.Darkness Lady - A Dama da Escuridão.
Capitulo 09 – Destroyed (Within Temptation)
Acordou, sobressaltada, ouvindo passos pela casa. Ainda era muito tarde para Lolly ou sua madrasta terem acordado, e ninguém os visitava àquela hora, não é mesmo? Há essa hora ninguém deveria vir, era quase como um insulto à família.
Levantou-se nas pontas dos pés, colocando um penhoar qualquer sobre a camisola branca, e com delicadeza extrema, foi até o quarto da menina. Como imaginara a menina dormia. Sacudindo-a de leve, acordou-a e pediu silencio. Desde a morte de seu pai, tinha medo do que poderiam fazer a uma casa abandonada como aquela.
Ouviu o grito de sua madrasta, quando ao descer (provavelmente por também ter ouvido um barulho) encontrara alguém. Não teve dúvidas, entrou com a menina na passagem secreta que seu pai havia construído naquelas paredes. Ele sabia que mais cedo ou mais tarde alguém viria buscá-las.
Não conseguia ouvir direito o que estava acontecendo lá embaixo, mas as risadas cruéis demonstravam que não apenas era um ladrão ou bandido, e sim um enorme grupo deles. Sentiu o corpo inteiro gelar ao ouvir um deles pedir por Drakulya. Então seu pai realmente tinha razão. Viriam atrás dela por aquilo que tinha. Ainda lembrava das palavras doces dele, explicando-lhe que nunca deveria contar sobre aquilo para ninguém. "É um bem que pertence a você, e somente você deve escolher o que fazer com ele. Ninguém deve se apoderar dele sem que deseje, meu anjinho...".
A casa silenciara de novo. Talvez a madrasta realmente tivesse despistado-os. Assim sendo, ignorou a voz da razão, ao sair do esconderijo quando ela as chamara.
E quando encontrou os olhos dele pela primeira vez, soube que estaria perdida.
Angel se espreguiçou demoradamente. Pela terceira vez aquela semana havia sonhado com seu primeiro encontro com Tom. Não entendia porquê estava relembrando todos esses detalhes tantas vezes seguidas, mas no fundo sabia que havia uma mensagem oculta ai, que em dado momento deveria se atentar a estes detalhes.
O dia estava mais bonito do que imaginara. O sol brilhava intensamente como se a brindasse por ter acordado de bom humor. Prendendo os cabelos em uma trança feita às pressas, Angel desceu cantarolando uma música qualquer. Estados como este de felicidade parecia-lhe tão normais desde que Katrinna fora embora. Ou talvez desde que ela e Tom haviam se entendido. Sorriu, feito uma boba, relembrando alguns bons momentos que tiveram. Quase podia se dar ao luxo de esquecer que ele era aquele ser terrível que vira. Mas ela tinha convicção no amor. Sabia que mais cedo ou mais tarde o convenceria a desistir daquele plano maluco.
Encontrou Lolly novamente fazendo o café da manhã. A menina estava tão entretida em colocar os pequenos pãezinhos no forno, que nem sequer a escutara. Indo nas pontas dos pés, ela agarrou a cintura da pequena, apertando de leve, e gritando um sonoro Bom dia! Lolly deu um berro de susto, e pronto... Todos os pãezinhos foram ao chão.
- Olha o que você me fez fazer! – Ela olhava abismada os pães.
- O que houve, Lollyzinha? Acordou com o pé esquerdo?
- E você com os dois direitos, hein! – Ela então parou, e voltou o olhar para Angel, com uma expressão muito maliciosa no rosto. – Ah, não, perdoe-me, eu tinha esquecido que dia é hoje... ou melhor dizendo... Quem vem hoje...
Angel parou, fez algumas coisas e então se lembrou. Sim, hoje era sábado! Sim, era hoje que Tom vinha vê-las. Eles haviam combinado que a cada cinco dias ele iria visitá-las. Sentiu o peito apertar, e uma sensação estranha lhe percorrer todo o corpo. Ainda não conseguia entender essas sensações de paixonite aguda, mas começava a saber uma coisa: Ele lhe fazia bem.
- Eu não disse? Olha só você com cara de boba apaixonada de novo... – Lolly sorri – Isso porquê você quase o matou...
- Lolly, quando você crescer, vai entender...
- Eu já entendo, mamãe, papai me disse que você estava com uma coisa chamada TPM.
