Fazia algum tempo que Jean Grey havia partido.
Ele mesmo fora o responsável por isso. Já não havia motivo nenhum pra ele estar tão triste e pesaroso.
Simplesmente fizera o que deveria fazer.
Então por que a pergunta não saía de sua mente?
"E se...?"
E se ele tivesse a chance de ficar com ela pra sempre...
Ele mesmo perderia sua vida, e não, jamais teria aberto mão dela, mas amava demais...
"Salve-me!"
Foi o que ela disse.
"Salve-me!"
E foi isso que ele fez.
Não mais se culparia.
Tinha que continuar, havia os outros meninos que ainda precisavam de sua ajuda.
Precisavam?
Ou foi alguém que o induzira a se sentir necessário?
Ainda não cria...
- Logan?
Ele voltou-se pra trás, e viu "Vampira".
- Olá, Marie... Dormiu bem?
- Eu sim, mas parece-me que você não dorme há dias.
Ele fitou-a, com um meio sorriso.
- Ora, deu pra me vigiar também? - perguntou seco.
- Não, mas percebemos quando a pessoas com as quais nos preocupamos não estão bem.
Ela estava certa. Quase um ano... e ele ainda nessa ... Fossa?
- Quer falar a respeito DELA?
- Não quero falar sobre nada. - e saiu da sacada, deixando a moça sozinha, com seus pensamentos.
"Pobre Logan! Deve ainda se culpar pela morte da Ruiva..." Trouxe a mão ao peito. Tentou pensar numa maneira de ajudá-lo. Mas ele era tão difícil. "Ele não consegue esquecê-la."
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— Ororo! — chamou Logan. — Ei, onde você está, preciso falar com você!
— Estou aqui atrás. — respondeu a mulher, levantando-se detrás da mesa, com os cabelos bagunçados. Os grandes olhos azuis o observaram com atenção. - O que deu em você pra levantar-se tão cedo, Logan?
— Eu vou embora.
— O quê?
— Eu acho que não sou mais necessário aqui. Você, o Peludo Azul, e os mais jovens poderão fazer um bom trabalho.
Ela ficou de pé, enquanto absorvia as palavras dele.
— O que aconteceu...
— Seja o que for, aconteceu a muito tempo, Tempestade. — ele olhou para o céu. — E o céu continua limpo, de modo que percebo que isso não a afetou muito. Bem, só vim comunicá-la. Amanhã pela manhã estarei partindo.
— Bem, culpa, se for isto, vai te acompanhar aonde você for. Tenho certeza de que ELA não gostaria de saber isto.
— Não pedi sua opinião. Estou apenas comunicando o que farei.
— Oras... — resmungou ela, enquanto aproximava-se dele. - Pensei que fossemos amigos.
— Eu sou sozinho.
— Mas...
Ele sorriu.
— Agora, terá mais controle sobre os garotos sem minha presença anti-social por aqui.
— Não diga isso, Logan.
— É mentira, não é? - ouviram uma vozinha atrás de si.
Eram Marie e Kitty, que ouviram metade da conversa.
— É, garota, parece que vai ter que se virar sem mim.
— Não diga isto, Wolverine! – era a voz de Tempestade.
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Mais tarde naquele dia, ainda faltava coisa pra colocar na pequena mochila que levaria. Ele ia e voltava tentando deixar certas roupas e apetrechos e no final não conseguira nada!
— Droga! — sentou-se enfiando as mãos nos cabelos rebeldes.
— Precisa de ajuda, Logan?
Ele ergueu a cabeça, encontrando os olhos claros de Ororo à sua frente. Ela divertia-se às suas custas.
— E o que ainda faz parada aí?
— talvez devesse deixar pra ir depois da festa surpresa que os meninos organizaram pra você. — falou ela, sem nenhuma cerimônia, enquanto dobrava jeitosamente algumas peças de roupa e organizava perfeitamente sua bolsa.
— Você é boa mesmo nisto.
— Sei disso. — olhou-o novamente., balançando negativamente a cabeça. — Porque sempre faz as coisas do modo mais difícil, hein? Eu ...
— Eu não quero saber a sua opinião. — falou ele, abrindo a porta. — Obrigado pela ajuda e por me avisar da festa. Eu estarei lá.
— Certo — sorriu sem jeito. — Até mais, então.
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— Surpresa!
Todos estavam ali, esperando pra se despedirem. Havia muitas coisas gostosas, um bolo feito por Kitti, salgados...
