Carter sai de sua cabana, apoiando-se em uma bengala. Havia uma faixa em sua coxa esquerda escondendo o ferimento que tinha. Deu alguns passos à frente, e olhou para o céu. Em Darfur, era muito difícil ver um céu diferente do q via agora, azul claro, com poucas nuvens. Seu rosto já suava pelo calor do sol escaldante que tocava seu rosto. À sua volta, crianças brincavam, fazendo bastante barulho, mas Carter não as ouvia. Estava perdido em seus próprios pensamentos. "É tudo minha culpa. Luka morreu para me salvar. Ele encontrara a felicidade novamente. Ia ter dois filhos com Abby. Abby. Oh, Deus, como estará Abby? Prometi a mim mesmo que encontraria o corpo de Luka. Tenho mais convicção disso do que da última vez, quando atravessei o oceano para recuperar seu corpo, deixando Abby sozinha e magoada. O que vai acontecer quando chegar a Chicago com o corpo de Luka? Abby vai me odiar pelo resto da vida. Eu vou me odiar pelo resto da vida. É tudo minha culpa. Minha culpa..."
Seus pensamentos foram interrompidos com Debbie gritando alguma coisa. Espere um momento... ela gritou "Luka"??
"Luka!!!"
Sim, ele ouvira certo. Carter se virou e o viu, vindo de muito longe, andando, exausto. Luka. Vivo.
"Mas o que..." Carter não conseguia acreditar no que via. Seu amigo estava vivo. Abriu um sorriso e teve vontade de correr na direção dele. Foi aí que se lembrou que sua perna estava machucada, então foi andando vagarosamente, enquanto via os outros, Debbie, Dakari, Kem, correndo em direção a Luka, que sorriu quando foi abraçado por todos, e, sem forças, ajoelhou-se no chão.
"O que aconteceu, Luka? Todos achamos que estava morto!"
"Morto? Bom, estou quase morto agora..." Luka estava em uma cabana tomando água, sentado em uma cama. Estava muito suado e sujo, tinha bolhas nos pés de tanto andar. "Por que acharam que eu estava morto?"
"Logo que saímos do acampamento dos Janjaweed, ouvimos dois tiros. Voltamos e um deles nos disse que você tentou escapar e levou os tiros."
"Isso aconteceu, mas não comigo. Havia um outro refém, acho que ele era inglês... ele quis se aproveitar da situação e tentar fugir, mas foi descoberto por um deles. Para tentar fugir, o inglês agrediu o Janjaweed, e este o matou."
"Oh, Deus, achamos que era você!! Que grande susto você nos deu... mas... como chegou até aqui?"
"Preciso de um banho. Já te conto." Luka disse indo em direção ao banheiro.
Após o banho, Luka, com uma aparência bem melhor, contou a Carter como escapou dos Janjaweed.
"Bom, eles me amarraram, mas após algumas horas consegui me soltar, e eles não perceberam. Até que um deles disse que havia um grupo de mulheres próximo dali, e eles se distraíram. Então saí de fininho e consegui fugir, e vim andando até aqui."
"Uau... Nunca achei que ficaria tão feliz em te ver!!"
"Obrigado... eu acho... mas e você, como está? E as crianças?"
"Estou bem, as crianças também. Só que os pais delas foram mortos no ataque..."
Houve um silêncio. Até que Carter se lembrou: "Oh meu Deus, Abby!!"
"O que tem a Abby?" perguntou Luka, preocupado.
"A Kem contou a ela que você estava morto!"
"O quê??"
"Ora, Luka, tínhamos certeza que você estava morto, tínhamos que contá-la!"
"Oh, Deus, sabe como ela reagiu?"
"Não, Kerry apenas disse a Kem que ela estava mal."
Luka pensou em Abby e em todos os riscos de passar por um estresse emocional como esse na fase de gravidez em que ela se encontrava. Ficou muito preocupado.
"Carter... eu preciso voltar... preciso ir pra Chicago, agora!"
"Tudo bem, vocês vieram a Darfur me procurar com o jatinho da minha família, certo?"
"Sim..."
"Então vou providenciar a nossa volta."
"Nossa?"
"É, eu e Kem vamos também. Acho que todos precisamos de umas férias disso tudo. E minha mãe quer me ver, depois de toda essa história de seqüestro."
"Entendo. Então providencie isso pra já. Preciso ver Abby."
"Ok."
Poucas horas depois, eles já estavam a caminho do aeroporto. Luka estava muito inquieto, mexia os braços sem parar e não achava uma posição confortável no banco.
"No ER só dá ocupado, e a Abby não atende o celular. Ela deve estar de plantão. Vou ligar para a sala de Kerry, ok?" Carter disse tentando acalmar o amigo. "Deixa de ser bobo, Carter, é claro que ela não está de plantão! Ela acha que Luka está motro, como pode estar trabalhando?" Ele pensou, mas o fato de Abby não atender o celular não ajudava em nada na preocupação de Luka.
"Ok..."
No escritório de Weaver, a nova secretária estava lixando as unhas e falando ao telefone com o namorado.
"Sim, eu saio em 10 minutos, aí te encontro no Ike's. Pode deixar, não vou atrasar, amor! Eu sei que você já esta esperando, mas... espera um pouco, tem outra chamada."
"Alô?"
"Alô, por favor, gostaria de falar com Kerry Weaver?"
"Quem gostaria?"
"É John Carter."
"Eu sinto muito, Sr. Carter. Dra. Weaver não está."
"Ahm... Pode deixar recado com ela, por favor? É urgente."
"Claro, pode falar."
"Diga que encontramos Luka Kovac, e ele está vivo. E que estamos voltando a Chicago."
"Tudo bem, já anotei o recado e vou tentar entrar em contato com ela, ok?"
"Ok, muito obrigado!"
"Disponha!" A secretária voltou para a outra ligação
"Oi amor! Ai, tá bom, eu já vou!!" E, com isso, ela desligou o telefone, e saiu, deixando o seguinte bilhete na mesa da patroa:
Dra. Weaver,
Sr. Carter ligou avisando que Luca Kovach vive voltando para Chicago. Não achei que o recado era muito urgente então não quis importuná-la agora. Até amanhã!
