Segundo capítulo e digo uma coisa: vocês não sabem como fiquei feliz com a repercussão da fic e os reviews que me mandaram , mas também... Como diz minha querida Dama 9, Shu é Shu!

Alguns recadinhos antes do início do capítulo:

e-ifrit, tenha calma e controle-se! Eu sei que coloquei o Shura em uma sinuca de bico, tadinho, mas foi assim que a fic surgiu no sonho, então...

Sah, por favor, escreva logo uma fic Aioria e Marin e aproveito este recado para lançar uma campanha contra a extinção da fic do Miro!

Dama 9, você tem toda razão... Homens de sobretudo são o que há, ainda mais quando por baixo dele está o belo espanhol em visual black total!

Saory – San, muito obrigada pela sua ajuda e por betar este capítulo! E, com certeza, no altar onde você colocar o Shura eu certamente estarei por lá rezando!

Agora sim vamos ao capítulo!

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Nós comemos e nós bebemos

Nós sentimos, nós pensamos

Ao longo da estrada por onde

Caminhamos sem rumo

Eu rio e choro e estou sendo assombrado

Por coisas que nunca quis ou desejei dizer

O trem da meia-noite segue seu rumo

Nós todos vestimos a mesma coroa de espinhos

De alma para alma, nossas sombras rolam

E eu estarei com você quando tudo terminar

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"Um homem bonito... E aqueles olhos negros, meu Deus! Como pode existir alguém com aqueles olhos na Terra?"; perguntava-se Miranda, escovando seus cabelos em frente ao espelho da penteadeira, preparando-se para dormir. Sorria para si mesma, como podia estar fantasiando sobre um homem que conhecera naquela tarde?

Deixando a escova sobre o móvel e conferindo o despertador, a jovem foi até a janela para fechar as cortinas e poder dormir. Não viu que, do outro lado da rua, era observada por alguém.

-Tenha bons sonhos, Miranda... Eles podem não durar muito. – Disse Shura a si mesmo, deixando seu posto de vigia assim que as cortinas foram cerradas.

Caminhando pela calçada, ele foi traçando seus planos mentalmente, sorrindo para si mesmo. Era somente mais um trabalho, porém, desta vez, sentia que seria diferente. Algo dentro de si causava uma inquietação sem tamanho, que ainda não sabia explicar o que poderia ser.

Mas tanto Shura como Miranda não tardariam a descobrir o que era...

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O dia quente e de muito sol causava uma espécie de efeito embelezador em Miranda, que adorava o calor. Trajando um vestido de verão azul claro e sandálias brancas salto anabela, os cabelos presos em um rabo de cavalo alto, a jovem deixou o prédio onde morava e já estava a caminho do ponto de ônibus quando ouviu uma buzina atrás de si.

-Miranda! – Gritou Shura, colocando a cabeça para fora do carro – Está indo ao centro cultural?

-Claro!

-Então entra aí no carro, que eu te dou uma carona.

Entrando no veículo, Miranda colocou sua bolsa e livros no banco de trás e quando se voltou para frente, Shura a interceptou, apoiando o braço direito no banco do passageiro, fitando-a com seus olhos negros.

-Tipo, eu não dormi com você, então acho que mereço um bom dia!

-Ah, desculpa Shura... Bom dia! – A jovem disse, sorrindo e dando um beijo no rosto do rapaz, gesto que acabou deixando-o ligeiramente desconcertado.

Rindo muito, Miranda afivelou o cinto de segurança e Shura deu a partida no carro, os dois acabaram por engatar mais uma deliciosa conversa.

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Quando chegaram ao centro cultural, as alunas estavam todas prontas e também alguns meninos, vestidos como toureiros. Ajudando Miranda com a bolsa e os livros, Shura achou graça ao vê-los daquela maneira, pareciam miniaturas; pensou.

-Nossa, estão todos prontos! Isso que é vontade de fazer bonito no sábado!

-O que tem sábado? – Perguntou Shura, com uma curiosidade genuína.

-A apresentação deles, no teatro aqui do centro. Todo final de semestre eles dançam para a comunidade... Muito bem, podemos começar os ensaios de hoje e...

-Tia... – Madalena levantou a mão, chamando a atenção de Miranda – Não vai dar... O professor Franco não vem hoje, a tia Ignez mandou avisar você.

-Caramba, e agora? Ele tinha que estar aqui hoje, a aula é muito importante para a apresentação. Como é que eu vou fazer?

-Hum, Miranda... – Shura pigarreou e todas as atenções se voltaram para ele, inclusive das crianças – O que seria a aula de hoje?

