazê-lo reagir, para Lucius era como se o filho o afrontasse. Logo começou a tratá-lo como antes, com frieza e rispidez.
Meus filhos cresciam. Illan, uma miniatura de Lucius Malfoy, desde que conseguiu firmar-se na cadeirinha feita para ele, fazia as refeições à mesa, à direita do avô. Lucius adorava o neto, mas era absolutamente indiferente à Blanda. Talvez para compensar a falta de atenção do avô, Draco se derretia pela menina. Sempre que estava em casa queria tê-la por perto, brincava com ela como jamais fizera com nosso filho. Outro ponto de discórdia entre os dois.
O convívio familiar passara a ser tenso, embora Lucius não abrisse mão de reunir todos diariamente, à mesa do jantar.
Durante um deles, Draco, surpreendendo inclusive a mim, anunciou que estava pensando em se mudar da mansão.
Lucius apenas o olhou, friamente.
—Verdade? Não acha as crianças pequenas demais para se separarem do pai e da mãe?
Draco o encarou.
—Eu pretendo levar Blanda. Ela só tem seis meses, mas Illan é maiorzinho e está bem adaptado a vocês...
—As crianças jamais deixarão essa casa, Draco. Está no contrato, não se lembra?
Draco tentou manter a calma.
—Eu deixaria Illan, sei que gosta muito dele. Poderíamos entrar num acordo, já que você não se importa muito com ela...
—Me importe eu ou não com ela, está no contrato. É meu direito manter os dois aqui, e não negocio meus direitos. Devia saber disso.
Draco não respondeu, e Lucius também não disse mais nada. Narcissa parecia uma sombra pálida do marido. Jantamos em silêncio, num clima pesado. Mal terminamos, Draco pediu licença e deixou a mesa, sob o olhar frio do pai. Senti muita pena dele nessa noite.
As notícias sobre Harry chegavam por todos os meios, inclusive pelos jornais. Foi em um deles que soubemos da inauguração da escola de quadribol Marotos. Harry aparecia numa foto dentro do campo principal, enorme e bem cuidado, cercado de arquibancadas coloridas. Sorria, e de vez em quando, empurrava os óculos. Draco não disse nada, mas nessa noite, bebeu até quase perder a consciência. Essa foi uma das ocasiões em que senti mais culpa pelo que tinha feito aos dois.
Desse dia em diante, Draco se entregou a um estado de melancolia permanente, que só passava quando Blanda estava com ele. Nem na cama eu conseguia mais consolar o meu sol.
Na semana seguinte, recebemos um convite para uma festa oferecida pelo Ministério. A fábrica de Draco fechara com eles um vultoso negócio, alguns meses antes, e esse era o motivo de termos sido convidados. Lucius estaria viajando na ocasião, e como se tratava de um cliente, Draco tinha que ir.
Percebi logo que ele não gostou da idéia, acho que se sentia ainda muito ferido pela prova de que a vida de Harry seguia adiante, mesmo sem ele.
Uma festa oferecida pelo Ministério equivalia a encontrar Harry com a esposa, cercado de amigos dos velhos tempos. Para piorar, a festa seria em Hogsmeade, na casa de shows de Rosmerta e Rony Weasley.
Como não podia realmente deixar de comparecer, Draco optou por ir o mais tarde que a etiqueta permitisse. Ele não disse uma palavra sobre isso, mas eu o conhecia tão bem que quase podia adivinhar seus pensamentos.
Embora ele estivesse incomodado, no dia da festa ostentava a sua máscara de equilíbrio emocional perfeito, o bom e velho Draco Malfoy, destituído de qualquer outro sentimento que não fosse o desdém pela multidão que cercava nosso carro, um modelo exclusivo prateado que deixava todos que o viam babando.
Descemos e entramos no lugar, que eu já conhecia pela descrição detalhada de Harry. Apesar da hora avançada, ainda havia muita gente, e a festa parecia bem animada.
Seguimos por entre a multidão que se divertia, guiados pelo assessor do assessor de alguém, que viera nos recepcionar para nos levar para o local onde os poderosos politicavam.
Tudo aconteceu como em todas as outras festas a que estávamos habituados a comparecer, conversa amena entre as esposas, enquanto os maridos tratavam de negócios. Eu sabia que iríamos embora na primeira oportunidade, e enquanto ela não surgia, distribuía sorrisos e delicadezas entre as senhoras que me cercavam.
