Herança Egípcia

Capitulo VI - Mergulhando no Passado

Quatre tentava a todo o custo fazer Duo sair do transe em que este se encontrava. Olhou para Une buscando por ajuda, e recebendo um aceno de cabeça diante da pergunta em seus olhos claros.

- Ele já está vindo.

- Graças a Alá.

Duo tentava ignorar a voz. Não queria mais ouví-la; mas não conseguia fazê-la calar-se. Não compreendia o que ela queria dizer com aquelas palavras... Do que deveria se lembrar? E de quem? Porque deveria se lembrar de algo que nem sabia se realmente estava acontecendo? Ainda assim a voz insistia em afirmar que se lembrasse. Que procurasse a verdade.

Heero chegou ao estacionamento em poucos minutos, e imediatamente localizou a limusine, correndo até ela. Encontrou Duo deitado no banco, murmurando. O egiptólogo olhou para Quatre que tinha o semblante preocupado, e que tentava em vão acordar o amigo que mexia os olhos por sob as pálpebras fechadas. Agachou-se e tocou no milionário, enquanto buscava por informações que pudessem esclarecer seu transe.

- O que aconteceu?

- Não sabemos. Eu e Une estávamos conversando, quando de repente ele começou a falar em egípcio perguntando quem era e coisas sem sentido como se lembrar de alguma coisa.

- Há quanto tempo ele está assim?

- Acho quê a uns vinte... trinta minutos.

Heero tocou o rosto de Duo que ofegou ligeiramente. As lembranças do que havia acontecido entre eles assaltaram-no; e ele teve que se controlar para que o desejo não o inundasse novamente.

Quatre notou que Duo acalmou-se um pouco assim que fôra tocado por Heero. Acertara em chamá-lo. De alguma forma, ambos estavam ligados; por algo além de sua compreensão. Surpreendeu-se ao ouvir Heero falar com Duo na mesma língua que o amigo murmurava já há algum tempo, procurando de alguma maneira acordá-lo.



"Duo abra os olhos"



"Ela não me deixa ir. Não até que eu prometa me lembrar."



"Lembrar do quê?"

Inconscientemente, Duo procurou pela mão de Heero e a segurou; fazendo com que o egiptólogo fechasse os olhos, como se entrasse em transe; caindo na inconsciência por sobre o corpo de Duo, diante do olhar de Quatre e Une. Quando abriu os olhos encontrava-se diante do que parecia ser um templo. Viu alguém que supôs ser Duo, sentado junto a uma escadaria de pedras. Assim que o viu a pessoa estendeu a mão em sua direção, aguardando que se aproximasse. Heero dirigiu-se para ela, notando que apesar da aparência ser a mesma do milionário, o rapaz à sua frente não era ele. A pessoa que lhe sorria parecia ter por volta de 15 anos ou menos. Os fios, de um tom claro; eram ligeiramente mais claros que os do milionário, mas a cor de seus olhos era idêntica. Tomou as mãos do menino entre as suas, sentindo um leve estremecimento assim que se tocaram.

"Porque tenho a sensação de que o conheço?"

O menino ergueu-se, e sorrindo começou a puxá-lo para dentro do templo. Heero aproveitou que o mesmo encontrava-se de costas e observou-o mais atentamente. Notou que as roupas que este usava eram trajes do Egito antigo. E embora parecessem mais com trajes de um escravo estas não escondiam a natureza nobre do garoto. O menino parou ao sentir-se observado, voltando seu olhar para Heero e depois para si. Deu um pequeno sorriso e o puxou-o, falando pela primeira vez e voltando a caminhar logo em seguida.



"Achei que não me encontraria Ohry..."

Heero parou obrigando o outro a fazer o mesmo. Porque ele o chamara de Ohry? Pelo que se lembrava esse era o nome que fora encontrado no túmulo do filho do faraó Menés. Olhou para o menino que sorria levemente. Este aproximou-se e uniu suavemente seus lábios, fazendo Heero afastar-se, com o coração descompassado. Seu olhar moveu-se para o pescoço do menino que tinha o colar de pedras vermelhas que o velho lhe entregara em frente ao restaurante. Surpreso, olhou novamente para o menino, encontrando um olhar triste. Podia ver a dor espelhada neles, e seu peito doeu, em resposta ao que via nos olhos ametistas. Um suave vento fez com quê os cabelos do menino agitassem-se em uma imagem surreal. O egiptólogo piscou ligeiramente, e quando abriu os olhos encontrava-se sozinho, com apenas a voz do menino ecoando em sua mente:



"Você precisa se lembrar de mim, para que possamos estar juntos novamente. Lembrar-se de quem eu fui... lembre-se de nós.. .lembre-se do que vivemos... liberte nossas almas e estaremos livres para estarmos juntos."

Heero sentiu-se momentaneamente tonto, Ao abrir os olhos viu-se ajoelhado no chão da limusine, caído sobre o corpo de Duo, com Quatre e a secretaria do milionário a observa-lo preocupados.

- Você está bem Heero?

Heero sacudiu a cabeça e ergueu-se ligeiramente de cima do milionário. Lembrava-se vagamente que desmaiara. Quanto tempo havia ficado inconsciente?

- O que houve?

- Você desmaiou assim que Duo tocou sua mão.

- Quanto tempo?

- Dez... quinze minutos.

Heero estreitou os olhos. Não imaginava que houvesse passado tanto tempo assim. Voltou o olhar para Duo que o observava em silêncio. Havia algo em seus olhos. Algo que tinha a impressão de já ter visto antes. O choque o atingiu ao reconhecer os olhos do menino. A dor que vira, quando se afastara do contato de seus lábios. Era a mesma que se encontrava agora refletida nos olhos do americano em seus braços. Heero procurou ignorar a sensação que o assaltava. procurando saber como o rapaz em seus braços se sentia. Procurou dar uma certa frieza a sua voz, e assim resguardar-se, mas não conseguiu. Não quando Duo o olhava tão estranhamente, e ainda assim de forma tão familiar.

- Você está bem?

Duo fechou os olhos um pouco. Sentia-se estranhamente cansado. A cabeça pesava, mas por algum motivo sentia-se aquecido pelo simples fato de estar nos braços de Heero. Podia ver a preocupação em seus olhos, embora sua voz parecesse um tanto fria a seus ouvidos. Procurou se afastar e sentar-se, ajeitando alguns fios atrás da orelha direita. Respirou profundamente:

- Acho... acho que sim. Sinto-me um pouco cansado, respondeu de forma vaga.

Duo ainda podia sentir a presença da pessoa que falara com ele. O tom frio, e ainda assim acolhedor daquela voz ecoava em sua mente, bem como as imagens de um jovem de olhos escuros e frios, sentado junto a uma escadaria de pedra, como se aguardasse a chegada de alguém. E embora seu semblante estivesse sem nenhuma expressão, pudera notar algo que descreveria como saudade reluzindo nos olhos azuis como o anoitecer. Sentia o coração apertado, e sentia que a saudade que via naqueles olhos eram sua culpa. Era como se o jovem que o observava em silêncio o estivesse esperando. Aguardando que se lembrasse dele. Mas não conseguia se lembrar. Por mais que forçasse sua memória, não se lembrava de seu nome. Conhecia-o, disso tinha certeza. Cada célula de seu corpo sabia quem ele era. Mas sua mente recusava-se a lembrar-se.

Aproximara-se do jovem tocando seu rosto, e tentando despertar sua mente. Viu quando o jovem fechou os olhos ante a carícia, e permitiu que uma lágrima solitária rolasse por sua face. Foi como se uma adaga transpusesse seu peito, e ele caiu de joelhos tomando-o em seus braços e afundando o rosto no pescoço do jovem rapaz. Sentiu-o envolver-lhe o corpo em um abraço, e afastou-se ligeiramente, não recuando quando o jovem tomou seus lábios de forma carinhosa. Sentiu seu corpo tremer, e correspondeu ao beijo, como um homem sedento. Quando sua consciência o assaltou afastou-se abruptamente, ao se dar conta que deixara um garoto quase dez anos mais novo que ele o beijasse de forma tão intima. Viu um ligeiro sorriso formar-se nos lábios do outro, antes deste levantar-se e sumir dentro do templo onde se encontravam. Dos corredores vazios e escuros podia ouvir sua voz ecoando suavemente.