Angel corou, corou, até que todo seu rosto ficasse quase púrpura. Ele já estava metendo besteiras na cabeça da pobre menina inocente. Quando ele chegasse, ia ouvir algumas poucas e boas... Suspirou, mais uma vez se perdendo em pensamentos. Não ignorava o fato de que ele, quando não estava 'brincando de casinha' com elas, estava assassinando cruelmente pessoas, direta ou indiretamente. E isso era terrível. No fundo de sua alma, desejava convencê-lo a desistir daquela palhaçada, mas não conseguia encontrar modos de fazê-lo. O tempo corria, e parecia-lhe que cada vez que tocava naquele maldito assunto, ele tentava desviar sua atenção. Era uma terrível sensação de impotência.
- Mamãe? - Lolly a observava, com o cenho franzido. – Está tudo bem?
Um arrepio passou-lhe pela coluna, e as imagens do sonho lhe passaram novamente pela mente.
- Eu espero que sim, Lolly.
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O sol estava a pino quando Tom entrou na casa. Lolly correu para seus braços, os olhinhos brilhando intensamente, e Angel logo atrás, perdida novamente em pensamentos. Algo estava errado e ela podia sentir na pele isso. Foi despertada de seus pensamentos pelos outros dois, que a olhavam curiosos.
- Ela está assim desde de manhã. – Lolly lhe confidenciou – Eu não consigo entender.
- Está tudo bem, Angel? – Maldito momento em que Drakulya não lhe deixava ler a mente dela, seria tudo bem mais fácil.
- Oh, desculpem-me... Estava pensando no almoço e me distrai... – Ela deu um lindo sorriso, não era momento de preocupá-los com bobagens de sonhos...
Ele a encarou, um olhar calmamente descrente, mas Lolly já havia começado a falar rapidamente sobre como o tempo estava bonito e ela adoraria ir passear. Eles continuaram se encarando por uma eternidade, até ela desistir daquela bobagem e desviar os olhos.
- Vocês, por acaso, estão me ouvindo? – A menina colocou as mãos na cintura. Sabia que algo estava errado e que só pioraria. – Eu não gosto de falar sozinha!
- Claro que estou minha pequena. – Angel a pegou no colo e abraçou. Não gostou do que sentiu quando o encarou. – Agora porquê não leva o papai para o jardim enquanto eu acabo o almoço?
A menina, toda contente, começou a arrastá-lo pela mão. Eles ainda se encararam por alguns instantes antes de ele se render à pequena.
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Almoçaram tranquilamente. Lolly falava o tempo todo sobre trivialidades, e pelo menos naquele momento o clima tenso se dissolveu.
- Eu estava pensando se amanhã vocês não gostariam de ir à feira da cidade ou algo assim. – Ele sorriu para a pequena. – Há brinquedos lá, e várias coisas que tenho certeza de que irão gostar.
A menina deu gritinhos de felicidade, enquanto um vento gelado passava pelas costas de Angel. "Não vá" ela ouviu o vento lhe sussurrar.
- Achei que nós estivéssemos proibidas de sair da fazenda.
- Estarão comigo, e eu não as proibi de sair, as proibi de fugir. É diferente.
- Você não quer ir, mamãe? – A pequena a encarou com olhos tristes. – Se você não quiser ir, a gente não vai.
Ela olhou para a menina, o coração apertado. Não podia deixar de viver por um medo infantil daqueles.
- Iremos sim.
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Angel sorriu enquanto colocava a menina na cama. A pequena tinha uma expressão serena, e simplesmente tinha uma calma tranqüilizante.
Saiu do quarto sem fazer barulho, e suspirou. Sabia que Tom estaria em seu quarto. Sabia que ele a queria, mas não estava com animo. Algo parecia querer afastá-la dele, e geralmente seus pressentimentos estavam certos. Estava com medo. E não gostava dessa sensação.
Entrou no próprio quarto sem sorrir e evitando olhar-lhe. Sentiu quando ele se aproximou, e tocou-lhe o braço. Se afastou dele, abrindo algumas gavetas.
- Por que está fugindo de mim, Angel?
- Eu não estou fugindo de você – Disse, sem encará-lo. -, eu só estou cansada.
Ele a puxou, obrigando-a a encará-lo.
- Sim, você está me evitando. E eu não gosto disso.
- E eu não gosto de quando você fala com esse tom de voz. Eu não pertenço a você, Tom. Eu não sou uma de suas malditas comensais.
Sentiu a mão dele em seu rosto, e a ardência que se seguiu, sem acreditar que ele havia tido coragem de bater nela.
- Como ousa? – Ela falou, descrente.
- Você é minha, Angel. – Os olhos dele brilhavam ameaçadores. – O que te fez pensar que não?
Ela encarava-o sem reação. Não gostava nem um pouco deste lado dele.
- Saia do meu quarto. – Ela apontou para a porta.
