Último capítulo... Dá uma vontade de chorar, mas tinha que ser assim, gente! Bem, chega de falação e vamos ao que interessa, mais recadinhos no final da fic.

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A lua traz a luz e ilumina a noite

Quando eu raramente sinto o seu brilho

Nós aprendemos a viver e então perdoamos

Pela estrada pela qual somos obrigados a caminhar

Mais delicadas que as rosas, essas preciosas horas

Que nos mantêm tão unidos

Você aparece aos meus olhos como uma visão dos céus

E eu estarei com você quando tudo terminar

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A bem da verdade, Shura estacionou seu carro em frente ao prédio de Miranda muito antes das oito horas, o sol mal havia nascido. Recostado no banco, de olhos fechados, ele pensava no que faria.

Tinha um trabalho a realizar, seria muito bem pago para isso. O que fazer, então?

Uma batida foi ouvida no vidro do carro e Shura abriu os olhos, dando de cara com Miranda a lhe sorrir. Estivera tão pensativo que nem vira o tempo passar e já eram oito horas. Rapidamente, ele abriu a porta e jovem entrou, afivelando o cinto antes que o rapaz a puxasse para um terceiro beijo.

Shura a cumprimentou com um beijo leve no rosto e seguiu pela rua, percorrendo o caminho que Miranda lhe indicava. Percebeu que se afastavam bastante do centro de Madri, ganhando os bairros periféricos.

-É aqui, pode estacionar em frente ao portão verde.

Shura obedeceu e viu que o tal portão, todo enferrujado, era a entrada para um cortiço. Miranda desceu do carro segurando várias sacolas e um embrulho de presente. O rapaz correu a ajudá-la. Estavam entrando quando Madalena apareceu toda espoleta, agarrando as pernas da jovem e depois dando um abraço em Shura.

Enquanto percorriam o corredor que levava à casa da menina, Shura ia reparando nas pessoas e quartos à sua frente. Gente muito simples, famílias inteiras que viviam apertadas em pequenos cômodos e situação difícil. Sentindo um nó se formar na garganta, o rapaz percebeu que todos naquele cortiço cumprimentavam Miranda com entusiasmo, era muito querida por ali.

-Mana! – Madalena gritou, entrando pela casinha onde morava – A Miranda chegou! E trouxe o namorado, o tio Shura!

As sacolas quase foram ao chão quando Shura ouviu o que Madalena havia dito. Miranda até cambaleou. Sem graça, ela entrou e deixou o que carregava sobre um sofá velho, o rapaz fez o mesmo.

Vinda do quarto, a irmã de Madalena apareceu, sorrindo e enxugando as mãos na barra do vestido, a barriga tão grande que parecia querer explodir.

-Nossa, como está enorme, Carmem! Tem certeza que ainda faltam dois meses para o Carlito nascer?

-Pois é, eu estou começando a achar que não!

Rindo muito, as duas se abraçaram e Shura foi apresentado à moça, que parecia ter a mesma idade de Miranda. Pegando o embrulho de presente, a jovem se sentou em uma cadeira e o entregou à amiga.

-Eu passei em uma loja de roupinhas outro dia e não resisti... O Carlito vai ficar uma graça usando o que comprei!

-Miranda, não precisava se incomodar...

-Tio Shura! – Chamou Madalena, tirando a atenção que o rapaz mantinha nas duas jovens que conversavam entre si.

-O que foi, Madalena?

-Você quer brincar comigo e os meus amigos?

-Está certo, eu vou... Miranda, se precisar de alguma coisa, eu estou lá fora com as crianças.

-Tudo bem, Shura.

Sendo puxado pela menina, Shura foi para o enorme quintal brincar com as crianças. Carmem ficou observando o rapaz sair e então se voltou para Miranda com um meio sorriso nos lábios.

-Muito bonito esse Shura... Está de parabéns pelo bom gosto, amiga!

-Ah, que isso... O Shura é só um amigo.

