Capítulo 3- Quase uma fantasia!
Uma luz intensa entrou pela pequena janela chocando com a cama dos Hiwatari. Kai abriu os olhos lentamente e virou-se para a mesa de cabeceira para ver as horas. Eram cinco e meia da manhã. Voltou-se de novo e abraçou a sua noiva que ainda dormia. O que estaria ela a fazer àquela hora? A dormir, provavelmente, pensou ele. Olhou para a noiva e tirou o seu braço de cima dela. Levantou-se e dirigiu-se à casa de banho. Abriu a torneira de água fria e mergulhou a sua face nesta.
"Irá aclarar-me os pensamentos." Pensou limpando a cara à toalha. Dirigiu-se de novo para a habitação de dormir. Vestiu-se e caminhou para a cozinha. O pequeno-almoço ainda não estava pronto. Sentou-se à mesa da cozinha a ler um jornal. O bolso do seu casaco começou a vibrar inesperadamente. Era William. Atendeu o telemóvel e após alguns minutos deixou de ouvir o que o seu acessor lhe dizia.
"Como é que ela pode gostar de um tipo como este?". Nunca tinha sido ciumento, pelo menos até aquele momento. Uma raiva inexplicável borbulhava no seu interior. Esta, misturada com uma profunda tristeza deixavam Kai à beira da loucura. Desligou o telemóvel na cara do amigo e pediu o seu pequeno-almoço com um tom pouco agradável. Susana entrou na cozinha e beijou a fronte de Kai. Este levou a chávena de café a boca.
Susana sentou-se de fronte do noivo e com um sorriso pediu também o seu café matinal.
- Estás com má cara amor! Que se passa? – perguntou preocupada.
- Nada estou apenas cansado. – respondeu agressivamente.
- Devias ficar em casa!
A ideia não parecia de todo má. Ficar em casa, passar tempo com Susana, a namorar. Seria delicioso, mas uma pequena vozinha dentro de si disse-lhe que se ficasse em casa com a noiva apenas pensaria mais nela. Tinha que se distrair e trabalhar era um bom começo.
- Susana...
- Sim Kaizinho?
- O que achas da Cloe?
- Ela é uma moça bem simpática. Engracei muito com ela.
- O que achas que o teu irmão quer com ela?
- Bem eu não sei...mas ele pareceu gostar mesmo dela...não te preocupes ele já não está tão imaturo desde que foi trabalhar contigo. E não teve mais namoradas...- gargalha suavemente.
Kai levanta-se da cadeira num vulto. Susana surpreendida contempla-o.
Dirige-se ao escritório pega na sua pasta preta e caminha até ao seu Ferrari.
No emprego uma mulher de longos cabelos lilases, olhos cor de carmim, algum silicone no peito vestindo uma camisa branca com os três primeiros botões abertos, uma mini saia preta e um casaco fechado por um botão abaixo dos seios espera Kai com uns papeis nas mãos.
- Bom dia Sr. Hiwatari.
- Bom dia Ana!
- Está com tão má cara!
- Já me disseram.
- Talvez seja melhor ir para casa descansar.
- Não obrigado. O que tem para mim?
- São os formulários para as novas acções das "Hiwatari theatre companies"
- Leve-os ao meu gabinete.
Kai entra num gabinete simples e vazio. Apenas tinha uma secretaria, uma cadeira e um pequeno armário para as pastas e arquivos. Sentou-se à mesa e começou a escrevinhar alguns papeis. Momentos depois, Ana, entra no seu gabinete com os documentos destinados a Kai.
- Parece tão tenso Kai...deixe-me aliviar esta tensão. – diz sedutoramente.
Ana dá a volta a secretária de Kai e começa a massajar as costas deste.
Kai encosta-se a cadeira, deixando-se relaxar. Ana senta-se no colo do patrão e beija-lhe o queixo. Kai não resiste. De repente batem a porta.
Ana levanta-se com um pulo e Kai endireita a gravata.
- Entre! – diz Kai.
- Kai sou eu.
- Ah William, entra.
- Porque me desligaste o telemóvel na cara?
- A chamada caiu. Peço desculpa.
- Ah ok...temos reunião daqui a 5 minutos. Ontem deitaste-te tarde?
- Nem por isso.
- Tas com má cara pá!
- Já me disseram isso.
- Então não te mentiram. Olha a hora de saída, já que vou no teu carro visto que não sei conduzir, podemos passar pelo hotel para ir buscar a Cloe?