"Eu nunca me esqueci de você Sibun... não permita que ele nos afaste novamente. Lembre-se de mim... de nós. Este ainda não é o final de tudo... estarei esperando por você... no mesmo lugar."

- Duo?

- Duo piscou ao ouvir a voz de Quatre. Seu olhar voltou-se para o amigo e ele sorriu levemente.

- Eu estou bem... estava apenas... me lembrando.

- Sobre?

Duo olhou para Heero e vislumbrou rapidamente o garoto em frente ao templo. Sacudiu a cabeça, procurando clarear a mente, mas a imagem não lhe saia da mente. Heero notou a surpresa nos olhos de Duo, para pouco depois a confusão tomar seu lugar. Levantou-se, deixando a limusine. Ali não era o melhor, nem o mais confortável lugar para conversarem.

- Vamos conversar melhor no museu. Há algumas informações que você deveria verificar Quatre. Talvez elas nos ajudem a descobrir o que está acontecendo.

Apesar de falar diretamente com Quatre o olhar de Heero mantinha-se preso ao de Duo. O americano sacudiu a cabeça concordando e desceu do veículo. Estendendo a mão para sua assistente, que ainda se encontrava preocupada. Sorriu e passou o braço por sua cintura, assegurando-lhe que estava bem. Seu olhar voltou-se então para Heero, notando em seus olhos um brilho ligeiramente estranho.

Heero não sabia porquê o fato de vê-lo abraçar a secretária o aborrecera, mas não pudera impedir de sentir-se incomodado com isso.

Quatre observava os acontecimentos em silêncio e acompanhou o amigo que caminhava em direção ao museu. Sua mente ainda procurava entender o que estava acontecendo, e apenas uma explicação lhe parecia a mais adequada para a situação, embora talvez fosse a última pessoa a acreditar em algo assim. Mas diante dos fatos, essa parecia ser a mais plausível de todas.


Sala da Diretoria:

Milliardo estava resolvendo alguns assuntos referente a alguns credores, quando o telefone informou uma segunda ligação. Olhou para o aparelho aborrecido, antes de atender, colocando a outra ligação em espera.

- Sim Shirley.

- Desculpe senhor, mas é uma ligação do Cairo.

- Cairo!

- Sim, o senhor Treize Khushrenada deseja falar-lhe.

- Obrigado Shirley, pode passar a ligação. Atenda a do senhor Carter e diga-lhe que o deposito será feito antes do final do expediente bancário.

- Sim senhor.

Milliardo aguardou a transferência, e sorriu ao ouvir a voz de Treize. Haviam estudado juntos e pleiteado a mesma vaga como diretor do Museu de Cairo, no entanto Treize tivera mais sorte e ele acabara na direção do Museu de Londres.

- Zechs.

- Não escuto esse nome a um bom tempo meu amigo.

- Fico feliz em saber que sou o único que ainda o chama dessa forma. Lamento muito que nossos contatos não aconteçam mais com a mesma regularidade de antes.

- O trabalho tem nos tomado mais tempo do que gostaríamos.

- É verdade, felizmente os finais de ano continuam a existir o que nos permite visitar os amigos.

- Suponho então que vira esse ano?

- Sim, não pretendo falta por nada.

- Fico feliz em ouvir isso. Mas diga-me, em que posso ajudá-lo?

- Acredito que um de meus funcionários, esteja em visita ao seu Museu, parece que ele e Yuy são velhos conhecidos.

- Não saberia dizer Treize. Heero mantém muitos contatos e não saberia dizer qual o grau de amizade de cada um deles. Digamos que ele não é tão sociável, quanto é brilhante.

- Entendo. Bem, andei conversando com o Museu de Praga que mantém uma escavação nos arredores de Zarburk, não sei se sabe, mas a algumas semanas encontramos o que acreditamos ser o Templo de Anúbis.

- O Templo de Anúbis!

Milliardo ficou em silencio alguns instantes; se isso fosse verdade era sem dúvida um grande achado, uma vez que a localização do templo era desconhecida. Tal descoberta iria sem duvida abalar o meio arqueológico durante um bom tempo. Do outro lado da linha Treize deu um meio sorriso diante do silêncio do amigo. Sabia que a informação que dera era incrível, ele mesmo achara o achado um sonho.

- Exatamente. E como o Museu de Praga me informou que eles e vocês estão em parceria quanto o achado em Zarburk, achei que talvez nós três pudéssemos unir nossos achados e partilhar as informações a serem encontradas em Tarlirkut. O que acha?

- Fantástico... tenho certeza de que Heero ficará maravilhado com tal oportunidade. Pedirei a ele que conte a vocês tudo que já encontramos.

- Ótimo, entrarei em contato com Quatre e direi que compartilhe as informações que já temos. Nos falamos em breve.

- Estarei aguardando.

Milliardo sorriu e ligou para a secretaria, pedindo que informasse a Heero que fosse falar com ele assim que possível.


Sala de arqueologia:

Trowa e Sally estranharam o fato de Heero ter saído correndo após o telefonema, sabiam que ele falava com a assistente do milionário, e imaginavam que a pressa do japonês se devia a algo que deveria ter acontecido a Duo. Haviam notado que seu amigo agia estranhamente próximo ao milionário, fato esse muito estranho; uma vez que Heero não costumava aproximar-se de ninguém, ainda mais de pessoas que mal conhecia, como Duo Maxwell. Ainda assim era impossível negar que alguma coisa parecia uní-los. Ou procurava uní-los. A forma protetora com que o egiptólogo passara a tratar o milionário de uma hora para outra era, no mínimo; estranha.

- Trowa, não acha que deveríamos verificar se está tudo bem? Heero já saiu há algum tempo, e ele tem uma turma daqui a pouco.

- Você está certa, vou ligar e saber o que houve.

Trowa aproximou-se do telefone e já estava discando para o celular do japonês quando a porta abriu, dando passagem a Heero e os outros que o aguardavam para almoçarem e discutirem sobre as escavações e os artefatos encontrados, bem como as estranhas inscrições. Podia sentir que alguma coisa não ia bem. O americano apresentava um ligeiro cansaço e Heero parecia preocupado com algo, uma vez que não tirava os olhos de Duo. Ele recolocou o fone no gancho e aguardou que todos entrassem na sala e Heero se aproximasse, e dessa forma indagá-lo sobre o que acontecêra.

Duo sentou-se assim que entrou. Sentia como se tivesse corrido alguns bons quilômetros debaixo de um sol escaldante. Ainda podia ouvir a voz em sua mente, e estava cogitando seriamente em voltar a tomar seus antigos medicamentos. Inconscientemente seus dedos começaram a esfregar a pedra negra em forma de escaravelho, atraindo a atenção de Sally, que cutucou Trowa.

Heero observou os olhares trocados entre Trowa e Sally e notou o anel. Era o mesmo da imagem enviada por Quatre a alguns dias. Aproximando-se de Duo agachou-se a sua frente, fazendo o milionário corar diante da proximidade e do toque da mão do egiptólogo sobre a sua.

- Duo, eu poderia ver seu anel?

Duo olhou para o anel que ganhara do velho, a alguns meses no meio da rua nos Estados Unidos. De alguma forma o anel o acalmava cada vez que o tocava. Olhou apreensivamente para Heero, que pareceu entender seu receio diante do pedido.

- Não se preocupe, quero apenas verificar uma coisa. Eu o devolverei a você.

- Está... está bem.

Duo retirou o anel e entregou-o a Heero, que se levantou analisando a peça. Era um anel lindo, apesar da escolha singular do inseto em que a pedra fôra lapidada. Sally aproximou-se de Heero, encantada com o objeto, e olhou para o japonês que deu um meio sorriso e repassou-lhe o anel. Rapidamente ela levou a peça para sua mesa, afim de realizar a análise e determinar a autenticidade da peça.