-Amigo, sei... Esse seu olhar não me engana, Miranda... E nem o dele.

-Lá vem você com as suas suposições furadas – Miranda riu, divertida – Mas uma coisa eu tenho que confessar: o beijo do Shura é maravilhoso...

-Ah, eu não disse? Eu estou sempre certa! Anda, me conta tudo enquanto eu faço um café para a gente.

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Era preciso muito pique para agüentar o ritmo da criançada e Shura descobriu rápido que estava meio fora de forma para isso. Cansado de jogar bola com os meninos, ele pediu um tempo e foi se sentar em um banco de madeira para descansar.

-Já cansou, tio Shura? – Perguntou Madalena, sentando-se ao lado dele.

-Ah, faz muito tempo que eu não jogo bola, Madalena.

-Percebi... Tio! – A menina o chamou de novo – Posso fazer uma pergunta?

-Nem precisa pedir.

-Você gosta da tia Miranda? Assim, que nem um homem gosta de uma mulher?

Shura encarou a menina, demoradamente. Depois, suspirando, ele recostou-se na parede, evitando olhar para a menina.

-Eu gosto muito da Miranda, Madalena... Muito.

-E por que falou assim, com essa cara triste?

-Porque... – Shura fechou os olhos – Porque eu não sei o que fazer.

-Como não sabe? Conta para a tia, ora!

-Não é tão simples assim, pequena... Eu...

Suspirando novamente, Shura abriu os olhos e se inclinou para frente, baixando a cabeça. Gesto imitado por Madalena, que apoiou os cotovelos nas pernas finas.

-Eu tenho um segredo, sabe? Uma coisa que pode assustar a Miranda e ela fugir de mim.

-Vocês homens são tão complicados... – A menina balançou a cabeça – Por que em vez de guardar esse segredo você não chama a tia Miranda para uma conversa e conta tudo, com calma? Aposto que ela vai entender e aceitar!

-Quem me dera fosse tão simples assim...

-Mas é simples, eu não sei porque tanta tempestade!

-Madalena, vem jogar com a gente! – Um menino a chamou e a garotinha saltou do banco e voltou correndo para o meio do jogo.

-Ah, só se eu for a goleira!

-Essas crianças parecem ligadas na tomada, né? – Perguntou Miranda, sentando-se no banco ao lado de Shura. Trazia uma xícara nas mãos.

-Com certeza... Me deixaram quebrado!

-Então tome um pouco de café para repor as energias! Foi a Carmem que fez.

Enquanto o rapaz bebia o café, Miranda ficou observando o jogo, gritando instruções para Madalena e as outras crianças. Entre um gole e outro, Shura encarava demoradamente a jovem, pensativo. Como alguém podia desejar a morte de uma criatura tão bonita e doce como ela, alguém que se preocupava tanto com os outros e estava sempre disposta a ajudar?

-Shura! – Gritou a jovem, virando-se para ele e dando risadas.

-O que eu fiz?

-Olha a sua calça! – Ele baixou os olhos e viu a mancha marrom e molhada – Onde estava com a cabeça que nem percebeu que o café derramou na sua roupa?

-Ai, caramba, essa mancha não vai sair tão cedo! E agora?

-Anda, vamos lá para dentro que eu vou ver se a Carmem empresta uma calça do marido para você vestir.

Constrangido, Shura seguiu Miranda de volta para a casa, sob as risadas gostosas das crianças que presenciaram tudo.

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-Bom, você é mais alto que o Carlos, então vista esta calça aqui. Fica grande para ele. – Disse Carmem, entregando ao rapaz uma calça branca de brim.

Sem graça, Shura aceitou a calça e foi para o quarto se trocar. Pouco depois, voltou coma própria em mãos, que Miranda tratou de guardar em uma sacola, com a intenção de levar a uma lavanderia. E, óbvio, não deixou de reparar que o rapaz ficava extremamente sensual vestido de branco.

