A Força de um Verdadeiro Amor
Capítulo III: Sentimentos Confusos
Sakura estava tão absorta em seus pensamentos que nem prestava atenção no que acontecia a sua volta. Sem dúvida, a paisagem pela janela era muito mais interessante do que as pessoas da sua sala. Detestava toda falsidade e hipocrisia que existia naquele meio. Era incrível como as pessoas poderiam achar que tudo era um mar de rosas e que todos estavam ali para serem seus amigos e te fazerem feliz. Doce ilusão... Descobrira que nesta vida não deveria confiar em ninguém, que um dia lhe virariam as costas... Abandonariam-te e essa pessoa poderia ser aquela que você mais amava...
Uma lágrima teimosa rolou por sua face, mas ela tratou de secá-la o mais rápido possível. Chorar era para fracos e ela jamais se permitiria passar por isso de novo. Prometeu que nunca mais ia chorar... Por nada e principalmente, por ninguém...
Desviou seu olhar da janela assim que ouviu seu professor pronunciar seu nome. Ao lado dele, estava um jovem parado, olhando para ela com espanto. 'Por acaso ele tinha visto algum fantasma?' – pensou ela. Já estava querendo levantar e perguntar isso para ele, quando ela entendeu o motivo do espanto dele, pois o mesmo estava estampado no rosto dela. Não era possível. Não... Era alguma brincadeira... Só podia ser, ou melhor, ela ainda estava dormindo ou dormiu no meio daquela aula chata e estava tendo pesadelos, era isso! Só podia ser! Tinha que ser...
Lá estava ele, parado, hipnotizado por aqueles olhos que nunca saíram de seus pensamentos, de seus sonhos e de seus desejos. Não conseguia parar de olhar para eles. Deus! Como desejava correr até ela, abraçá-la e beijá-la, dizer o quanto amava e o quanto sentiu sua falta durante esses anos. O rapaz continuou parado, olhando insistentemente para ela. Parecia que ele estava sonhando e tinha muito medo de acordar. Não queria perdê-la novamente. Ela, por sua vez, não conseguia desviar o olhar do dele. Parecia que algo a prendia, a dominava. Ele começou a caminhar lentamente até o seu lugar, ainda a olhando. Aquele momento parecia eterno. Tudo tinha parado ao redor e naquela sala só restavam eles e mais ninguém. Nada que pudesse separá-los novamente. Nada...
Shaoran sorria. Estava feliz... Feliz por vê-la novamente, feliz por saber que ela estava perto, feliz por simplesmente poder olhar para ela mais uma vez. Para ele mais nada importava, nada. Não queria saber o que as pessoas pensariam ou diriam pelo sorriso bobo estampado em sua face ou pelo fato do aluno novo ficar encarando Sakura. Ele só queria falar com ela, só queria saber dela e de mais ninguém.
Sentou-se. Soltou o ar que havia prendido, sem ao menos perceber. Reparou em cada movimento dela, cada detalhe. Perfeita era uma palavra simples demais para descrevê-la. Como desejou intimamente poder senti-la em seus braços... Balançou a cabeça insistentemente tentando prestar atenção na aula que havia começado, mas era praticamente impossível com um anjo daqueles sentado a sua frente.
- Sakura... – suspirou sem ao menos perceber, mas foi alto o suficiente para que ela ouvisse...
x x x
Sakura estava tensa. Ele sorria feito um garotinho que ganhou o melhor presente de natal, ela, por sua vez, estava apavorada. Era possível que os deuses poderiam ser tão maus com ela. Porque, justo agora, os fantasmas do passado tinham voltado para lhe atormentar? Finalmente, estava bem. Havia esquecido que um dia ele fizera parte de sua vida. Escondido era uma palavra mais adequada, nunca o esqueceu totalmente, mas o que mais a fazia lembrar foi o sofrimento pelo descaso dele.
Agora que ele tinha voltado, a raiva dela era ainda maior. Imaginou o pior acontecendo com ele. Acordou inúmeras vezes à noite, assustada, pois sonhara que ele havia morrido. E ficava desesperada sem saber nada sobre ele. E lá estava ele, parado, olhando para ela com um sorriso idiota no rosto, sem saber, ao menos, tudo o que ela havia passado por ele.
Ele começou a caminhar lentamente, olhando para ela. Estava tão hipnotizado que não conseguia reparar o olhar dela. Havia medo, angustia, tristeza, dor... Raiva...