Então, alguém que estava fora do grupo comentou sobre o porre de Potter, que estava no terraço e se recusava a ir embora. Eu pensei que Draco não tivesse ouvido, mas vi que ele passou a olhar através do homem que falava com ele. Não demorou nada para livrar-se dele com uma desculpa qualquer, e seguiu para o terraço. Eu fiz o mesmo com as mulheres, e parti atrás de Draco.
Harry estava sentado, ou melhor, escornado numa cadeira, e parecia bêbado além da conta. Sua camisa e paletó estavam molhados, certamente tomara um banho de conhaque, pelo cheiro que emanava de longe. Draco o olhou por alguns instantes, e depois se aproximou. Harry não o percebeu no primeiro momento, embora se dirigisse a ele, pedindo mais bebida , as palavras saindo emboladas da sua boca.
—Não acha que já bebeu o suficiente?
A doçura na voz de Draco me deixou arrepiada. As pessoas que estavam em volta de repente se calaram, atentas ao que aconteceria. Harry tirou os óculos e tentou limpá-los desajeitadamente, conseguindo apenas suja-los ainda mais. Recolocou os óculos e olhou para Draco, de pé ao seu lado.
—Você...você veio...—As palavras eram quase ininteligíveis.
—Eu vim...—Meu loiro sussurrava, olhando para Harry com uma expressão entre terna e divertida.
—Você chegou...ela foi embora, não quis me esperar, só por que eu queria tomar um conhaque. ..eu precisava tomar mais um, você entende?—Olhou em volta, totalmente confuso.— Onde está a garrafa?
Ele tentou se erguer, mas a tarefa deve ter parecido complicada demais, por que desistiu de imediato. Draco se abaixou ao lado dele.
—Você não vai beber mais. Precisa ir embora, tem que descansar agora.
—Mas... mas... logo agora que você chegou?
—Eu vou com você...
Senti um friozinho na barriga . Na entrada da varanda, pessoas se comprimiam para assistir à cena.
—Então, me leve embora...mas eu não quero ir para a minha casa...
Suas palavras saíam arrastadas. Vi Draco sorrindo.
—Eu não pensei nem por um minuto em te levar para lá. Venha...
Pegou Harry pelos braços e o fez levantar. O moreno cambaleava , se Draco o soltasse ele cairia no chão.
—Está... balançando...
—Se apoie em mim. Mais perto, assim...
Draco o puxou e fez do seu corpo um apoio para o corpo do outro. Nesse instante senti uma presença ao meu lado. Olhei e vi Lupin.
—O que está acontecendo ali?
Antes que eu pudesse responder, ouvi a voz de Draco.
—Vou cuidar de você, não tem que se preocupar com mais nada.
E então, ali mesmo, diante de todos, beijou Harry, que trocou um passo vacilante tentando enlaçar seu pescoço. Ao meu lado Lupin fez um movimento para ir até eles, mas eu o contive.
—Deixe-os.
—Harry está bêbado, ele não sabe o que está fazendo!
—Deixe-os, eles se amam, e você sabe muito bem disso.
Draco beijava Harry novamente, a cabeça inclinada, sugando a boca do moreno com paixão, e esse retribuía, embora mal se agüentasse de pé. Draco encerrou o beijo e olhou para o outro, sorrindo. Depois , ergueu a cabeça e olhou em volta, até me encontrar.
—Busque o carro...
Saí depressa, me espremendo entre a multidão que agora estava em efervescente burburinho, maravilhada com o escândalo da noite, da semana , do ano.
Entrei no carro e o fiz subir, encostando-o bem rente à amurada do terraço. Antes de descer, vi Lupin falando com Draco rispidamente.
Mas apesar dos protestos, apesar do tumulto, Draco e eu conseguimos enfiar o semi-morto Harry dentro do carro.
Enquanto eu guiava, ouvia as risadas de Draco. Aquilo tinha sido quase um seqüestro, e ele sabia disso. Mas acho que eu nunca o tinha visto tão feliz. Ele me pediu para deixa-los na casa de campo da família e voltar com o carro. Se alguém perguntasse por ele, eu deveria dizer que não sabia onde estava. Obedeci, com prazer, e depois de ajuda-lo a desembarcar Harry, voltei para a mansão. Fui direto para o meu quarto, precisava dormir bem para agüentar as conseqüências, no dia seguinte.