-Bom, nós iríamos ensaiar o passo doublé.

-Posso dar uma sugestão?

-Que sugestão?

-Bem... Eu sei dançar um pouco de flamenco, se não for muito difícil eu posso te ajudar com a aula de hoje.

Miranda encarou Shura por um momento, meio incrédula. Depois, sorrindo, foi até a porta da sala e indicou a ele um outro cômodo, no final do corredor.

-Naquela porta dos fundos fica o vestiário masculino e os figurinos que os bailarinos usam. Deve ter alguma roupa de toureiro que sirva em você, Shura!

Agradecendo, o rapaz foi para o vestiário, seguido por Miranda que foi para o feminino.

-Gente, o Shura deve ficar um arraso de toureiro! – Comentou Madalena, com seu típico entusiasmo infantil.

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Contrariando a regra, Miranda arrumou-se primeiro e foi para a sala, usando seu vestido de flamenco preto com bolas vermelhas enormes, o cabelo preso em um coque arrematado por uma flor de tecido. Estava em um canto da sala, procurando o CD com a música da apresentação, quando ouviu os gritinhos de excitação das meninas e os assobios de deboche dos garotos.

Quando se virou para ver o motivo de tanta algazarra, a jovem chegou a prender a respiração, admirada com a figura que adentrava a sala.

Vestido com uma malha de toureiro preta, o casaco todo bordado em fios dourados e os cabelos penteados para trás, Shura foi até ela com seu sorriso mais sedutor, o olhar mais sensual que possuía.

-Está linda, Miranda... – Ele disse, esticando a mão para a jovem.

Atrapalhando-se toda, Miranda deixou cair os CDs no chão, nem sabia o que fazer. Shura percebeu o desconforto dela e se abaixou para pegar os CDs, colocando-os de volta sobre o aparador onde ficava o aparelho de som.

-Ah, obrigada... Acho que é neste CD que está a música... – Ela disse, colocando o CD para tocar.

-Hum, Toreador... Não poderia ser outra!

Corando com o olhar e o sorriso de Shura sobre si, Miranda baixou os olhos e foi para o centro da sala, posicionando as crianças aos pares e fazendo com que ocupassem todo o espaço. Chamando Shura com um gesto, ambos se posicionaram à frente, de modo que todos pudessem vê-los.

-Muito bem, vamos começar crianças! Meninos, mão direita estendida à sua dama... Meninas, mão esquerda estendida à frente e a direita segurando a barra do vestido. Vamos ensaiar primeiro os passos básicos separados antes de juntar tudo na mesma dança, certo?

-Ah, pelo menos o básico eu sei! – Comentou Shura, arrancando risos de todos os presentes.

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Em um grande hospital particular de Madri, Ramon acabava de entrar todo paramentado na UTI. Na cama, respirando com a ajuda de parelhos, o velho pai estava deitado, inconsciente. A doença, devastadora, não lhe dera muitas chances de sobrevivência, restava apenas esperar pela morte.

-Nunca fez nada por mim em vida... E pior, me arranjou um problema chamado Miranda Lopez! Mas se pensa que vou dividir a herança que me deixará com aquela bastarda, está muito enganado! Você e ela têm um encontro marcado para breve no inferno, papai...

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Os passos básicos realmente não eram muito difíceis, o problema era quando juntava tudo... E para lembrar a seqüência? Por diversas vezes, Shura tropeçou nos próprios pés ou pisou nos de Miranda, até as crianças erravam menos do que ele.

Rindo muito, a jovem quase não se agüentava. Mas a verdadeira prova para seu autocontrole como pessoa e professora ainda estava por vir.

-Agora quero todos prestando muita atenção que vamos ensaiar a parte final. Shura, você poderia ir para os fundos da sala?

O rapaz obedeceu e Miranda foi para o lado oposto, bem afastada dele.

-A parte final será simples: Meninas, ao soar a nota que indica o último instrumental, vocês caminharão a passo firmes e ritmados em direção aos meninos: Garotos, vocês farão o mesmo, mantendo o contato visual. Quando se encontrarem no centro do palco, darão as mãos, as meninas arquearão as costas para trás e os garotos as puxarão de volta contra seus corpos.

-Mostra para a gente como é, tia!

Suspirando, Miranda se posicionou e pediu a um dos alunos que corresse com a música até o ponto em que precisava. Erguendo a cabeça, ela e Shura iniciaram os passos marcantes, o contato visual mantido a duras penas, a sensualidade do rapaz era tamanha que a jovem sentia sua face incendiar de tanta vergonha.