Finalmente ele sentou-se e ela suspirou aliviada. Não gostava da sensação que o olhar dele provocava, parecia que examinava o lado mais profundo de sua alma, mas para seu engano, a presença dele tornou-se ainda pior. Ela sentia que era observada constantemente por ele, cada gesto, cada movimento. Sentia-se sufocada! 'Que droga! Será que ele não vai prestar atenção na aula?' – pensou irritada. E atendendo a seu pedido, ele começou a prestar atenção na aula, mas ela ainda sentia-se mal e essa sensação piorou assim que ouviu ele suspirar, despercebidamente, o seu nome...
x x x
A aula passou lentamente para ambos. Cada palavra proferida pelo professor tornava aquele momento mais angustiante. Ele, não via a hora de falar com ela, mas ela... Queria sair correndo o mais rápido possível dali. É claro, que ela tinha muito que conversar com ele. Ele precisava ouvir muita coisa! Mas antes, ela precisava organizar seus pensamentos, senão essa conversa seria um fiasco e no final estaria lá chorando igual à garotinha de anos atrás, abraçada a ele, dizendo que o amava e que nunca o esqueceu... Agora, mais que tudo ela precisava perder esses sentimentos antigos.
Finalmente, o professor sentou-se em sua mesa e começou a arrumar suas coisas, demonstrando, assim, o término da aula. Shaoran estava tão desligado que ao menos percebeu isso e só despertou assim que viu Sakura se levantar.
- Sakura, espera! Preciso falar com você! – disse ele assim que ela começou a sair.
- Não temos nada a conversar – disse fria, sem ao menos se virar.
- Como assim, não temos nada a conversar? – disse levantando-se e segurando-a pelo braço
- Não, não temos. Por favor, me solte. – disse ainda sem olhar para ele
Sakura falava em um tom de voz calmo, enquanto Li já estava um pouco alterado. Ela não olhava para ele de forma alguma. Ele já havia soltado o seu braço e ela mantinha-se de costas para ele. Não queria olhar para ele. O olhar dele a incomodava... Se ela olhasse diretamente nos olhos dele tinha certeza que ele descobriria o que se passava no fundo de seu coração e ela jamais permitiria que ele soubesse. Não queria que ele sentisse pena ou qualquer sentimento por ela, a não ser raiva... Assim ela finalmente poderia esquecê-lo completamente...
- Não! Quero falar com você! Explicar porque eu não pude falar com você por todos esses anos!
- Não precisa me explicar nada. A vida é sua e eu não faço parte dela para que deva me dar satisfações.
- Como assim? Quem disse que você não faz parte da minha vida, Sakura? – disse Shaoran completamente atônito.
- A partir do momento que você foi embora, eu deixei de fazer parte dela, se é que algum dia eu fui.
- Não diga bobeiras! Sabe muito bem o quanto foi importante na minha vida!
- Não, eu não sei, Li... – Sakura não conseguia mais esconder o que sentia, durante anos aprisionou todos os sentimentos que sentia por ele, e agora com algumas palavras ele conseguia destruir tudo isso! Não era justo!
- Li? – perguntou magoado – Por que tudo isso agora, Sakura? Por que não olha pra mim? Por que duvida de meus sentimentos? Eu compreendo que fiquei longe por um tempo, mas isso não quer dizer que você nunca significou nada pra mim, senão porque eu estaria aqui tentando me justificar como um idiota?
Sakura não suportava mais aquilo, era questão de tempo para essa conversa ir para o brejo. Estava até vendo a cena de choro e de abraços que havia pensado há pouco. Mas como veio, essa vontade se foi. Lembrou-se de como sofreu, de como a falta dele fez mal a ela e de como ela chorou e se magoou pelo desprezo dele. Ele não escreveu nem uma carta... Nem deu um telefonema... Ele não merecia mais ela e ela não precisava mais dele.
- Tem razão. – ela virou-se - Precisamos conversar, mas não agora... Não estou pronta para te dizer tudo o que quero, você chegou muito de repente. Preciso de tempo. Eu lhe chamarei pra conversarmos, pode ter certeza... – ela olhou para ele maldosamente.- Mas até lá, espero que respeite meu espaço e me deixe em paz por enquanto.
Shaoran estava totalmente pasmo. Primeiro pela frieza das respostas dela, principalmente pela última, mas o pior de tudo foi pelo olhar extremamente gélido que ela possuía agora.
- Pode ser dessa forma? – perguntou ela – Pode respeitar o meu espaço?
- Cl...Claro... – respondeu de forma desajeitada
- Então estamos de acordo.
Sakura saiu da sala, deixando Li confuso e preocupado.