Duo observou a alegria com que Sally trabalhava. Não imaginava que eles ficariam interessados no anel, embora devesse ter imaginado. Uma vez quê Quatre deveria ter lhes contado os fatos que o envolviam. Viu o amigo aproximar-se da mesa onde ela começava a trabalhar e ignorou a conversa que iniciaram.

Heero afastou-se um pouco, caminhando até Trowa. Sabia que tinha uma aula para ministrar em poucos minutos, mas não estava disposto a fazê-lo. No momento era imprescindível descobrir o que estava acontecendo, pois desde que Duo aparecêra, sua vida havia se tornado incrivelmente estranha.

- Trowa poderia pedir a alguém para dar aula no meu lugar.?

Trowa franziu o rosto diante do pedido. Era a primeira vez desde que conhecia Heero que o via não ministrar uma aula. Ele poderia estar doente e assim mesmo cumpria com suas obrigações, exceto quando tinha alguma escavação sob comando. Se bem que a situação em que estavam envolvidos atualmente, despertasse maior interesse que uma aula sobre embalsamamento. Viu o amigo reprimir um bocejo e apertar a nuca, procurando relaxar.

- Claro Heero, mas o que aconteceu? Parece cansado.

- Nem eu sei por onde começar.

Trowa olhou-o de forma confusa, mas não perguntou mais nada, sabia que os fatos falariam por si. No momento tinha que encontrar alguém para ministrar a aula ou dispensar a turma. Deixou a sala, lançando um pequeno olhar para Quatre que se encontrava entretido com as informações que Sally lhe passava. Silenciosamente deixou o recinto, encontrando com Relena no meio do caminho e simplesmente passando direto, ao vê-la abrir a boca.


Cinco minutos após a saída de Trowa, a fome começou a dar seus sinais, e Heero decidiu por esvaziar uma das mesas para poderem almoçar, visto que se continuasse a olhar para Duo temia fazê-lo ficar ainda mais envergonhado do que este já se encontrava, uma vez que seu rosto estava vermelho e o observava de forma furtiva, enquanto conversava com a assistente.

Duo sabia que Heero o observava e não tinha como não sentir-se corado, embora não conseguisse sustentar o olhar. Ao vê-lo começar a arrumar uma das mesas e desviar o olhar de si suspirou aliviado; antes de levantar-se e ajudá-lo na arrumação. Seus olhares se encontraram, e deram um meio sorriso, antes de voltarem a trabalhar silenciosamente. Une ergueu-se para ajudar, mas Duo lhe disse com um olhar que podia ficar onde estava. A porta da sala abriu-se com um pequeno estrondo, fazendo todos virarem na direção da voz estridente.

- Heero, porque não me avisou que já tinha retornado?

Duo olhou para o egiptólogo que parecia se conter para não dizer algo. Deu um meio sorriso, antes de voltar seu olhar para a garota, que o analisava de alto a baixo. Aproximou-se, tomando-lhe a mão e beijando-a, antes de se apresentar:

- Lamento, mas creio que a culpa seja minha. Eu sou Duo Maxwell e pedi que o senhor Yuy me ajudasse num assunto, não sabia que vocês tinham... algo a tratar.

Heero estreitou os olhos, diante do rubor e do encantamento que via nos olhos de Relena diante do encontro e apresentação de Duo. Não podia censurá-la de ficar embevecida, mas não queria que Duo fosse seu objeto de apreciação.

"Ele é meu."

Heero piscou diante da voz fria e possessiva que soou em sua mente, e sem que notasse, sua mão havia se fechado, e se colocou entre ela e o milionário, fazendo-a recuar assustada.

- O que quer?

- Eu...

- Você não deveria estar aqui.

- Bem eu...

- Vá.

- Heero...

- Agora.

Relena correu da sala diante do olhar frio e das palavras sibiladas rudemente. De onde estava, Sally se controlava para não rir. Era a primeira vez que via Heero tratar Relena de forma tão fria. Ele a havia literalmente expulsado da sala.

Quatre olhava a cena surpreso. Se não estava enganado havia acabado de presenciar uma cena de ciúmes, e não acreditava que era direcionado a garota, que pelo que notara nutria algum sentimento pelo amigo.

Heero sacudiu a cabeça como se procurasse espantar algo de sua mente. Sentiu um toque em seu braço e olhou para o dono dele, encontrando o olhar de Duo, que parecia levemente divertido.

- Você assustou a menina Heero.

- Você não deveria toca-la... ninguém além de mim deve tocá-lo.

- Heero?

Duo olhou para Heero, que parecia não olhar para ele, mas para alguém dentro dele. Enquanto falava, sua voz parecia estranha, apesar de pertencer ao japonês. Sentiu o toque dele em seu rosto e fechou os olhos, rendendo-se a carícia tão intima, alheio aos olhares surpresos dos outros. Duo murmurou alguma coisa, que foi respondido por Heero, nada além de sussurros, quase incompreensíveis; mas que para os dois parecia fazer algum sentido. Estavam a ponto de se beijarem, quando o barulho de algo se quebrando em algum lugar pareceu acordá-los, e ambos se afastaram como se a proximidade os houvesse repelido. Duo foi o primeiro a se manifestar, de forma confusa.

- O... o que?

- Vocês estão bem?

Heero olhou para Quatre confuso e depois para Duo, que parecia tão confuso quanto ele. Sua mente estava nublada e ele não sabia ao certo o que havia acontecido. Sua mente era um poço de imagens desconexas e confusas. Lembrava-se apenas da chegada de Relena e de Duo se apresentando a ela, o resto não saberia dizer se acontecera ou imaginara.

Duo sentiu uma angústia dentro de si. O quê havia acontecido? Havia feito algo novamente? Olhou para Heero que também parecia perdido como ele, e imaginou o que havia acontecido aos dois. Sally estava a ponto de contar o que houve, quando a porta abriu, permitindo a entrada de Trowa que parou ao notar o clima estranho na sala. Voltou o olhar para Quatre que deu um meio sorriso, antes de ficar vermelho e responder:

- Parece que eles... tiveram uma espécie de transe, desencadeado pela entrada de uma garota loira.

- Relena! O que ela fez dessa vez?

- Na verdade você deveria perguntar o que Heero fez. Ele simplesmente a expulsou, literalmente; antes de declarar posse sobre Duo.

Trowa olhou para os dois que estavam afastados um do outro, como se houvessem sido pegos num ato inapropriado.

- O que eu fiz?

Quatre sorriu diante da pergunta de Heero e se aproximou dos dois, sussurrando algo no ouvido do japonês, que franziu o rosto em surpresa. Este afastou-se, olhando nos olhos de Quatre e procurando por algum sinal de que ele estava brincando, mas não encontrando nada que indicasse isso. Não podia acreditava que fizera isso, ainda mais na frente de todos. Não que gostasse de Relena a ponto de se sentir incomodado pela forma como a tratara segundo Quatre; mas sim por não saber a razão de comportar-se assim em relação a Duo.

- Você ouviu o que dizemos?

- Mais ou menos, infelizmente não compreendi. Parecia algo em egípcio, mas era muito diferente do que já vi e ouvi, era quase...

- Arcaico?

- Sim, algumas entonações eram estranhas, diferentes; era quase como se fosse... uma linguagem pessoal... entre...

- Amantes.

Quatre olhou para Duo e sacudiu a cabeça. O olhar dele encontrou o de Heero, sentindo-se culpado por arrastar o outro para suas visões e tormentos. O que tudo indicava era que o quê o atingia, também envolvia o japonês de alguma forma. Abriu a boca para falar algo, mas não sabia o que dizer, ou se havia algo realmente que pudesse ser dito, sentiu Heero aproximar-se e tocar seu ombro fazendo-o erguer os olhos.

- Eu prometi que ajudaria, e vou manter minha promessa.

Duo balançou a cabeça resignado. O que poderia fazer? Respirou fundo e procurou sorrir, sabia que Heero manteria sua palavra. Restava apenas aguardar para que tudo se solucionasse e ele descobrisse o porquê de sua vida ter se tornado tão confusa e assustadora.

- Acho que a comida já esfriou, mas eu continuo morrendo de fome.

Todos sorriram diante do comentário. Realmente a hora do almoço havia se passado a muito, mas a simples menção de comida despertou-os para a fome.