- Eu não vou. – Ele chegou mais perto dela, e ela tentou recuar, batendo as costas na cômoda. – Você sabe que eu te quero. Você sabe que me pertence. Eu não gosto de seus joguinhos, Angel, e não estou com humor para eles.
A beijou a força, enquanto segurava sua cintura. Ela tentava se debater, e cada vez mais ele a prendia, começando a machucá-la. Ela tentou se desvencilhar, tentou, afastá-lo, mas aquilo apenas parecia deixá-lo com mais animo para continuar. Ela sentiu o sangue ferver quando ele começou a tentar empurrá-la para a cama. Não permitiria que ele abusasse dela. Não, nem ali e nem em nenhum outro momento.
Tentou se concentrar em Drakulya. Apesar de detestar usar os dons, sabia que era a única solução. Sentiu o calor aumentar em seu corpo, e o brilho avermelhado começar a envolvê-la. Logo ele estava sendo jogado na parede oposta do quarto.
- Como ousa? – Os olhos dele brilhavam ameaçadores, com um ligeiro brilho avermelhado começando a tomar conta.
- Eu lhe disse não. – Ela sentia o poder crescer dentro de si. – Agora saia do meu quarto.
Ele a encarou com uma fúria imensa. Mas levantou-se do chão, e foi até a porta.
- Você vai se arrepender muito disso, Angel. Escreva o que eu lhe digo.
Quando ele enfim saiu, ela caiu na cama, tremendo. Havia posto em risco Lolly e ela própria. Mas não havia como voltar atrás. Ele tinha que aprender.
Estava tudo acabado entre eles.
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O dia seguinte também estava ensolarado.
Colocando seu melhor vestido, Angel tentava pensar se teria alguma chance de fuga. Sabia que não. Podia ouvir os gritinhos animados de Lolly no andar debaixo. A pequena nem desconfiava do que havia acontecido.
Desceu devagar, sem querer chamar a atenção. Lolly usava um belo vestidinho amarelo, e tentava tocar o piano de canto. Era um desastre, e em Angel não pode deixar de rir, fazendo com que a menina olhasse para ela, toda sorridente.
- Mamãe! Que bom que você enfim acordou, eu já não sabia como entreter papai. – Ela corre para os braços da mais velha, que a pega no colo, feliz.
- Eu já disse para você não mexer no piano. Mais cedo ou mais tarde você o desafina!
- Mas eu só estava tentando tocar a nona de Beethoven! Ela é facinha!
Angel ri, abraçando a pequena. Olhou para Tom que a encarava com um sorriso. Piscou, tentando entender se estava vendo certo ou só uma miragem. Ele deveria estar bravo com ela. Não sorrindo.
Ao ver a confusão nos olhos dela, ele se levantou, caminhando calmamente, e com um passo quase lento demais para seu gosto. Sem tirar os olhos dos dela, conseguia ver toda a confusão que eles passavam, e isso o deixava louco. Ela não precisava saber que ele não dormira a noite inteira, numa mistura de remorso e ciúmes, imaginando-a se apaixonando por algum camponês qualquer, e por isso agora não o queria. Angel era uma garota boa, se encontrasse alguém nobre de coração, provavelmente se apaixonaria perdidamente. E se isso acontecesse, ele não sabia o que faria com o desgraçado. Ela mexia ainda demais com ele para que pudesse perdoar uma traição. "Um dia" pensou "eu vou ter me cansado dela. E então, se eu não a matar, então ela poderá ter outros romances." Mas ele sabia que esse dia ainda estava muito longe de chegar.
- Achei que estivesse bravo comigo. – Ela falou quando Lolly se soltou de seus braços e correu para fazer o almoço.
- Eu deveria estar, e fico feliz de você admitir isso. – Ele sorriu – Mas talvez você só estivesse estressada ontem. Ou de TPM.
Ela ri, lembrando da pequena falando a mesma coisa. Talvez fosse realmente verdade.
- Mamãe, - A pequena gritou, da cozinha – Toca algo para a gente!
Angel sorriu, corando levemente. Tocava piano desde menina, impulsionada pela paixão do pai por Beethoven, mas nunca havia tocado para alguém que não fosse de sua família. Sempre tivera vergonha, e sabia que provavelmente Tom seria um excelente critico. E ela temia desapontá-lo.
Sentou no pequeno banco do instrumento, e fez uma pequena escala. Definitivamente amava isso. Começou com uma Sonata Pathétique de Beethoven, e então sorriu. Aquilo seria mais fácil do que imaginava. Logo ela começou uma outra música, sem poder conter um suspiro. Era a música que sua mãe havia composto há muito tempo atrás. A primeira que aprendera a tocar.