Encontraram-se ao centro, Shura a segurou pelas mãos e Miranda arqueou as costas. Porém, quando ele a puxou de volta... Não foram apenas os corpos que se colaram um no outro, por questão de milímetros, o mesmo quase aconteceu com suas bocas. Shura sorriu deliciosamente. Miranda prendeu a respiração e fechou os olhos. Será que um beijo iria acontecer ali mesmo, na frente das crianças?

-Uau, essa foi demais, tio Shura! – Gritou um garoto, tirando os dois de seu mundinho particular.

Vermelha de vergonha, Miranda soltou-se de Shura e voltou sua atenção às crianças, posicionando-as nos fundos e frente da sala. Treinando os olhares com os meninos, Shura sorria para si mesmo. Sua presa já tinha mordido a isca e estava em sua rede.

Mas, estranho... Ele também se sentia, ainda que pouco, como a caça...

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Pôde-se dizer que o restante da aula foi produtiva para as crianças, prazerosa para Shura e constrangedora para Miranda, que não mal conseguia controlar-se toda vez que era preciso dançar junto do rapaz.

Ao final do dia, cansada e confusa, a jovem trocou de roupa rapidamente, pegou seus livros e cadernos e saiu apressada para a faculdade. Ao sair do centro cultural, viu o ônibus que sempre pegava indo embora e tentou correr para alcançá-lo.

-Se está atrasada, eu posso te dar uma outra carona... – Disse Shura, aparecendo por detrás da jovem, falando bem ao seu ouvido.

Miranda sentiu um arrepio forte percorrer sua espinha e o corpo estremecer com a proximidade. Sorrindo nervosamente, ela virou-se para Shura.

-Não vou te atrapalhar?

-Claro que não, vai ser um prazer.

No caminho para a faculdade, enquanto conversavam sobre o dia, Miranda não deixou de reparar nos olhares cada vez mais significativos de Shura para si, sentia sua face queimar a cada sorriso que ele demonstrava.

-Ah, já chegamos... – Ela comentou, ao vislumbrar o prédio da faculdade pela janela, um pouco mais à frente – Obrigada pela carona, Shura.

-Eu é que tenho que agradecer pela sua companhia, Miranda...

Shura soltou seu cinto de segurança e apoiou o braço no banco do passageiro, aproximando-se do rosto de Miranda. A jovem prendeu a respiração quando ele soltou o cinto que a prendia e, sorrindo, fechou os olhos.

Nervosa, mas sentindo uma excitação crescente percorrer seu corpo, Miranda também fechou os olhos e um beijo aconteceu, quente e cheio de desejo. Shura deslizou a mão do banco para a nuca da jovem e a puxou para mais perto de si a fim de aprofundar o beijo, aproveitar cada segundo daquele momento. Miranda acabou relaxando e baixou de vez a guarda, deixando que o rapaz explorasse sua boca com a língua e a provocasse de maneira sensual.

Respirando fundo, separam-se alguns minutos depois.

-Boa aula, Miranda.

-O-obrigada, Shura...

Ainda sentindo as pernas bambas, Miranda saiu do carro e entrou logo no prédio da faculdade, sequer olhou para trás. Shura ficou um tempo com o carro estacionado nos arredores e pensativo. Sorria para si mesmo, sentindo o coração desacelerar aos poucos.

Que sensação era aquela? Estava acostumado a usar do mesmo artifício com suas outras "vítimas", então por que desta vez se sentiu tão bem?

Balançou a cabeça para ver se limpava seus pensamentos e deu a partida no carro. Não podia ser o que estava imaginando.

Não podia estar se apaixonando por Miranda Lopez.

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A noite que se seguiu e também o dia seguinte foram de muita distração para Miranda. Não tinha conseguido se concentrar na aula, os sonhos que a tomaram de assalto pela madrugada eram perturbadores e a sensação provocada pelo beijo de Shura não a deixava em paz.

Mas ficou perturbada mesmo com tudo isso ao chegar ao centro cultural e constatar que o rapaz não estava por ali. E assim foi por toda manhã.

-Tia! Tia Miranda! – Chamava-lhe Madalena, quase derrubando a jovem de tanto que a cutucava.

-Hã? – Miranda acordou do transe em que se encontrava, parada no meio da sala feito uma estátua – O que foi, Madalena?

-Olha quem está na porta!

Miranda virou-se de maneira automática e prendeu a respiração ao ver Shura parado ali, sorrindo para si. Dispensando as alunas para o intervalo de almoço, ela respirou fundo e foi até ele.

-Pensei que não viria hoje.

-Tive uns assuntos para resolver de manhã e quase não vinha à tarde também... Mas parei para pensar e achei que seria uma boa idéia aparecer para te fazer um convite.