- Quem é você e o que você fez com a minha Sakura? – perguntou para si mesmo.
x x x
Sakura saiu da sala totalmente confusa. Queria sumir... Decidiu ir para casa. Não tinha mais cabeça para aula nenhuma por hoje. Caminhou pelas ruas de Tomoeda tão distraída... Tão perdida...
It's down to this
Está tudo para baixo
I've got to make this life make sense
Eu tenho que fazer minha vida fazer sentido
Can anyone tell what I've done
Alguém pode dizer o que eu fiz?
I miss the life
Eu senti falta da vida
I miss the colors of the world
Eu senti falta das cores do mundo
Can anyone tell where I am
Alguém pode dizer onde eu estou?
Parou diante o parque do Rei Pingüim e olhou ternamente para ele. Aquele lugar lhe trazia um pouco de conforto ao coração. Foi onde passou por momentos maravilhosos na sua infância... Sentou-se em um dos balanços, deixando os materiais próximos a uma árvore, no chão. Começou um leve movimento sentindo a brisa fria em seu rosto. Lembrou-se de cada momento... Da época que era uma card captor, junto a Tomoyo, Kero e...
- Shaoran... – murmurou enquanto uma pequena lágrima escorria por sua face. Parecia que quebraria sua promessa... Choraria depois de tanto tempo justamente... Por ele.
Como era divertido estar junto com todos eles. De como a presença de Li era importante para ela. Talvez se tivesse percebido antes dos sentimentos dele e dos dela próprios...
Cause now again I've found myself so far down
Porque agora eu me encontro de novo
Away from the sun that shines into the darkest place
Tão pra baixo, longe do sol
I'm so far down away from the sun again
Que brilha dentro dos lugares mais escuros
Away from the sun again
Eu estou tão longe do sol novamente
Lembrou-se de quando era pequenininha e o pai a levava ao parque para brincar e fazer maravilhosos piqueniques. Touya estava sempre a assustando dizendo que havia fantasmas na floresta que havia na parte mais afastada do parque e ela sempre ia apavorada chorando atrás do pai que a acalmava dizendo que estava tudo bem...
Mas, agora, ele se fora. O mundo não podia ser mais injusto tirando Fugitaka dela quando mais precisava. Touya sempre dizia que ele estava feliz agora junto de Nadeshico e que estaria olhando por eles sempre, que não havia nada a temer... Sabia que ele estava certo, mas ela o queria ali com ela e Touya. Será que ela nunca poderia ser egoísta, pelo menos uma vez na vida?
I'm over this
Eu superei isso
I'm tired of livin' in the dark
Eu cansei de viver no escuro
Can anyone see me down here
Alguém pode me ver aqui embaixo?
The feeling's gone
O sentimento se foi
There's nothing left to lift me up
Não sobrou nada pra me levantar
Back into the world I know
Volto para o mundo que eu conhecia
Sakura começou a chorar intensamente como se houvesse muito tempo que não fazia algo do gênero, e realmente não fazia. A última vez que chorou foi no enterro do pai há três anos atrás, desde então impôs uma barreira em seu coração impedindo dos sentimentos aflorarem e as pessoas queridas de chegaram mais fundo.
Como que se sentindo como ela, o tempo mudou de repente. Uma forte chuva começou a cair. Uma chuva que descrevia exatamente os sentimentos de Sakura naquele momento. Uma chuva incerta, intensa... E ao mesmo tempo tão acolhedora. Ela permaneceu sentada exatamente no mesmo lugar enquanto observava as pessoas que passavam correndo tentando se proteger, mas para ela era um calmante para a sua alma tão perturbada.
Assim que começou a se acalmar, a chuva foi diminuindo lentamente, acompanhando suas emoções.
And now again I've found myself so far down
Porque agora eu me encontro de novo tão pra baixo
Away from the sun that shines into the darkest place
Longe do sol que brilha nos lugares mais escuros
I'm so far down away from the sun
Tão pra baixo, longe do sol
That shines to light the way for me to find my way back into the arms
Que brilha a vida longe de mim
Para achar meu caminho de volta para os braços
That cares about the ones like me
Das pessoas que gostam de mim
I'm so far down away from the sun again
Eu estou tão pra baixo, longe do sol
Sakura levantou-se do balanço. Caminhou lentamente até a árvore que tinha deixado o material. Estava praticamente seco, com exceção, de pequenas gotas que conseguiram atravessar a ampla copa de folhas danificadas pelo tempo frio. Não era de se estranhar às pessoas correrem daquela tempestade, não era todo dia de inverno rigoroso no Japão que chovia. Não sabia quanto tempo havia se passado desde que sentara no balanço. Mas sabia que não havia como voltar atrás, não deveria ficar lamentando-se. Tinha que seguir em frente, com ou sem a presença de Shaoran Li. É claro que com ele por perto tudo seria mais difícil, mas ela era forte. Tornara-se forte.