E o dia seguinte começou com a chegada de Lucius de viagem. Eu e Narcissa tomávamos chá, ela tranqüila, eu, nem tanto, quando ele entrou como um possesso, a mão cheia de jornais.
—Onde está o imbecil do seu marido?
Berrava, o que assustou as crianças, que brincavam no chão. Mandei a elfa-babá subir com elas. Depois encarei meu sogro.
—Eu não sei. Eu o deixei na praça de Hogsmeade e vim para casa.
Mentir olhando nos olhos de Lucius Malfoy era algo assustador, um teste e tanto para qualquer coragem .
Por resposta, ele atirou os jornais em cima de Narcissa, que estava pálida como a morte.
—Veja o que seu filho fez agora!— Berrou, antes de deixar a sala de jantar e seguir para o seu escritório, onde entrou , batendo a porta com estrondo.
Narcissa folheava os jornais, e só depois de ler o que diziam, compreendi a gravidade da situação. Havia fotos na maioria deles, dos dois se beijando. Os títulos das reportagens variavam pouco, indo de "Industrial milionário e herói agridem comunidade bruxa com ato indecente em festa pública", até " Milionário sabota festa do Ministério com atentado violento ao pudor". Num deles, um pasquim vagabundo e sensacionalista, a matéria contava que a esposa do milionário, desesperada com a traição, tinha tentado se jogar do terraço. Eu nem consegui rir. Naquele instante estava imaginando Lucius Malfoy lendo tudo aquilo.
Foi um dia horrível. Primeiro, foi a terrível discussão do casal no escritório de Lucius. De onde eu estava, pude ouvir gritos e ofensas, choro, e por mais de uma vez, o som de tapas. Decidi ir para o meu quarto e ficar lá até que Draco voltasse. Ao menos não teria que ver Narcissa deixando o escritório do marido com marcas no rosto e os olhos inchados de chorar. Passei o dia aflita e ansiosa, desejando e ao mesmo tempo temendo o momento em que Draco voltaria para casa.
Quando ele chegou, depois do jantar, eu já estava subindo novamente para o quarto. Chegou como se nada de anormal tivesse acontecido, e nos cumprimentou tranqüilamente.
O pai cravou nele os olhos frios, enquanto Narcissa pedia ao elfo que servisse o jantar de Draco.
Lucius se levantou da mesa, e aproximou-se do lugar onde Draco sentara.
—Não vou perguntar se tem algo a dizer, acho que isso não é necessário...
Draco o encarou, em silêncio. O outro continuou.
—Você é uma vergonha e uma tristeza para mim. Mas não vou ficar me lamuriando, não faz o meu estilo. Prefiro resolver os problemas , ao invés de lamenta-los.
Percebi que Narcissa se retesou nesse momento. Olhava o marido e o filho com os olhos azuis muito abertos, os lábios apertados indicando o quanto estava tensa. Eu também me sentia assim. Só Draco, que continuava olhando para o pai, parecia tranqüilo.
—Você nasceu contaminado pela podridão do sangue Black, que atinge aleatoriamente alguns membros daquela família. Já me envergonhou demais, não vou mais permitir isso.
Draco continuou com a mesma expressão, impassível. No entanto, quando o pai se aproximou mais dele, levantou-se. Narcissa e eu fizemos o mesmo, como se tivéssemos ensaiado. Finalmente Draco falou.
—E o que pretende fazer? Me matar?
Percebi o lampejo de ódio que passou pelos olhos de Lucius. Narcissa deixou seu lugar e aproximou-se dos dois, como se pretendesse acalma-los com a sua presença.
—Não me provoque, Draco. Você não sabe realmente do que eu sou capaz...
Suas palavras saíram num sussurro ameaçador. Vi Draco passar a língua pelos lábios, na sua primeira demonstração de tensão. Mas sustentou o olhar do pai, enquanto falava.
—Eu amo Harry, e não pretendo mais me afastar dele. Concordo que exagerei ontem à noite, prometo a você que vou ser mais discreto, mas isso é tudo o que posso garantir. Lamento não ser o filho que você sonhou, e acredite, espero que Illan possa fazer você se encher de orgulho.