Kai olhou para Ana. Uma onda de arrependimento invadiu o jovem Hiwatari. Porque é que não se importava com os sentimentos de Susana e com os de Cloe sim? Não que esta ultima fica-se muito magoada com o facto, mas mesmo assim.
- Claro.
- Boa! Bem vamos para a reunião?
Kai levantou-se e empurrou Ana.
O tédio invadiu a sala de reuniões. Apenas falavam de negócios. Kai estava farto de negócios. Foi tudo o que ouviu durante a sua vida.
Cloe escrevinhava furiosamente aquele papel. A sua nova balada estava quase pronta. Só faltavam uns retoques na melodia em piano e violino e tornar a letra mais apelativa.
- Sobre o que escreve, senhorita Cloe?
- É sobre uma relação que termina e uma das partes continua atormentada!
- Hoje sempre vai sair com aquele rapaz simpático?
- Que rapaz simpático? - pergunta espreguiçando-se.
- O dos olhos verdes!
- Ah! O William...sim vou a casa da irmã dele.
- Ainda bem...faz-lhe muito bem a saúde divertir-se e esquecer essas coisas que a atemorizam.
Cloe sorriu. Achava o mesmo. Mas seria difícil com Kai por perto.
"Vou encarar isto como um teste da vida. Se me aguentar perto dele quer dizer que já não o amo"
Pegou no casaco e saiu de casa.
Mais tarde por volta das sete horas da tarde, Kai e William dirigiram-se ao hotel onde estava hospedada a loira. Ao chegarem lá deparam com uma das suas empregadas.
- Se procuram a senhorita Cloe, ela foi a discográfica gravar uma música.
William e Kai foram a pé até a discográfica onde Cloe esperava, sentada no limite do passeio.
- Pensei que já não vinhas.
- Nunca te iria deixar aqui sozinha!
Kai sentiu a fúria crescer. Se pudesse esmurraria William e tomaria Cloe para si.
- Vamos?
- Claro.
Cloe olhou para Kai e agarrou-se a William. O rapaz de cabelo bicolor virou a cara
" É bem feita! Não tivesses ficado noivo"
Demoraram alguns silenciosos minutos até à mansão Hiwatari. Como na noite anterior a mesa estava decorada e um grande banquete presenteava a vista dos visitantes. O jantar pareceu demorar uma eternidade. Toda a gente se encontrava calada e olhando para os seus pratos, com excepção de alguns olhares de soslaio de Kai e Cloe. Uma das vezes os seus olhares cruzaram-se. Foi só durante alguns segundos, pois Cloe voltou a vira-los em direcção ao seu prato, corando.
- Vou lá fora um pouco...Estou abafada!
- Cloe! - chamou William em vão.
- Eu vou ver dela! – prontifica-se Kai.
- Sê meigo...nada de brutalidades.
Susana não desconfiava de nada. Na verdade ela sabia que Kai era mulherengo e que costumava ter casos, mas preferia dar a outra face para não perder o homem que ela achava ser o amor da sua vida.
Na varanda, a loira contempla a lua que nessa noite estava quase cheia. Kai fita-a durante uns quantos minutos e depois fala.
- Que se passa?
- Nada, estava só embuchada.
- Não pareces lá muito feliz.
- E não estou!
- Porque não? Tu e o William parecem um casal perfeito. – disse num tom amargo.
- Talvez seja por isso que não estou bem.
Kai olhou-a uma vez mais sem saber o que dizer.
- Ele e um querido mas eu simplesmente não gosto dele.
- Ah! Gostas de outro então? – perguntou um pouco desesperado.
- Sim! Amo outro que não me ama a mim. – responde num sussurro.
- Que parvo...não sabe o que perde!
A loira olha Kai nos olhos surpreendida pela sua afirmação, sorrindo logo depois.
- Tens razão...nem sequer sabe que eu estou a falar dele.
Kai abriu um pouco os olhos e de repente percebeu. Ela estava a falar dele. Nem acreditava. Aproximou-se um pouco e agarrou-a pelos ombros.
- Cloe eu...
Os olhos dela ganharam um novo brilho. Um pequeno sorriso abriu-se-lhe nos lábios e Kai soube que ainda estavam apaixonados.
As suas faces aproximaram-se. As mãos do rapaz desceram até a cintura da jovem, puxando-a ainda para mais perto de si. O beijo estava iminente. Cloe fechou os olhos e apertou os dedos nos braços de Kai. O momento era perfeito. Os dois, mais apaixonados que nunca a luz do luar e prestes a beijarem-se.
- Cloe está tudo bem? – William entra na varanda, para ter a certeza que a nova luz dos seus olhos estava bem.