It's down to this
Está tudo pra baixo
I've got to make this life make sense
Eu tenho que fazer minha vida ter sentido
And now I can't tell what I've done
E agora eu não posso dizer o que eu fiz
And now again I've found myself so far down
E agora eu me encontro de novo tão pra baixo
Away from the sun that shines to light the way for me
Longe do sol que brilha a vida longe de mim
Olhou para trás, enquanto caminhava saindo do parque. Deu um leve sorriso, terno, em agradecimento. Tomoyo sempre dizia que chorar fazia bem e finalmente ela concordava com a prima. Olhou no relógio, não era tão tarde, mas era bom ir logo para casa. Estava ensopada. Se não tomasse logo um banho quente com certeza ficaria doente. E... Era bom correr para casa. Com certeza, Touya havia visto a chuva.
And now again I've found myself so far down
Porque agora eu me encontro de novo tão pra baixo
Away from the sun that shines into the darkest place
Longe do sol que brilha nos lugares mais escuros
I'm so far down away from the sun
Tão pra baixo, longe do sol
That shines to light the way for me to find my way back into the arms
Que brilha a vida longe de mim
Para achar meu caminho de volta para os braços
That cares about the ones like me
Das pessoas que gostam de mim
I'm so far down away from the sun again
Eu estou tão pra baixo, longe do sol
x x x
Depois da estranha conversa, por assim dizer, com Sakura, Shaoran ficou em pânico. Não esperava por essa reação. Mas também pudera, esperava demais desse reencontro. Foram nove anos sem o menor contato... E do nada ele reaparece achando que Sakura se jogaria em seus braços, chorando e dizendo que o amava e que havia esperado por ele. Como pudera ser tão idiota! Até poderia imaginar que ela tivesse um outro namorado, apesar dessa possibilidade parecer tão... Tão frustrante! Se ela tivesse outro provavelmente o sentimento dentro dele seria mais leve, porque já teria descontado a raiva na cara do panaca que tinha ousado tocar sua flor! Mas o desprezo, a frieza doía muito mais... Se a intenção dela era magoá-lo pela falta de notícias ela, definitivamente, havia conseguido.
Andava sem rumo pelo campus da universidade, quando sentiu uma dor fina no peito, uma tristeza... Parecia que estava sofrendo por algo muito forte. Tinha vontade de chorar, de gritar! Mas por quê? Olhou para o céu, involuntariamente. Sentiu pequenas gotas em seu rosto. Chuva? Em pleno inverno com muita neve? A chuva foi aumentando e Shaoran pode observar as pessoas correndo, mas ele simplesmente permanecia ali. Aquela tempestade aclamava seu coração.
Algumas pessoas olhavam para ele, assustadas. Ele caminhava tão tranqüilamente que fazia parecer um dia ensolarado na primavera. A chuva não o incomodava em nada, pelo contrário, ele exibia um semblante triste que parecia amenizar com o aguaceiro.
E como veio, a chuva parou. E Li sentiu-se mais leve apesar de ainda estar triste por algo que não fazia idéia do que seria. Ainda olhava intrigado para o céu. Estava tão afundado em seus pensamentos que nem percebeu a aproximação de uma garota.
- Li? Venha comigo. Precisamos conversar... – disse a jovem de vivos olhos violetas.
x x x
Touya andava de um lado a outro da casa, como louco. Sabia o motivo da chuva e sabia de quem era a culpa. Estava desesperado. Onde diabos estava Sakura à uma hora dessas! Ela já tinha saído da faculdade, mais cedo...
Sakura abriu a porta, tirou o pesado sobretudo molhado, os sapatos e as meias. Colocou o chinelo que se encontrava ao lado da entrada.
- Já cheguei! – disse tentando parecer o mais natural possível.
- Onde estava? - disse Touya um pouco exaltado.
- Na faculdade, oras! – disse Sakura tentando enganar o irmão.
- Sei que não estava na faculdade a um bom tempo. Onde estava?
- É verdade, não tive algumas aulas, então resolvi vir bem devagar para casa – tentou Sakura, mas parecia não estar adiantando.
- Sakura... – Touya suavizou as feições – Por favor... Não minta para mim...
