Desentendimentos

Ginny parou abruptamente, surpresa com o grito. Virou rápido em direção ao som.
Viu um quadro incomum: Harry, se apoiando em Cho de uma forma estranha, Draco olhando para eles estreitamente. Imagem bizarra. Parecendo final de briga.
"Oh, Meu Merlin! Briga? Briga? O que diabos é aquilo no rosto de Harry? Um corte largo e curto, com um líquido vermelho escuro escorrendo. Parecido com sangue. Vermelho? Sangue? Briga? Oh, Merlin!"

- O que aconteceu aqui? – Gritou Ginny desesperada.

- Bem, hum... nada demais! – Falou Draco desconcertado.

A ruiva olhou horrorizada. Nada demais? Harry parecia que havia acabado de sair de um duelo, duelo corporal diga-se de passagem, e Malfoy simplesmente dizia: Nada demais? Fitou-o de uma forma mortal, como se pudesse triturar seu fígado só com os olhos!

- Eu fiz o que qualquer pessoa sensata faria – defendeu-se o loiro.

- Sensata? Desde quando alguém que seja no mínimo ajuizado espanca uma pessoa? Vejo que temos noções completamente divergentes sobre sensatez e decência.

Draco resmungou desconfortável com as acusações infundadas de Ginny. Ela nem ao menos sabia o motivo pelo qual ele havia socado o "Santo Potter" e já estava o acusando.

- Ele estava bêbado, dizendo e fazendo coisas que não deveria.

- Como? – Ginny se surpreendeu. Harry não era do tipo que bebia. – O que aconteceu?

Cho respirou fundo. E começou:

- Se você comentar isso com alguém será uma garota morta – a ruiva a olhou de forma estranha mas acenou para que a outra prosseguisse. - seu irmão Jorge, encontrou uma passagem secreta para Hogsmeade. Ele me mostrou, porque, er... bem... isso não vem ao caso. Mas me mostrou. Então eu posso ir até o Três Vassouras a hora que quiser. E hoje o Harry me seguiu. Eu deixei que ele viesse, e quando estávamos no bar um amigo meu deu a ele um pouco de cerveja trouxa. Harry gostou e bebeu mais um pouco por conta própria. E quando estávamos voltando para Hogwarts ele nem ao menos sabia quem era e se auto-intitulou o "Super Bacon Boy".

- Hum.

Ginny olhou diretamente para os olhos cinza do loiro e o fuzilou:

- Então quer dizer que você espancou o Harry único e exclusivamente porque ele estava bêbado?

- Eu não espanquei Potter, Ginny. Eu apenas dei-lhe um soco. E não foi porque ele estava bêbado. E sim por que ele estava falando bobagens.

- E que tipo de bobagem seria que valeu um soco?

- Bem, ele estava me insultando, a mim e minha família, esse tipo de coisa que você sabe.

- Bem, mais você também faz isso com ele. Então não era motivo para socá-lo – disse a garota olhando muito feio.

O loiro mordeu o lábio inferior rispidamente. Segurando firme o maxilar. Se para não explodir com aquela ruivinha. Se ela queria santificar o Potter que fizesse isso longe dele.

A morena vendo a situação interferiu.

- Harry estava te insultando também. E falando coisas estúpidas ao seu respeito e ao meu. Ele me prensou contra a parede, furioso e estava prestes a me estapear quando Draco chegou.

Os lábios de Ginny se contorceram um breve momento, estava errada e fora injusta com Draco. Gostaria de perguntar que insultos Harry tinha proferido a seu respeito, mas a situação já era por demais delicada para aquele tipo de pergunta. E de qualquer maneira o garoto não estava em sua sã consciência mesmo, não havia por que se preocupar, sem contar que nada do que ele dissesse poderia ser de verdade, ou poderia? Mas aquele não era o momento para tais indagações.

- Bem, então deixe-me ver se consigo reanimá-lo – pegou sua varinha dentro do seu bolso.

- Se eu fosse você não faria isso – Draco disse. – a combinação de bebida e meu punho não é muito agradável, aconselho a deixá-lo dormir, amanhã ele estará um pouco melhor.

Ginny pareceu considerar o que o loiro disse por algum momento, então concluiu:

- Acho que você tem razão, mas é melhor levá-lo para algum lugar, não seria bom o deixarmos aqui, inerte, desacordado. Que tal levarmos à cabana de Hagrid?

Draco deu de ombros.

- Parece o mais correto, mas eu sinceramente não quero andar com esse estorvo pelo castelo inteiro – disse enquanto sentia o olhar de Ginny. – Não posso sair com ele por aí nesse estado, vão pensar que tentei matá-lo ou algo assim.

- Qual é? Vocês já se decidiram? Por que se não deixem isso para depois, acho melhor me ajudarem a levá-lo daqui, se Filch nos pega estamos perdidos.

Ginny ficou um pouco enojada, mas pôs uma mão em cada tornozelo do moreno, a japonesa contou até três e no instante em que o levantaram ouviram um estrondo.