- Acho que é possível aquecer algumas coisas no microondas enquanto conversamos sobre assuntos mais amenos.

Quatre concordou com Trowa, e todos dirigiram-se para a mesa, procurando ocupar suas mentes com outros assuntos que não estivessem relacionados ao Egito ou seu povo.


Algumas horas depois:

Heero entrou em casa, que se encontrava mergulhada na escuridão. Jogou as chaves do carro sobre a mesa da sala; caminhando para o quarto sem acender as luzes. Um estranho arrepio trespassou seu corpo fazendo-o sacudir a cabeça antes de entrar no quarto e acender as luzes. Sentia-se cansado, para não dizer esgotado. Após a partida de Duo e sua assistente, Quatre ficou com eles no museu, conversando sobre a viagem ao Cairo a qual eles haviam marcado para daqui a uma semana, prazo esse em que teria tempo de programar algumas coisas na faculdade e no museu; assim como Duo, que tinha alguns assuntos a resolver.

Sentou-se na cama vendo um ícone piscar na tela de seu laptop sobre a mesa. Caminhou até ele, abrindo a mensagem enviada por ele mesmo antes de deixar o museu. Olhou para as informações na tela. Estas mostravam a analise parcial feita no colar e no anel entregue pelo velho. Pelas informações ambos os objetos eram autênticos e datavam da época do Antigo Egito, precisamente a época em que Menésera o regente. Segundo Sally e Quatre o anel era mesmo um anel de sucessão, embora alguns detalhes não se encaixassem.


Flashback

Heero e Trowa estavam retornando da sala de Milliardo, que havia autorizado a ida deles ao Cairo na semana seguinte. Na verdade, o diretor do museu não pareceu muito surpreso com o pedido, e não foi difícil descobrir que sua aceitação se devia a generosa contribuição que a empresa DarkLights, cujo dono era ninguém menos que Duo Maxwell; fizera ao museu. Sabiam que o museu andava com algumas dificuldades financeiras, muitas delas devido a má administração anterior, cujo problema Milliardo tentava a muito custo reverter. A doação feita pela empresa de Duo permitira não apenas sanar muitas dívidas, como também aumentar algumas alas e custear algumas escavações que se encontravam quase paradas por falta de verbas, bem como manter um razoável capital para futuros projetos.

Haviam conversado durante algumas horas, onde expuseram o que havia sido encontrado no Cairo e o quê o professor Lincoln descobrira até o momento. Milliardo ficara surpreso e muito interessado nas descobertas, bem como a informação de que Duo iria financiar especificamente as escavações no Cairo, cuja parceria com o Museu de Praga estava tendo bons resultados. Foram informados de que eles; o Museu de Praga e o Museu do Cairo estariam cuidando das escavações, no que se acreditava ser o Templo de Anúbis, mas que Quatre continuaria à frente do projeto.

Abriram a porta da sala, encontrando Quatre e Sally ainda debruçados sobre os dados. O jovem árabe levantou a cabeça assim que eles entraram, sorrindo. O que haviam acabado de descobrir era fantástico e emocionante.

- Vejam isso.

Eles se aproximaram da mesa, encontrando uma projeção detalhada do anel e do colar que Heero havia mandado para a análise. Quatre olhou para os dois e para Sally, não se contendo diante do que ambos haviam descoberto.

- Aqui, veja. O que isso parece?

Eles olharam para o lugar que Quatre havia apontado, sem acreditar no que viam. Não era possível, mas estava lá, dentro da pedra negra, imperceptível a olho nu, mas completamente visível, na ampliação.

- Isso é o que penso que é!

- Se estiver pensando que esse símbolo à direita simboliza a casa de Anúbis e o da esquerda o termo "Herphya" que significa herdar. Então sim.

Heero sentou-se, imaginando o que significava isso. Numa tradução rebuscada, o significado do anel seria herdar a casa de Anúbis. Herdar em termos egípcios, significava assumir a direção pela vontade dos deuses, ou seja; os faraós herdavam o direito de reger o Egito através dos deuses, que lhe conferiam um anel, cujo símbolo era esculpido em pedra e ornada com ouro. O que designava o Deus ao qual o faraó e seus súditos e servos deveriam servir ou serviam. Entretanto poucos eram os deuses cultuados, que elegiam homens como governantes da terra do Egito.

Durante anos de pesquisa e estudo, nunca encontrara nenhum relato ou dados que indicasse um anel com um escaravelho, que era atribuído a Anúbis, uma vez que durante a cerimônia da psicostasia (julgamento) realizada na chamada sala das duas verdades, onde em uma das extremidades, encontrava-se Osíris, sentado no trono, acompanhado por outros Deuses e 42 juízes entre eles Anúbis. Pelos estudos, os egípcios, inclusive o faraó, deveriam submeter-se a este julgamento para poder gozar junto a Osíris de uma eternidade nos campos de Iaru (paraíso). Os corações eram pesados, em uma balança. Se as más ações fossem mais pesadas que uma pena, o morto iria para o inferno egípcio. Se passasse satisfatoriamente por essa prova, podia percorrer o mundo subterrâneo, cheio de perigos, até o paraíso (Campos de Iaru).

Anúbis ou Anupu em egípcio, "o que conta os corações" sendo um dos responsáveis pelo julgamento dos mortos no além-túmulo. Enquanto o morto fazia sua declaração, Anúbis ajoelhava-se junto a uma grande balança colocada no meio do salão e ajustava o fiel com uma das mãos, ao mesmo tempo em que segurava o prato direito com a outra. O coração do finado era colocado num dos pratos e, no outro, uma pena, símbolo de Maat, a deusa da verdade. Assim, ao ser pesado contra a verdade, verificava-se a exatidão dos protestos de inocência do defunto. Como as negativas vinham de seus próprios lábios, ele seria julgado pelo confronto com o seu próprio coração na balança. Diante dessas divindades e juízes, o morto devia realizar a confissão negativa, a sua declaração de inocência. Antes de fazê-la, o morto dirigia-se ao seu coração e pedindo-lhe que não o contradissesse.Freqüentemente, esta fórmula aparecia escrita no "escaravelho do coração", um amuleto que se colocava entre as ataduras da múmia, perto do coração, na forma de um escaravelho que poderia ser de pedra, barro ou vidro. Daí a relação com o deus dos mortos.

Mas ainda ficava a pergunta. Porque o anel fôra entregue a Duo? Qual seu real significado? Os fatos estranhos envolvendo o americano, teoricamente, originaram-se com sua ida ao Cairo, então seria certo supor que parte desses mistérios seriam solucionado com seu retorno? Ou na pior das hipóteses, acabariam por mergulhar ainda mais em mistérios?

Fim-Flashback


Heero olhou para o colar de padres vermelhas, esticando a mão para tocá-lo, quando as luzes piscaram e apagaram despertando-o de seus pensamentos. Levantou os olhos para a tela do laptop que estava negra, se preparando para verificar os fusíveis da casa, quando viu refletida na tela alguma coisa que se encontrava a suas costas, não soube identificar o que era, e virou-se rapidamente sentindo um estranho arrepio que lhe enregelou os ossos. Não havia nada além de sombras, mas sentia que alguma coisa o observava.



"Deixe-o ou não perderá apenas sua medíocre vida dessa vez."

Heero virou-se novamente ao ouvir uma voz falar-lhe em egípcio antigo, bem a suas costas. Seu corpo inteiro tremeu diante daquela voz que parecia vir de todo o quarto. Olhou ao redor, detendo-se na parede a sua esquerda, tendo a impressão de ver a sombra de um homem, com a cabeça de um animal. Seu peito doeu e obrigou-se a se curvar, fazendo sua mão tocar no colar por sobre a mesa. Um rosnado semelhante a um cão raivoso pronto ao ataque repercutiu em sua mente, antes que se sentisse sozinho e as luzes retornassem. Demorou alguns minutos, antes que pudesse respirar normalmente e seu coração se acalmasse. Nunca antes sentira tamanho pavor.