Diga
meu nome, Então eu saberei que você está de
volta
Você está aqui de novo Por um tempo
Oh,
então nos deixe compartilhar
As lembranças que
somente nós poderemos compartilhar para sempre
Me conte
sobre os dias antes do meu nascimento,
Como nós éramos
quando crianças.
Era uma canção linda, e tocá-la, enquanto cantava, a fazia chegar um pouco mais perto de sua familia. "A música nos faz voar. Enquanto você tocar com o coração, nós estaremos ao seu lado" uma vez sua mãe dissera. Gostava dessa idéia.
Sentiu a cozinha ficar silenciosa, e logo sabia que a menina estava observando-a também. E podia sentir a tristeza que emanava dela. Algo estava para acontecer, e temia não poder impedir. Com o canto do olho, viu que Tom não olhava para ela... Apenas observava os campos do lado de fora da enorme janela.
Você
toca minha mão
E as cores se tornam vivas
No seu coração
e profundamente em sua mente
Eu cruzei a fronteira do
tempo
Deixando o hoje para trás
Pra ficar com você
novamente
Tom estava mais imerso em pensamentos do que aparentava. Sentira um estranho frio na coluna quando ela começara a cantar, e não estava gostando desta sensação. Talvez fosse só o tema da música que o incomodasse, ou talvez não tivesse gostado da melodia. Mas o que poderia fazer? Sabia que no fundo não era nenhum dos dois motivos que o incomodavam. Algo ia acontecer. E odiava essa sensação.
Nós
respiramos o ar
Você se lembra como costumava tocar a minha
mão?
Você não estava consciente
Suas mãos
ainda continuavam
Você simplesmente não sabia que eu
estava aqui
Isso machucou muito
Eu oro agora pra que brevemente
você se liberte para onde você pertence
Angel sentiu as lágrimas escorrendo pelo rosto. Conseguia, estranhamente, sentir a presença da mãe a seu lado. Sabia que caso se virasse, a encontraria sorrindo, como nos dias em que aprendera a tocar a música pela primeira vez. A maneira em que ela contava o tempo em frances, o jeito doce que sempre tinha uma palavra amiga, quando Angel errava. Era uma verdadeira pena que Lolly não tivera tanta sorte quanto ela de poder crescer junto à mãe.
Você
toca minha mão
E as cores se tornam vivas
No seu coração
e profundamente na sua mente
Eu cruzei a fronteira do
tempo
Deixando o hoje para trás
Pra ficar com você
novamente
Ela chorava. Podia ver o brilho da luz do sol que entrava pelas janela, refletido nas pequeninas lágrimas que escorriam. Ah, Angel... Suspirou, sem saber o que fazer, pela primeira vez em muito tempo. Talvez todo esse tempo que passara com ela tivesse sido um erro. Ele estava mais fraco. Ele estava mais humano. E odiava isso.
O dia em que mais se dera conta de como a garota mexia com ele, fora quando pensara pela primeira vez nos sentimentos das pessoas que os comensais matavam. E sabia que Rewson estava de olho em qualquer falha dele. Assim como Bonnie. Como odiava tudo isso.
Por
favor diga meu nome
Lembre quem eu sou
Você vai me
encontrar no mundo de ontem
Você vai ficar sem sentido
novamente
Tão longe daqui onde estou
Quando você
me perguntar quem eu sou
Sentiu uma angústia a envolver de repente. Os gritos em sua cabeça pareceram aumentar. "Não vá!" era o que eles falavam. Aquilo era terrivel. Mas a música já estava no fim. Sabia que tudo pararia quando a música parasse. Não deveria voltar a tocar tão cedo. Ao menos não aquela música.
Fechou os olhos, como se tentando fazer as vozes pararem. Viu rostos desfigurados repetindo aquela mesma frase. Estava odiando tudo aquilo.
Diga
meu nome
As cores vão viver de novo
No seu coração
e na sua mente
Eu cruzei as fronteiras do tempo
Deixando o hoje
pra trás
Pra ficar com você novamente
Era o fim da música, ele sabia.
Uma música terrivel e angustiante.
Olhou para Angel, ofegante de nervoso, ela estava palida, com os olhos fechados. Algo estava acontecendo.
A viu dar os últimos acordes da música, e suspirou.
Acabara.
Viu quando ela abrira os olhos, e ainda demorara um pouco para focalizar onde estava. Teve vontade de enchê-la de perguntas do que havia acontecido, mas começara a entender, enfim. Aquilo era mais um dos "maravilhosos" dons de Drakulya.