Ela começou a sentir-se mal por mentir para ele. Fora ele que a ajudara nos momentos mais difíceis, mesmo sabendo que ele sofria também. Touya era, agora, sua única família. Não queria mentir, mas também, não queria preocupá-lo.
- Eu estou bem, Touya. Por favor, não se preocupe – disse Sakura abaixando a cabeça e com a voz fraca.
- Bem, Sakura? – disse em um tom de voz mais alto do que havia planejado – Eu vi a chuva, Sakura! E eu sei o que isso significa! Sou seu irmão! Peço que confie em mim e saiba que tudo que quero é o seu bem...
Touya sentou-se no sofá sentindo-se derrotado. Sua irmã, que tanto amava, não confiava nele...
- Não é que não confie em você, Touya. Pelo contrário, não quero é deixa-lo preocupado.
- Preocupado eu fico quando você esconde as coisas de mim! – Touya escondeu o rosto entre as mãos.
- Eu fui ao parque... – disse suavemente enquanto sentava-se ao seu lado - Não estava com cabeça para assistir aula nenhuma... – fez uma breve pausa antes de continuar – Shaoran voltou.
- Esse moleque vai atormentar minha vida de novo... – resmungou Touya – mas, eu não entendo, Sakura...
Depois da morte do pai, Sakura tornou-se uma pessoa tão diferente, não com os familiares, mas com as outras pessoas e com o seu jeito. Não era mais alegre e viva. Estava mais quieta. Nem resmungava quando ele a chamava de monstrenga... Sabia que devia ser alguma coisa com o moleque, tinha uma pequena intuição.
- Sabe melhor do que ninguém como sofro pela perda do papai... – começou lentamente – foi uma fase muito difícil pra mim e sei que foi também pra você. Tudo me revoltava, era muito injusto, tirar um homem tão bom do mundo e de nós! Sei que estou sendo egoísta, mas não me importo, ainda acho que ele deveria estar aqui! Tudo me afligia e o desprezo do Shaoran era o maior deles. Ele disse que me amava! Que voltaria para mim, mas, sumiu... Nem mandou uma carta ou um telefonema sequer... E Deus sabe o quanto eu precisava de apoio... Agradeço todos os dias por ter você, senão eu não sei o que seria da minha vida... – terminou com lágrimas cobrindo o rosto.
- E sempre terá a mim! – Touya tinha lágrimas nos olhos – Eu também sinto muita falta do papai, mas ele está com a mamãe agora e sabemos que ele não poderia ser mais feliz, talvez não agora, vendo essa choradeira por causa dele – Sakura deu um leve sorriso – Você não precisa desse moleque, porque eu vou sempre estar ao seu lado...
- Não, Touya. Não estará e eu não deixarei que esteja! – disse Sakura deixando o irmão extremamente confuso – Você precisa ter a sua vida, casar-se e ter muitos filhinhos lindos! Eu quero ser tia, sabia?
- Mas, Sakura... – disse Touya duvidoso, levantando-se e andando de um lado para outro – Você não pretende voltar correndo para os braços do moleque? Só porque ele está no Japão não muda nada o fato dele ter ficado anos sem te dar notícias. Vai saber se ele já não tem milhões de molequinhos em todas as partes da China. Sakura se eu ficar sabendo que você sequer passou perto dele...Ai de você, mocinha! Vai ficar de castigo por um mês! – apontou o dedo ameaçadoramente para a irmã.
- Touya! – disse levantando-se também e olhando para ele com uma cara desconfiada - Não acha que eu estou grandinha demais para castigo? E desde quando você me proíbe de alguma coisa, heim? Você esta ficando muito abusado! E quanto ao fato de eu nem passar perto do Shaoran, vai ser difícil... – terminou quase num sussurro.
- E eu posso saber por que? – perguntou erguendo uma sobrancelha
- Ele estuda na minha sala... – respondeu baixinho
- O QUÊ!
- É Touya, mas isso não significa que eu vá ficar correndo atrás dele! Por favor, ate parece que você não confia em mim!
- Confio em você, Sakura... Eu não confio é nele! Vai saber... Em vez de ter milhões de pirralhinhos chineses, o moleque ficou enclausurado e está louco para... – não conseguiu terminar a frase, achou melhor parar por ali antes que Sakura batesse nele.
- Touya! Que horror! – respondeu indignada.
- Por isso, também, que eu vou sempre estar ao seu lado... Para te proteger de moleques assanhados...