-Bem, acho que já está tarde... – Ela disse, algum tempo depois – Eu ainda tenho umas coisas da apresentação para arrumar. A gente se vê por lá, Carmem.

-Até mais, então! E foi um prazer, Shura.

Despediram-se rapidamente e voltaram para o centro da cidade. Shura deixou Miranda no prédio dela, a jovem desceu do carro levando a sacola com a calça suja.

-Você vai assistir a apresentação hoje? – Ela questionou, pela janela do veículo.

-Com certeza, eu não vou perder a oportunidade de te ver dançar de verdade.

Corando, Miranda despediu-se de Shura e entrou no prédio. E o rapaz foi embora, muito pensativo e suspirando alto.

Estava decidido. Daquela noite, não passaria.

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Mesmo dia, quase dezenove horas...

Vestiu sua roupa de trabalho, o sobretudo (como estava frio, por Deus) e olhou-se no espelho. Suspirando, penteou os cabelos e encarou o próprio reflexo demoradamente. Teve vontade de socar o espelho, mas se conteve.

Com um andar pesado, ele foi até a escrivaninha, abriu uma gaveta e tirou dela uma caixa. Dentro da dita cuja, uma pistola nove milímetros repousava, solenemente.

-Parece que chegou a hora de agir, Shura... – Disse a si mesmo, conferindo o pente de munição e guardando a pistola em um dos bolsos internos do sobretudo.

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Nos corredores do primeiro andar do centro cultural, o entra e sai de gente das salas era intenso. Meninas se arrumavam em um canto, garotos ensaiavam em outro e as professoras não paravam um minuto.

No vestiário feminino, Miranda terminava de ajeitar uma rosa vermelha em seu coque quando a senhora Ignez apareceu procurando pela jovem com um enorme buquê de rosas nos braços.

-Parece que um certo alguém quer lhe desejar boa sorte... – Ela disse, entregando o buquê à Miranda com um largo sorriso e desaparecendo em seguida pela porta.

Miranda deixou o buquê sobre um dos bancos e pegou o cartão que estava junto. Não conteve o sorriso ao ler a dedicatória.

"Miranda: Espero que esta noite você não quebre somente uma, mas as duas pernas... Shura.".

-Miranda, a senhora Ignez já esta fazendo o discurso de boas-vindas! – Disse uma das alunas, entrando no vestiário para chamar a jovem.

Dando uma última conferida na maquiagem, Miranda pegou suas castanholas e saiu correndo para ajudar suas alunas a se posicionarem no palco.

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Foram uma, duas, três apresentações, todas muitas aplaudidas pelo público presente. E Shura, sentando em uma das últimas fileiras, aguardava impaciente a vez de Miranda subir ao palco.

Fechou os olhos e tombou a cabeça para trás, com o semblante cansado. Sentiu a arma pesar no bolso interno, mas acabou se esquecendo dela quando ouviu os primeiros acordes da canção que seria o tema da próxima apresentação: Carmem, a famosa ópera sobre a cigana que amava a dois homens ao mesmo tempo e morre por conta do ciúme de ambos.

Abriu os olhos e viu Miranda no centro do palco, os movimentos graciosos e firmes de seus braços acompanhando as notas, os passos ritmados que marcavam a música. O olhar altivo e compenetrado, a mesma doçura de sempre a iluminá-los.

A canção era forte e marcante, a presença de palco da jovem também. Parecia até mesmo o prenúncio de uma tragédia...

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Aos poucos as pessoas foram se dispersando, alguns iam embora para suas casas, outros se juntavam em grupos para comemorar o sucesso da apresentação. Encostado em seu carro, em um local pouco iluminado, Shura viu Miranda despedir-se de Madalena, a irmã e o cunhado e tomar o caminho de volta para casa, o enorme buquê bem seguro em seus braços.

-Miranda! – Ele a chamou e a jovem se virou em sua direção, sorrindo abertamente.

-Shura! Eu pensei que não tinha vindo, não o vi na platéia.

-Eu me sentei na última fileira.