Ouviu passos saindo da sala. Era Lolly voltando para a cozinha. Ela sabia que não eram necessarias mais palavras.
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Recomeçou a ouvir os gritos quando saiu da casa. Não conseguia entender o porquê de não quererem que ela fosse a uma simples feira. Sentia seus braços invisiveis tentando segurá-la, mas não conseguia entender o porquê. Pensou seriamente em ficar em casa, mas Lolly sorria, e sumia na carruagem tão contente que nunca poderia magoá-la. Sorrindo, subiu também.
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Os cabelos dela pareciam feitos de ouro, enquanto o sol batia neles. Quando foi que passara a prestar atenção em detalhes tão insignificantes? Pôs as mãos para trás, enquanto levantava o rosto para o escaldante sol. Estava um belo dia. E por mais incrível que parecesse, ele estava se sentindo bem. E feliz. Talvez ela tivesse razão, e tudo o que ele precisava era uma família. Queria, acima de tudo, fazê-la feliz. E esse pensamento assustava-o. Não queria, e não podia mais, voltar atrás nos planos que já estavam a todo vapor. Se desistisse do reinado negro que lhe era destinado, só uma coisa acabaria por acontecer: Tanto ele quanto elas iriam sofrer. Os comensais não descansariam até que eles tivessem sofrido todo o tipo de dor possível. E ele não podia ser o responsável pela morte das duas.
Sacudiu a cabeça quando um pensamento absurdo lhe veio: E se ele continuasse buscando a imortalidade? Angel já era imortal, pelo menos até onde sabia. Ele poderia transformar ele e Lolly em imortais também, e então todos seriam felizes, não é mesmo? Ele sabia que ela nunca aceitaria.
Foi despertado de seus devaneios com Lolly puxando-lhe a mão. A menina fazia cara de birra, e Angel parecia perturbada, com os braços cruzados.
- O que houve?
- Fala para a mamãe me deixar ir na montanha-russa de looping, papai. Ela diz que é muito perigoso!
- Mas é perigoso! – Angel levou as mãos aos quadris, o rosto corado de raiva os olhos brilhando intensamente. Adorava vê-la assim. – Ela é pequena, pode cair!
- E por que você não vai com ela? – Ele sorriu, Angel o encarou com raiva. Quase podia ouvir-lhe o coração batendo forte.
- Porque eu não sou nenhuma sádica masoquista! Só isso!
Ele gargalhou, pegando a pequena nos braços.
- Você ouviu sua mãe, Lolly.
- Mas, papai... – Ela fez cara do choro, e beicinho.
- Nada de mas... Se quiser pode ir na montanha russa infantil. E só.
- Eu não sou criança. Eu quero ir na montanha russa grande.
A pequena fez bico de novo, mas logo sua atenção era desviada, e parou de se preocupar tanto. Colocando-a no chão, Tom foi até o lado de Angel, que novamente havia se perdido em pensamentos.
- Não vai mesmo me contar o porquê de estar tão aérea hoje?
- Não é nada – Ela deu um sorriso falso – Talvez eu só esteja cansada, enfim.
Ele a abraçou, fazendo com que ela se assustasse inicialmente, mas em seguida relaxasse. Podia se sentir segura nos braços dele, não é? Mais de uma vez ele havia lhe provado que se preocupava com elas. Tinha que desistir de procurar defeitos em tudo. Ele podia ser o Lorde das Trevas de quem todos começavam a comentar, mas para elas, ele era somente Tom Riddle. E era isso que importava, no fim.
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- Esse jogo dele está cada vez mais perigoso. Eu sinto que ele se distancia cada vez mais de nós, enquanto está com ela. Temos que fazer alguma coisa! – Rewson observava a garota a sua frente, com grande impaciência. Não confiava nem um pouco em Bonnie Carrie, mas quais opções que tinha? Talvez ela fosse a chave para que eles resolvessem finalmente essa incomoda situação que se meteram.
- Ela é perigosa. Mas não é eterna. – Bonnie sorriu.
- Ela é eterna, Srta. Carrie. Ela possui Drakulya.
- E ele deseja Drakulya. Eu conheço nosso Lorde... Ele deseja Drakulya. E quando ele deseja alguma coisa. Ele a tem.
- Você viu algo, não? Em suas previsões? – Os olhos dele brilharam de triunfo.
- Acredite... Esse conto de fadas não durará muito.
Ela olhou para o enorme relógio atrás deles. "Falta pouco... Muito pouco".
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- Eu to com fome. – A pequena parecia exausta. Também, ficara o dia todo correndo pelo parque.