Respirou profundamente, olhando novamente para parede, como se pudesse ver a sombra do que vira, no entanto em seu lugar, havia algo escrito com uma substância escura que escorria pela parede em uma linguagem que não compreendia. Estreitou os olhos tentando entender seu significado, mas falhando, notou que a escrita parecia começar a desaparecer, e antes que acontecesse por completo, pegou a câmera digital junto ao laptop e tirou fotos da parede. Aproximou-se, tocando a substancia que tinha um cheiro estranho e uma consistência pastosa, segundos depois ela sumiu em seus dedos. Toda a inscrição que cobria metade da parede para cima havia desaparecido, como se nunca houvesse estado ali. Ele correu para o laptop carregando as imagens, torcendo para que elas houvessem sido registradas. Foi com satisfação que as viu ali, sentiu um ligeiro arrepio, ao passar os olhos pela imagem. Obrigou-se a ignorar o desconforto e enviar o arquivo para Trowa torcendo para que ele pudesse traduzir, seja lá o que estivera escrito em sua parede

Heero fechou os olhos momentaneamente olhando para o relógio. Este marcava pouco mais de vinte minutos para as quatro da manhã. Franziu o cenho ao constatar o avançado da hora, não notara que havia se passado tanto tempo. Pelo que se lembrava chegara exatamente faltando poucos minutos para as onze da noite e não se recordava de ter ficado tanto tempo em frente ao laptop. Como então poderia ter se passado tanto tempo? Quase quatro horas.

"O que está acontecendo?"


Na manhã seguinte:

Heero levantou pouco depois das seis. Não conseguira pregar o olho no pouco espaço de tempo, que tivera antes do dia amanhecer. Tomou um café rápido e seguiu para a universidade, onde tentou falar com Trowa, mas não conseguiu encontrá-lo antes das três da tarde, quando seguiu para o museu. Ao entrar na sala em que trabalhavam, encontrou-o debruçado em frente ao computador, a suas costas a imagem que enviara se encontrara reproduzida pelo retro-projetor, ocupando a mesma dimensão que em sua parede.

- Conseguiu traduzir?

Trowa levantou a cabeça ao ouvir a voz de Heero. Estava tão concentrado no que fazia que não o ouvira entrar. Na verdade ele não fazia idéia do que estava escrito. Havia passado a manhã inteira tentando traduzir o texto sem sucesso, nem mesmo o programa de tradução que criara fora capaz de fazê-lo. Sacudiu a cabeça lentamente em derrota, quase socando a mesa em frustração. Onde diabos Heero, havia encontrado aquele texto? Se é que realmente ele dizia alguma coisa.

- Posso perguntar onde achou isso? Passei o dia inteiro tentando entender a escrita e até agora nada.

- Acreditaria que ela esteve na parede do meu quarto, por pouco mais de alguns segundos antes que sumisse completamente?

Trowa olhou para Heero em descrença, não muito disposto a brincadeiras no momento, mas pelo olhar de Heero podia notar que era não brincadeira, e que ele realmente encontrara a escrita na parede de seu quarto.

- Vai me contar em que circunstancias elas apareceram?

- Posso até faze-lo Trowa, agora; se você vai acreditar...

Trowa notou o cansaço na voz de Heero, era visível que ele não descansara muito na última noite. Levantando-se pegou duas xícaras de café bem forte entregando uma ao amigo, que agradeceu com um meneio de cabeça. Viu-o bebericar o café antes de começar a relatar o ocorrido. Quando terminou, não sabia se acreditava ou procurava uma clínica para interná-lo. Era surpreendente demais, para não dizer bizarro. Ele procurava não dar forma ou nome ao que Heero havia supostamente visto em seu quarto. Mas a imagem na tela, falava por si só que algo esteve lá e deixara uma mensagem. Não havia como negar tais fatos.

- Bem...não posso dizer que acredito, mas a imagem é bem clara. A linguagem usada é estranha, quase como hieróglifos pictóricos, o que significa que não era usada por qualquer um. Ela tem similiariedades com a linguagem usada pelos sacerdotes antigos, em sua comunicação com os deuses, embora nem de longe tenha o mesmo significado, uma vez que não consegui um texto com coerência ou perto disso.

- Entendo. Então não é possível uma tradução?

- Não disse isso. A tradução é possível se conhecermos a linguagem. Consegui chegar próximo a alguma coisa que suponho, ser parte da mensagem, mas muito pouco para fazer algum sentido. Na verdade apenas uma palavra em si. Bem aqui.

Trowa apontou para a última palavra do texto, sabia que se tivesse, mais alguns dados, poderia fazer uma tradução completa e não apenas uma única palavra. Heero podia sentir a frustração do amigo, em relação a não conseguir obter uma tradução da mensagem.

- Aqui diz Amon.

- Amon?

Sim, mandei para Quatre a imagem, talvez ele tenha mais sucesso, uma vez que você disse que ele tem conhecimento em egípcio antigo.

- É, Quatre tem a mesma especialização que você, e mais algumas. Digamos que ele é tão aficionado por linguagem quanto você.

- Isso significa que temos algo em comum.

Heero deu um meio sorriso e estava para dizer algo, quando o telefone tocou. Trowa correu para atendê-lo, dizendo meia dúzia de palavras antes de colocar no viva-voz.

- Quatre.

- Olá Trowa, desculpe a demora em responder sua mensagem, não foi fácil e nem posso dizer que tive o crédito pela tradução.

- Você conseguiu traduzir a mensagem então?

- Olá Heero.

- Olá Quatre.

- Na verdade não.

- Entendo...

- Foi Duo quem a traduziu.

- Duo!

Heero e Trowa ficaram frustrados ao ouvir o loiro dizer que não havia conseguido traduzir, mas logo a frustração deu lugar a surpresa diante da revelação de quem havia traduzido a mensagem.

- Como ele fez isso?

- Bem, eu estava lendo a mensagem quando ele chegou. Ele a viu na tela e simplesmente leu, como se estivesse lendo uma revista qualquer. Claro que depois ele desmaiou, e agora não lembra de nada.

- Ele está bem?

Do outro lado da linha Quatre deu um meio sorriso, diante do tom de preocupação de Heero.

- Está Heero, pedi ao médico que receitasse um calmante. Ele está no quarto e deverá dormir por algumas horas.

- O que dizia a mensagem?

- Encontrarei aquele que tem o meu sangue, pois é chegado o tempo dele assumir seu lugar. E nada deterá minha vontade e ira. Nem mesmo os protegidos de Amon.

O silencio estranho preencheu o lugar, antes que um deles dissesse algo.

- O que acha que significa Heero?

- Não sei Quatre, qual sua opinião?

- Sincera?

- Sim.

- Acho que vocês estão literalmente ferrados.

Trowa deu um meio sorriso diante das palavras de Quatre, embora não duvidasse do fundamento delas, no atual momento não duvidava de mais nada.

- Porque diz isso Quatre?

- Heero, eu não creio que esse seja um assunto a tratarmos pelo telefone. Você se importaria de vir ao hotel onde estou hospedado para conversarmos?

- De forma alguma Quatre. Jantaremos juntos, o que acha?

- Ótimo, nos vemos mais tarde, e você também pode vir Trowa, ficarei feliz em vê-lo.

- Eu irei.

- Nos encontraremos por volta das oito, no bar; não quero que Duo saiba sobre nossa conversa, não creio que ele deva se preocupar com minhas suposições. Eu posso estar enganado.

- Pode deixar Quatre, nos entramos as oito no bar.

- Até lá então.

Quatre encerrou a ligação, deixando-os intrigados com suas palavras, o que ele poderia supor sobre os últimos acontecimentos? Heero conhecia Quatre a algum tempo, para saber que o amigo via a vida e determinados assuntos de uma ótica diferente da sua, talvez imaginasse o que ele supunha e depois do que acontecera em seu quarto na noite anterior, estava propenso a acreditar em muitas coisas que jamais cogitara.

"E espero sinceramente que não seja o que estou pensando."