-Ah, sim... Obrigada pelas flores, são lindas.

-Não precisa me agradecer – Shura fez-lhe um carinho no rosto – Venha, eu te levo para casa.

Miranda aceitou e durante todo o trajeto, foi contando histórias sobre os bastidores da apresentação, Shura ouvia a tudo atentamente e muito calado. Quando chegaram ao prédio da jovem, ela tirou o cinto de segurança e já ia saindo quando voltou a se sentar no banco e virou-se para Shura, visivelmente envergonhada.

-Eu... Você... Você não gostaria de subir até o meu apartamento?

-Miranda, você... Você tem certeza?

A resposta foi um beijo, desta vez com a iniciativa tomada por ela. Shura desligou o carro e decidiu subir, o que tinha a fazer não poderia jamais ser realizado ali, no meio da rua...

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-Bebe alguma coisa? – Miranda questionou, deixando suas coisas sobre uma mesa e entrando pela cozinha.

-O que você tiver por aí.

Enquanto a jovem procurava por algo na geladeira, Shura sentou-se no sofá, branco feito neve. Ficou por um tempo observando o ambiente, de decoração simples e aconchegante, um quarto apenas que ficava no fim do corredor. O típico apartamento de uma moça que estuda e trabalha.

-Tome, este vinho é delicioso.

Miranda entregou uma taça para Shura e imitou um brinde, provocando risos no rapaz. Bebendo um pouco do conteúdo, ele deixou a taça sobre a mesinha de centro e se recostou no sofá, Miranda fez o mesmo.

Ficaram um tempo em silêncio, até que Shura resolveu quebrá-lo. Suspirando, ele tomou o que restava do vinho e ficou de pé, tão nervoso estava. Miranda notou a diferença e o encarou, desconfiada de que algo estava acontecendo.

-Shura? Você me parece nervoso, aconteceu alguma coisa?

Ele suspirou longamente e meteu a mão direita no bolso interno do sobretudo que não havia tirado.

-Aconteceu, Miranda... Aconteceu que eu... Eu...

-Você o quê?

-Isto... – Ele tirou a pistola do bolso e a colocou sobre a mesa de centro, Miranda arregalou os olhos assustada – Eu não sou assistente social e tão pouco trabalho na prefeitura de Madri...

-N-não?

-Não... Eu sou... – Shura limpou a garganta – Eu sou um matador de aluguel. E fui contratado para matar você.

Choque. A taça de vinho foi ao chão, Miranda abriu a boca para dizer algo e as palavras simplesmente não saíram. Shura evitava encarar a jovem, suava frio de tão nervoso.

-Foi por isso que me aproximei de você, inventei toda uma história. Eu precisava ganhar sua confiança para depois executar o meu trabalho. Mas eu não contava com uma coisa, Miranda...

Shura ajoelhou-se de frente para Miranda, a jovem acompanhou seus movimentos com o olhar, ainda chocada.

-Eu não contava que iria me apaixonar por você, Miranda...

Silêncio. Confusa, a jovem processava as últimas informações de uma só vez, aquilo parecia surreal demais para ser verdade. Desolado, Shura esticou sua mão para tentar fazer um carinho no rosto de Miranda, mas em uma reação instintiva, ela se esquivou. Atordoada, a jovem levantou-se do sofá e foi para longe de Shura, começou a andar de um lado para outro, dando voltas.

-Miranda, olhe para mim, eu n...

-Não se aproxime de mim! – Ela gritou, nervosa, o corpo todo trêmulo – Vá... Vá embora!

Com os olhos vermelhos, Miranda foi até a porta e abriu com violência, mas atenta a todos os movimentos de Shura. O rapaz, de cabeça baixa e visivelmente triste, pegou sua arma, guardou-a no bolso e foi saindo, mas não sem antes lançar um último olhar significativo à jovem.

-Não se preocupe, eu não vou cumprir com o contrato que firmei. Não vou te matar, nem tentar nada contra você. Aliás, nunca mais ouvirá falar de mim, eu sairei de sua vida e não a procurarei mais, eu prometo.