—Seu veado idiota...
Tudo aconteceu muito rápido. De repente, Lucius estava com sua varinha estendida na direção de Draco, que tentava resistir à dor atroz provocada pelo Cruciatus, absolutamente sem sucesso. Seus tempos de comensal já haviam passado há muito, e eu percebi que ele estava se partindo de dor. Lucius, com os dentes rilhados e um brilho feroz no olhar, continuava concentrado no castigo que impingia ao filho. Olhei para Narcissa e a vi tampar a boca com as duas mãos, os olhos lacrimosos fixos em Draco que , agora caído no chão, continuava a se contorcer, com uma expressão de sofrimento intenso.
E Lucius continuava, a boca torcida num ríctus de prazer animalesco, enquanto o rosto de Draco começava a apresentar uma tonalidade púrpura. Pelo canto de sua boca a saliva descia, formando uma poça ao lado do rosto. Aquilo se estendia infinitamente, e todos nós sabíamos que a exposição prolongada ao feitiço podia causar danos permanentes. Então, um filete de sangue começou a escorrer pela narina de Draco. Vi Narcissa saltar na direção do marido e, com um tapa, atirar longe sua varinha.
Lucius estremeceu, como se desperto de um transe. Estendeu a mão, e numa fração de segundo já tinha sua varinha de volta. Apontou-a para as costas da esposa, que estava ajoelhada no chão, com a cabeça do filho apoiada em seu colo, gritando pelo seu elfo , desesperada.
Ela tremeu de repente, e eu vi o tecido fino de sua blusa se agitar como se tivesse sido tocado por algo. No mesmo instante, começaram a aparecer cortes na sua blusa, e a cada um deles, ela voltava a tremer. O sangue começou a empapar sua roupa, mas ela não deixou o que fazia.
Estava sendo açoitada pelo marido. Meus joelhos tremiam, eu não sabia o que fazer. Não teria a coragem dela, jamais me lançaria contra ele .
Então, ele parou. Aproximou-se dela.
—Sei que ama seu filho. Se quiser que ele viva, faça com que ele me obedeça. Caso contrário, você o perderá...
Sem mais uma palavra, ele se foi. Só então consegui me mover, e corri até Narcissa e Draco. O elfo tinha trazido poções e compressas, e ele e Narcissa davam a Draco os primeiros socorros ali mesmo, no chão da sala de jantar.
Eu queria ajudar, e procurei entre as poções que o elfo havia trazido, uma para cuidar dos ferimentos de Narcissa. Ela estava tão concentrada no filho que parecia nem se lembrar que também estava ferida.
Levantei a blusa, e o que vi me fez recuar, horrorizada.
Ela estava ferida, cheia de cortes finos e profundos, mas o pior eram as cicatrizes antigas que cobriam por completo toda a extensão das suas costas. Havia marcas de cortes e queimaduras, de vários formatos e cores diferentes. Não havia mais pele saudável ali.
Ela se voltou e me encarou com frieza e raiva. Eu estava visivelmente chocada. Ela suspirou.
—Você não é criança, portanto pare de se comportar como uma. Já que viu o que não deveria ter visto, venha me ajudar.
Me aproximei de novo, e comecei a limpar os ferimentos, passando em seguida a poção cicatrizante. Era detestável tocar naquelas costas marcadas, tão diferentes da maciez de seda de sua pele natural.
—Draco não sabe, e jamais saberá disso. Nem ele, nem qualquer outra pessoa. Você compreendeu?
Sim, eu havia compreendido. Era mais um segredo de família, como o meu com meu pai. Será que todas eram assim? Os Potter, os Weasley, os Lupin? Todas teriam seus pecados íntimos? Ou isso seria característica apenas dos pertencentes à casa de Slytherin?
Ajudei a levar Draco para o quarto, e quando me deitei ao seu lado, senti medo. Ele estava bem, todos nós estávamos inteiros, dessa vez não acontecera nada de grave. Mas por quanto tempo seria assim?