Uma semana depois - Cairo – aproximadamente 09:00 hs:

O desembarque no Cairo deu-se no horário previsto, e como Une já havia providenciado antes de partirem de Londres; uma limusine os aguardava ao chegarem ao aeroporto. Duo sentia-se cansado. Toda vez que vinha ao Cairo sentia como se alguma coisa o chamasse. Olhou ao redor, sentindo-se desconfortável de repente. Heero notou a palidez no rosto do milionário. A forma como ele olhava tudo ao redor como se procurasse por alguma coisa ou temesse algo. Duo andava evitando-o desde o episódio no museu, e por algum motivo isso o estava incomodando além do que gostaria. Já tinha algum tempo que não vinha ao Cairo. Na verdade fazia alguns anos que evitava, por algum motivo desconhecido que até o momento não percebêra, vir a alguma expedição nessa região. Já estivera no Egito diversas vezes, mas sempre evitava vir ao Cairo. Assim que chegou sentiu-se momentaneamente estranho, mas decidiu ignorar a sensação. Os últimos dias estavam sendo tumultuados, desde que Duo aparecêra falando sobre o Olho de Anúbis e os misteriosos incidentes desde então. A voz de Quatre chamou sua atenção fazendo-o desviar os olhos da multidão a sua volta.

- Acho melhor seguirmos direto para o sítio e...

- Quatre, se importa se formos ao hotel e descansarmos um pouco? Eu não me sinto muito bem. Acho que a viagem acabou comigo.

Duo não pôde evitar gemer ao ouvir Quatre dizer que iriam direto ao acampamento. Não sentia-se bem, e estava fazendo um esforço supremo para manter-se de pé. Tudo o quê desejava no momento, era tomar um banho e repousar um pouco, talvez tomasse algum dos antigos remédios passados pela psiquiatra.

Quatre olhou preocupado para Duo. Apesar do sorriso, ele parecia fazer um grande esforço para não desmaiar. Olhou para os demais, que acenaram concordando

- Claro Duo, acho que todos nós precisamos de um descanso.

- Obrigado.

Duo deu um pequeno suspiro aliviado e um olhar de gratidão a Quatre que sorriu, antes de convidá-los novamente para irem para sua casa, onde caberia todos confortavelmente.

- Vocês têm certeza de que não querem ir para minha casa?

- Não é necessário Quatre. Une já providenciou acomodações no hotel para nós.

- Vocês podem muito bem cancelá-las.

- E perder a chance de gastar dinheiro?

Quatre sorriu sabendo que Duo estava apenas brincando. O amigo não era o tipo de pessoa que fazia alarde quanto a sua riqueza. Apesar de ser uma pessoa ativa era bastante simples em seus gosto,s e discreto em relação a sua privacidade.

- Ok então... eu vou para casa e me encontro com vocês mais tarde no hotel, e assim seguirmos juntos para o sítio.

- Está bem Quatre, se você mudar de idéia e quiser ficar no hotel conosco desfrutando do conforto, me avise.

- Hahahahah...ok, eu pensarei não se preocupe, meu amigo.

Quatre seguiu na direção de um homem robusto, que ao vê-lo, deu um ligeiro sorriso. Duo cumprimentou o homem ligeiramente antes de seguir na direção oposta. Um chofer os aguardava, segurando uma pequena placa com seu nome escrito. Une seguiu na frente verificando se era realmente o homem contratado para levá-los.

- Você é Douglas Swan?

- Sim senhorita Lady Une, o senhor Dayson pediu-me que viesse buscá-los.

- Ótimo.

Une virou-se para outros confirmando com um movimento de cabeça, o chofer abriu a porta e todos entraram na limusine.

Assim que entrou, Duo imediatamente fechou os olhos, encostando a cabeça no encosto do banco. Sentia-se tão cansado. Não precisava abrir os olhos para saber que Heero sentara ao seu lado seu perfume penetrava em seus sentidos embriagando-o tal qual um vinho doce, apreciado além da conta. Gostaria tanto de encostar-se nele e deixar que o livrasse de seu cansaço, o confortasse em seus braços como fizera em sua casa, e no dia em que se encontraram no parque. Procurou refrear seus sentidos, mas era quase impossível, com o outro tão próximo a si. Podia ouvir Une informando ao chofer que seguiriam diretamente para o hotel, enquanto os outros conversavam sobre o sítio que visitariam mais tarde, e deixou que sua mente mergulhasse lentamente na escuridão. Acabou desfalecendo, e seu corpo deslizou ligeiramente para o lado encostando-se em Heero. Este olhou para a face de Duo sem conseguir reprimir o impulso de toca-lo. Sua pele parecia tão pálida. Deslizou os dedos pela face adormecida, antes que ele se ajeitasse em seu ombro, obrigando-o a abraçá-lo e acomodá-lo melhor em seus braços.

- Ele está bem?

Heero voltou-se para Une, antes de tocar novamente o rosto de Duo, que murmurou alguma coisa inteligível em egípcio, ao sentir seu toque. Heero sacudiu a cabeça lentamente, embora não acreditasse nas próprias palavras.

- Está apenas dormindo.


Sítio Arqueológico, perto da cidade de Zarburk - Escavações na tumba do faraó Menés:

O professor Lincoln estava verificando algumas coisas no sarcófago do filho do faraó. Ainda não conseguia entender o porquê de terem feito um sepultamento sem um corpo. Era muito raro ou quase impossível de tal coisa acontecer. Tudo era muito intrigante. As inscrições dentro do sarcófago pareciam falar sobre a morte em si, o sentido dela para cada um. Cada pessoa possui uma visão diferente da morte, mas essas eram palavras profundas para um jovem que pelos dados de que dispunha, não deveria ter mais do que quinze anos quando morreu.

- Professor Lincoln! Professor Lincoln!

Adrian Lincoln levantou a cabeça ao ouvir o chamado de seu assistente que vinha correndo. Viu o jovem parar e tentar normalizar a respiração antes de contar o porquê de tanto alarde.

- O pessoal que o senhor aguardava acabou de chegar senhor.

- Obrigado Dennis.

Lincoln levantou-se e seguiu ao lado de Dennis. Estava curioso com a vinda de Yuy ao sítio. Estavam trabalhando juntos, tentando decifrar alguns dados a respeito das inscrições encontradas em algumas peças, e era primeira vez que vinha. Mas o que gostaria de saber era porque dele querer trazer uma pessoa que nada tinha a ver com o quê trabalhavam. Assim que deixou a tumba seguiu para sua tenda, onde encontrou um grupo de cinco pessoas. Entre elas apenas uma era desconhecida para si, e também a mais exótica.

- Heero é bom vê-lo. Eu os esperava pela manhã e não agora à tarde.

Heero cumprimentou o outro colega, apertando a mão que lhe fora estendida.

- Digo o mesmo Adrian. Tivemos alguns imprevistos.

Duo olhou para o homem, que o encarava disfarçadamente. Mal se lembrava de como fôra parar em seu quarto. Tudo o que sabia era que acordara na cama do hotel. Sem sapatos e com as roupas afrouxadas. Pela informação de sua assistente Heero o havia carregado até o quarto e o deixara lá, após verificar se ele estava bem. Aproximou-se, a fim de se desculpar pelo atraso deles na vinha ao iítio, uma vez que quase não vieram. Se Quatre não houvesse chegado ao hotel e tivesse ido a seu quarto acordá-lo, certamente ainda estaria dormindo.

- Eu sinto muito senhor Lincoln, mas a culpa foi minha, não estava me sentindo muito bem e acabei por monopolizar o tempo de Heero e dos outros.

Heero voltou-se para Duo que havia se pronunciado e decidiu por apresentá-los.

- Adrian está é o senhor Maxwell, é ele quem estará patrocinando a escavação a partir de agora.

O professor olhou para o jovem rapaz, apertando-lhe a mão. Então ele era o novo patrocinador.

- Ah...muito prazer senhor Maxwell.

- O prazer é meu professor Lincoln.

- Importa-se de me dizer qual seu interesse nas escavações?

- Vamos dizer que é um motivo pessoal.

O professor olhou para Heero que sacudiu a cabeça simplesmente, negando-se a dar maiores informações,. Não desejava discutir com ele as peculiaridades do caso, e o motivo deles estarem realmente ali. O professor não pareceu notar algo estranho, supondo que deveria ser apenas um capricho ou mania dos ricos, uma forma de saber como seria aplicado o dinheiro doado. Deu de ombros e começou a falar sobre o andamento das escavações e seus avanços até o momento.