- Sei que você vai sempre me ajudar, mas você não pode viver na minha sombra, Touya. – disse Sakura, falando com ternura ao irmão, fazendo-o parar, um pouco, com a brincadeira - Você merece ser muito feliz. Enquanto estava no parque eu refleti muito sobre tudo, principalmente à volta do Shaoran e percebi que não é porque ele está aqui que a minha vida vai virar de cabeça para baixo. Eu estou mais forte. A vida me ensinou a ser forte.
- Mas se esse projeto de guerreiro tentar chegar um pouquinho assim perto de você... Ah, eu mato ele! - disse Touya enquanto fechava a mão batendo-a na outra, com uma cara muito assustadora.
- Eu sei que sim, Touya! – riu, enquanto dava um leve tapinha no ombro do irmão - Vou tomar banho, antes que pegue um resfriado.
Subiu as escadas rindo um pouco, mas sabia que essa historia ainda ia dar muita confusão.
x x x
Li chegou em casa, um pouco atordoado com a conversa que teve com Daidouji. Colocou as chaves sobre a mesinha do telefone e jogou-se no sofá do jeito que estava, sem tirar o casaco. Pôs as mãos atrás da cabeça e ficou olhando para o teto mergulhado em pensamentos.
"Não percebe?" – disse Tomoyo um pouco irritada antes mesmo de sentarem-se em uma das mesinhas na lanchonete.
"O quê?" – perguntou Li confuso e sentando-se."Diga que está brincando! Até eu que não possuo poderes mágicos sei o que é isso... Deve ser a convivência, coisa que você não tem... Mas você tem poderes, bem que poderia usa-los de vez em quando" – ela sentou-se à frente de Li, falando baixo, mas em um tom revoltado.
Li assustou-se com a atitude da amiga de infância, a sempre doce e angelical Tomoyo, cujo olhar nesse instante parecia tremer. Redobrou a preocupação com a menção da palavra poderes... Estava esquecendo seu real objetivo em Tomoeda... Esquecendo dos conselhos de sua sábia mãe...
"Li! Em que mundo você está? Concentre-se!" – chamou a atenção do rapaz que parecia perdido.
Shaoran fechou os olhos e pôde sentir uma presença mágica conhecida, mas tão triste.
"A presença dela está diferente..." – disse ainda de olhos fechados – "Ela está triste, mas não é por esse motivo que a presença dela mudou..." – completou reabrindo os olhos.
"Ela está chorando..." – disse Tomoyo soando um pouco melancólica.
"Como sabe?" – perguntou Li, mas depois de ver a cara de Tomoyo arrependeu-se de ter perguntado.
"Olhe a chuva, gênio!" – apontou a mão para o céu – "Acha que nessa época do ano é comum chover?"
Vendo a cara confusa que Li fazia achou melhor explicar direitinho. Ele parecia que não sabia nada de nada... Será que ele tinha treinado mesmo? Não estava parecendo...
"Sakura ficou mais forte, como você já deve ter imaginado. Ela nunca foi fraca e a tendência era ela se fortalecer. Há uns três anos atrás descobrimos que ela tem influência sobre o clima conforme suas emoções. Quando o senhor Kinomoto faleceu..." – Li arregalou os olhos, mas Tomoyo continuou – "... Sakura ficou inconsolada, trancou-se no quarto e chorava sem parar. Durante uma semana choveu em Tomoeda, sem interrupções e cada dia uma tempestade mais forte que outra...".
Shaoran só ouvia a narração da moça muito interessado e preocupado.
"Touya e eu já desconfiávamos dessa habilidade por vários acontecimentos parecidos" – olhou para ele, suspirou e continuou – "Ela mudou, Shaoran! Não é mais a garotinha sonhadora que você conheceu! Não é mais sorridente, radiante e social como antes! E isso, quero que fique bem claro, é culpa sua!"
Algumas pessoas que se sentavam nas outras mesas, não puderam deixar de olhar o casal que discutia ali. Shaoran, como que num momento de raiva, retrucou, mesmo sabendo que ela tinha toda razão.
"Como eu poderia ter culpa! Eu nem sabia o que estava se passando por aqui!" – disse erguendo um pouco a voz.
"Exatamente! Você não tinha como saber, porque você, ao menos se importou de tomar conhecimento! Por que não ligou? Por que não quis saber? Você, ao menos, pensava nela quando ia dormir?" – a discussão estava um pouco fora do controle de ambos, mas nada muito exagerado, ainda.