- Talvez devêssemos voltar para casa. Logo começa a escurecer... – Angel sorriu, pegando Lolly nos braços.
- Ahhhh, não. – Ela disse fazendo beicinho. – Eu quero comida gostosa, não as gororobas que você faz!
Tom caiu na gargalhada, enquanto Angel se fazia de ofendida. Era gostoso estar ali, como uma família. Para todas as partes envolvidas.
- Pode deixar que eu busco alguma comida descente, Lolly – Tom sorriu, marotamente, para Angel, que fez beicinho. – Afinal, precisamos nos alimentar bem se sua mãe decidir nos perseguir pelo parque, com raiva.
- Por que ela faria isso? Ela ta com TPM de novo? – A menina indagou, curiosa, fazendo Angel corar e Tom rir.
- Provavelmente. – Ele respondeu.
- Então eu é que não vou ficar sozinha com ela. – A pequena saiu do colo da 'mãe' e correu para pegar a mão de Tom, que sorria.
- Ok, eu vou fingir que não estou sendo abandonada, está certo? – Angel riu. – Ao menos me tragam algo gostoso para comer.
Perto dali havia algumas barracas de doces e guloseimas. Lolly já estava de excelente humor antes mesmo de chegar lá.
- Você vai comprar um monte de doces para mim, não é papai? – Os olhos dela brilhavam, e ele sorria. Gostava da sensação de segurança que a menina sentia com ele, segurando em sua mão com tanta firmeza.
- O que você acha que sua mãe irá querer? – Ele disse enquanto a menina apontava para todos os doces que queria.
Olhou para trás, procurando Angel com o olhar. Ela não estava mais onde eles a tinham deixado. Franziu as sobrancelhas. Ela não simplesmente teria saído por ai. Por fim a encontrou, um pouco afastada do local, com um homem ao seu lado. Um misero artista mambembe. Ela sorria, gentil, as bochechas coradas, provavelmente devido a algum gracejo. Sentiu o sangue começar a ferver, quando o rapaz entregou uma rosa para Angel, e cochichou-lhe algo. Jogou o dinheiro trouxa no balcão, de qualquer jeito, mandando o atendente ficar com o troco, e saiu arrastando Lolly pelo braço, até Angel.
Esta, por sua vez, ao vê-lo, os olhos brilhando avermelhados, pediu licença ao rapaz e foi até Tom, encontrando-o no meio do caminho, e impedindo ele de prosseguir.
- Tom, o que está acontecendo?
- Você ainda pergunta? O que você acha que está acontecendo?
- Eu não sei – Ela disse, tentando controlar o medo que sentia dentro de si. – Mas acho que devemos ir para casa.
- Por que quer protegê-lo? – Ele disse, dando um passo para o lado, ação repetida por ela. – É por isso que você não me quis ontem? Está tendo um romance qualquer com um artista de rua? Eu achei que você fosse um pouquinho mais orgulhosa, Angel.
O sangue dela ferveu. Ele não podia estar insinuando o que estava. Ela nunca lhe fora infiel, e sempre havia sido religiosa. Traição era um pecado grave.
- Senhor, eu não queria fazer-lhes mal. – O artista parecia sincero, mas isso pouco importava.
- Eu não pedi sua opinião. – Tom falou, os olhos vermelhos de vez, o poder dele pedindo para ser libertado. Sentia todo seu sangue correr rápido. Aquele maldito precisava morrer.
- Tom, - Ela falou em tom ríspido, - Vamos para casa.
Ele olhou fundo nos olhos dela. Ela estava disposta a enfrentá-lo para defender aquele patife. Estava completamente cego pelo ciúme, e ela sabia disso. Só esperava conseguir pará-lo.
O céu escureceu, e algumas das barracas e tendas começaram a se sacudir violentamente. Nenhum dos dois mexia um músculo sequer. Apenas se encaravam, numa medição de poder incontrolável. Um raio cruzou o céu, caindo perto deles, e atingindo um brinquedo vazio, que logo começava a pegar fogo. Logo tudo virara um pandemônio.
Ele viu quando o artista tentou fugir, e com um aceno de mãos, começou a sufocá-lo apenas utilizando a mente. Ele viu quando ela prendeu a respiração, mandando ele parar.
- Por que você continua protegendo-o, Angel? Você deveria saber que ninguém trai Lorde Voldemort e sai intacto. Assim que eu acabar com ele, será sua vez.
- Você não vai tocar nele, e nem em mim. – O brilho nele aumentou consideravelmente. As pessoas corriam, atordoadas. – Pare, ou eu terei que te parar.