Na manhã seguinte, Draco despertou sentindo-se mal demais para ir ao trabalho. O feitiço do pai não deixara nenhuma seqüela, mas ainda assim ele não se sentia bem. Ficou deitado durante toda a manhã, e eu sabia que parte desse mal-estar estava relacionado ao fato de Harry ter se recusado mais uma vez a deixar a família. Draco me contou que, depois que Harry se recuperou do porre, tinham passado um dia magnífico, matando as saudades acumuladas nos quase dois anos de separação. Mas apesar de terem reafirmado seu amor, apesar de saberem que não conseguiriam mais viver distantes um do outro, Harry não ia deixar Gina. Aliás, para mim isso era bastante previsível. O código moral de Harry era forte demais, mais até do que o amor que ele sentia por Draco. Mas não o impediria de ser encontrar com ele às escondidas, de vez em quando.
Muito pouco, para a intensidade do amor dos dois. Mais uma vez, me senti culpada.
À tarde, Draco foi trabalhar. Reunimo-nos ao jantar, como se nada tivesse acontecido. Apenas Narcissa me pareceu mais calada do que de costume.
No dia seguinte, notei que ela apresentava o mesmo estado de ânimo da véspera. Mal falou, nem se aproximou das crianças para brincar com elas. Imaginei que os acontecimentos daquela noite ainda a estivessem perturbando, e me aproximei, tentando começar uma conversa. Deveres de boa nora.
—Pensei em sair um pouco com as crianças, leva-las para uma volta ao ar livre. Quer vir conosco?
Ela me olhou fixamente, sem responder. Cheguei a pensar que não tinha me escutado, e ia repetir o convite, quando ela falou.
—Um passeio? Ótima idéia. Já esteve na casa de campo, mas creio que nunca mostrei a você a estufa. Vai gostar de conhecê-la...
Levantou-se, e se encaminhou para a lareira. Ela queria ir pela rede de Flu, mas como poderíamos levar as crianças?
—Narcissa, as crianças...
—Deixe as crianças e venha.
Apanhou a caixinha de prata que ficava sobre a lareira e tomou uma porção do pó entre os dedos. Eu fiz o mesmo, e em segundos estava na sala de estar da casa de campo, a mesma onde Draco e Harry haviam passado horas de amor e delírio. O pensamento quase me fez rir, mas eu me contive.
Narcissa, séria, já tinha tomado a direção da saída, e se encaminhava para o jardim. O elfo doméstico que cuidava da casa tentou segui-la, encantado com a possibilidade de servir à sua senhora, mas ela o dispensou. Caminhava depressa, e eu a seguia no mesmo ritmo, até que enfim chegamos à construção em vidro, imensa, que brilhava ao sol da manhã.
Ela murmurou algumas palavras, e a porta da estufa se abriu, revelando um mundo exuberante de formas e cores variadas. Havia espécimes de todos os tipos, originários de todos os cantos do mundo. Graças à magia, temperatura e umidade eram mantidas no nível ideal para cada uma, e o resultado era de uma beleza incrível. Nem nas estufas de Hogwarts eu havia visto tal diversidade, nem plantas viçosas como as que estavam ali. Começamos a caminhar por entre elas, enquanto Narcissa contava que aquele era o local onde se sentia uma rainha. Ali, comandava tudo, conhecia cada folha de cada planta, sabia quando e de onde viera cada uma delas. Imaginei que ela costumasse se refugiar ali a cada vez que o marido a espancava.
Continuou falando, enquanto me mostrava flores e folhagens incríveis. De repente, se calou. Virou-se para mim.
—Acha que Draco vai continuar a ver aquele rapaz?
Eu me assustei com a mudança brusca de assunto, mas respondi que sim, achava realmente que depois de terem se reencontrado, não iriam mais deixar de se ver.
—Mas se está preocupada com seu marido, acho que não deve ... os dois vão manter a discrição, por causa das famílias...
—Discrição? Lucius saberá na hora cada vez que eles se encontrarem...
Ela me encarava, e eu podia ver naqueles olhos profundamente azuis, que havia algo, algo importante que ela ainda não tinha dito..
—Eu creio que o que seu marido não deseja é escândalo, e se os dois vão ser discretos, não acho que vai haver mais qualquer problema...
—Não seja mais inocente do que precisa ser, Pansy. Lucius se sente agredido por essa relação, e vai acabar com ela, não importa o que tenha que fazer, está me entendendo?
—Sim, estou. Mas Draco e Harry já viveram juntos por um bom tempo, e ele não fez nada para acabar com os dois... a não ser, é claro, você sabe...