Cloe afastou-se de imediato de Kai e fingiu estar a limpar farinha do casaco do rapaz de cabelo bicolor.
- Sim estou óptima. – Seu falso sorriso foi o suficiente para enganar William que logo se retirou.
- Ainda bem que ele apareceu! – repreendeu ela.
- O quê? Mas pensava que sentias o mesmo! – replicou Kai.
- Acreditas mesmo que eu ainda sinto algo por ti?
Ele não conseguia acreditar no que ouviu. Olhou para o chão tristemente.
A moça logo se arrependeu das suas palavras e colocou a sua mão no ombro de Kai.
- Eu só não quero sofrer mais. Tu estás noivo.
- Isso que dizer que ainda me amas?
Desta vez foi o olhar da jovem que embateu no duro chão. Uma pequena lágrima embateu neste com um som ensurdecedor.
- Não vale a pena sentir nada por ti! Estás noivo. Devo estar doida!
Kai sorriu perante as lágrimas da rapariga.
- Eu posso terminar com ela. Tens é de me dar um tempo. A Susana é uma excelente mulher e não a quero magoar.
Cloe fita-o duvidosa.
- Porque farias isso?
- Porque te amo! Amo-te desde do primeiro dia em que te vi. Desde que demos o nosso primeiro beijo, desde que nos demos um ao outro pela primeira vez.
- Tu abandonaste-me!
- Não! Eu tive de ir ao estrangeiro em negócios e quando voltei tu já tinhas ido! Demorei mais tempo do que pensava.
- Podias ter avisado!
- Mandei-te cartas todos os dias.
- Não recebi nem uma.
Algo não batia certo pensaram. Algo tinha corrido mal.
- Isso agora não interessa. – replica Kai – O que interessa é que nos encontramos e podemos ser felizes.
Cloe sorriu.
- Tens a certeza que isto não é um sonho?
- Absoluta! – abraçou-a – Ah! Lembrei-me agora. Toma!
Este devolve-lhe o medalhão que a jovem tanto pedia.
- Obrigado!
- Era suposto fingir que não o tinha para continuares a vir cá! E ontem menti-te!
- Eu vi logo! – respondeu zangada – Não sou burra sabes!
- Sim eu sei!
Kai voltou a aproximar-se da loira tocando a sua face macia e pálida. Sorriu levemente e por fim, depois de longos anos de sofrida espera, os seus lábios voltam a tocar nos dela. O beijo é pequeno e suave, mas não carece de paixão. Não tarda as suas línguas estavam entrelaçadas uma na outra numa dança fogosa de sentidos. Quando se separaram foi a vez de Cloe sorrir. Parecia a primeira vez que beijava um homem. Tinha sido tão bom. Mal podia esperar para repetir a experiência de sentir os macios mas masculinos lábios de Kai.
Mordeu o lábio inferior quando lhe voltou à cabeça a imagem do momento.
Kai sorriu e nessa altura tocou Cloe de novo na face.
- Ès tão bela!
A rapariga cora. Não sabia o que dizer. Aquele momento parecia não ter fim.
- Peço desculpa por interromper. Mas está na hora de irmos Cloe!
Cloe desejou estar numa dimensão diferente onde só ela e Kai existissem. Dessa maneira não seriam constantemente interrompidos por William.
Kai fita William com uma certa raiva, mas sorri e simplesmente diz.
- Sim já é tarde! Telefono-lhe amanhã para saber se correu tudo bem.
Cloe sorriu e avançou com William para a sala de estar onde se despediu de Susana.
Entraram no carro os dois, mas a jovem cantora não tirava os olhos de cima do jovem Hiwatari.
O carro partiu não dando mais tempo aos dois para se despedirem com olhares. Passado algum tempo Kai e a mulher Susana estavam na cama. Esta dormia com a sua cabeça sobre o peito do noivo que pensava no beijo que tinha dado a Cloe nessa mesma noite.
" Foi o momento mais maravilhoso da minha vida" pensou esboçando um longo sorriso.
Enquanto isso a jovem trocava de roupa no quarto de hotel. Atirou-se para cima da cama com um sorriso de orelha a orelha.
- Mal perdes por esperar Kai Hiwatari! Não te vais ver livre de mim assim tão facilmente a partir de agora.
Ambos adormecem nas suas respectivas camas pensando no tão esperado beijo e no dia que o amanhã lhes traria.
Espero que gostem deste capítulo. A trama ainda vai no inicio e a relação desses dois tanto pode correr mal como bem! Logo vemos...
Obrigado por lerem! Beijos!