Duo ouvia tudo, apesar de seu olhar se voltar de vez em quando para algum ponto além da tenda onde se encontravam. Podia ouvir suaves sussurros ecoando em sua mente e procurou ignoara-los e prestar atenção à conversa, mas parecia que quanto mais a ignorava mais forte ela se tornava. Seu olhar cruzou com o de Heero que o observava em silêncio.

O egiptólogo notou que Duo fazia um esforço para manter sua atenção na conversa, embora algo fora da tenda lhe chamasse a atenção. Ele mesmo também fazia um esforço para prestar atenção ao que o colega dizia, pois sentia uma estranha sensação e uma estranha curiosidade quanto a voz que parecia chamá-lo para explorar o lugar.


Duas horas mais tarde:

Duo sentia o anel em seu dedo incomodar sua pele, parecia que o estava queimando. Era a primeira vez que ele o incomodava desde que o colocara no dedo. Olhou tudo com atenção, sentindo como se já houvesse estado ali, naquele mesmo lugar, há muito tempo atrás. Tocou o sarcófago do filho do faraó, lendo mentalmente a inscrição em egípcio.

"Para alguns é chegado o fim, para outros como nós é apenas o começo. Esse não é o fim...".

Faltava o restante da inscrição, o restante que completava a razão do sarcófago se encontrar vazio. Duo fechou os olhos momentaneamente, para abri-los dando um ligeiro sorriso e seguindo na direção em que ele o chamava. Precisava encontra-lo. Sabia que ele estava ali, não o desafiara para depois perdê-lo. Ele deveria ter sido enterrado com ele, mesmo que seu corpo não estivesse ali, sabia que ele estava. Por isso deveria estar ali em algum lugar, escondido e protegido. Heero estava olhando para Duo que caminhava pelas escavações, como se estivesse procurando por algo, vinha mantendo um olho nele desde que deixaram a tenda do professor e começaram a explorar o sítio. Não apenas o professor como ele mesmo ficara surpreso, como o conhecimento que Duo tinha sobre o Egito antigo, mais precisamente a era do reinado de Menés. Viu quando o olhar dele se entristeceu ao tocar o sarcófago pertencente a Sibun, o filho do faraó. Tentara se aproximar e falar com ele, mas não conseguira ficar a sós com ele ainda.

Viu quando ele fechou os olhos e em seguida seguiu para uma parte especifica do acampamento. Uma que ainda não havia sido explorada completamente. Pelo quê o professor dissera, eles ainda não havia se dedicado a face leste do acampamento, uma vez que o achado atual tomava-lhes toda a atenção, pela peculiaridade de não encontrarem uma múmia dentro do sarcófago. E no entanto agora Duo parecia procurar por algo nesta parte especifica do acampamento. Heero deixou sua posição e seguiu atrás do milionário, temendo que este se machucasse ou se perdesse pelos labirintos de túneis que o professor Lincoln acreditava cobriam boa parte da face leste e oeste do acampamento.


Duo caminhava pelo túnel, sem se importar com o fato de não haver quase nenhuma iluminação, parecia que seus passos eram guiados por alguma coisa ou alguém. Parou abruptamente ao ter sua mente enevoada pelos sons das vozes que pareciam ecoar pelos túneis a sua frente. Sentiu-se tonto e sem ar. Seu corpo arrepiou-se por completo. Uma parte de sua mente lhe dizia para seguir em frente e outra, a mais forte que deveria retornar. Teria feito se lembrasse por onde viera ou se suas pernas se movessem. Sentiu quando alguém sussurrou em seu ouvido, como se estivesse bem atrás de si, virou-se para ver quem era e deparou-se com Heero que viera correndo ao ouvir um som estranho vindo pelo túnel.

"Encontre-me".


Heero correra para pegar uma lanterna e uma corda, sabendo que não enxergaria quase nada nos túneis, que ainda não haviam sido devidamente iluminados. Amarrou uma das pontas na entrada do túnel pelo qual Duo havia entrado e a outra em sua cintura, antes de entrar, seguindo-o rapidamente temendo perdê-lo de vista. Quando a luz começou a tornar-se escassa, ligou a lanterna, caminhando a passos largos, mas sem pressa, uma vez que ela de nada o ajudaria no momento. Mesmo com a lanterna mal conseguia distinguir alguma coisa, devido a escuridão que parecia aumentar a cada instante.

"Como ele pode ver alguma coisa, estando tão escuro?"

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"Encontre-me"

Heero parou ao ouvir algo, não sabia exatamente o quê, mas parecia chamá-lo, convidando a penetrar ainda mais pelos túneis. Olhou para trás e não viu nada, nem mesmo a corda, embora não pudesse realmente dizer se ela ainda se encontrava amarrada a sua cintura. Seu coração inesperadamente começou a bater mais forte, e se obrigou a continuar caminhando. Viu uma sombra correr por um dos corredores e correu atrás dela, dando de encontro a um beco sem saída.

" Ohry"

Heero congelou ao ouvir o nome, alguém o chamava. Chamava pelo seu nome, sabia quem era, ele precisava dele, podia senti-lo, sentir seu medo, sua apreensão. Balançou a cabeça, procurando reagir. Estava em um dos túneis a sua frente, virou-se na direção de onde vinha sua voz, caminhando lentamente.


Sibun tentava entender o porquê de tudo isso, não gostava de ir à casa de Anúbis. Eles eram servos de Amon, então porque todo ano, no aniversario de seu nascimento, sua mãe o obrigava a ir até a casa do deus dos mortos oferece-lhe sacrifícios? Ele queria voltar e ver Ohry. Haviam combinado de se encontrarem novamente junto ao templo de Amon, assim que a noite caísse. Deu um sorriso triste. Os encontros se tornavam cada vez mais difíceis. Seu pai parecia saber de seus passos, embora tomasse todo o cuidado para não ser visto deixando o palácio. Olhou para a estátua de Anúbis, sentindo-se mal, acendeu o fogo do altar, vendo o sacrifício pegar fogo. Olhou para sua mãe que parecia triste, ela sempre tinha esse olhar quando vinham ao templo. Olhou novamente para o altar, recuando assustado ao ver entre as chamas a imagem do deus dos mortos. Viu-o estender uma das mãos em sua direção e sentiu ímpetos de estender a sua, se sua mãe não houvesse falado com ele.

- Tudo bem querido?

Ele olhou para ela confuso, voltando seus olhos ao sacrifício que queimava. Apenas as labaredas, residiam dentro do altar, nada além das chamas.


Heero entrou em um dos túneis dando de cara com Duo. Este parecia assustado e perdido. Seus olhares encontraram-se na escuridão e Duo jogou-se nos braços de Heero tremendo. O que havia sido aquela visão? Ainda podia sentir o calor do fogo no altar do templo de Anúbis. O que aquele menino tinha a ver com ele? De quem eram as vozes que penetravam em sua mente, lhe dizendo para seguir em frente?

- Você está bem?


- Você está bem?

Sibun olhou para o amante, afastando-se ligeiramente. Quase não conseguira escapar dos guardas. Seu pai o pegara tentando deixar o palácio, e o levara de volta ao quarto dando ordens de que fosse mantido lá. Mas nada o deteria de vir ao encontro, nada o deteria de encontrá-lo e amá-lo.

- Sibun?

Ohry olhou para o jovem herdeiro, este parecia assustado. Por alguns momentos achou que ele não viria, dado o avançado da hora do encontro, mas ele chegara apressado e jogara-se em seus braços tremendo. Sabia que era apenas questão de dias, até que o faraó descobrisse que ainda se encontravam, talvez minutos antes que fosse condenado a morte, por ousar amar o filho do faraó. Seu olhar encontrou o de Sibun, aguardando a resposta que já conhecia e temia.

- Ele sabe que estamos aqui.

- Seu pai?

- Ele virá atrás de nós...

Ohry acariciou a face de Sibun, abraçando-o fortemente. Tinham apenas algumas horas antes que o sol nascesse e tivessem que se separar, talvez essa fosse a última noite juntos.

- Prometemos que ficaríamos sempre juntos.