-Que convite?

-Quer almoçar comigo?

Miranda ficou quieta, não conseguia responder com aquele olhar sedutor sobre si. Fechou os olhos para poder controlar sua respiração e então falou, mas sem encarar o rapaz.

-Tudo bem, eu aceito. Espere um pouco que eu vou pegar minha bolsa.

A jovem foi para os fundos da sala pegar sua bolsa. E a pequena Madalena, que ainda não havia saído, foi até Shura com as mãozinhas na cintura, em pose inquiridora.

-Shura!

-Diga, pequena.

-Você e a tia estão namorando?

-O quê? – Ele se engasgou ao ouvir a pergunta – De onde tirou essa idéia, Madalena?

-Olha, eu posso ser criança, mas não sou boba! E justamente por isso eu vou te dar um aviso: Cuide bem da tia Miranda ou você vai se ver comigo!

De cabeça erguida e olhar altivo, Madalena saiu da sala. Shura acompanhou a menina com o olhar e sorriu, tristemente. "Se ela soubesse...".

Porém, a idéia de namorar Miranda não era de todo má. Ainda sentia o gosto do beijo em sua boca, por causa dele não conseguira pregar o olho durante a noite e ficou revirando na cama.

Um conflito interno começava a tomar forma e certamente o deixaria maluco...

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Shura levou Miranda a um restaurante não muito longe do centro, um lugar pequeno e agradável. Mais à vontade, a jovem ria muito e contava histórias. O rapaz sentia-se bem para fazer piadas e relaxar.

No entanto, ainda tinha um trabalho a fazer. E decidiu que aquela era a melhor ocasião para saber mais respeito da vida de Miranda.

-Miranda, posso te fazer uma pergunta?

-Claro.

-Você ainda não me falou sobre sua família, seus pais...

O sorriso morreu rapidamente no belo rosto, os olhos castanhos escureceram repentinamente. Péssima pergunta, caro Shura...

-Bem... – Ela falou, deixando os talheres sobre o prato e baixando os olhos – Minha mãe faleceu há um ano e meu pai... Eu nuca o conheci, não faço nem idéia de quem seja.

-Não sabe? – Questionou Shura, meio surpreso. Estava diante da herdeira de uma das maiores fortunas da Espanha e ela simplesmente não sabia?

-Não... Minha mãe apenas falou que era um homem muito bonito que ela conheceu quando trabalhava na casa de uma família e mais nada. Também nunca me interessei em saber, minha vida nunca dependeu da existência de meu pai...

Miranda ficou brincando com o copo à sua frente, Shura calado. Percebeu que a jovem falava a verdade, não fazia idéia de quem era o pai. Suspirando, ele deslizou sua mão pela mesa até tocar a de Miranda, fazendo-lhe um carinho.

-Desculpe pela pergunta, eu não queria te deixar triste.

-Está tudo bem, você não tem culpa. Bom, acho que já está na hora de irmos embora!

Em silêncio, deixaram o restaurante. Shura a acompanhou até o centro cultural, mas não entrou, disse que tinha outras coisas a resolver à tarde. O rapaz aproximou os lábios, no intuito de dar um beijo de despedida na jovem, mas ela o deteve.

-Shura, você tem algum compromisso para amanhã?

-Não tenho nada programado, por quê?

-É que amanhã eu vou visitar a irmã da Madalena e pensei que você poderia ir junto, não sei. E tem a apresentação de dança à noite, as crianças vão gostar de te ver na platéia.

-Deixe-me ver... – Shura suspirou – Tudo bem, eu passo para te pegar às oito no seu apartamento.

-Certo... Eu vou te esperar, então... Até amanhã, Shura.

-Até, Miranda...

Sorrindo, Shura puxou o rosto de Miranda para si e a beijou novamente, desta vez de maneira delicada e suave. Ruborizada e sentindo as bochechas arderem, a jovem se soltou dele e entrou no centro cultural.

Com as mãos nos bolsos da calça, chutando pedrinhas na calçada, Shura ia caminhando de cabeça baixa. Depois daquele almoço e do segundo beijo, ele tinha certeza.

Miranda era uma boa garota. E ele estava apaixonado por ela.

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Passo Doublé: uma vertente do flamenco, dançada entre casais. Tem ritmo e passos marcantes, o jogo de corpo assemelha-se ao tango, só que menos trágico e sensual. Homens dançam vestidos de toureiros e o contato visual é o ponto alto da dança, mais importante até que a técnica na execução dos passos.

Uma vez eu dancei o doublé na escola, pena que não foi com o Shura...