A cabeça de Harry batendo firmemente no assoalho.

- Acho melhor você tentar apoiar a cabeça dele em suas pernas, se não vamos acabar matando-o – disse a ruiva para a outra.

Cho tentou, mas ao fazê-lo comprometeu a sua força e Ginny viu que a morena não conseguiria. Seria impossível levar Harry até a cabana de Hagrid naquelas condições.

Olhou para Draco e disse:

- Será que você poderia ajudar? Ou seria pedir demais?

Ele suspirou.

- Pelo visto vocês nunca viram como se carrega alguém inconsciente. Deixem-no no chão.

As garotas soltaram-no no mesmo instante. Então Draco juntou-lhe as pernas, apoiou-o com os braços e com um tremendo esforço colocou o moreno de pé, agarrou-o pela cintura e cambaleando o pôs apoiado em seus ombros.

Ginny o olhava, boquiaberta.

- Quê? – perguntou-lhe ríspido.

- Hum, nada... er... você é tão ágil.

Foi a melhor frase que conseguiu formar, só de pensar nos músculos de Draco se contraindo enquanto levava o peso de Harry, já lhe passava um calor.

Draco começou a andar.

- Eu vou deixá-lo na porta da cabana e você fala com o guarda-caças.

- Ok.

- Cuidado – Ginny disse. – Estarei te esperando no lago, depois de deixar Harry, você pode me esperar?

Draco parou.

- Para me acusar de mais alguma coisa? – ele perguntou rancoroso.

- Não. Apenas gostaria de conversar com você – disse da forma mais suave que pôde.

- Tudo bem então. Estarei lá.

- Se você quiser, já pode ir… - disse a Cho.

- Tudo bem! Realmente pareceria muito suspeito todos nós levando-o até lá. Acho que já vou! A gente se vê por aí!

E saiu deixando Ginny.

A ruiva correu em direção ao gramado, com certeza Draco já devia estar quase em frente à cabana do guarda-caças, ela teria que ser bastante rápida, antes que alguém desse falta deles, e claro ainda tinha que conversar com o loiro.
No meio da noite, fora do castelo, sem companhia de nenhum monitor ou com alguma autorização de professores andava pelos terrenos da escola, apenas banhada pela luz da lua.

Seu estômago se contorcia de medo, ao longe só via o corpo de Harry jazido na porta a espera de uma lambida de Canino. Ele parecia morto e de longe os cortes davam a impressão de algo realmente grave, se o moreno não tivesse sido tão cachorro talvez ela chegasse a sentir um pouco de pena dele. Mas tinha que andar rápido, já estava se arriscando demais, apressou os passos, deu a volta no corpo inerte e bateu à porta, prestes a sair dali apenas deixando-o desmaiado.

Mas bem antes do que ela previa, Hagrid apareceu a surpreendendo.

- Er… Oi, Hagrid! Tudo bem? – disse demasiadamente assustada e querendo atrair a atenção do grandalhão para os seus olhos e não para seus pés.

- Estou bem, e você? – ele perguntou.

- Bem também – respondeu receosa.

- Eh, bom, mas o que você anda fazendo por aqui a essa hora?

- Bem, er... – mentir não ia adiantar nada mesmo. – Er... Harry bebeu demais, fiquei com medo de levá-lo até o castelo e darem uma detenção horrível para ele, então achei melhor trazê-lo até você, já que são amigos, para que cuidasse dele esta noite.

- Oh, Merlin, o que aconteceu, Ginny? – disse assustado enquanto ela lhe mostrava o corpo caído do rapaz e ele o pegava desajeitadamente carinhoso nos braços.

"Pensa rápido, Ginny, pensa rápido!"

- Bem, é que Harry andava um pouco estressado com algumas coisas que estão acontecendo, aí resolveu extravasar e encontrou o jeito errado, tomando um porre.

- Bem vou ter que falar com ele quando acordar, isso não é certo!

"Me ferrei agora! Mas quer saber, problema dele!"

- Bem, você que sabe Hagrid, mas acho que o Harry tá meio zangado esses dias, e acho que a ressaca já deve ser castigo suficiente. Mas agora tenho que voltar para o salão comunal, ele já está bem aqui com você e não quero pegar uma detenção!

- Tenha uma boa noite, Ginny! E vá com cuidado!

Ginny acenou e deu meia volta, como se fosse ao castelo enquanto Hagrid a acompanhava com os olhos, quando o ouviu bater a porta se dirigiu até o local onde combinara se encontrar com Draco.

Chegou e não o viu, pensou que ele não tivesse esperando, Hagrid demorara mais do que ela previa, mas ao sentir umas mãos tapando seus olhos, seu coração deu um pulo de felicidade. Então ele a virou devagar, soltou as mãos o que a fez olhar diretamente para os olhos acinzentados dele, a perfeita visão do paraíso. Por Merlin, como ele conseguia ter olhos tão profundos e ao mesmo tempo misteriosos? E o pior que com a intensidade que ele a estava contemplando parecia vasculhar todos os seus pensamentos, envolvia e ao mesmo tempo a amedrontava.