"Todas as noites, todos os dias, todas as horas, todos os minutos... todos os segundos..." –ele abaixou a voz e a cabeça – "Não tinha um só momento que eu não pensava nela! Como ela estava? O que ela tinha almoçado? Se ela estava entendendo os exercícios de matemática? Sei que ela não gosta muito de matemática... Se ela tinha tido um bom dia? Se ela estava pensando em mim também?" – Shaoran estava com os olhos marejados e Tomoyo pôde ver que ele estava sendo sincero...
"Então porque não ligou?" – perguntou um pouco arrependida de sua atitude.
"Não podia! Os anciões do meu clã diziam que qualquer distração me atrapalharia... e me prometiam que quanto mais rápido eu terminasse, mais rápido poderia vê-la. Mas nunca acabava! Sempre eu falhava, nunca era bom o bastante! Pensar em voltar para ela era o que me motivava todos os dias!" – ergueu o rosto e Tomoyo pôde ver que ele chorava. "Você não sabe o quanto foi difícil para eu ouvir o que ela disse, poder ver a frieza em seus olhos... Queria poder voltar no tempo e nunca ter voltado para Hong Kong, mas, infelizmente eu tinha responsabilidades com a minha família... mesmo assim, se eu soubesse que isso iria acontecer... teria ficado aqui... com ela...".
Ao ver a sinceridade de Li, Tomoyo não podia continuar com aquilo. Precisava fazer alguma coisa. Sabia que a partir do momento que ele e Sakura se acertassem ela voltaria ser aquela garota alegre e extrovertida que sempre foi e era assim que Tomoyo mais gostava de ver a prima.
"Posso tentar ajudar você..." – pôde ver o amigo abrir um leve sorriso – "Já vou avisando que não vai ser nada fácil, mas eu vou tentar... sei que lá no fundo, Sakura ainda gosta de você, senão ela não teria tido tal atitude. Você a incomoda!".
"E isso é bom?" – perguntou não entendendo o que ela dizia.
"Claro que é! Significa que a sua presença tem influência nela! Então... eu vou ajudá-los! Afinal ela é minha prima favorita e não quero que ela sofra mais, nem você... eu sei como é triste sofrer por amor...". – disse a última parte sem ao menos perceber.
"Você sente muita falta do Hiiragizawa, não é?" – disse com um sorrisinho cínico, fazendo Tomoyo corar.
"Do que você está falando?" – perguntou totalmente sem graça.
"Você acha que só você é observadora por aqui, é Daidouji? Enquanto você ficava vendo eu sem graça perto da Sakura, eu via seus olhares para o Clow..." – disse rindo da cara dela.
Tomoyo corou ainda mais e a conversa entre os dois ficou mais descontraída.
Levantou-se do sofá e foi tomar um banho para relaxar. Queria ir dormir e tentar arrumar as idéias. O dia não havia sido nada fácil.
x x x
Sakura andava por um lugar escuro e sinistro. Parecia um cemitério muito antigo. Continuou a andar, sem fazer a menor idéia para onde estava indo. Caminhava por entre túmulos antigos e muitos possuíam as lápides quebradas. O lugar parecia totalmente abandonado, mas ela viu um vulto de uma pessoa algumas sepulturas à frente. Ela gritou, a fim de chamar a atenção da pessoa, mas isso só a fez correr ainda mais, como se fugisse dela. Começou a correr em direção a pessoa, mas esta, só se afastava cada vez mais. Sakura gritava, pedindo que ela esperasse, mas ela não lhe dava atenção e continuava correndo com a garota em seu encalço.
Sakura parou, ofegante, olhando para os lados, procurando pelo vulto, mas ela havia o perdido de vista. Reparou que estava em um lugar diferente, mas ainda estava dentro do cemitério. Era mais escuro; a vegetação era mais fechada. Bem a sua frente havia um admirável mausoléu. Apesar do abandono do local, podia-se ver claramente o luxo que um dia aquele ambiente fora. Alguém muito importante deveria estar enterrado ali. De repente, Sakura sentiu uma presença estranha e muito forte. Fechou os olhos e se concentrou. A presença vinha do mausoléu. Abriu os olhos e pôde ver uma aura púrpura contornar o lugar.
- Estava esperando você, Mestra das Cartas. – disse uma voz estranhamente familiar.
Sakura acordou em um salto, passou a mão pela testa suada e reparou que estava em seu quarto. Respirou um pouco, esfregou os olhos e suspirou tentando se acalmar... 'Droga! Esse sonho de novo!' - pensou aborrecida e preocupada.