- Não importando a quem fôssemos desafiar.

- Nós o desafiamos para ficarmos juntos.

Ohry cobriu os lábios de Sibun com um beijo. Haviam a muito selado seus destinos, no minuto que se permitiram amar, e desejar o que lhes era proibido. Nada os deteria, nem o faraó ou os deuses.


Afastaram-se lentamente, procurando recuperar suas respirações. Não sabiam quando ou em que momento seus lábios se tocaram, os transportando a emoções desconhecidas e fortes. Duo podia sentir as mãos de Heero, descerem por suas costas suavemente. Suas próprias mãos pareciam seguir um caminho semelhante no corpo do egiptólogo. Jogou a cabeça para trás ao sentir os lábios firmes sugarem-lhe o pescoço, as mãos fortes apertarem a carne carnuda de suas nádegas, aproximando seus corpos no meio da escuridão.

Heero não sabia o que o guiava a tocá-lo. Seus lábios e mãos pareciam ter vontade própria ao tocar a pele macia do americano. Seus suaves gemidos, preenchiam a escuridão do túnel e sabia que o possuiria ali mesmo se algo não o detivesse. Podia sentir as mãos de Duo penetrarem a barreira de suas roupas, o corpo dele moldando-se ao seu. Esfregando-se nele de forma sutil e sugestiva. O incitando a tomá-lo e fazê-lo dele novamente.

"Ele nunca foi meu."

"Ele sempre foi e sempre será."

Heero afastou-se diante dos sussurros que começam a preencher o túnel, mas ao olhar para os olhos de Duo viu apenas pavor. Voltou-se para ver o que havia a suas costas. Não muito longe deles, na parede ao final do túnel, do lugar que viera a pouco, uma figura de quase dois metros, em pé sobre o que deveria ser patas os observava com os olhos frios e selvagens. Ele recuou um passo, levando Duo consigo, antes que a figura uivasse e corresse na direção deles.

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"Ele gostará de saber que está aqui."

Heero segurou Duo contra seu corpo, temendo que a figura viesse buscá-lo. Um forte vento passou por eles, carregando um sussurro acompanhado de um cheiro forte e acre. Ao abrirem os olhos não encontravam-se mais no túnel, mas numa grande sala, cuja as paredes estavam cobertas de inscrições. Próximos a eles ao centro, num pequeno patamar, um sarcófago. O sarcófago que estavam procurando.


Horas mais tarde:

Duo podia sentir o olhar de Heero sobre si, e procurava ignora-lo, mas seus olhos insistiam em encontrar-se com o do egiptólogo. O que havia acontecido no sítio arqueológico não lhe saia da cabeça. O animal que os observava, e que por um momento achou que os mataria, e as sensações que ambos haviam compartilhado insistiam em toldar-lhe a razão, fazendo-o desejar sucumbir ao que ela pedia. Ele tomou mais um pouco de seu vinho, decidindo recolher-se em seu quarto antes que não mais conseguisse conter os tremores em seu corpo. Ou as sensações e vozes que haviam retornado.

- Acho que vou para meu quarto, o dia hoje foi um pouco...cansativo.

Heero notou a pausa que Duo fizera, não era exatamente essa a palavra que ele parecia procurar, ou a mais adequada para o que acontecera.

- Você está bem Duo?

Quatre podia ver que Duo estava ligeiramente abatido, mas essa não era sua maior preocupação. Havia outra coisa perturbando Duo e ele podia sentir isso, havia uma certa tensão entre o amigo e Heero, desde que eles haviam retornado dos túneis com a posição do outro sarcófago. Haviam tentado indagá-los quanto ao que acontecêra durante o tempo que eles ficaram nos túneis, que segundo Heero e Duo não passara de poucos minutos, e no entanto eles haviam ficado desaparecidos por horas. E pareciam não apenas cansados, como ligeiramente assustados. E se perguntava o que eles haviam visto?

- Estou bem Quatre, apenas cansado. Vou tomar um remédio, dormir um pouco e estarei novo em folha pela manhã. Não se preocupe.

- Mas...

Duo sorriu e se despediu de todos, antes que Quatre conseguisse arrancar algo dele. Seu olhar cruzou-se com o de Heero que meneou a cabeça ao se despedir fazendo-o corar e quase correr fugindo do olhar escurecido do egiptólogo.

Heero viu Duo afastar-se rapidamente; sabia que um dos motivos dele recolher-se antes que o relógio houvesse informado serem onze da noite, foi pelo que ocorrera à tarde no sítio, embora não pudesse culpá-lo por isso, nem ele mesmo sabia se entendia o que acontecêra. Tudo que sabia era que se aquela coisa não houvesse aparecido o teria tomado para si ali mesmo. Esfregou os olhos cansado. Talvez fosse uma boa idéia recolher-se também, talvez assim sua mente clareasse um pouco, e o que vira no túnel, lhe parecesse menos assustador.


Na manhã sequinte:

Duo acordou com uma sensação estranha. Abriu os olhos lentamente, tentando localizar-se. Afastou os cabelos soltos e seus olhos encontraram-se com os de Heero que pareciam tão confusos quanto os seus. Duo se afastou ligeiramente, dando-se conta de que estava nu e na cama do egiptólogo. Olhou para Heero que tinha apenas a região do baixo ventre coberta pelo lençol, e corou intensamente pelo fato de ambos estarem nus e do que isso significava. Começou a tremer diante do olhar de Heero, tentando descobrir o que havia acontecido de fato, embora o ligeiro desconforto em algumas partes de seu corpo e o hematoma no pescoço de Heero lhe dessem uma ligeira idéia do que ocorrêra.

- Eu... eu não... não sei o que aconteceu, não me lembro de como cheguei a seu quarto.

Heero não conseguia desviar os olhos do homem a sua frente. O rosto envergonhado, a confusão estampada em seus olhos e rosto. Ele também não sabia como o milionário havia ido parar em sua cama, e nem ao certo como eles haviam acabado por dormirem juntos, pois pela forma assustada com que Duo o encarava, as marcas em seu pescoço, a sensação de relaxamento que sentia, e a leve ardência em suas costas, seria tolice ignorar que haviam dormido juntos. Mas a questão era, como isso acontecêra? Pois não conseguia se lembrar em que momento Duo entrara em seu quarto, uma vez que não se lembrava de tê-lo deixado entrar, e na noite anterior o americano havia sido o primeiro a recolher-se, alegando cansaço.

- Eu também não me lembro de nada, mas é impossível negar que dormimos juntos.

Duo corou ao ouvi-lo confirmar suas suspeitas, e abaixou a cabeça. Havia dormido com Heero e nem ao menos se lembrava como havia sido. No entanto seu rosto corou ainda mais intensamente ao ouvir o comentário que se seguiu.

- É impossível... negar... ainda mais porque eu ainda sinto o cheiro de sua pele em meu corpo e a sensação dela sob a ponta de meus dedos.

Duo ergueu os olhos encontrando a íris escurecida do egiptólogo. Recuou, sentindo uma sensação estranha percorrer seu corpo. Fechou os olhos, para abri-los assim que sentiu o perfume de Heero mais perto. Seus olhares se encontraram e Duo ofegou ao sentir a carícia em sua bochecha, deixou que Heero se aproximasse parando a apenas poucos milímetros de seus lábios.

- Duo...eu...

Duo silenciou-o com os dedos. Não queria que ele falasse coisa alguma, ou acabaria por perder a coragem. Aproximou-se mais, acabando com a distância entre seus corpos e tocou seus lábios nos de Heero. Este ouviu as palavras sussurradas junto a seus lábios, dando um meio sorriso antes de se perder no calor e maciez dos lábios do americano.

- Acho que dessa vez, não correremos o risco de não nos lembrarmos.

Continua...

Depois de milênios apareceu mais um cap.

Gente desculpe a demora, mas sabe como é inspiração não vem com hora e data marcada, e nem fica pelo tempo que a gente quer.

Bem agradecimentos a todas as almas pacientes e fãs que me torrando a mufa pedindo atualização dessa fic.

Mami esse cap e para vc viu.

Agradecimentos a Dhanda pela revisão.

E já sabem aguardo comentários.