- Draco... – foi a única coisa que ela conseguiu sussurrar. E ele não se movia, apenas a olhava, como se quisesse descobrir todos os seus segredos.

- Draco! – ela tentou sair daquele transe, mas para piorar a situação ele começou um roçar de narizes, um toque leve e frio que a arrepiou por completo.

- Você demorou! – o loiro disse.

A ruiva sorriu.

- Você sabe como Hagrid é.

- Bem, na verdade não sei.

- Hum, bem, ele me fez um interrogatório. Só isso.

- Tudo bem, mas você demorou tanto que eu cochilei.

Ginny gargalhou.

- Que foi? Não posso?

- Não é isso, - disse ainda sorrindo - mas cochilar não é uma palavra que eu pensava em ouvir você falando.

- Ah Weasley, você não sabe tantas coisas sobre mim! Eu também falo cochilar, oras.

Ambos sorriram. E o silêncio meio incomodo se instalou entre os dois.

- Bem, era realmente necessário você ter nocauteado o Harry?

- Eu sabia que você queria falar sobre isso. Mas respondendo a sua pergunta, ninguém me insulta e fica por isso mesmo.

- Ele te insulta o tempo todo e você nunca o agrediu fisicamente antes.

- Ele nunca me insultou bêbado, antes. Talvez o que ele tenha dito hoje ele nunca tivesse dito antes.

- Nenhum "homem decente" espancaria o outro sabendo que o dito cujo estava bêbado e por isso estava dizendo coisas feias ao seu respeito.

- Olha, ele disse muitas coisas ruins contra você e eu não poderia ficar sem fazer nada, satisfeita agora?

- O que ele disse?

- Eu não quero falar sobre isso, mas talvez você não tenha idéia do que o seu "Santo Potter" pode falar sobre as pessoas.
Ela ficou calada. "Droga, ele me defendeu e eu aqui bancando a idiota, defendendo Harry. Por Merlin, o que eu estou fazendo? Por que o senhor está me pondo nessa situação?"

- Bem, se você pedir desculpas, tudo bem – a ruiva quis amenizar.

- Desculpas? Para quem?

- Para o Harry, quando ele acordar.

- Weasley, definitivamente eu acho que quem bebeu foi você! Eu nunca vou pedir desculpas ao Potter, principalmente por hoje, ok?

- Eu não te entendo, Draco.

- Você não me entende? Eu que não te entendo! Olha, Ginny, eu estou aqui porque eu quero ficar com você, e não ficar falando no que Potter fez, no soco que eu dei nele porque ele merecia. E nem em outras coisas, eu simplesmente quero que o mundo se dane, só quero ficar com você, fui bem claro agora? – disse chegando mais perto.

- Mas Draco...

- Olha, Ginny, eu já disse o que eu quero.

- Mas a gente é tão diferente.

- E isso tem alguma importância?

- Tem sim, a gente nem se quer tem o que conversar, temos pensamentos tão divergentes.

- E eu querer ficar com você não tem nenhum significado?

- Claro que tem, mas, cantarolou: "if you wanna be my lover, first gotta be my friend"

- Isso é uma musica, não é?

- É. Kind of. Como...?

- Não me pergunte como eu sei – sorriu para ela. – Se é isso que você realmente quer, eu posso te dei...

- Eu não sei o que eu quero, Draco, esse é o problema.

- Você quer que sejamos apenas amigos?

- Eu não sei.

- Se você não quer estar comigo, fale Weasley, eu não preciso que você fique me enrolando, cadê sua coragem grifinória? Por que você apenas não diz isso?

- Nada é perfeito para mim, Draco, tudo tem dificuldades, então não é simplesmente o que eu quero, é o que eu tenho que fazer.

- Ah, é perfeito sim. Sua enorme família perfeita, seus amiguinhos perfeitos, seu namorado perfeito.

- Não é não. Você não sabe nada, então não fale.

- Então me fala o que você quer! Como vou saber o que você quer se você não me fala.

-Eu não sei – disse chorosa.

- Você nunca sabe, não é mesmo? Pois eu sei o que eu quero, e vou te dizer, eu quero você, mas fique com sua vidinha perfeita, que eu não vou mais incomodá-la.

Então ele virou as costas e a deixou sozinha. Não correu, não pisou duro, apenas saiu, a deixando com um grande vazio.

Talvez ela não soubesse o que realmente seria bom para ela.

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N.T: Demorou, mas saiu. Espero que vocês apreciem. Andava meio sem tempo, por isso não saiu tão rápido quanto eu gostaria que tivesse sido. Bjos para tds.

N.B: Draco tão fofoso! Quero um assim pra mim. E essa Ginny que não agarra ele de vez, meu Merlin! Ai, ai, sem mais o que dizer, mas não esqueçam de comentar.