Não muito longe dali, um jovem acordava assustado. Sentou-se na cama, passou a mão nos cabelos já desalinhados, desajeitando-os ainda mais... 'Que diabo de sonho maluco foi esse?' – perguntou a si mesmo incomodado com as imagens que viu.
x x x Continua... x x x
N/A: Oi pessoal! Primeiramente eu quero pedir milhões de desculpas por ter demorado tanto para postar... Eu tive um bloqueio imenso... Eu só tinha algumas idéias formadas e elas não estavam organizadas e eu não queria publicar um capitulo sem nexo só por publicar. Não seria justo com vocês lerem qualquer coisa por relaxo meu. Quando saiu tudo, eu reli muitas vezes e acabei arrumando muita coisa. Acho que agora ficou bom... Espero que vocês achem também! Vou tentar não demorar tanto mais... Agora as idéias estão fluindo! Vamos aos agradecimentos:
Miaka: Bom... Se não tiver um suspense não tem graça, né? Mas agora ele a viu e as coisas não estão muito boas para o lado do nosso herói... Será que o bonitão vai dar conta do recado? Claro! É o Shaoran Li... (ai... ai...). Espero que tenha gostado desse capítulo! Obrigada pelo review. Beijos.
Nádila: Oi! Fiquei muito feliz com o seu comentário! Pois fazia um tempão que eu não escrevia e fiquei emocionada por você mandar um review depois de um bom tempo que eu havia publicado! É ótimo saber que ainda lêem a fic! Eu não tinha posto muito a Sakura porque era essa a intenção, ela aparecer um pouquinho mais pra frente, mas agora ela está aí, arrasando o pobre coraçãozinho do Li... Espero que você tenha gostado da presença dela. A participação dela será cada vez maior, afinal ela é minha heroína e a mais fofa, por sinal... Obrigada pela dica e espero que a aparição dela tenha atendido suas expectativas. Qualquer coisa me avise! Obrigada pelo comentário! Beijos.
Yoruki Hiiragizawa: Você ainda lê a minha humilde fic! Estou emocionada! Gostou do capítulo? Como prometido ele está maior! Pretendo continuar assim... Adorei o seu review! Você acredita que eu fiz o encontro da Tomoyo e do Li sem lembrar desse detalhe que ela sempre encontra ele primeiro, só percebi depois que você falou... Parece coisa do além... (Darkk olhando para os lados com a cara de choro da Sakura...). Então você percebeu que tinha algo errado com a Sakura? Fiquei super feliz que você reparou, espero que o motivo tenha ficado claro, tem alguns motivos que influenciam também, mas ainda está cedo para falarmos disso... Muito obrigada pelos elogios e pelo seu comentário! Adorei! Beijinhos!
Analu: Oi! Será que você ainda vai ler minha fic depois de eu ficar sumida por tanto tempo? Espero que sim... Adoro seus reviews! Você viu, todo mundo na minha fic é chegado na família? Até Touya e Sakura? Quem diria que ele iria assumir toda a proteção por ela... Gostou do capitulo? Espero que sim... Quanto aos acessos de Shaoran Li... Não seria ele sem a pose arrogante, eu acho que esse é o maior charme dele! Eu sou apaixonada por ele! Se não fosse pela Sakurinha... ai, ai... Eu também sou uma Sakura/Shaoranmania, sei como é... Adoro os mangás que você citou e Tao Ren... Sem comentários... Adoro a fase que ele tem a tatuagem nas costas e que costas... Mas com relação a minha participação especial e Aquilo tudo que é homem... Bom... Porquê você acha que eu sumi por tanto tempo? Depois daquele rápido encontro, minhas pernas ficaram bambas, as mãos trêmulas, nem dava pra digitar! Mas depois de muita terapia e muitos calmantes, estou de volta! E o Li que se prepare, vou abusar dos dotes físicos do garoto! Huahuahua!
Muito obrigada pelos seus elogios e seus comentários! Adorei! Obrigada por não me abandonar! Beijinhos!
Gostaria de agradecer também aqueles que leram e não deixaram comentários! Fico muito feliz que leiam minha humilde fic! Beijos a todos!
Desculpe mais uma vez pela demora! Vou tentar publicar com mais freqüência!
A musica desse capitulo é: "Away from the sun" do Three Doors Down e antes que o FFNet tente me bater, a música não é minha, eu não pretendo ganhar um centavo com ela e os direitos autorais são todos deles! Assim como os personagens de Sakura Card Captors, os direitos são da Clamp.
Muito obrigada pela atenção e pelos comentários! Se tiverem alguma dúvida me avisem! Beijinhos, Darkk "