—Eram outros tempos. Hoje, Draco é um homem casado, pai de dois filhos. Vai chegar o tempo em que será o patriarca da família. Está em jogo a honra dos Malfoy, o nome dos pais de Lucius.
—Então, o que vai acontecer? Draco não vai abrir mão de Harry, a não ser que...
Não completei a frase, não precisava. Se algo acontecesse a um dos dois, algo definitivo, o problema estaria resolvido.
—Ele vai matar Harry?
—Cale-se, não diga tolices. Certas palavras não devem ser pronunciadas, por mais que você acredite estar em segurança. —Ela respirou fortemente.
—Mas não creio que ele tocaria naquele rapaz, seria muito óbvio. E se tem uma coisa que Lucius não pretende, é voltar para a prisão.
—Draco? —Eu estava chocada.
Ela engoliu em seco, e recomeçou a caminhar. Me mostrou mais alguns espécimes raros, que eu mal olhei. Queria que ela continuasse a falar.
—Eu conheço muito bem o meu marido. Ele está tranqüilo, já tomou sua decisão. Vai executá-la na primeira oportunidade. E lamento dizer que talvez você esteja incluída nos planos dele. Sabe demais, se algo acontecesse a Draco você passaria a ser um problema para ele.
—Isso é um absurdo. Poderíamos denunciá-lo, fazer alguma coisa. Já é hora de reagir, passou toda a sua vida sendo torturada em silêncio...
Ela sorriu.
—Acalme-se. Ainda não entendeu o que é fazer parte de um clã? Não se reage assim, expondo os problemas para o mundo. Quer goste ou não, você é uma Malfoy agora, e precisa aprender a agir da forma certa.
Seguiu em frente. Estávamos já no final da construção, e diante de nós havia apenas um degrau alto de pedra coberto de musgo. Sobre ele, algumas espécies tropicais, carnudas e exuberantes, em plena floração, ofereciam um espetáculo digno de ser apreciado. Mas eu não queria saber de plantas, queria que ela falasse mais, que me dissesse como chegara àquela conclusão.
—Lucius não teria coragem, Draco é seu filho também, você se levantaria contra ele, certamente...
—Não conte com isso... se algo acontecesse a Draco e a você, quem cuidaria das crianças? São meus netos, ele sabe que eu os amo...
—Então, se não pretende fazer nada, se vai apenas assistir a tudo de camarote, por que me trouxe aqui, para que me contou tudo isso?
Eu estava furiosa com ela, com essa escravidão ridícula que a mantinha tão inerte que nem a possibilidade da morte de seu único filho a fazia reagir. Mas ela me ignorou solenemente, e moveu as mãos diante do degrau de pedra, murmurando palavras numa língua estranha.
Abriu-se uma espécie de nicho no lugar onde havia antes o degrau com as plantas tropicais. E lá, num vaso de pedra, estava a planta de aspecto mais estranho que eu já vira. Tinha o caule grosso e úmido, negro, que levava a uma protuberância tão úmida e negra quanto o caule, coberta de longos e finos espinhos prateados. Gotículas se formavam na sua superfície, escorriam e pingavam na terra do vaso. Narcissa parecia encantada.
—Essa é a mais preciosa de todas. É tão poderosa que já se travaram guerras por sua causa. Está extinta no mundo, creio que esta é a última da espécie. Foi Bellatrix quem me deu...
Olhei a planta, e de repente senti uma estranha vontade de tocar nos espinhos prata. Levei a mão, mas Narcissa me impediu.
—Não, não pode tocar nela, morreria. Essa atração que você está sentindo é parte do poder dela. É uma planta assassina, apenas uma gota do seu veneno pode matar um homem. E o mais impressionante é que esse veneno não pode ser detectado , nem mesmo por magia, depois de passada uma hora que foi colhido.
Eu agora estava fascinada, olhando a planta. Vi que Narcissa se afastou, para voltar logo em seguida com um tubo fino de vidro e um graveto comprido. Ela fez com que o tubo se encaixasse nos espinhos e aproximou-o o mais que pôde da protuberância. Então, com o graveto, pressionou levemente a parte logo acima de onde estava apoiada a boca do tubo, e de imediato, as gotas rolaram, penetrando nele. Ela deixou o graveto de lado e retirou o tubo cuidadosamente, suspendendo-o contra a luz, fazendo com que o líquido dentro dele se mexesse. Era límpido como a água, não tinha nenhum cheiro. Ela pareceu ter lido o meu pensamento.