Saiu, descendo rapidamente as escadas. Miranda ficou parada, vendo-o sumir pelos degraus, não sabia se chorava, se batia a porta, se...

De súbito, em uma atitude que sua razão jamais entenderia, ela saiu correndo do apartamento.

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Sentindo muita raiva de si mesmo, praguejando contra tudo, Shura desceu até o térreo e já estava quase alcançando a portaria quando ouviu passos apressados atrás de si.

-Shura!

Voltou-se com tudo para trás e deu de cara com Miranda, encarando-o aos pés da escada, os olhos vermelhos e cheios de lágrimas. Receoso, ele recuou alguns passos até se aproximar da jovem.

-O que...

Não terminou a frase, foi calado com um beijo. Atirando-se nos braços de Shura, Miranda deixou suas lágrimas correrem, o rapaz aconchegou o pequeno corpo em seus braços.

Sem se soltarem, os dois foram subindo de volta os degraus, sabiam que palavras naquele momento não adiantariam nada, poderiam até estragar o que estavam sentindo e desejando.

Pegando Miranda no colo, Shura subiu o restante dos degraus rapidamente, fechou a porta do apartamento com um chute e levou a jovem até o quarto. Deitando-a na cama, afastou-se até a janela para fechar as cortinas e despir o sobretudo.

Qualquer vestígio de razão que ainda ocupasse a mente de Miranda morreu ali, no momento em que Shura começou a beijar seu pescoço e colo, despindo-a aos poucos do vestido que usava, revelando a pele branca e firme dos seios alvos, tomando-os em beijos quentes.

-Miranda... – Ele a chamou e a jovem abriu os olhos, que estavam fechados de tanto prazer – Eu te amo, pequena...

Ela sorriu, antes de voltar a beijá-lo, ajudando-o a se livrar da camisa que usava.

Não sabiam o que seria de suas vidas daquele momento em diante. Mas, o que lhes importava entre as quatro paredes do quarto de Miranda, era o que sentiam um pelo outro...

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Ainda era madrugada quando Miranda despertou de seu sono, sentindo o corpo todo estalar por conta da noite movimentada. Abrindo os olhos, ela olhou em volta e não viu Shura. Onde ele estaria?

Enrolando um lençol em volta do corpo nu, a jovem saiu do quarto e, ao procurar pelo rapaz na sala, encontrou uma das rosas do buquê sobre a mesa de centro, presa a um bilhete.

"Miranda

Desculpe por ir embora assim, mas acredite, é melhor para nós dois. Quer dizer, para você... Eu não posso colocar a sua vida em risco, seria doloroso demais saber que, por não cumprir com um contrato, você seria perseguida por outros matadores e passaria por situações terríveis por estarmos juntos.

Não precisa se preocupar comigo, eu ficarei bem. E quanto a quem me contratou para matá-la... Ele não a importunará nunca mais, eu prometo.

Até um dia, quem sabe.

Te amo...

Shura.".

Segurando firmemente a rosa entre as mãos, Miranda correu até a janela e não viu o carro de Shura do outro lado da rua. Fechando as cortinas, ela deixou-se escorregar pela parede, as lágrimas correndo por seu rosto em abundância.

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Pela manhã...

Estava feito. Jogado ao chão, com um maço de notas sobre o peito, o corpo de Ramon. Uma marca de tiro bem no meio de sua testa denunciava o crime. E um homem de cabelos e olhos negros, com um semblante sério e triste, deixou o corpo estendido na calçada, sem sequer olhar para trás.

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Um mês depois...

-Eu não acredito! – Exclamou Miranda, caindo dura em uma cadeira na sala da senhora Ignez, no centro cultural.

Á sua frente, um homem de cabelos brancos e terno preto tinha em mãos um documento registrado em cartório... Um testamento.