- Ninguém pára Lorde Voldemort! – Ele gritou, enquanto um trovão ressonava no céu.
Ela jogou parte de seu poder nele, apenas o suficiente para desequilibrá-lo, mas já era tarde demais. Ele havia jogado um poderoso feitiço no rapaz, fazendo-o explodir de dentro para fora, as gotas de sangue e pedacinhos de pele se espalharam para vários lugares, inclusive em Angel, que gritou, assustada, baixando a guarda e deixando que ele pegasse em seu braço, e no de Lolly com força e aparatasse.
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Ele as arrastou até em casa. Ambas em estado de choque pela terrível imagem presenciada. Ele a jogou no chão da biblioteca, e a menina na sala, fechando magicamente a entrada, impedindo que a pequena interferisse no que queria fazer.
- O que vai fazer agora, Tom? – Ela olhava extremamente magoada para ele – Vai me matar?
- Não, vou fazer o que tinha que ter feito desde o começo. Você irá me entregar Drakulya!
- Você sabe que não pode me obrigar! – Ela gritou, o sangue recomeçando a ferver.
- Ou você me entrega, ou eu matarei Elizabeth Lollyta!
- Você não encostará um dedo nela enquanto eu estiver viva!
- Você duvida? – Ele viu o olhar de medo dela. – Faremos o ritual.
- Não... Por favor! – Ela suplicou. – Você não sabe com o que está lidando!
Ele foi até ela e a arrastou até o centro da biblioteca, afastando magicamente as coisas. A chuva caia torrencialmente do lado de fora. Com um aceno da varinha, um circulo de fogo foi criado ao redor deles.
- Faça sua parte, Angel. Ou você não a verá de novo.
- EU TE ODEIO! – Ela gritou.
Ele a esbofeteou com força, a raiva mandando que ele acabasse logo com aquilo. A fraqueza que sentia por ela mandando ele parar e abraçá-la.
Ela sentiu o mundo girar, e as vozes recomeçarem quando ele bateu de novo, e de novo e de novo. Ela sabia que ficaria toda marcada, e sentia o coração partido. Ele não podia estar fazendo aquilo com ela. Encarou-lhe, e levantou-se, cuspindo um pouco de sangue que havia ficado em sua boca. As vozes lhe diziam o que fazer. Aquela era a única forma.
- Você quer Drakulya? Você terá Drakulya.
Ela juntou as mãos como em uma oração. O brilho avermelhado começou a se juntar ali, criando uma enorme forma, cada vez mais humana, até se fundir com Angel, deixando-a com um brilho prateado por todo o corpo, duas asas de energia em suas costas. O diadema com o dragão em sua testa. A última possuidora de Drakulya.
Ele sentiu o anseio e a inquietação ao vê-la daquela forma. "A lua a iluminará". Era isso que a profecia queria dizer.
- Entregue-me. – Foi a única coisa que diz.
Ela ri, cruelmente. Um riso que não combinava nem um pouco com a Angel que conhecia.
- Nunca. Você sequer sabe o ritual certo. Você me teme. – Ela riu novamente.
Ele aponta-lhe a varinha.
- Quer testar a veracidade de que os possuidores de Drakulya não morrem? Ou você já esqueceu o que está em jogo?
- Tente feri-la.
Com um aceno a porta se abre. A pequena olha assustada para os dois que a encaravam, por detrás do circulo de fogo. Ela gritava para eles pararem.
- É isso o que você quer, Angéline? Sacrificá-la para ser imortal? Vale a pena?
- É o que eu lhe pergunto, Lorde das Trevas. – Ela diz sarcasticamente.
E então ele murmura o feitiço. A rajada verde segue em direção a pequena, que começa a chorar de medo. Com um olhar, Angel faz com que um escudo protetor fique ao redor da pequena, fazendo com que ela não fosse ferida. Com isso, porém, ela baixara as próprias defesas. E quando o Cruciatus chega, ela é atingida com toda a força.
As lágrimas chegavam-lhe aos olhos. Em sua mente ela via todas as cenas dos dois juntos. Desde as brigas, aos doces momentos de prazer. Fechou os olhos.
- Entregue-me Drakulya, Angel.
Ela olhou para ele, numa mistura de desprezo e pena. Fechou os olhos, fazendo um gesto com as mãos. Ele ouviu o rugido do dragão, enquanto as asas e o diadema desapareciam dela. Um ponto dourado a sua frente, que crescia e crescia, a medida que ela enfraquecia, era tudo o que restava dos poderes. Ele parou com a maldição, quando ela quase não brilhava mais. Quando o brilho nela desapareceu, ele tocou Drakulya. Uma grande explosão ocorreu em toda a biblioteca. Os livros saíram do lugar, e a última imagem que eles viram foi a do dragão, furioso, desaparecendo no nada.