—É inodoro, insípido, incolor... como água, a não ser por seu efeito letal. A pessoa que sofre o envenenamento morre de ataque fulminante do coração. Não há antídoto, uma vez ministrado, não se pode voltar atrás...
Suspirei profundamente. Finalmente tinha entendido tudo. Narcissa estava me pedindo para acabar com Lucius antes que ele matasse Draco e a mim, e além disso, me mostrava como eu deveria fazer. Um veneno indetectável, uma ou duas gotinhas misturadas na água ou no alimento, e fim.
Ela virou o conteúdo do tubo de volta no vaso, guardou-o ao lado do graveto, e então, me pediu para fazer o encantamento que ocultava a planta. Me ensinou as palavras e ficou me observando enquanto eu fazia surgir de volta o degrau das plantas tropicais. Deixamos a estufa sem voltar a trocar uma palavra. Na saída, voltei-me para ela, esperando que me dissesse o feitiço que fechava a estufa. Afinal, se era eu quem ia fazer o trabalho sujo, tinha que ter a chave da porta.
—Quero que se sinta à vontade para vir aqui todas as vezes que quiser, ou precisar.
—Certo. Obrigada.
Fechei a estufa, e voltamos para casa.
Não precisei esperar muito pela ocasião propícia. Jantávamos, e eu trazia dentro da blusa um minúsculo frasco contendo as preciosas gotas que nos livrariam do jugo de Lucius.
Illan, sentado ao lado do avô, estava agitado e impaciente naquela noite. A elfa babá, que sempre ficava por perto durante o jantar para atender às necessidades das crianças, afastou-se para buscar o jarro de água fresca que ficava sobre o aparador.
Illan, numa ação rápida, pendurou-se no trapo velho que ela usava e no movimento, caiu da sua cadeirinha.
Todos nós nos movemos rapidamente na direção dele, mas foi Lucius quem o pegou do chão. Draco também tinha se levantado e estava ao lado do garoto, que Lucius tentava consolar. Foi a decisão mais rápida que tomei. Narcissa, de pé, foi a única que me viu dar a volta à mesa e, ao me aproximar do prato de Lucius, virar nele o conteúdo do frasco. Eu não a olhei, sabia que ela estava me vendo, sentia seu olhar me queimando como fogo.
Em seguida, todos voltamos aos nossos lugares e o jantar prosseguiu, normalmente.
Confesso que eu tremia, de uma forma grotesca. Draco e o pai devem ter imaginado que isso era efeito do susto por causa do tombo de Illan.
O fato é que foi tremendamente difícil agir naturalmente, fazer as mesmas coisas que eu fazia todas as noites.
Ao contrário de mim, Narcissa se dominava perfeitamente. Quando finalmente pude subir para o meu quarto, sentia meu coração batendo forte. Será que daria certo?
As horas pareciam se arrastar. Ao meu lado, Draco dormia tranqüilamente. Eu, tensa, não consegui fechar os olhos, atenta à qualquer ruído que pudesse vir do corredor. E então, comecei a ouvir os rumores. Passos, exclamações abafadas, um bater incomum de portas.
Segundos depois, o elfo de Narcissa chamava por Draco, a mãe precisava de sua ajuda, Lucius não se sentia bem. Ele foi, apavorado, e nesse momento percebi que realmente amava o pai, apesar de tudo.
Ficou maluco, correu o quanto pode para levar Lucius ao hospital, e quando, depois de algumas horas, veio a notícia de sua morte, Draco desabou como uma criança. Chorou nos braços da mãe, que também parecia muito emocionada.
A notícia chocou o mundo bruxo. Ninguém podia acreditar que Lucius Malfoy não existia mais.
A cerimônia fúnebre foi muito concorrida, mas creio que Draco só registrou realmente a presença de Harry, que ficou ao seu lado até o final. De longe, eu vi quando se despediam diante do carro da família Malfoy, Harry abraçando Draco, um abraço de amante consolador, solidário. Dava para sentir à distância o envolvimento e carinho dos dois.