-O que lhe disse é verdade, senhorita Lopez... De acordo com o testamento do senhor Felipe Pérez, é a herdeira das empresas Monsenhor Pérez e todas as companhias relacionadas.

-Acho que você está precisando de um café, Miranda! – Disse a senhora Ignez, correndo a providenciar, mas a jovem fez uma careta.

-Café não, só a menção me dá enjôos...

Fazendo caras e bocas, Miranda tomou uma água mesmo e voltou-se ao advogado do falecido senhor Felipe Pérez, o pai que nunca havia conhecido...

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Oito anos depois...

Onde antes ficava um cortiço, agora erguia-se um pequeno e bonito prédio de três andares, com uma placa imponente na entrada: Fundação Monsenhor Pérez. No local, centenas de jovens e crianças carentes tinham aulas de artes, dança, canto e adultos podiam se matricular em cursos profissionalizantes.

Era o sonho de uma vida realizado. E Miranda sentia muito orgulho de seu trabalho, que fazia questão de supervisionar pessoalmente. Carmem até brincava que a amiga passava mais tempo no escritório da fundação do que em casa.

Aquele era mais um dia assim, de muito trabalho. E surpresas também.

-Carmem, será que você podia dar um pulo aqui na minha sala, precisamos conversar. – Miranda pediu à secretária, pelo telefone.

Sentando-se em um dos sofás, a jovem pô-se a examinar alguns relatórios e documentos, até que ouviu a porta se abrir e fechar atrás de si.

-Carmem, nós precisamos ver is...

Calou-se, chocada, encarando um belo sorriso à sua frente. Um sorriso que vinha acompanhado de um belo par de olhos negros. Incrível como continuavam os mesmos, depois de tantos anos.

-Shura...

Ele sorriu mais abertamente, Miranda sentiu as pernas bambas. Sem dizer uma única palavra, o rapaz aproximou-se dela até tocar-lhe a face, mas alguém que entrava pela sala interrompeu seus planos.

-Mãe! – Gritou um menino de uns sete anos, correndo até Miranda e abraçando suas pernas – Quem é o seu amigo, mãe?

O menino encarou Shura, com um sorriso largo e os olhinhos negros brilhando. Meio hesitante, o rapaz o observou demoradamente e então se voltou para Miranda.

-Esse menino... Ele...

Com lágrimas nos olhos, a jovem abaixou-se até ficar da altura do menino e lhe falou, enquanto afagava seus cabelos negros.

-Juan... – Ela falou e o menino ficou calado, prestando atenção no que ela dizia – Lembra quando a mamãe disse que um dia o seu pai iria voltar de viagem e nos procurar?

-Lembro, mamãe...

Beijando a testa do filho, Miranda olhou para Shura, que tinha os olhos vermelhos. Juan o encarou novamente e então, com sua vozinha infantil e rouca, resolveu questionar.

-Pa-pai?

A resposta de Shura foi se ajoelhar no chão e abrir os braços. Juan se atirou sobre ele e os dois ficaram quietos por um bom tempo, chorando no ombro um do outro.

Agora sentia que voltar tinha sido a melhor decisão que tomou nos últimos tempos. Depois de abandonar sua antiga vida pelo amor de Miranda, claro...

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Quebrar a perna: A maneira como os bailarinos desejam sorte um ao outro quando vão se apresentar em público. Existe a variante do teatro, dita na noite de estréia de uma peça e é a expressão "merda para você".

Gostaram da fic? Fala sério, esse espanhol cada dia que passa está mais lindo, necessário e maravilhoso... Bem, aqui me despeço de todos, com mais uma fic completa e a sensação do dever cumprido. Mas, antes de ir, dois recadinhos ultra especiais:

Esta certamente não será a última fic com o Shura, aguardem as próximas emoções...

Esta fic é dedicada à minha miguinha Saory – San, que betou todos os três capítulos e que é uma apaixonada pelo espanhol como eu. Amiga, muito obrigada por sua imensa ajuda e considere esta fic um presente de agradecimento.

Beijos a todos!