— Está gostando?
— Como poderia não gostar de algo feito por eles? Ah, a juventude é uma coisa muito boa! Nunca pensa no amanhã...
— Pois eu lhe garanto que eles estão... — estendeu-lhe uma taça com um líquido azul. — Contrabando.
Ele olhou-a abestalhado.
— Nunca imaginei que a veria bebendo, Rainha da Tempestade.
— Nem eu... Mas após tantas perdas é normal querer esquecer algumas. — ingeriu o líquido de um gole só. — Não é mesmo...Logan?
Seus olhos azuis pareciam estranhos. Pareciam olhos de outra pessoa. Logan aproximou-se dela.
— O que aconteceu , que eu não sei?
— Nem eu. — afastou-se dele. — Aproveite a sua festa.
Ele a viu afastar-se. E ficou com uma pulga atrás da orelha. Seguiu-a.. Portas, saídas , entradas, por fim deram no cemitério. Viu que ela parara ao lado da lápide DELA. E dizia palavras incompreensíveis à seus ouvidos. Porém o tempo mudou de repente. E não havia previsão de chuva nem de relâmpagos pra aquele dia...
— Por que você levou a melhor parte dele com você, Jean? Nada mais o segurará aqui agora, nem mesmo eu... Porque os olhos dele estavam fitos em você , sempre...sempre... — suas mãos foram ao encontro de sua garganta, como se pudessem cortar os gritos que queriam sair dali. — Já não há o que fazer...Senão isto... — vislumbrou o céu fechado, e os trovões ribombarem na terra.
— Ororo.
Assustou-se, ao ver que Logan estava ajoelhado a seu lado.
— Acalme-se. Estou aqui.
Suas íris brancas começaram a tomar a tonalidade azul tranqüila de sempre. E a noite antes tenebrosa mostrava novamente a lua crescente e brilhantes estrelas...
— Desculpe... Não foi minha intenção segui-la mas...
Um beijo roubado o fez calar-se imediatamente. As mãos dela o envolveram numa trama da qual ele não conseguiu soltar-se.
Momentos depois, ao separarem-se, quase sem fôlego, ela disse:
— Não me arrependo. — levantou-se, e ia saindo novamente de perto dele, quando o sentiu puxar sua mão. Desequilibrou-se, caindo sobre ele. De um movimento só ele ficou por cima dela, sobre a grama úmida do jardim.
— Nem eu. — beijou-a novamente. Não conseguia parar de fazer isto, e indagou-se do por quê? Iria magoá-la com certeza.
Ele ficou de pé, rapidamente e saiu puxando-a pela mão. Acomodou-a na parede próxima à lápide de Charles. E pertenceram um ao outro ali, entre as amoreiras.
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Já fazia quase dois anos que abandonara os XMen. Estava a vagar sem rumo quando uma notícia veio abalar-lhe os nervos. O professor estava vivo! Não podia ser, ele o vira morrer! Precisava saber se aquilo era verdade. E voltou pra escola. Sem aviso. Sem premeditações.
Quando passou pelo portão viu algumas crianças por ali, brincando. Uma delas parou imediatamente à passagem. Ele sorriu.
— Ei, garoto!
— Sou uma garota, se não se importa.
— Mil perdões, milady. Lady Ororo e Mister Charles estão?
— Sim, quer que eu o leve até eles?
— Mas é claro.
— Não sei se deveria.
— Ai!
Era o grito de uma outra criança. Uma garotinha negra, de cabelos pretos, com uma mecha branca. Soluçava. E viu que seu bracinho gordo se cortara em algo.
— Está tudo bem Jean! Logo vai sarar, você já devia saber disto.
Mas o bebê chorava mais ainda, trancando os olhos.
Wolverine aproximou-se dela, tocando no machucado.
— Ei, não está doendo tanto assim ,está?
A menina abriu os olhos. Qual não foi sua surpresa ao ver ali os olhos de ... "ororo"
— Onde está a sua mãe?
— Pensei que conhecesse Tempestade, senhor...
— Wolverine.
— É a filha dela, Jean.
Ele olhou novamente para a menina. Uma onda de remorso e temor perpassou-lhe o corpo. "Então, Ororo tem um filho. Que bom." Aproximou-se da menina e pegou–a no colo. Embora sempre fosse arisca a estranhos , à ele não demonstrou resistência, fazendo Mirna sorrir.