Finalmente se separaram, Harry já se afastava quando Narcissa chamou-o de repente. Creio que ele deve ter ficado tão surpreso quanto eu ao ouvir o convite dela para se juntar à família naquele momento de extrema dor. Claro que ele não recusaria jamais um convite dessa natureza, especialmente por causa de Draco.
E então, pela primeira vez, Harry Potter transpôs os portões da mansão Malfoy como um convidado.
Naquele instante, me decidi. Gina já tinha passado tempo demais com Harry. Era a esposa, a mãe do filho dele. Ocupou um lugar em sua vida que nenhuma outra mulher ocuparia. Mas agora era hora de devolver Harry a Draco, caso contrário todos saberiam como o filho deles tinha sido gerado, e tudo o que ela tinha feito para conseguir ficar com ele. Chantagem, sim, sem nenhuma culpa.
Ainda nesse mesmo dia, Narcissa me chamou em seu quarto e me disse que, agora que tinha o controle da maior parte dos negócios de Lucius, queria que eu a ajudasse a cuidar deles. Me pediu para não deixar a mansão, queria ver os netos crescendo ao seu lado , enchendo a casa com sua presença.
Eu aceitei. Sabia que não haveria lugar para mim ao lado de Draco e Harry, ao menos durante o recomeço deles. Mas não posso negar que o principal motivo foi o desafio de dividir com Narcissa a liderança do clã Malfoy. Afinal, por mais que eu gostasse de Draco, tinha que admitir que ele realmente não herdara o talento político do pai. Nem o da mãe.
Eu às vezes me pergunto se Lucius realmente tramava algo contra Draco , ou se Narcissa simplesmente quis se livrar da sua tirania, e me usou para isso.
Mas creio que essa resposta, eu jamais conhecerei.
Laura: Hahahaha... você matou a charada, a Gina realmente enfeitiçou o Harry. Quanto ao Lucius, reivindicação atendida! E também a do Harry e Draco terminarem a fic juntos...Espero que você tenha gostado do último capítulo, afinal, foi minha leitora assídua, sempre me dando a maior força. Obrigada por tudo, você é maravilhosa. Beijos...
Amélia: Você não pode imaginar o quanto sua review me deixou feliz. Muito, muito, muito obrigada por todas as coisas gentis que você escreveu sobre mim. Espero que o final não tenha te decepcionado. Beijos!
Mewis Slytherin: Hahaha... enorme ele foi mesmo... nunca tinha escrito um capítulo tão longo...Puxa , nem tenho palavras para agradecer a tantos elogios. Espero realmente que você tenha gostado do final. Muito obrigada, e mil beijos pra você...
Raymond Black: Nossa, eu tenho que confessar que quando vejo uma review sua tremo um pouco...hahahaha. Mas não é nada sério, só senti que você escreve mesmo o que pensa, mesmo que doa...Fiquei muito feliz pela sua review, realmente. Espero que você tenha gostado do final da fic, mas caso contrário, não se preocupe, pode falar...Eu espero um dia poder ler alguma coisa sua, você deve escrever maravilhosamente. Beijos, e obrigada ...
Fabi: Obrigada mais uma vez, Fabi..Você é sempre maravilhosa, me dá a maior força...Você viu que o Lucius levou mais do que uma surra, né? E tanto o Draco quanto o Harry pagaram pelos seus pecadinhos...Espero que você tenha gostado do último capítulo. Muito obrigada por tudo. Beijos...
Bem, agora , eu gostaria de agradecer a cada um que comentou a fic, e também aos que leram mas não enviaram reviews. Achei maravilhoso receber tantos comentários logo na minha estréia, e gostaria de dizer que cada review me estimulou a tentar me aprimorar. Obrigada pelo carinho, Mione de Avalon, Srta Kinomoto, Brunu, Ana, Fabi, Clara dos Anjos, Manu Malfoy, Mathew Potter Malfoy, Laura, brunaapoena, Dieggo, watashinomori, Lis, Raymond Black, Sofiah Black, flor da aurora, Mel Deep Dark, Ana K13 Poste, Dany Ceres, Laís, Tatiana, Cristina Melx, Kikis, tamyy, BelaYoukai, Amélia.
Vocês me fizeram muuuuuuito feliz!
Beijos!