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Ele foi o primeiro a abrir os olhos, e soube que não havia conseguido. O poder não podia ser forçado. Ela o enganara no último momento, fazendo-o esquecer disso. Olhou ao seu redor, quase tudo destruído, procurando a maldita. Lolly estava caída para longe daquilo, ainda na sala, desmaiada. Mas nenhum sinal de Angel. Seu sangue correu furioso, pensando que talvez ela fugira. E então ele viu o sangue. Retirando uma estante que havia caído na explosão de poderes, ele a encontrou. O belo vestido branco, e lilás, estava escuro, e sua cabeça extremamente ferida, a origem do sangue.
Caiu sobre os joelhos, sem saber como reagir.
- Angel? – Ele a sacudiu de leve. – Não, Angel, por favor. Não se vá. Por favor.
Ele a sacudiu com mais força, mas ela não respondia. A pegou no colo, sem saber o que fazer. Ouviu Lolly acordando, tonta. Quando a pequena finalmente viu o estado da 'mãe', recomeçou a chorar, correndo para ela.
- Mamãe... O que você fez com mamãe? – Ela tinha os olhos mais tristes que ele já havia visto. Ele só conseguiu fechar os olhos.
- Eu... Eu sinto muito, Lolly.
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Olhou para a lápide fria. A pequena, com a mão na sua, estava pálida.
- Você acha que ela pode nos ouvir? – Ela disse, sem desviar os olhos.
- Acho sim. Você quer falar com ela?
Ela sacudiu a cabeça afirmamente.
- Oi, mamãe. Eu trouxe lírios para você. São seus favoritos, não? – Ela sorriu, triste. – Eu sinto sua falta.
E colocou as flores ali.
- É sua vez. – Ela disse, séria para ele. – Eu vou te esperar perto da entrada, está bem?
Ele riu e concordou. Quando a menina se afastou, se sentou no gramado. "Angéline Drake – Amada Irmã, Mãe. Verdadeiro Anjo." Era a inscrição. A estatua do anjo, guardando a lápide não poderia ter sido mais própria.
- Você um dia vai me perdoar? – Ele riu. – Acho que estou ficando tempo demais com Lolly... Agora eu vou começar a achar que você pode me responder.
Levou as mãos ao rosto, cobrindo os olhos. Foi quando sentiu. Começou com uma sensação de frio, até esquentar completamente. Levantou a cabeça, assustado. Ela estava lá. O lindo sorriso em seu rosto, os cabelos loiros e longos caindo pelos ombros.
- Angel. – Ele murmurou.
- Eu precisava me despedir. – Ela disse, tristemente.
- Angel, eu... Eu sinto tanto.
- Existe uma coisa chamada destino, Tom. Nós não tínhamos escolha. Mas agora você tem... Cuide dela. Cuide como se fosse sua filha de verdade. E abandone esses planos tolos.
Ele concordou com a cabeça.
- Tem uma última coisa, Angel... – Ele riu, um riso ligeiramente forçado. – Eu preciso te dizer uma coisa...
- Eu também te amo, Tom. Não se esqueça disso.
E desapareceu.
CONTINUA.
N.A:
Vocês devem estar se perguntando como é possível depois de a Angel morrer, a história continuar... Mas nós temos o compromisso de dizer como que, depois de prometer proteger Lolly ele se tornou 'malvado', não é?
Bem, a música que ela canta nesse capitulo é "Say My Name", do Within Temptation. E é a música tema da história e do próximo capitulo. Aconselho ler ouvindo-a, ok?
Bem, agradecerei as reviews no próximo, pois agora estou atrasada para a facul, ok?
CAPITULO DEDICADO À Gábi das Fadas, a primeira a lê-lo, Lisa Black, minha eterna musa! E a George Lucas, que me deu a inspiração para voltar a escrevê-lo, com uma cena linda em Star Wars III, entre a Padmé e o Anakin, em que ela diz que ele estava seguindo por um caminho que ela não podia acompanhá-lo e que me fez lembrar na Angel-chan...
Bem, curiosidade inútil: A Angel só ia morrer no próximo capitulo, mas eu gostei da morte dela nesse.
É isso ai... O próximo capitulo virá dia 20-10, niver da Lety-chan, ok? Afinal foi o dia que eu comecei, e o dia que eu irei terminar Espero que Vocês acompanhem!
E o Guia será atualizado em breve, aguardem!
Beijokas!
Belle Lolly Sorcellerie
25/09/2006.