— Oras, é só ver um cara fortão e bonito que se cala... Você realmente não se parece com a sua mãe...
— Me leve até eles, sim.
Ao aproximarem-se da sala de conferencias, ele parou e sorriu pra garotinha.
— Quer ir anunciar-me pra sua mãe?
Ela sacudiu negativamente a cabeça negra, fazendo um beicinho.
— Bem, vamos entrar então.
Ao entrar , não esperava a acolhida que teve. Kitti estava bem mais alta, e jogou-se sobre ele. Marie também. E Jean, muito quieta em seu colo, apoiando a cabeça no ombro dele.
— Ei, onde está a mãe desta criança perdida? — falou quando entrou na sala dela.
Tempestade quase caiu da cadeira, e Charles foi até ele, cumprimentando-o.
— Que bom revê-lo. Achei que isto nunca mais aconteceria...Vejo que conheceu nossa Jean... Engraçado, ela não fica assim comigo.
— Ororo, quanto tempo. — Seus olhos procuraram os dela, calorosamente. — Descobri esta coisinha machucada na grama. E qual não foi minha surpresa ao ver seus olhos nela!
— E todo o resto é você! — falou Charles, fechando a porta às suas costas.
— O que ele quis dizer? — viu que ela pegara Jean no colo, indo em direção à janela. — Vejo que ficou muito bem enquanto estive fora.
— Logan? Eu não sei ser indireta neste tipo de assunto...
Ele fitou-a sem entender.
— Jean é sua filha.
Apoiou-se na mesa pra não cair. "Minha...filha? Jean?" Engoliu seco. É claro, na noite em que foram embora, eles...
— Por que não me disse nada?
— Talvez porque não quisesse ser encontrado. E talvez porque eu achasse que você não iria querer saber... Eu estava magoada, Logan. Como iria ficar andando a sua procura?
— Devia ter... Desculpe-me, mas eu não sabia acerca de seus sentimentos até aquela noite.
— Eu também não. — havia sinceridade em seus olhos. — Achei que era uma relação de força contra o mal, mas nem tudo sai do jeito que queremos. Quando você disse que iria embora, eu senti uma fraqueza que nunca senti antes. — estreitou os olhos, quando a menina em seu colo estendeu os braços pra ele. Entregou-a. — E infelizmente você ouviu. Foi só isso...
A menina abraçou o pescoço forte dele.
— Vejo que ela gosta de você...
— Seria o correto, não acha? Nunca tive jeito com crianças.
— Mentira. Você gostava de todas elas, só não sabia como lidar com elas.
— Acha mesmo? — sentou-se no sofá, puxando Tempestade pelo braço, para que ela sentasse ao seu lado. — Então, vamos colocar os pingos nos "iis". Cansei de rodar o mundo, ouvi dizer que Charles estava vivo, descubro que existe alguém que me ama e, talvez, só talvez, sem querer me deu uma filha linda, que graças a Deus puxou à mãe. — ela riu. — O que faremos a seguir?
— É só por causa de Charles que voltou, não é? Por que não vai atrás dele?
— Porque ele não é bonito e não beija bem como você! — falou e agiu. A menininha sorria, colocando as mãozinhas na boca. — Ei, você, — disse ele, fingindo seriedade. — Feche estes olhos.
— Mama... — murmurou ela.
— Não, Jean. Este é o seu papai.
— papa.. escondeu o rostinho no pescoço dele de novo.
— Acho que está apaixonada por mim... E mamãe?
— A mamãe? Podemos negociar...
— Não quero estar junto que você por menos que muito amor, paixão...Não por causa de Jean.
— Idem.
— Ótimo! Então, quando podemos ter um encontro?
— O quê?
— Eu esperava pode ir conquistando-a aos poucos, afinal, acabei de conhecê-la.
Ela virou o rosto pra ele, sorrindo.
— VOCÊ é louco.
Sorriu de volta.
— Você também.
Ficaram ali sentados, curtindo primeiro de muitos momentos que teriam ainda.
"Começa a crer, por mim, que o amor
É possível,
E que a vida vale a pena e o pranto
De cada dia..." Lya Luft
Não sou uma grande fã de X-Men, mas ao assistir o último filme da série, fiquei tentada a escrever isto.
E resolvi arriscar. Por favor não me matem. Mas eu sempre imaginei a Tempestade com o Wolverine...
Bjs pra todos!!!
